Add a bookmarkAdd and edit notesShare this commentary

Significado de Romanos 14:1-4

Deus é nosso mestre e rei. Não devemos julgar uns aos outros por conta de diferenças de práticas religiosas ou impor nossos hábitos sobre outros. Deus é o Juiz, não nós.

O livro de Romanos fala sobre viver a justiça (harmonia com os desígnios de Deus) pela fé. Ao longo de Romanos, Paulo lida com as calúnias das autoridades judaicas em Roma que tentavam empurrar os crentes de volta à Lei Judaica a fim de alcançarem a justiça (Romanos 3:8). Paulo afirma não haver como se praticar a justiça através da Lei (Romanos 9:31-32).

Neste ponto de sua carta, Paulo refuta exaustivamente a calúnia lançada à sua mensagem da graça proveniente das autoridades judaicas. Ele defende sua mensagem da vida de fé como a única forma de se alcançar a justiça aos olhos de Deus e receber o dom da vida eterna (Romanos 4:1-3, 5:15). Paulo defende a mensagem das boas novas (Evangelho) de que os crentes alcançam a recompensa da vida eterna ao caminharem pela fé (Romanos 1:16-17; 2:6-7; 8:3-4),

Nos capítulos 12-13, Paulo começa a fornecer exemplos e ilustrações de como seria uma caminhada de fé. Para andarmos nesse caminho precisamos adotar uma nova perspectiva, ou seja, ter uma mente transformada (Romanos 12:2). No capítulo 14, Paulo continua a explicar como o justo vive pela fé. Aqui, ele faz uma distinção entre um crente forte na fé e outro fraco na fé.

Mais uma vez, ele não desejava que os crentes, mesmo pela fé, buscassem controlar uns aos outros com base em regras. O crente mais forte na fé deveria suportar e “acolher o que é fraco na sua fé” (v. 1), ao invés de forçá-lo a violar sua consciência, “não para discutir as suas dúvidas” (v. 1).

Ao instruir os fiéis em Roma a evitar julgar os outros, Paulo ecoa o ensinamento de Jesus no Sermão da Montanha. Jesus havia ensinado que o julgamento deveria ser deixado a Deus. Quando julgamos os outros criamos um padrão de julgamento que Deus usará para julgar a nós mesmos (Mateus 7:1-2). Além disso, Jesus ensina que, ao vermos alguém em pecado, nossa primeira ação deve ser a de examinar a nós mesmos, pois se conseguimos ver o pecado na outra pessoa isso provavelmente signifique que o praticamos também (Mateus 7:3-5).

Esta instrução é apropriada para os irmãos em Roma porque a fé deles era tão forte que havia se tornado mundialmente famosa (Romanos 1:8). Em vez de expor a fraqueza dos crentes fracos pelo julgamento de suas dúvidas, os crentes fortes deveriam encorajar e animar aos primeiros em sua caminhada com Deus.

O exemplo que Paulo usa é específico da Roma do século 1: “Um crê que pode comer de tudo (através da liberdade em Cristo - Atos 10:15), mas o que é fraco come legumes” (talvez por medo de que a carne local tivesse sido consagrada por sacerdotes pagãos - 1 Coríntios 8:7) (v. 2).

Em vez de coagir o crente fraco a comer carne, Quem come não despreze àquele que não come” a carne sacrificada a ídolos (v. 3). Paulo está dizendo que devemos ser sensíveis à falta de compreensão dos outros e não consumir carne sacrificada aos ídolos se essas pessoas estiverem presentes. Fazê-lo seria levá-los a violar sua consciência.

Impor nossa liberdade à consciência alheia é algo divisivo e inútil, ferindo a fé dos crentes mais fracos. Quando alguém viola sua consciência, isso pode levá-lo ao pecado e até mesmo ao naufrágio espiritual (Romanos 14:23; 1 Timóteo 1:19). Paulo menciona a palavra "consciência" três vezes no livro de Romanos:

  • Em Romanos 2:15, ele diz que os gentios mostram serem feitos à imagem de Deus e, portanto, refletem a lei de Deus já que “mostram a obra da Lei escrita no seu coração, dando a sua consciência disso testemunho".
  • Em Romanos 9:1, Paulo apela à sua própria consciência como testemunha de que o que estava dizendo era verdade.
  • Em Romanos 13:5, Paulo afirma que os crentes deveriam obedecer às autoridades governamentais não apenas por causa das consequências negativas que poderiam advir da violação da lei, mas também "por causa da consciência". Isso ocorre porque nossas consciências nos julgarão diante de Jesus no dia do juízo (Romanos 2:16).

É importante notar que os que possuem uma fé fraca são aqueles cuja consciência seria violada se comessem carne. A fé forte permite a liberdade de dizer: "Ei, isso é apenas um alimento. Esse sacerdote pagão não significa nada para mim". Porém, o irmão com a fé mais fraca talvez tivesse acabado de sair do paganismo e, para ele, comer aquela carne desencadearia todos os tipos de padrões e hábitos dos quais ele estava tentando se livrar. Portanto, comer carne para aquela pessoa seria algo pecaminoso, podendo levá-la a pecar outra vez.

Portanto, os irmãos que tinham uma fé mais forte deveriam ser sensíveis para não criar obstáculos ou tentações para os que tinham uma fé mais fraca. Por outro lado, “quem não come não julgue àquele que come, porque Deus o acolheu” (v. 3).

A aceitação de Deus a Seus filhos é uma dádiva incondicional. Nenhuma ação de um filho pode produzir a rejeição de Deus (Romanos 8:37-39; 2 Timóteo 2:13) se ele nasceu de novo (João 3:3), ou seja, exerceu sua fé e recebeu o dom da vida eterna ao olhar para a obra de Jesus na cruz (João 3:14-15).

Porém, depois que nascemos de novo, cabe a nós decidir como viver. Todos os dias teremos a escolha de viver pela fé, crendo que os caminhos de Deus são para o nosso bem, ou podemos pensar que o nosso caminho é superior. É a diferença entre andar na carne e andar no Espírito (Gálatas 5:16). Cada escolha produz consequências substanciais tanto nesta vida como na próxima (Gálatas 6:8).

A fim de andar por fé e semear no Espírito, os crentes fortes precisam estar atentos e moderar suas ações, visando acomodar os que têm a fé mais fraca, de modo a evitar tentá-los a violar sua consciência.

Trazendo isso para os tempos modernos, suponhamos que apreciemos jogar sinuca; devemos abrir mão disso se um irmão que foi alcoólatra associar o jogo de sinuca com a ingestão de álcool. Levar esse irmão a um salão de sinuca certamente o colocaria em perigo de voltar ao alcoolismo. Tendo esse irmão em mente, a sinuca pode esperar até outro dia.

Esta passagem aplica-se especificamente às "dúvidas" (v. 1). Ou seja, Paulo estava falando de coisas que o Antigo Testamento não abordava diretamente. No entanto, faziam parte da vida. A Bíblia diz muito pouco sobre o que fazemos na maior parte do nosso tempo, seja comida, vestimenta, trabalho, viagens, etc.

A Bíblia nos apresenta princípios a serem aplicados a todas essas áreas. Cada um deve aplicar esses princípios com base em sua consciência, experiência e nível de fé. Os mais fortes na fé devem estar mais atentos em como abençoar aos irmãos de fé mais fraca.

É importante reiterar o que é a fé. Hebreus nos dá a definição bíblica da fé:

"Ora, a fé é a certeza das coisas que se esperam, a convicção das coisas que não se vêem" (Hebreus 11:1).

Se esperamos por algo, isso significa que não possuímos aquilo pelo que esperamos. Se já temos aquilo, não precisamos esperar recebê-lo. Fé é crer em coisas verdadeiras que não possuímos e que não conseguimos enxergar. Os fortes na fé agem sobre a crença (fé) de que as coisas que não são vistas são verdadeiras e tangíveis.

Assim, acolher aos fracos na fé significa que essas pessoas têm dificuldade em tornar tangíveis as coisas que não conseguem ver. É difícil para elas lidarem com coisas que não enxergam. É algo muito difícil de se fazer.

Todos nós, em algum momento, expressaremos uma fé fraca, ou já tivemos uma fé fraca no passado. A fé é algo difícil e muitas vezes requer maturidade para ser alcançada. Portanto, devemos encorajar uns aos outros, ao invés de julgarmos uns aos outros. Devemos nos colocar no lugar dos outros e buscar seu melhor interesse.

Paulo conclui seu raciocínio indicando que Deus é quem julga: “Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio amo está em pé ou cai; mas ele estará firme, porque poderoso é o Senhor para o firmar” (v. 4).

Embora nossas consciências aparentemente irão testificar em nosso julgamento (Romanos 2:16), fica claro que Deus é quem julgará a todos, não nós. Assim, quando julgamos uns aos outros, é como se estivéssemos julgando um funcionário de outra pessoa. Trazendo para os tempos modernos, poderíamos traduzir desta forma: "Não é minha responsabilidade demitir o funcionário da empresa de outra pessoa; essa decisão pertence unicamente ao dono daquela empresa ou seu gerente". Tentar demitir o funcionário de outra empresa seria uma intromissão inaceitável.

Quando julgamos outros crentes, julgamos outros servos de Deus, já que todos os crentes em Jesus pertencem a Deus. Portanto, julgar outro crente significa julgar o "funcionário" de Deus. E isso é uma intromissão. Deus é o Senhor de tudo.

Paulo levanta este mesmo argumento em sua primeira carta aos crentes em Corinto, repreendendo-os por escolherem lados: "Eu sou de Paulo"; "Eu sou de Apolo" (1 Coríntios 3:4). Ele afirma que cada crente ficará de pé ou cairá diante de seu Senhor, que é Jesus. No dia do julgamento, todas as nossas ações serão avaliadas pelo fogo. O que passar pelo fogo produzirá recompensas; o que não passar, produzirá perdas (1 Coríntios 3:11-15).

Portanto, cabe a cada crente manter o foco em submeter seus pensamentos e ações para agradar a Deus, ao invés de permitir que a presunção nos leve a assentar no trono de Jesus para julgar a Seu povo.

Select Language
AaSelect font sizeDark ModeSet to dark mode
Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência de navegação e fornecer conteúdo personalizado. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso de cookies conforme descrito em nossa Política de privacidade.