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Significado de Atos 10:24-29
Pedro partiu de Jope por ordem do Espírito Santo, buscando encontrar-se com um centurião romano, um oficial do exército, chamado Cornélio. Dois servos e um soldado a serviço de Cornélio viajam com ele de Jope a Cesaréia.
Jope era uma cidade localizada na costa do Mar Mediterrâneo, enquanto Cesaréia era outra cidade litorânea cerca de 45 quilômetros ao norte de Jope (ver mapa). Cesaréia era um grande e movimentado centro comercial e de transporte durante o primeiro século, uma porta de entrada da Europa para o Oriente Médio. Era a principal sede de governo do governador romano da Judéia. Assim, podemos inferir que Cornélio era um oficial romano altamente considerado.
No dia seguinte, um dia depois de deixar Jope, Pedro entrou na cidade de Cesaréia. Cornélio os esperava e havia convocado seus parentes e amigos próximos (v. 24). Sendo crente e temente a Deus, Cornélio estava animado com a chegada de Simão Pedro (v. 5). Através de um anjo, Deus havia dito a Cornélio para mandar buscar a Pedro em Jope.
Enquanto esperava, Cornélio sem dúvida se perguntava o que aquele homem que Deus estava enviando diria ou faria. Ele esperava que fosse algo importante, algo que valesse a pena ouvir e queria compartilhar o momento com seus parentes e amigos próximos, para que eles também fossem abençoados pelo que estava para acontecer. Os parentes de Cornélio também eram gentios, assim como seus amigos próximos. Sua família também cria em Deus (v. 2), de modo que seus servos e familiares estavam, sem dúvida, tinham grande expectativa.
Quando Pedro entrou, Cornélio encontrou-o, caiu a seus pés e adorou-o (v. 25). Aquilo foi uma reação excessiva, talvez um tanto inadequada, do nosso ponto de vista. Porém, isso mostrava a expectativa de Cornélio e até que ponto ele já havia decidido seguir ao que o mensageiro de Deus lhe dissesse.
Se prostrar e adorar não era algo incomum na Bíblia quando os homens eram dominados pelo fervor de um encontro sobrenatural. Até mesmo o apóstolo João, que havia conhecido a Jesus e era amigo próximo Dele, caiu e adorou ao anjo em meio a uma visão sobre o fim dos tempos. O anjo prontamente o levantou e lhe ordenou que ele adorasse somente a Deus (Apocalipse 22:8-9). Pedro faz o mesmo com Cornélio: “Mas Pedro o levantou, dizendo: Levanta-te; também sou apenas um homem" (v. 26).
Neste ponto, Pedro já parecia ter entendido a visão que havia tido dias antes (Atos 10:10-16). Talvez ele tivesse conseguido compreeendê-la no caminho para Cesaréia, ou no momento em que os servos romanos chegaram à sua casa em Jope. Pedro não despreza Cornélio, nem se aproveita da humildade do homem. Era uma coisa estranha a um ex-pescador da região da Galileia ver um centurião romano se curvar diante ele. Pedro traz Cornélio de volta ao seu nível: "Eu também sou apenas um homem".
Pedro havia andado sobre as águas, havia sido discípulo do Filho de Deus, havia falado em línguas que nunca antes havia conhecido, havia curado aos enfermos e, recentemente, havia ressuscitado uma mulher em Jope. Ele pode ter sentido a tentação do elitismo, do orgulho, de ter um centurião romano se curvando a ele. Cornélio era um oficial romano dentro do quartel-general da maior potência da época. Assim, do ponto de vista humano, ele tinha um status muito elevado. Porém, Cornélio entendeu que, na dimensão espiritual, Pedro tinha uma autoridade superior. Isso confirmava a afirmação de que Cornélio era um homem justo.
Pedro sabia que tudo o que havia feito era pelo poder de Cristo e que ele também era apenas um homem a quem Deus havia chamado, a quem Deus havia salvo e que Deus, agora, usava como instrumento para Sua boa vontade. Deus o havia preparado para aquele momento, enviando-lhe a visão dos animais imundos, declarando-os limpos e não mais profanos (v. 15). Pedro, agora, entendia que aquele gentio "profano e imundo" era chamado para ser "santo e limpo" como parte do Reino de Jesus.
Cornélio se prostra aos pés de Pedro à porta de sua casa, imediatamente após ele ter entrado. Falando com ele, entrou, e achou muitos reunidos (v. 27). Ele provavelmente não esperava tamanha multidão, pois havia sido informado de que iria encontrar-se com um homem chamado Cornélio. Pedro, porém, aproveita o momento.
Ele havia se dirigido a multidões maiores, como os muitos milhares em Jerusalém no Pentecostes anos antes (Atos 2:41). No entanto, aquele era um bom grupo de gentios, reunidos na casa de um comandante romano. Os parentes e amigos próximos de Cornélio esperavam ouvir o que ele tinha a dizer. Assim, Pedro fala. Ele revela a lição que Deus lhe havia ensinado através da visão dos animais proibidos no lençol baixado do céu.
E diz ao povo ali reunido: "Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou chegar-se a um de outra nação; todavia, Deus mostrou-me que a ninguém chamasse impuro ou imundo” (v. 28).
Embora todos eles fossem romanos gentios, eles haviam vivido em Israel tempo suficiente para saberem como o povo judeu se diferenciava na tentativa de manter sua cultura e religião puras e santas, não misturando-se com os modos comuns e corruptos do mundo (Deuteronômio 14:2). Os romanos sabiam como era ilegal para um judeu como Pedro associar-se a um estrangeiro ou visitá-lo.
Pedro explica como estava quebrando o costume judaico, até mesmo a Lei, de se associar a homens que seu povo considerava estrangeiros (e invasores). Visitar um estrangeiro em sua própria casa era algo inédito. Porém, Pedro havia vindo mesmo assim, e explica por que, após compreender a estranha visão que tinha tido dois dias antes: "E disse-lhes: Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou chegar-se a um de outra nação; todavia, Deus mostrou-me que a ninguém chamasse impuro ou imundo; por isso, sem objeção, vim logo que fui chamado" (v. 28,29).
Pedro estava deixando de lado as armadilhas do elitismo e do preconceito que haviam se infiltrado na cultura judaica na época. Era verdade que Deus havia escolhido os judeus para serem Seu povo e os havia chamado para viverem longe do mundo. Deus não pretendia que os judeus fossem uma nação eremita, que se isolasse em seu complexo de superioridade. O propósito de Deus para separar uma nação específica de pessoas era para que eles fossem sacerdotes para o restante do mundo, indicando à raça humana como voltar a Deus, vivendo em temor e obediência a Ele, mostrando às outras nações como amar ao próximo como a si mesmos, em vez de explorarem uns aos outros (Êxodo 19:6; Isaías 42:6).
A Bíblia está repleta de indicações de que Deus chama a todos os povos de volta a Ele desde a queda do homem e seu banimento do Éden (Isaías 19:19-25; 56:6-8; Jonas 3:7-10; Daniel 4:34-35; Gênesis 15:16; 2 Reis 5:17). O apóstolo Paulo afirma isso claramente ao pregar o Evangelho aos atenienses, dizendo-lhes:
"E de um só fez todo o gênero humano para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os seus tempos determinados e os limites da sua habitação; 27para buscarem a Deus, se, porventura, apalpando, o achassem, ainda que não esteja longe de cada um de nós. 28Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como até alguns dos vossos poetas o têm dito: Porque dele também somos geração" (Atos 17:26-28).
O Livro de Rute é a história de uma mulher moabita (gentia) levada a seguir ao Deus dos israelitas pelo exemplo de sua sogra judia Noemi. Raabe, a cananéia (gentia) escolheu ao Deus de Israel e viveu, enquanto o restante de Jericó e seus habitantes foram destruídos. Tanto Rute quanto Raabe foram honradas por Deus ao serem incluídas na linhagem de Cristo (Mateus 1:5). O rei babilônico Nabucodonosor (gentio) e o governante persa Dario (gentio) adoraram a Javé como o Deus Vivo. Na promessa de Deus a Abraão, Ele disse que todas as nações seriam abençoadas por meio dele (Gênesis 12:3).
Agora, Pedro entende que as boas novas da salvação do pecado e da morte deveria chegar a todas as pessoas e que ele deveria ministrar a elas. A boa notícia era a de que Deus fizera um caminho de reconciliação com Ele, convidando a todos os descendentes de Adão e Eva a se voltarem a Ele, não apenas o povo judeu. Pedro, agora, entende que a visão não tinha a ver com os animais que ele poderia comer. Deus estava mostrando que ele não deveria chamar a nenhum homem de profano ou imundo. Pedro precisava deixar de lado seu viés cultural e olhar para o valor intrínseco dos seres humanos a quem Deus o havia enviado a ministrar.
O coração de Pedro precisou mudar antes que esse momento pudesse acontecer. Deus o estava preparando para não olhar mais para os gentios como "outros" ou "fora da tenda". Deus iria redimir pessoas de todas as nações. Ninguém seria esquecido. Deus havia enviado a Jesus para redimir ao mundo inteiro, porque Ele amou ao mundo inteiro (Colossenses 2:14; João 3:16).
Pedro testemunhou Jesus falar sobre o alcance mundial da salvação durante Seu ministério, embora claramente não tivesse compreendido isso totalmente até aqui. Pedro havia visto um outro exemplo envolvendo um outro centurião romano que demonstrara sua fé em Jesus, uma fé tão forte que impressionou até mesmo ao próprio Jesus, pois era maior que a fé que qualquer israelita já havia mostrado até aquele ponto:
"Jesus, ouvindo isso, admirou-se e disse aos que o acompanhavam: Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei tamanha fé. Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e hão de sentar-se com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus" (Mateus 8:10-11).
Aqui, Jesus prediz que "muitos virão do oriente e do ocidente" para se sentarem à "mesa", ou seja, estrangeiros e gentios, como o centurião romano (do ocidente) se sentariam à mesa de honra na festa de Sua coroação quando Ele tomar Seu trono na terra, conforme profetizado. Não serão apenas judeus sentados nas cadeiras de honra, mas homens e mulheres de todo o mundo, oriente e ocidente de Israel. Ele se assentariam como os seguidores mais reverenciados de Deus, da mesma forma que os patriarcas Abraão, Isaaque e Jacó.
Pedro começa a compreender a plenitude do ministério do Evangelho, a plenitude da Grande Comissão dada por Cristo antes de Seu retorno ao Céu (Mateus 28:18-20). Deus está abrindo o Evangelho a todos os povos. Pedro diz a Cornélio e seus convidados: "Eu sou apenas um homem, mas Deus me ensinou a ver todas as pessoas como Ele as vê. Foi por isso que vim sem sequer levantar qualquer objeção. Não resisti nem reclamei. Eu não menosprezo a nenhum de vocês. Venho como seu igual, sem hostilidade ou superioridade, como um homem que também teme a Deus."
Ele, então, faz a pergunta óbvia: Por que razão me mandaste chamar? (v. 29).
“Por que você me chamou aqui? O que você gostaria de saber?” Pedro não estava ali para ser servido, ele estava ali para servir, assim como Seu Senhor o havia ensinado (João 13:12-17).