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Significado de Deuteronômio 13:12-18

Moisés ordena aos israelitas que destruam uma cidade inteira que havia sucumbido às seduções dos falsos profetas e caído na idolatria.

O terceiro cenário é diferente dos anteriores em pelo menos dois aspectos. Enquanto as seções anteriores (Deuteronômio 13:1-5 e Deuteronômio 13:6-11) prescreviam como a punição a um traidor individual deveria ser executada, esta seção (versículos 12-18) trata da punição para uma cidade inteira que caísse em idolatria. Enquanto as seções anteriores determinavam as medidas preventivas para se evitar a propagação da apostasia, esta seção prescreve as medidas necessárias a serem tomadas quando a apostasia é espalhada com sucesso dentro de uma cidade.

O cenário começa quando alguém ouve que algo sinistro está acontecendo em uma de suas cidades, que o SENHOR, seu Deus, está lhe dando para viver (v.12). Deuteronômio é o último discurso de Moisés antes de morrer e entregar a liderança a Josué, que levará Israel a conquistar a Terra Prometida, com a ajuda de Deus, possuindo cidades as cananéias existentes. Este cenário envolve uma cidade inteira, não uma pessoa ou grupo de pessoas. Os israelitas deviam agir com sabedoria, porque o boato dizia respeito a uma das cidades que o Senhor, seu Deus, lhes estava dando para viver.

Moisés diz aos israelitas que, caso ouvissem alguém dizendo: "Alguns homens inúteis saíram do meio de vós e seduziram aos habitantes da cidade” eles deveriam investigar cuidadosamente a acusação. A frase traduzida como “homens inúteis” (hebraico "benei beliyaʿal", "filhos de Belial") é aplicada para pessoas sem valor moral. É usada de forma semelhante ao homem ímpio em Provérbios 6:12. Podem ser homens que tenham saído da própria comunidade israelita e seduzido aos habitantes da cidade, dizendo: "Sirvamos a outros deuses". Assim como nos v.2 e v.6, estes são deuses que eles não conheciamm. Esta é novamente uma referência aos deuses pagãos dos cananeus e as práticas exploratórias que eles toleravam, mas que ainda não haviam sido experimentadas pelos israelitas.

Se tal boato fosse ouvido, as pessoas eram aconselhadas a investigar, procurar e buscar minuciosamente para determinar se o boato era verdadeiro. O povo de Deus não deveria agir em cima de boatos ou suposições. Em vez disso, eles deveriam fazer uma investigação completa dos fatos antes de tomar quaisquer medidas.

O termo “investigar (hebraico "dārash") pode significar pedir ao SENHOR conhecimento ou conselho (Gênesis 25:22; Jeremias 21:2), mas provavelmente é usado aqui para se referir a uma investigação forense. O termo “procurar (hebraico "ḥāqar") também pode significar "investigar" ou "obter informações" (Jó 5:27), o que, neste caso, refere-se apropriadamente a uma investigação completa para ver se os rumores são verdadeiros. “Perguntar minuciosamente” (hebraico "shā'al") é usado frequentemente para pessoas que pedem ou não a orientação a Deus (1 Samuel 23:2). Aqui o termo pode ser usado neste sentido, já que a verdade está sendo buscada — tanto a verdade em relação à precisão da alegações quanto a verdade dos caminhos de Deus.

Moisés, então, explica o que fazer se o caso for verdade e a abominação tiver mesmo sido perpetrada entre eles. O termo "abominação" (hebraico "tō'ē̄bâ") denota algo (ou alguém) moral e religiosamente detestável ou perverso aos olhos do SENHOR. Pode referir-se a algo impuro; em outras palavras, qualquer coisa que não atenda às exigências da santidade de Deus (Deuteronômio 7:25, 14:3).

Uma vez resolvida a questão e confirmada a abominação, Moisés diz ao povo que certamente atingisse os habitantes daquela cidade com a ponta da espada (v.15). O povo deveria declarar guerra à cidade infratora. Isso explicaria por que uma investigação tão completa era necessária - a investigação era o prelúdio de uma guerra civil.

A frase certamente é enfática no texto em hebraico. O SENHOR (por meio de Moisés) estava dizendo ao Seu povo que "por todos os meios" eles deveriam matar ao povo que vivia na cidade que havia substituído o culto de seu Senhor pelo culto pagão. Notemos que o método de execução aqui é com a ponta da espada, não com apedrejamento, como no capítulo anterior (v.10). Os israelitas deveriam considerar a cidade infratora como um invasor que buscava destruir a seu país e eliminá-lo. Como acontece com as outras duas disposições deste capítulo, isso é consistente com a aliança que o povo havia concordado em fazer com Deus (Êxodo 19:8; 24:3). A desobediência ao pacto resultaria na destruição de todo o país, por isso este ato de guerra civil deveria ser tomado para preservar o restante da nação.

Matar a todos os habitantes da cidade era apenas parte do julgamento que acabaria por destruí-la completamente. A expressão hebraica para destruir completamente” é "ḥērem", que significa "colocar sob proibição". Refere-se à aniquilação completa porque o objeto da ira estava sob o julgamento de Deus. Esta palavra é usada em Deuteronômio 7:2 e m referência ao que os israelitas deveriam fazer com as cidades cananéias. Assim, se uma cidade adorasse a deuses pagãos, elas representariam a mesma ameaça para Israel que uma cidade cananéia e estariam sujeitas a sofrer o mesmo julgamento divino. Isso é consistente com a afirmação de Deus de que, caso Israel seguisse os caminhos cananeus, eles experimentariam o mesmo julgamento (Deuteronômio 8:19-20).

O povo também foi instruído a destruir tudo o que há nela e seu gado com a ponta da espada. Matar o gado era importante porque não haveria conexão entre o SENHOR e o culto pagão. Tal atitude também removeria o incentivo para usar essa disposição como ardil para roubar os bens das cidades mais fracas. A guerra civil deveria ser usada apenas como forma de se preservar a nação, não como um meio de exploração. O gado era considerado parte da riqueza de alguém e o SENHOR não desejava que o povo se enriquecesse como resultado do julgamento do SENHOR.

Além de destruir toda a cidade e seu gado, os israelitas foram instruídos a reunir todo o seu espólio no meio de sua praça aberta (v.16). Feito isso, deveriam queimar a cidade e todo o seu espólio com fogo como um holocausto ao Senhor, seu Deus. Tudo, a cidade e todo o seu conteúdo, deveriam ser completamente incinerados. Isto era para ser como holocausto ao SENHOR, seu Deus. Não só os bens do povo, mas a própria cidade seria destruída. Mais uma vez, isso eliminaria os incentivos materiais para o uso indevido dessa disposição no intuito de se tirar vantagem de uma guerra civil travestida em um manto de moralidade.

A frase “todo holocausto” não aparece no texto em hebraico. Lê-se literalmente "completamente queimado no fogo", como visto na tradução King James. No entanto, o sentido de ser um holocausto é demonstrado pelo fato de que a queima da cidade deveria ser feita como para o SENHOR, seu Deus, exatamente como no caso dos sacrifícios.

Essa destruição completa da cidade e de todo o seu conteúdo tinha como objetivo garantir que ela se tornasse ruína para sempre e nunca deveria ser reconstruída.

Moisés diz aos israelitas que nada fosse preservado das cidades: Nada do que é colocado sob a proibição se agarrará à sua mão (v.17). A palavra "proibição" (hebraico "ḥērem") é usada também no v.15 e basicamente significa "uma coisa dedicada", "uma coisa proscrita", e carrega a idéia de destruição completa. Tais coisas não deveriam se ser agarradas (hebraico "dābaq", "grudar", "apegar") às mãos de qualquer israelita, o que significa que ninguém deveria lucrar com o julgamento do SENHOR tomando a qualquer um desses objetos para si.

A razão pela qual os israelitas não deveriam salvar nenhum dos objetos a ser queimados era para que o SENHOR afastasse Sua ira ardente. A ira ardente de Deus é o atributo pelo qual Ele demonstra sua rejeição ao pecado e como lida com eles (Deuteronômio 9:7-8;  2 Reis 22:13). A ira de Deus está relacionada à Sua aliança. Sua ira ardeu muitas vezes contra Seu povo da aliança quando eles adoravam a outros deuses (1 Reis 14:9, 15; 16:32 Reis 21:6, são apenas alguns exemplos).

Além de afastar Sua ira ardente, o Senhor Susserano prometeu mostrar misericórdia ao Seu povo da aliança. O verbo traduzido como “mostrar misericórdia” (hebraico "raḥāmîm") e o verbo traduzido como “ter compaixão” (hebraico "riḥam") vêm do mesmo verbo em hebraico "reham", que denota a qualidade de mostrar bondade ou favor a alguém. Literalmente, o texto diz: "Ele [Deus] lhe dará compaixão e será compassivo contigo". Deus mostraria compaixão por Israel caso eles executassem o julgamento corretamente, sem buscar ganhos para si mesmos. Eles estariam buscando recompensa de seu rei Susserano, em vez de buscarem recompensa ao explorar a seus companheiros israelitas.

O salmista Davi descreve o Deus Susserano como sendo como um pai compassivo àqueles que O temem e guardam Seus mandamentos (Salmos 103:13). Esta é a mesma idéia aqui em Deuteronômio 13. Deus mostraria misericórdia ou teria compaixão daqueles que O obedecessem, destruindo a cidade que cometesse apostasia. Deus também multiplicaria os israelitas que O obedecessem, assim como havia jurado a seus pais. O crescimento populacional era (e é) uma forma de bênção e um dos elementos das promessas de Deus aos patriarcas (Gênesis 12, 15 e 26).

O versículo 18 resume esta seção. As bênçãos viriam para os israelitas se eles ouvissem a voz do Senhor, seu Deus (v.18). Ouvir, aqui, envolvia obedecer ao que Deus dizia. Em particular, o SENHOR declara que a obediência incluía guardar todos os Seus mandamentos que Ele estava ordenando a eles naquele dia e fazer o que é certo aos olhos do Senhor, seu Deus.

A aliança entre Deus e Seu povo, com a qual eles haviam concordado, especificava que qualquer forma de adoração aos deuses cananeus seria uma violação do segundo mandamento e, portanto, era estritamente proibida. Qualquer um que praticasse o culto pagão deveria ser morto. Isso limparia a Terra Prometida de um câncer que poderia levá-los ao julgamento e traria bênção sobre o povo. A obediência à palavra de Deus resultaria em misericórdia, graça e compaixão. Isso é algo muito prático. Viver em obediência ao mandamento de Deus de servir e amar aos outros conduz a uma comunidade harmoniosa e produtiva. Em contraste, as práticas pagãs dos cananeus os levariam à exploração e a várias formas de morte.

A Igreja do Novo Testamento também ensina os crentes a terem cuidado com os falsos ensinos. É inevitável que muitos entrem na Igreja e tentem importar conceitos pagãos para o meio do povo de Deus. No Novo Testamento, os cristãos são instruídos a se separar dos falsos mestres (2 João 9-11). Morte é separação; o exílio é uma forma de morte. Os crentes do Novo Testamento não estão em uma aliança nacional com Deus, ou seja, deste mundo; assim, não temos mais leis civis, como em Deuteronômio. Porém, o princípio mantém-se. O Novo Testamento nos diz que qualquer mestre (profeta) deve ter seus "frutos" examinados minuciosamente. Se seus frutos forem ruins, eles são falsos e não devem ser ouvidos. A diretriz do Novo Testamento de examinar os frutos é aplicável aos mestres e a nós mesmos. Os crentes do Novo Testamento não são orientados a “testar a salvação” de ninguém. Para ler mais sobre o exame dos frutos, visite nosso comentário sobre Gálatas 5:17-21, 5:22-26.

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