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Significado de Atos 10:17-23

O Espírito Santo Diz a Pedro para Ir com os Servos de Cornélio. Pedro se pergunta o que a visão significava. Os homens de Cornélio chegam à casa onde ele estava hospedado e o Espírito Santo o leva a ir com os homens para onde quer que o levem. Ele deveria confiar neles, pois haviam sido enviados pelo Espírito. Pedro obedece. Ele saúda aos homens, escuta a respeito de como seu mestre havia sido visitado por um anjo que disse a Cornélio para buscar Pedro em Jope. Pedro convida-os a passar a noite antes de partirem. Na manhã seguinte, Pedro e alguns outros judeus vão para Cesaréia com os servos de Cornélio.

Pedro não consegue entender o que acabara de testemunhar. Ele estava perplexo. A exibição bizarra dos animais impuros e a ordem de comê-los, em violação à lei mosaica, não fazia sentido a ele. Porém, a visão o estava preparando para o que ele estava prestes a ouvir: ele deveria viajar para Cesaréia e pregar o Evangelho a um grupo de gentios romanos "impuros".

Enquanto Pedro estava consigo perplexo sobre o que seria a visão que tinha tido, eis que os homens que haviam sido enviados por Cornélio, tendo perguntado pela casa de Simão, pararam à porta (v. 17). Pedro estava refletindo a respeito da incrível visão que acabara de experimentar. Deus ordena que ele violasse a Lei à qual ele havia fielmente guardado e isso deixou sua mente muito perplexa.

Pedro sabia que havia verdade na visão, porque ela havia sido enviada por Deus. Porém, ele não conseguia discernir o sentido da visão, ou seja, o que ela realmente significava, o que Deus estava tentando comunicar. Enquanto ele se sentava no eirado ponderando sobre os animais impuros aos quais Deus havia purificado, os gentios que haviam sido enviados por Cornélio chegam à casa onde ele estava hospedado.

Cornélio fora informado pelo anjo exatamente onde Pedro estava; assim, os homens sabiam onde procurar: tendo perguntado pela casa de Simão, pararam à porta (v. 17). A tradição indica vários locais da casa de Simão na atual Jope (Jaffa) que carregam a memória deste evento (Veja imagem de um local tradicional).

Eles começam a fazer perguntas, tentando confirmar se o homem ao qual haviam sido instruídos a encontrar estava realmente hospedado lá (v. 18).

Enquanto Pedro refletia sobre a visão, tentando desvendar o significado da visão que havia recebido, o Espírito Santo lhe diz: "Eis que dois homens te procuram; levanta-te, pois, desce e vai com eles, nada duvidando; porque eu os enviei" (v. 19,20).

O Espírito está em constante ação neste capítulo, colocando os homens em movimento para garantir que o encontro entre Pedro e Cornélio ocorresse e certificando-se de que o povo escolhido de Deus pregasse as boas novas da salvação para o resto da raça humana. O Espírito Santo chama a atenção de Pedro de volta ao mundo real. O Espírito informa a Pedro sobre a logística que ele precisava saber: havia três homens procurando por ele e ele precisava se levantar, descer as escadas e acompanhá-los.

O tempo de Pedro em Jope havia terminado. O Espírito Santo tinha uma nova missão para ele. Porém, curiosamente, o Espírito exorta Pedro a ir com os homens sem duvidar. A razão pela qual Pedro deveria confiar naqueles homens era porque, de acordo com o Espírito Santo, "Eu mesmo os enviei". A única razão pela qual eles estavam lá era porque o Espírito desejava que eles estivessem lá. Deus estava trabalhando. Deus estava chamando Pedro a ir com eles.

Assim, por que Pedro teria qualquer dúvida? Desde a ascensão de Cristo, Pedro havia passado anos corajosamente pregando o Evangelho, mesmo correndo o risco de morte e prisão. Ele confiava na liderança do Espírito Santo desde que o Espírito caiu sobre ele e os outros crentes em Pentecostes (Atos 2:1-4). A igreja cresceu. O Sinédrio não mais estava perseguindo ativamente aos seguidores de Cristo (Atos 9:31).

Com base nas tensões étnicas observadas neste capítulo, parecia provável que a razão pela qual o Espírito adverte Pedro a não ter dúvidas sobre aqueles homens era porque eles eram gentios romanos enviados por um centurião romano. Pedro ainda não sabia disso, mas logo saberia. Foi por isso que o Espírito o preparou para confiar naqueles homens, fossem eles quem fossem, para onde quer que o levassem. A visão que ele acabara de vivenciar também lhe foi enviada para prepará-lo para aquele momento.

Neste ponto da história, a lacuna entre judeus e gentios no restante do mundo era intransponível. Em alguns aspectos, eles pareciam viver em planetas distintos. Os judeus eram o povo escolhido de Deus, eles deviam ser santos, significando "separados". Eles não deveriam ser como todos os outros povos. E, embora Jesus tivesse tido várias interações significativas com vários gentios durante Seu tempo na terra, a maior parte de Seu ministério foi voltada ao povo judeu, porque essa era Sua missão (Mateus 15:24).

Da mesma forma, Pedro não tinha nada a ver com os gentios até o momento da partida de Jesus ao céu. Apesar do alcance global pretendido pela Grande Comissão (Mateus 28:19-20), Pedro e os outros apóstolos e evangelistas só pensavam em compartilhar o Evangelho ao povo judeu e aos semi-judeus (os samaritanos, Atos 8:12). Este não era um passo irracional, uma vez que Jesus havia dito que eles seriam Suas testemunhas em Jerusalém, Judéia e Samaria, bem como nas partes mais remotas da terra (Atos 1:8). Porém, agora, veremos Deus iniciar algo que alcançaria a todos os povos em todos os lugares.

No início de Atos 3, fica claro que Pedro ainda esperava que Israel, como nação, se arrependesse e aceitasse ao seu Messias, resultando no retorno de Jesus, para que Ele pudesse sentar-se no trono em Jerusalém e iniciar Seu Reino terreno. Isso significaria que Israel poderia ser restaurado e renovado conforme prometido (Atos 3:19-21; Jeremias 23:5-6; Daniel 9:24; Atos 1:6-7).

Porém, Deus estava abrindo um caminho de reconciliação com todos os povos. O vácuo deixado pelos judeus que haviam rejeitado a Jesus, o Messias, seria preenchido pelos gentios, um galho enxertado na árvore do povo escolhido de Deus (Romanos 11:15, 20).

Pedro crê e obedece ao Espírito. Ele desce do eirado da casa de Simão e se encontra com os homens de Cornélio. Após saudá-los, ele diz: "Sou eu a quem procurais; qual é a causa por que viestes?" (v. 21).

Os dois servos e o devoto soldado de Cornélio explicam seu propósito: "O centurião Cornélio, homem justo e temente a Deus, tendo bom testemunho de toda a nação judaica, recebeu um aviso de Deus, por meio de um santo anjo, que te mandasse chamar para sua casa e ouvisse as tuas palavras" (v. 22).

Os homens fornecem o máximo de evidências e garantias, para que Pedro confiasse neles. Eles sabiam que ele, como judeu, e eles, como representantes de um oficial do império, naturalmente não tinham nada a ver um com o outro.

Entretanto, eles não escondem quem era seu mestre: Cornélio, o centurião (comandante de cem soldados romanos em Israel).

No entanto, eles não usam de autoridade, nem se esforçam para obrigar Pedro a ir com eles. Eles são cuidadosos e respeitosos, explicando que tipo de homem seu mestre Cornélio era:

  • Justo
  • Temente
  • Com bom testemunho diante de toda a nação judaica

Anteriormente, Lucas, o autor de Atos, havia descrito Cornélio em termos semelhantes: "Piedoso e temente a Deus com toda a sua casa, e que fazia muitas esmolas ao povo e de contínuo orava a Deus" (v. 2). Apesar de ser romano, Cornélio passou a crer e adorar a Javé, o Deus Vivo de Israel.

Cornélio era temente a Deus, o que significava que ele valorizava o que Deus pensava sobre ele. Ser justo significava que ele vivia em obediência aos padrões corretos de Deus de como melhor viver, que era, em essência, amá-Lo de todo o coração e amar ao próximo como a si mesmo.

O caráter justo e temente a Deus de Cornélio era exteriormente evidente porque ele tinha o testemunho de toda a nação dos judeus. Esta frase também pode ser traduzida como "tem boa reputação na nação judaica", significando que onde quer que Cornélio fosse, ele era respeitado. Ele apoiava financeiramente aos judeus de Cesaréia, ele os tratava bem e não era opressor, como os outros ocupantes romanos e funcionários do governo. Ele era simpático aos judeus e, pelo fato de adorar ao seu Deus, ele sabia que eles eram o povo escolhido de Deus; assim, ele os tratava com respeito.

Pedro confia nos servos porque o Espírito lhe instruiu a fazê-lo. Ele estende a hospitalidade aos viajantes: Por isso os convidou e lhes deu alojamento (v. 23).

Um judeu convidar a um romano gentio para ficar com ele em sua casa era algo inédito.

Era um grande passo para Pedro convidar gentios para entrar na casa de seu anfitrião. Ele estava começando a entender o que a visão havia comunicado.

Eles descansaram durante a noite, presumivelmente compartilhando uma refeição e conversando, estabelecendo um relacionamento. Na manhã seguinte, os servos partem. Por obediência ao Espírito Santo, no dia seguinte Pedro também se levantou e foi com eles. Pedro não foi sozinho; alguns irmãos de Jope o acompanharam (v. 23). Esses irmãos também eram judeus crentes em Cristo. Dos crentes judeus nomeados em Jope, sabemos de Simão e Tabita, recentemente ressuscitada após sucumbir a uma doença (Atos 9:36, 43).

Também é interessante notar alguns paralelos e distinções entre esta narrativa e a história de Jonas.

Jonas, o profeta, foi instruído por Deus a levar uma mensagem a seus inimigos gentios, os assírios. Jonas via os assírios como profanos e impuros, merecedores da ira de Deus e fez tudo o que pôde para impedir que a compaixão (graça) de Deus chegasse aos assírios (Jonas 4:2). Ele foi para Jope, a mesma cidade onde Pedro estava morando com Simão, navegando para o oeste - na direção oposta à de seu chamado.

Pedro também é instruído por Deus a levar uma mensagem aos inimigos gentios, os romanos. Deus começa a trabalhar no coração de Pedro, mudando a forma como ele percebia os gentios profanos e impuros como capazes de serem purificados e acolhidos pela compaixão de Deus (v. 15). Pedro, que tinha um pai chamado Jonas (Mateus 16:17), deixa Jope, indo exatamente para onde Deus o orientara a ir.

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