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Significado de Atos 4:13-22

Os líderes religiosos ficam chocados com o fato de Pedro e João falarem de forma tão desafiadora. Eles veem que os apóstolos são incultos, mas foram seguidores de Jesus durante Sua vida. Eles libertam a Pedro e João porque as pessoas que testemunharam a cura louvavam a Deus pelo milagre; porém, eles os advertem a não mais pregar sobre Jesus. Pedro e João respondem que obedecerão a Deus, não aos homens.

Pedro e João haviam sido presos por pregarem no templo acerca da ressurreição de Jesus, após curarem a um homem aleijado. Agora, o Sinédrio lhes pede que expliquem como haviam curado ao homem anteriormente paralítico. Pedro dá seu testemunho, dizendo que foi através do Nome de Jesus que o homem foi curado, o mesmo Jesus a quem os fariseus e saduceus haviam matado e a quem Deus havia ressuscitado. Por fim, Pedro declara que Jesus era o Messias de Deus e que não havia nenhuma chance de salvação além Dele.

Pedro diz isso ao mesmo concílio que havia se oposto a Jesus durante todo o Seu ministério, planejando com sucesso Sua execução. Porém, Pedro diz ao concílio que eles haviam falhado, que Jesus estava vivo, tendo ressuscitado dentre os mortos. E que a única maneira de serem considerados justos na presença de Deus era através Dele.

Os fariseus e saduceus são surpreendidos pela ousadia e articulação de Pedro: Agora, ao observarem a confiança de Pedro e João e entenderem que eram homens incultos e sem treinamento, ficaram maravilhados e começaram a reconhecê-los como tendo estado com Jesus. Os membros do conselho eram altamente instruídos, enquanto Pedro e João eram trabalhadores braçais, pescadores. É interessante notar que Deus usa àqueles sem credenciais acadêmicas para trazer a verdade aos educados.

Em Atos 2:7, quando o Espírito Santo começa a falar por meio dos discípulos em línguas estranhas, aqueles que os ouviam reagiram da mesma forma: "Por que, não são todos estes que falam galileus?" A Galiléia era um lugar remoto e rural, não conhecido por produzir acadêmicos ou pensadores. Qualquer pessoa em Jerusalém que encontrasse os discípulos reconheceria que eles eram da Galiléia por seu sotaque. O Sinédrio entendia que Pedro e João não eram rabinos, eram homens incultos e sem treinamento para seus padrões. No entanto, Jesus tinha padrões diferentes e seu próprio processo de credenciamento baseado no serviço e na fidelidade.

O conselho não podia ignorar a confiança desses dois homens. Eles ficaram espantados com a forma como Pedro falava. Logo começaram a reconhecê-los, com razão, como tendo estado com Jesus. O concílio percebe que aqueles homens haviam andado com Jesus, que tinham passado tempo com Ele e que Jesus estava tão perto deles que podiam reconhecer que faziam parte Dele. Pedro e João não eram educados ou instruídos. Eles eram pescadores pobres. Porém, eles haviam estado com Jesus por três anos e, agora, o Espírito Santo continuava a fazer a vontade de Deus através deles.

De alguma forma, aquela situação pegou a todo o conselho desprevenido. Eles aparentemente pensavam que o problema de Jesus havia sido resolvido quando O crucificaram. Porém, ali estavam Seus discípulos, pregando a salvação em Seu nome e, além disso, realizando milagres em público. Os fariseus e saduceus estavam estarrecidos. O homem curado também estava presente no julgamento, pois sua cura criou a agitação no pátio do templo. E vendo o homem que havia sido curado de pé com eles, os líderes religiosos não tinham nada a dizer em resposta. Não havia como argumentar que um homem aleijado que mendigava no templo todos os dias por anos estava andando.

Mas, quando ordenaram que deixassem o Concílio, dispensando Pedro e João para que pudessem determinar um julgamento, os líderes religiosos começaram a conversar uns com os outros, dizendo: "Que faremos com esses homens? Pois o fato de que um milagre notável ocorreu através deles é evidente para todos os que vivem em Jerusalém, e não podemos negá-lo." O fato de lermos sobre essas deliberações indica que alguns dos membros do conselho ou escrivães que trabalhavam para eles haviam crido no Senhor, ou seja, se tornado crentes depois disso, estando dispostos a transmitir a informação a Lucas, o autor do Livro de Atos.

Como poderiam criticar o fato de um coxo haver sido curado? Eles claramente o viam bem diante deles e não podiam ignorar o milagre. Eles não podiam negar que Deus havia feito algo sobrenatural, algo que o homem jamais poderia fazer. Eles aparentemente não sabiam o que fazer com Pedro e João. Como líderes religiosos que pretendiam servir ao Deus de seus pais, era estranho que eles quisessem fazer alguma coisa com Pedro e João.

Para eles, os homens que operavam milagres que apenas Deus poderia realizar representavam um problema. Em vez de ouvir ao que aqueles homens tinham a dizer, percebendo que Deus havia agido por meio deles, que suas palavras eram verdadeiras a respeito de Jesus — em vez de se arrependerem pelo pecado de terem crucificado a Jesus e buscarem a salvação em Seu nome (Atos 3:19, Atos 4:12) — a pergunta que os fariseus e saduceus ponderam é:  "O que fazemos com esses homens? Eles estão criando problemas para nós."

O conselho é astuto o suficiente para ver que não tinham nada contra os discípulos, que era o notável milagre realizado através deles era um fato. De que outra forma o notável milagre poderia ter ocorrido, senão por Deus? Porém, isso não parecia importar para os líderes religiosos. Eles estavam preocupados que o milagre notável estivesse sendo comentado em toda a cidade, que fosse evidente a todos os que viviam em Jerusalém que o homem aleijado tivesse sido curado e não poderem negá-lo. Em vez de ficarem admirados com o milagre ocorrido, ou de se alegrarem com o homem curado, eles lamentam não poder negá-lo. Eles não iriam conseguir suprimi-lo ou escondê-lo, porque todos já o conheciam. A obsessão por o seu poder político parece tê-los cegado para a incrível oportunidade que se lhes apresentava.

Assim, os fariseus e saduceus decidem dizer a Pedro e João que parem de falar: Mas, para que não se espalhe mais entre o povo, vamos adverti-los a não falar mais a nenhum homem neste nome.

Eles decidem que a única coisa a ser feita é libertar a João e Pedro, já que não tinham fundamentos legais para puni-los, nem eram capazes de fabricar falsas acusações no impulso do momento, como haviam feito com Jesus (Mateus 26:59-62). Eles pensavam que, talvez, se os advertissem a não pregar o Evangelho de Jesus, Pedro e João ficassem intimidados.

É notável que eles não falassem o nome de Jesus nem mesmo entre si, dizendo: Vamos adverti-los a não falar mais a nenhum homem sobre este nome, em vez de "em nome de Jesus". Seja por culpa, medo, vergonha ou orgulho, eles nem sequer nomeavam o homem que aqueles galileus alegavam ser o Messias de Deus ressurreto dentre os mortos, o homem a quem eles haviam matado. Eles estavam tão preocupados em eliminar a questão sobre Jesus que não queriam dignificar o problema nomeando-O.

Os corações dos líderes estavam tão endurecidos que nem percebiam os sinais de Deus diante dos seus olhos: Jesus estava diante deles, falando as palavras de Deus, fazendo milagres, morrendo na cruz, ressuscitando. Deus lhes estava dando outra oportunidade. Ele cura ao homem aleijado, Ele fala através de Pedro, Ele declara que Jesus era Seu Messias e o Salvador para Israel, e novamente eles endurecem seus corações e se recusaram a ver. Em vez disso, eles apenas se apegavam ainda mais a seu poder, desejando perpetuar seu modo de vida e manter suas tradições.

Quando o concílio convocou Pedro e João, ordenaram-lhes que não falassem nem ensinassem sobre o nome. Não houve ameaça de punição, apenas a esperança de que Pedro e João tivessem medo do poder político do Sinédrio.

Porém, Pedro e João responderam e disseram-lhes: "Se é justo aos olhos de Deus dar-vos ouvidos em vez de a Deus, vós sois o juiz; pois não podemos deixar de falar sobre o que vimos e ouvimos".

A ordem era parar de falar de Jesus.

A resposta dos apóstolos é muito simples: "Não".

Pedro e João devolvem a autoridade do Sinédrio de volta a eles. Eles perguntam aos fariseus e aos saduceus se era correto aos olhos de Deus dar ouvidos a eles, ao invés de a Deus. Cabia aos líderes religiosos serem os juízes do que era correto: seguir aos homens ou seguir a Deus? É claro que aquela era uma pergunta retórica, uma acusação velada de que os fariseus e saduceus não estavam dando ouvidos à vontade de Deus.

Novamente, Pedro e João são ousados e honestos. Eles dizem aos líderes que não irão obedecê-los: Pois não podemos parar de falar sobre o que vimos e ouvimos. Os apóstolos não podiam deixar de pregar a Jesus. Não havia outra escolha. Que escolha eles tinham? Eles haviam visto e ouvido o Filho de Deus pregar o Reino de Deus por três anos, curando, expulsando demônios e ressuscitando os mortos. Finalmente, depois de verem o Filho ser morto, viram-no ressuscitar. Os apóstolos tinham visto e sido ensinados por Jesus por quarenta dias após Sua ressurreição a respeito do Reino de Deus (Atos 1:3). Eles O tinham visto subir e retornar ao Céu para se sentar ao lado da mão direita de Deus (Atos 1:9-11). Eles tinham visto e ouvido o Espírito Santo chegar sobre eles no Pentecostes e falar através deles em várias línguas, bem como realizar milagres e maravilhas através deles (Atos 2:43). Eles não podiam parar de falar sobre qualquer uma dessas coisas maravilhosas que Deus havia feito.

Sua resposta desafiadora desagradou ao Sinédrio, de modo que eles ameaçaram a Pedro e João ainda mais. O texto não diz como eles os ameaçaram, mas obviamente eles não foram tão persuasivos. O concílio não via outra opção senão deixá-los ir (não encontrando base para puni-los) por causa do povo, porque todos estavam glorificando a Deus pelo que havia acontecido, pois o homem tinha mais de quarenta anos de idade sobre quem esse milagre de cura havia sido realizado.

O homem curado não era jovem: ele tinha mais de quarenta anos. Mesmo para os padrões de hoje, esta é a fase adulta em termos de alguém curado. No primeiro século, para um pobre aleijado, quarenta anos provavelmente era um tempo considerado próximo da velhice. Ele havia mendigado no templo por muitos anos e era muito conhecido do povo judeu. Assim, os líderes religiosos não podiam alegar que a cura era falsa, que a cura do homem coxo era fake, que tudo era uma farsa para enganar as pessoas a crerem em Jesus. Não. Aquele mendigo havia estado no templo há anos. Os líderes não podiam dizer: "Ele apenas melhorou". Ele fora coxo durante toda sua vida. Eles sabiam que aquilo era um milagre. Eles não tinham base para punir Pedro e João, assim como não há base para se punir um médico que dê remédio a um paciente.

No entanto, não foi por causa dessas conclusões lógicas que eles os deixaram ir. Pelo contrário, foi por causa do povo judeu que o conselho não pôde agir. O povo judeu estava glorificando a Deus pelo que havia ocorrido. O conselho se preocupava com seu poder e prestígio e, então, eles sentiam a necessidade de acomodar à opinião do povo naquela questão. Eles navegavam na opinião pública, em vez de buscarem o que era verdadeiro e certo.

Os fariseus, saduceus e sacerdotes aparentemente teriam matado a Pedro e João se pudessem, assim como haviam feito com Jesus. Seu desejo de matar Jesus durou anos, até que encontraram a oportunidade certa de fazê-lo. Jesus evitou a morte em várias ocasiões (Lucas 4:28-30, João 10:39), às vezes porque os líderes religiosos sabiam que o povo se voltaria contra eles caso O prendessem (Lucas 20:19). Assim ocorre nesta circunstância com Pedro e João. Dado seu objetivo de manter o poder político, seria um movimento tolo colocar aqueles homens à morte, depois de terem curado ao oxo e levarem as multidões a adorar a Deus.

Em breve, a perseguição e o martírio dos crentes em Jesus começariam com Estêvão, quando o Sinédrio se enfurece com seu testemunho (Atos 7:54-60). Porém, neste momento, eles são cautelosos e calculistas.

Inspirada pelo Espírito Santo, a resposta de Pedro desafia a autoridade deles, porém se encaixa às admoestações bíblicas para obedecermos àqueles em posição de autoridade (Romanos 13:1-7; 1 Timóteo 2:1-2). Pedro chega a afirmar que devemos obedecer aos que têm autoridade:

"Submetei-vos, por amor do Senhor, a toda instituição humana, seja a um rei como o que tem autoridade" (1 Pedro 2:13).

A autoridade sempre possui hierarquias. A Constituição de um país tem prioridade sobre as leis feitas sob a Constituição. As leis federais têm primazia sobre as leis estaduais. Os pais de uma criança têm primazia sobre as instruções que podem ser dadas por outros adultos. No caso do desafio de Pedro ao concílio, os fariseus e saduceus estavam em violação direta dos mandamentos de Deus; assim, Pedro e João escolhem seguir à autoridade superior. Pedro e João não desafiam à autoridade em seu próprio nome, mas em nome de Deus, a quem o conselho dizia representar.

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