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Significado de Atos 12:12-17
Anteriormente, antes de descrever o resgate de Pedro da prisão, Lucas informa a seus leitores que a igreja em Jerusalém estava orando incessantemente por ele: "Mas, a igreja orava com insistência a Deus por ele" (v. 5). No entanto, eles pareciam estar orando para que Pedro morresse como uma testemunha fiel, porque o povo judeu estava esperando que Pedro fosse executado (Atos 12:11).
Depois de refletir (com certeza o Senhor havia enviado Seu anjo e o havia resgatado das mãos de Herodes e de sua execução - v. 11), foi à casa de Maria, mãe de João, que tem por sobrenome Marcos (v. 12).
Pedro provavelmente tenha ido para lá por ser um lugar comum de reunião dos crentes em Jerusalém. João, que tem por sobrenome Marcos, aparecerá no final deste capítulo, embora ele também pudesse estar na casa de sua mãe Maria naquela noite orando com os outros. Acredita-se que João Marcos seja o escritor do Evangelho de Marcos (baseado nas memórias de Pedro sobre a vida e o ministério de Jesus Cristo).
Muitas pessoas estavam congregadas e oravam (v. 12).
Os crentes não foram a Herodes e para pedir-lhe que mudasse de opinião a respeito de Pedro. Eles não foram aos fariseus e saduceus para buscar um acordo ou implorar pela vida de Pedro. Ele tampouco tentaram planejar invadir a prisão e tirar Pedro à força.
O que eles fazem na casa de Maria é mostrar que acreditam no poder da oração. Enquanto Pedro estava na prisão, eles estavam de joelhos orando por ele. Eles estavam buscando a Deus, pedindo-Lhe em favor de Pedro. Eles suplicaram a Deus durante toda a noite.
No entanto, eles pareciam estar orando por algo diferente da libertação de Pedro, porque todos esperavam que ele fosse executado (Atos 12:11). Além disso, eles ficaram completamente chocados quando Pedro foi libertado. É provável que eles estivessem orando pela paz no coração de Pedro (algo que foi respondido, já que Pedro estava dormindo profundamente na prisão), ou por sua fidelidade à Cristo na morte.
Não sabemos que hora era, mas claramente já era madrugada. A manhã não chegaria até o versículo 18. Durante toda a noite, os crentes de Jerusalém oravam sem cessar por Pedro.
Quando ele bateu ao postigo do portão, veio uma criada chamada Rode ver quem era (v. 13).
Maria parecia ser financeiramente próspera, já que tinha uma criada e um portão, o que significava que possivelmente houvesse bom um espaço entre a porta da casa e a rua. Ou, possivelmente, havia um muro ao redor da casa de Maria. Rode, a criada, veio ver quem estava batendo ao portão no meio da noite.
O portão era tal que ela não conseguia ver quem estava do lado de fora; ela só podia ouvir a pessoa falar. Pedro, então, pede para entrar, provavelmente se identificando. Ela o ouve e sua reação é de entusiasmo:
Reconhecendo a voz de Pedro, de gozo não abriu o portão, mas, correndo para dentro, contou que Pedro estava ali (v. 14).
Ela estáficou tão agitada que se esqueceu de deixar Pedro entrar.
Ela correu para a casa e disse a sua senhora Maria e aos outros crentes que Pedro estava do lado de fora, na frente do portão.
Embora eles estivessem orando a noite toda por Pedro, aparentemente isso não era algo pelo qual eles haviam orado. Aquilo não parecia fazer parte dos resultados esperados, embora esta não fosse a primeira vez que Pedro saísse da prisão pela intervenção de Deus (Atos 5:19-20). Semelhante às mulheres que relataram a respeito da ressurreição de Jesus (Lucas 24:10-11), as pessoas reunidas ali não acreditam na pobre Rode.
Eles lhe disseram: Estás louca!
Eles achavam que era mais provável que ela estivesse louca do que dizendo a verdade. Talvez por estarem acordados até altas horas eles tivessem começado a se perguntar se ela estava sonhando, não em sã consciência.
Rode não recua. Ela sabe o que ouviu ao portão.
Ela, porém, asseverava que era ele. Pedro estava livre do lado de fora do portão. A cena era cômica! Rode fica tão entusiasmada ao ouvir a voz de Peter que ela o deixa lá para anunciar a notícia aos que estavam dentro da casa.
Ainda mais absurdo foi ela e os outros crentes começarem a discutir sobre Pedro estar ou não no portão, em vez de saírem e provarem de uma forma ou de outra.
Os crentes descartam as palavras de Rode novamente:
Diziam: É o seu anjo (v. 15).
É discutível o que eles quiseram dizer com “é seu anjo”. Alguns interpretam isso como significando que eles criam que Pedro havia morrido e seu espírito estava falando com Rode, ou que o "anjo da guarda" de Pedro havia falado com ela. Essas interpretações são improváveis por várias razões. Por um lado, Jesus nunca ensinou sobre nosso espírito permanecer aqui após a morte. Ele ensinou que os crentes são enviados ao Paraíso e os incrédulos ao Hades, o lugar dos mortos (Lucas 16:22-23). Assim, para aqueles crentes devotos acreditarem em fantasmas, algo contrário à sua fé, era improvável.
Além disso, aqueles irmãos estavam céticos naquele momento. Eles descartam a alegação de Rode de que fosse Pedro. Seu argumento era: "Isso é uma bobagem, Pedro não pode estar fora. Pedro está preso, cercado por guardas." Fazia mais sentido que eles concluíssem que, ao invés de Peter realmente ter sido liberto da prisão, Rode estivesse interagindo com um espírito ou um anjo. Por que eles achariam mais provável que os espíritos estivessem conversando com a moça? Isso significava que eles haviam escolhido uma explicação sobrenatural duvidosa no lugar de uma explicação sobrenatural lógica (lembre-se de que Pedro havia sido liberto da prisão por um anjo do Senhor antes — Atos 5:19-20).
O que eles queriam dizer com a palavra “anjo”? Vale lembrar que a palavra “anjo” é a palavra grega "angelos", que significa "mensageiro" ou "arauto". Nem sempre se refere a um ser espiritual, como vemos em Mateus 11:10, onde João Batista é tratado como homem e mensageiro:
Eis aí envio eu ante a tua face o meu anjo, que há de preparar o teu caminho diante de ti.
Assim, talvez os crentes tivessem pensado que Pedro havia enviado um mensageiro, alguém para atualizá-los sobre sua condição na prisão. De qualquer forma, eles não acreditavam que Pedro estivesse fisicamente do lado de fora da porta, livre de seu cativeiro. Eles descartaram a moça como louca e concluem que era outra pessoa lá fora, embora ela atestasse firmemente saber de quem era aquela voz.
Enquanto o debate se arrasta, Pedro fica o tempo todo do lado de fora, batendo no portão:
Mas, Pedro continuava a bater.
Finalmente, os crentes saíram e viram quem estava batendo: Quando abriram o portão, viram-no e ficaram atônitos (v. 16).
Afinal, era Pedro. Ele estava ali, ninguém o estava perseguindo, nenhum som de alarme nas ruas de Jerusalém. Ele havia passado por dezesseis soldados e estava ali no portão de Maria. Os crentes ficaram atônitos. Suas orações haviam sido respondidas, mas aparentemente muito além de suas expectativas.
A reação deles - atônitos - é interessante. Eles não teriam ficado acordados a noite toda orando por Pedro se não cressem que sua oração o ajudaria; mas, ainda assim, ficaram incrédulos com o anúncio de Rode de que Pedro estava do lado de fora e espantados ao ver que ela estava dizendo a verdade!
Eles pareciam estar orando para que Pedro fosse forte em seu martírio. Eles sabiam que ele era uma testemunha fiel que não temia a morte, pois a morte apenas o levaria à sua recompensa no Reino de Deus. Jesus havia ensinado esse princípio muitas vezes. Jesus também revelou a João que isso se aplicava a todos os crentes (Apocalipse 3:21). Porém, neste caso, Deus responde à sua oração de uma maneira inesperada; ainda não é tempo de Pedro ser martirizado. Isso viria mais tarde.
É razoável que os guerreiros de oração esperassem que Pedro fosse executado. O contexto daquele momento era o de que apóstolo Tiago acabara de ser morto. Talvez eles também tivessem orado por Tiago. Assim, eles oraram a noite toda por Pedro. Eles criam que, quaisquer que fossem suas dúvidas ou temores, Deus lhes responderia. Ele havia dado paz a Pedro, pois ele dormiu profundamente na noite anterior à sua execução (Atos 12:6-7). No entanto, Deus decide libertá-lo mais uma vez, tirando-o da prisão.
Pedro vai imediatamente ao ponto, o que é característico dele:
Mas ele, acenando-lhes com a mão que se calassem, contou-lhes como o Senhor o tirou do cárcere e acrescentou: Anunciai isso a Tiago e aos irmãos. E, saindo, retirou-se para outro lugar (v. 17).
Pedro dá a Deus o crédito e a glória por sua fuga. Como poderia ter sido de outra forma? O Senhor o levara para fora da prisão e sua vida fora salva.
Por fim, Pedro diz: " Anunciai isso a Tiago e aos irmãos. E, saindo, retirou-se para outro lugar (v. 17).
Não sabemos para onde ele foi, apenas que era outro lugar. Talvez sua própria residência. Talvez para contar aos outros sobre sua liberdade. Sabemos que Pedro tinha uma esposa (Mateus 8:14-15) e ela poderia estar em outro lugar da cidade, preocupada com ele. Assim, ele pede ao grupo de oração que dê um relatório a Tiago e aos irmãos de que ele havia sido libertado da prisão pelo Senhor.
Qual Tiago era esse? Obviamente, não era o apóstolo Tiago, que acabara de ser morto. Este Tiago era provavelmente o meio-irmão de Jesus. Tiago era um dos líderes da igreja em Jerusalém (Gálatas 1:19; 2:9). Ele parecia ser um líder entre os anciãos da igreja, já que ele fala algumas vezes em nome deles ou é especialmente mencionado (Atos 15:13, 21:18). Este Tiago escreveu o que é considerada a mais antiga de todas as cartas da igreja, o Livro de Tiago. Ele inicialmente não acreditou que seu meio-irmão Jesus fosse o Messias (João 7:5).
Eventualmente, entretanto, Tiago colocou sua fé no Cristo ressuscitado e serviu como pastor a outros crentes em Jerusalém. Ele falaria em defesa do Evangelho da graça de Jesus no Concílio de Jerusalém (Atos 15:13-21), pondo fim às tentativas de certos crentes judeus que queriam que os crentes gentios fossem obrigados a guardar a Lei Mosaica para serem justos diante de Deus.
Assim, Pedro queria que a notícia de seu resgate da prisão fosse passada a um dos principais membros da igreja, para que ele pudesse ouvir da bondade de Deus e repassar a maravilhosa notícia aos outros membros da igreja. É provável que os membros da igreja de Jerusalém estivessem dormindo amedrontados depois da morte do apóstolo Tiago e da prisão do apóstolo Pedro, bem como pelo fato de Herodes haver prendido e espancado outros crentes não identificados (Atos 12:1).
Porém, Deus estava pondo um ponto final na perseguição desse rei perverso contra Seu povo. No texto seguinte, Lucas relata que Herodes morre, não Pedro. O destino do rei se deu, em grande parte, pelos maus tratos e execução dos judeus, especialmente os seguidores do Filho de Deus.