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Significado de Colossenses 3:16-17
Paulo iniciou este capítulo apresentando uma visão geral da mentalidade cristã, dizendo aos crentes colossenses que continuassem buscando as coisas do alto (Colossenses 3:1). Ele, então, se debruça sobre alguns comportamentos específicos, lembrando ao leitor, ao longo do caminho, sobre seu propósito geral. Nos dois versículos deste comentário, Paulo procura lembrá-los sobre o valor e a importância de nos focarmos nas coisas de cima.
Ele começa com uma instrução: A palavra de Cristo habite ricamente em vós. “Habitar” significa morar, residir. Esta metáfora sugere que a palavra de Cristo deveria se tornar inquilina do ser dos colossenses, deveria viver dentro deles. Não era suficiente ser visitada, retirada de uma prateleira em tempos de necessidade ou tomada emprestada de um amigo. A palavra de Cristo precisava viver dentro deles.
A frase “palavra de Cristo” indica duas palavras gregas: "logos" e "christos". “Christos” significa "ungido", referindo-se a Jesus como o Messias prometido, a semente de Abraão enviada por Deus para cumprir Sua promessa de redimir o mundo. O significado da palavra grega "logos" depende do contexto, podendo abranger um amplo espectro. Em um extremo do espectro, pode significar a declaração de uma palavra; no outro extremo, pode significar ter conhecimento e significado.
João 1:1 traduz "logos" como "verbo":
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (João 1:1).
A Palavra é o próprio Jesus. Jesus é o significado da palavra e todo significado provém Dele. Isso é consistente com a descrição de Paulo sobre Jesus no início desta carta:
"Porque por Ele todas as coisas foram criadas, tanto nos céus como na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos ou domínios, governantes ou autoridades, todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele. Ele está antes de todas as coisas, e nele todas as coisas se unem" (Colossenses 1:16-17).
Toda a existência é uma extensão de Jesus e todo significado provém Dele. A linguagem é um meio de comunicação, de formulação e troca de sentidos. A linguagem é, portanto, uma evidência da obra criativa de Deus. Portanto, a “palavra de Cristo” provavelmente abranja a todo um espectro de significados, desde a natureza (incluindo a presença da linguagem) e das Escrituras, até o próprio Jesus, em quem todas as coisas consistem.
A palavra escrita é a comunicação de Deus para nós e serve para nos ajudar a alcançar compreensão (2 Timóteo 3:16). Porém, Deus também projetou a criação para refleti-Lo e toda a criação serve como meio para alcançarmos mais compreensão (Salmos 19:1-4; Romanos 1:20, 10:18).
Além disso, as Escrituras ensinam que a própria pessoa de Cristo vive dentro de cada crente. Paulo afirmou isso abertamente no primeiro capítulo, usando a frase: "Cristo em vós" (Colossenses 1:27). O Espírito Santo habita em cada crente, liderando-os e guiando-os quando eles assim o permitem. Desta forma, Cristo está dentro de cada crente.
Paulo opta por acrescentar o advérbio “ricamente” à frase. Este termo aparece apenas quatro vezes na Bíblia (Colossenses 3:16, 1 Timóteo 6:17, Tito 3:16 e 2 Pedro 1:11). É a palavra grega "plousios" e significa "abundância". Habitar ricamente, assim, significa ter algo vivo em abundância.
C.S. Lewis fala sobre o crente como uma casa viva. Quando Cristo entra, Ele muda os móveis e conserta as paredes. Ele faz dela a sua casa. Com Cristo como inquilino, qualquer casa se torna uma mansão. Há uma abundância. No entanto, essa abundância só se manifesta quando a escolhemos. Devemos deixar que a palavra habite ricamente. Os verbos aqui estão no imperativo ativo. Paulo ordena a cada crente que escolha, em cada momento, de forma constante, permitir que toda a riqueza e abundância de Cristo seja uma realidade dentro deles. O resultado a vida e a paz, além das características que Paulo exorta os crentes a demonstrar, começando em Colossenses 3:12, incluindo a compaixão, a benignidade, a humildade, a mansidão e a longanimidade.
Andar no Espírito é buscar o que está acima, o que nos leva a experiências de vida e paz. Andar na carne é estar atolado no que está aqui embaixo, o que nos leva à experiência de morte e divisão (ver comentário sobre Gálatas 5:17-21 e 5:22-26).
O contexto deste capítulo, portanto, nos leva a concluir que, para permitirmos que a palavra de Cristo habite ricamente em nós, devemos tomar uma série de ações orientadas para o mesmo resultado: experimentar a vida e a paz.
Paulo instrui os colossenses a não apenas permitir que Cristo habite em seu interior, mas que permitam que Ele o faça em abundância — ricamente. Não devemos buscar superlotar nossa casa com inúmeros inquilinos diferentes. Devemos permitir que Cristo habite em nós ricamente. Este é o caminho para a vida e a paz. Este é o caminho para o nosso maior interesse.
Quando decidimos fazer isso, Cristo nos traz muitos benefícios que passam a fazer parte de nós mesmos e da maneira como agimos, pensamos e acreditamos. Portanto, a habitação de Cristo em nós vem com toda a sabedoria. Não apenas uma parcela de sabedoria, mas toda ela. O valor da sabedoria é que ela nos traz discernimento prático, conhecimento da ação. Ela nos ajuda a decidir como perceber e, portanto, o que fazer. A sabedoria é o conhecimento de como viver de forma eficaz e obter os maiores benefícios para nós mesmos e para os outros.
Quando somos capazes de nos envolver com a sabedoria em um nível individual, ela nos convida a nos envolver com a comunidade de forma mais eficaz, ensinando e admoestando uns aos outros. Ensinar é a arte de compartilhar sabedoria com os outros, transmitindo manifestações únicas de sabedoria entre as pessoas.
A palavra grega traduzida como “admoestar” é "noutheteo", significando literalmente "colocar na mente". Muitos acreditam que a palavra signifique advertir ou exortar. Mas, o coração da palavra é um chamado à conscientização, buscando lembrar uns aos outros sobre a verdade do Evangelho e a realidade de Cristo. Ao fazermos isso, decidimos buscar e viver na realidade da verdade eterna que vem do alto como um "esporte coletivo". Precisamos uns dos outros para descobrir e viver as verdades que levam à sabedoria diariamente, admoestando uns aos outros (Hebreus 10:24-25).
Paulo, então, diz aos crentes colossenses como realizar a tarefa de admoestar uns aos outros. Eles deveriam fazê-lo com salmos, hinos e cânticos espirituais. As três palavras são termos musicais. Um salmo é um conjunto musical ou uma ode sagrada. Cantar hinos significa entoar cânticos de louvor. A palavra grega traz o significado de "celebração".
A palavra "hinos" aparece apenas duas vezes nas Escrituras: aqui e em Efésios, quando Paulo lista os mesmos três termos musicais para fazer um apelo semelhante à igreja em Éfeso. Vale a pena notar que, nesta passagem da carta de Paulo aos Efésios, salmos, hinos e cânticos espirituais são citados como meios de sermos cheio do Espírito, algo que transparece como parte da reunião pública dos santos:
"E não vos embriagueis com vinho, pois isso é dissipação, mas enchei-vos do Espírito, falando uns aos outros em salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e fazendo melodia com o coração ao Senhor; sempre dando graças por todas as coisas em nome de nosso Senhor Jesus Cristo a Deus, até mesmo ao Pai" (Efésios 5:18-20).
O termo “cântico espiritual” é uma descrição bastante direta. É uma combinação de música e letra usada para se expressar uma verdade sobrenatural.
Paulo instrui os colossenses a cantar com gratidão em seus corações a Deus. A palavra “cantar” aparece com mais frequência no Livro do Apocalipse. Há uma série de canções lá que expressam verdades de cima e declaram coisas verdadeiras e reais.
A Bíblia contém uma série de cânticos. O livro de Salmos é composto por 150 canções diferentes cobrindo uma série de tópicos e ocasiões. Os Cânticos de Salomão são uma celebração do casamento e da sexualidade dentro do casamento bíblico. O Cântico de Moisés em Êxodo 15 relembra a libertação de Israel através do Mar Vermelho.
Moisés também escreveu uma canção registrada em Deuteronômio 31:30 - 32:43. Esta canção era um lembrete para Israel sobre sua história e as consequências contínuas de suas escolhas de fidelidade e obediência (que os levava à vida) ou infidelidade e desobediência (que os levava ao exílio e à morte).
O Cântico de Débora recorda a libertação de Israel em uma época em que os juízes lideravam e o povo exercia boa mordomia, conforme Deus havia ordenado (Juízes 5:1-3).
Paulo instrui os crentes colossenses a cantar com gratidão. A palavra traduzida por “gratidão” aqui é a palavra grega "charis", maioria das vezes traduzida como "graça". Geralmente significa "favor". A maioria das traduções do versículo 16 usam os termos "graça" e "gratidão" para traduzir a palavra grega "charis". Cantar com gratidão, neste caso, significa cantar a Deus por Seu favor.
"Charis" também pode se aplicar a cantar pelo "favor" de Deus a outras pessoas reunidas. Muitas vezes falamos em nosso mundo moderno sobre estender a graça ou dar graça a alguém. Trata-se, em essência, de disponibilizar favores aos outros, celebrando junto com eles.
Paulo instrui os colossenses a cantar com um alto nível de alegria, com um prazer que transcenda às circunstâncias e reconheça a maravilha infinita da sabedoria da Palavra de Deus.
Esta gratidão, ou graça, está em nossos corações. Assim, ela vem do núcleo dentro de nós (no qual Cristo habita) e é direcionada ao Deus do Universo (que também existe fora de nós, o tempo todo). Paulo sugere que os colossenses se juntem ao coro, cantando louvores ao Cristo que habita em nós e em todos os lugares ao mesmo tempo.
Isso é reforçado no versículo 17, um crescendo em relação a tudo o que Paulo falou até esta parte do capítulo 3:
Tudo quanto fizerdes, quer de palavras ou quer de obras...
A palavra “tudo” é, na verdade, a combinação de duas palavras gregas: "hos" ("o que" ou "qual") e "pas" ("tudo"). Assim, significa literalmente "tudo o que" fazemos em palavras ou ações. O termo “palavra” aqui é a tradução da palavra grega "logos". No versículo anterior, os crentes foram admoestados a permitir que a palavra ("logos") de Cristo habitasse ricamente neles. Aqui, Paulo reconhece que usamos palavras ("logos") para nos comunicar como parte significativa de tudo o que fazemos.
O termo “ação” são as atitudes que tomamos. O termo “obras” é uma tradução da palavra grega "ergon", da qual deriva a palavra "ergonômico". Na maioria das vezes, é traduzida como uma forma de "trabalho", aplicando-se ao que fazemos no trabalho, ou ao trabalho de nossas mãos, ao que criamos ou a qualquer esforço a favor ou contra uma pessoa. Em outras palavras, qualquer coisa que fazemos que exija esforço.
Tudo o que fazemos, seja em palavra ou ação, deve ser consistente. Ambos (tudo) devem ser feitos em nome do Senhor Jesus.
Este é o enfático resumo de Paulo para esta seção de sua carta aos colossenses. Ele dá alguns exemplos do que eles deveriam fazer (perdoar, cantar, etc.). A verdadeira chave, no entanto, não é o checklist de ações corretas. Estes são apenas alguns exemplos ou maneiras pelas quais a habitação de Cristo se manifesta em nossa vida diária. O segredo é adotar essa perspectiva, essa mentalidade, essa postura: fazer tudo em nome de Jesus.
Fazer algo em nome de algo ou alguém é se comportar de acordo com sua essência. Se alguém age em seu próprio nome, está agindo de maneira alinhada com o que pensa ou deseja. Agir em nome do progresso é assumir a própria natureza de impulsionar a inovação. Agir em nome de Jesus significa agir de modo a vivermos sob as prioridades definidas por Jesus, que tem seu ápice em servirmos uns aos outros em amor.
Anteriormente, Paulo havia admoestado os colossenses a se "revestir de amor, que é o vínculo da perfeição" (Colossenses 3:14). Isso é consistente com a admoestação de fazermos tudo em nome de Jesus, porque o mandamento de Jesus aos crentes é que eles se amem uns aos outros (João 13:34). Assim como Deus é a própria existência (EU SOU) e conhecimento ("logos"), Deus também é amor ("ágape"). "Revestir-se de amor" significa fazer todas as coisas em nome de Jesus.
Paulo diz aos crentes colossenses que ajam em alinhamento com o nome do Senhor Jesus. A palavra “Senhor” é a palavra grega "kyrios", significando "aquele a quem algo pertence". Uma vez que todas as coisas pertencem ao Senhor Jesus, a melhor coisa que fazemos é agir de acordo com o Criador, Senhor e Possuidor da realidade. Fazer todas as coisas coerentes com o nome do Senhor significa viver em harmonia com a realidade da existência. Ao fazê-lo, estaremos realizando aquilo para o que fomos criados e, portanto, buscando nossa maior realização.
Paulo termina este pensamento acrescentando que os crentes colossenses deveriam incluir as ações de graças por meio Dele [Jesus] a Deus Pai. A expressão “dar graças” aqui no versículo 17 é diferente do versículo anterior (16), embora bem pouco. Aqui, a palavra é "eucharisteo", ou seja, "estender graça/favor". Portanto, a ação de graças é o ato de estender nosso apreço a Deus. Fazemos isso por meio de Cristo, nosso emissário. Como Cristo ensinou Seus discípulos a orar diretamente ao Pai (Mateus 6:9-13) não parece que Paulo esteja dizendo aqui que não podemos fazer isso.
Como Deus, o Pai, e o Senhor Jesus não são duas entidades separadas, mas dois personagens da mesma entidade (o Espírito Santo é o terceiro, formando o que é comumente chamado de Trindade), o que Paulo está essencialmente ensinando aqui é que devemos nos permitir participar intimamente com Deus em Suas obras, a começar em nosso interior. Deus se comunica consigo mesmo (Gênesis 1:26, 3:22; João 17:1). O Espírito ora por nós de maneiras que não podemos entender (Romanos 8:26).
Deus habita nos crentes em Jesus. Não obstante, somos convidados a participar intimamente com Ele em um dos grandes privilégios e mistérios do universo; em essência, quando Deus habita dentro de nós e quando permitimos que Ele governe em nossos corações e influencie nossos comportamentos, somos capacitados, sem sermos sobrecarregados, a fazer escolhas consistentes com o nome do Senhor Jesus. Quando o Senhor Jesus obedecia a Seu Pai, o Pai ficava bem satisfeito (Mateus 3:17, 17:5; Filipenses 2:8-9; Mateus 28:18; Apocalipse 3:21). Quando os crentes transmitem palavras ou realizam ações consistentes com o nome do Senhor Jesus, eles dão graças Deus Pai por meio do Filho. Viver em obediência a Jesus significa viver em ação de graças a Deus Pai, que enviou a Jesus para nos redimir dos nossos pecados.