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Significado de Eclesiastes 11:1-5

Deus determina o que acontecerá e Sua obra está além da nossa capacidade de controlar ou entender as coisas. Aceitando a realidade, o melhor que podemos fazer é sermos intencionais em nossa administração, em vez de ficarmos paralisados (ou cegos) pela incerteza.

O capítulo 11 começa com a imagem do pão lançado à superfície das águas. A palavra pão traduzida aqui apareceu anteriormente em Eclesiastes 10:19. Por que alguém lançaria seu pão, ou sua refeição, na superfície das águas? Parece que Salomão tem em mente a imagem do pão como uma embarcação. Caso contrário, o pão afundaria prontamente. Salomão diz que vamos encontrá-lo depois de muitos dias. Por que não comer o pão primeiro, ou armazená-lo para que seja facilmente acessível?

O princípio que Salomão parece estar apresentando é que devemos encarar a vida com uma mentalidade de investimento. O pão é uma forma de indicar nossos recursos financeiros, e um investimento é um adiamento do consumo. Em vez de consumir o nosso pão (e depois ele se acaba), podemos aumentá-lo investindo. A melhor maneira de manter algo é muitas vezes deixá-lo ir. Curiosamente, isso não é formulado como uma sugestão, mas sim um comando que indica causa e efeito. Lançar nosso pão na superfície das águas envolve liberar o controle de algo precioso, nosso pão, nosso dinheiro, nosso sustento. A Bíblia geralmente retrata o mar como uma imagem do caos. Estamos sendo aconselhados a lançar nossos recursos num mar de incertezas. A realidade é que toda a vida é um mar de incertezas.

Se lançamos o pão em uma cesta ou em um barco, não temos controle sobre seu paradeiro, quais tempestades ele poderá encontrar ou por quais marés ele pode ser arrastado. Porém, Salomão afirma que vamos encontrá-lo depois de muitos dias. A atitude oposta seria a acumulação. Jesus falou sobre um homem que decidiu acumular seus bens construindo celeiros extras e armazenando tudo o que tinha para financiar uma longa e luxuosa aposentadoria. Porém, Jesus nota que o homem morreu inesperadamente e seus grãos armazenados não lhe trouxeram nada (Lucas 12:16-21). Ser "rico para com Deus" requer continuar a investir nossos recursos na comunidade ao nosso redor.

Quem quer guardar seu pão para mais tarde não pensa em lançá-lo na superfície das águas, mas em armazená-lo em um celeiro, como fez o homem rico na ilustração de Jesus. As afirmações de Salomão indicam que o que naturalmente vemos como "seguro" é, na realidade, uma ilusão. E o que consideramos "arriscado" é, na verdade, seguro. A maneira "segura" de guardar as coisas que valorizamos é liberá-las em um mar de incertezas. Abrir mão da acumulação.

Há muitas maneiras pelas quais esse princípio se aplica. Certamente funciona com os filhos. Se tentamos segurá-los em vez de libertá-los na idade apropriada, nós os perderemos. Ou eles vão sentir que não cumpriram seu desígnio, ou irão se rebelam. Porém, se os liberarmos no caos do mundo depois de termos investido tudo para ensinar-lhes bons valores, como tomar boas decisões, no que acreditar e como ver as coisas, então é provável que eles voltem para nós no devido tempo, como adultos em pleno funcionamento (Provérbios 22:6).

O mesmo acontece em outros relacionamentos. Quando tentamos possuir as pessoas, controlá-las, na verdade as afastamos. Elas têm o desejo de escapar do cativeiro e ganhar sua liberdade. Porém, quando honramos sua liberdade, nós as convidamos para um relacionamento saudável.

A acumulação de relacionamentos pode arruinar uma comunidade. A acumulação de bens pode nos arruinar. Em toda a Bíblia há uma ênfase na importância da generosidade. Quando investimos nosso tempo, energia ou dinheiro na obra de Deus, depositamos tesouros no céu. No Sermão da Montanha, Jesus nos admoesta a depositar tesouros no céu.

Isso requer que sigamos o princípio de Salomão e lancemos nosso tempo, energia, foco e outros recursos em um mar de incertezas — as circunstâncias da vida. Podemos fazer algo por alguém que não será apreciado. Ou algo que gere uma consequência não intencional. No entanto, procurar depositar tesouros no céu não apenas significa lançar nosso pão em um mar de incertezas, mas garante que os possuiremos para sempre. Ganharemos também um benefício adicional: nossos corações serão direcionados para o céu, pois "onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração" (Mateus 6:19-21).

Segue-se, então, que devemos evitar a acumulação em qualquer aspecto da vida e abordar toda a nossa vida como bons investidores. Controlamos muito pouco nesta vida; na maioria das coisas, o melhor que podemos fazer é abri mão do controle e confiar em Deus. Porém, podemos fazê-lo com os princípios ensinados em Eclesiastes. Quando direcionamos as poucas coisas que controlamos, Salomão nos direciona ao trabalho, sabedoria e fé.

Ele nos aconselha a encarar adequadamente nossa vida como um investimento. Um investimento em outra pessoa, uma geração futura ou um investimento na eternidade.

Um empreendimento envolvendo a venda de grãos no exterior pode ser uma boa ilustração de uma mentalidade de investimento adequada. Primeiro, requer a transferência da custódia do grão para os embarcadores, que lançarão suas embarcações nas águas. Não podemos nos apegar ao grão se quisermos investi-lo. Temos que deixá-lo ir, lançá-lo, esperando um retorno lucrativo. Qualquer investimento requer algum tipo de transferência de custódia. Algum grau de libertação, confiança e esperança.

Da mesma forma, qualquer investimento envolve um intervalo de tempo. O retorno para uma venda de grãos no exterior leva muitos dias para ser concretizado. Adiar a vontade de comer o pão agora é a essência de qualquer investimento. Salomão, como um homem com enorme riqueza e sabedoria, provavelmente entendia como ter uma mentalidade de investimento, mais do que qualquer pessoa que já viveu. O depósito de tesouros no céu demanda que esperemos talvez um longo intervalo de tempo entre o investimento e a recompensa.

O versículo 2 também pode ser entendido em um contexto de investimento, encorajando-nos a diversificar nossos riscos. Salomão nos exorta a dividir nossa porção em sete, ou mesmo em oito, por causa da incerteza. Pois você não sabe que infortúnio pode ocorrer na terra. É prática comum do investimento limitar a concentração em qualquer investimento para proteger contra potenciais riscos. O conceito da apólice de seguros é uma aplicação deste princípio. Cada um paga um pouco, porque, em geral, apenas alguns experimentam um infortúnio. Salomão recomenda um em cada oito, ou 12,5%, como risco máximo em qualquer investimento.

Já que devemos olhar para qualquer coisa na perspectiva de investimento, podemos pensar em nosso tempo de maneira semelhante. Cada um de nós tem 168 horas todas as semanas. Devemos escolher como alocar essas horas para investir na família, nos amigos, no desenvolvimento pessoal, no local de trabalho, nos exercícios, na recreação, etc. Uma aplicação da admoestação de Salomão aqui é incitar a conscientização. Temos consciência de como gastamos nossos recursos? Nosso tempo e dinheiro? Estamos lidando seriamente com nossa alocação de recursos, ou apenas deixando a vida nos levar? Devemos ser sérios e termos uma mentalidade de investimento, pois não sabemos que infortúnio pode ocorrer na terra.

Alguns interpretam que este versículo promove a generosidade (a palavra para dividir também pode ser traduzida como "dar"). Dividir, porque não sabemos que infortúnio pode ocorrer na Terra sustenta que Salomão tem em mente um princípio de investimento. No entanto, a generosidade deve ser vista como parte de nossa "carteira de investimentos" - como alocamos nossos recursos de tempo e dinheiro. Doar pode ser uma parte de como diversificamos, pois nunca sabemos quando nossa oportunidade de servir aos outros e depositar tesouros no céu pode ser encerrada por qualquer tipo de infortúnio (Mateus 6:20; Lucas 12:13-21). É importante fazer o bem para os outros enquanto temos a oportunidade de fazê-lo.

Ao considerarmos como investir nossos recursos de tempo e talento, precisamos ter em mente que causa/efeito é o que é, não o que desejamos que seja. Investir com uma perspectiva irrealista é uma má ideia. Quando as nuvens estão cheias de chuva, inevitavelmente elas derramam a chuva, gostemos ou não. Portanto, devemos investir de acordo. Quando vemos a chuva chegando, devemos investir nossos recursos de maneira que aproveitemos a chuva para plantar uma lavoura, ao invés de investirmos nossos recursos de forma a serem levados pela chuva, como um piquenique.

Em seguida, Salomão nos diz que quando uma árvore cai para o sul ou para o norte, onde quer que a árvore caia, lá ela via ficar. Quando vemos uma circunstância, ela simplesmente é, não importa o que a tenha levado a ficar daquele jeito. A árvore está onde está, independentemente do porquê caiu. Quando consideramos nossos recursos e como investi-los, é importante ver as coisas como são. Abraçar a realidade como ela é. É uma tendência humana vermos o que queremos ver, ao invés de vermos como as coisas realmente são. Salomão deseja que vejamos a verdade. Um fato é um fato. Como o fato se tornou um fato não altera o fato. Talvez Salomão esteja nos exortando a aceitar as coisas como elas são após fazermos investimentos sábios. Devemos aceitar o tempo todo que precisamos liberar e reconhecer que não controlamos os resultados.

Investir requer ser proativo. Nosso trabalho é ver as coisas como são, depois melhorar o que são, fazendo investimentos sábios. No entanto, a distração pode nos impedir dessa importante mordomia. Em vez de nos preparar para lançar sementes para a colheita quando a chuva está chegando, aquele que observa o vento não semeará e aquele que olhar para as nuvens não colherá. Quando nos distraímos com diversões ou ociosidade, oportunidades de investimento são perdidas. Isso pode ocorrer em casa, quando perdemos oportunidades de nos envolver com nossos filhos ou com nossa família. Pode ser em qualquer lugar e pode assumir qualquer forma. Oportunidades de investimento de todos os tipos abundam à nossa volta quando estamos conscientes e determinados a viver a vida com o foco nos investimentos. Porém, as distrações também não irão faltar.

Para viver orientados aos investimentos, é importante vermos as coisas como elas são. E uma parte da realidade é que nossa compreensão é extremamente limitada. Salomão enfatiza isso ao dizer-nos que Deus está em ação e que não conhecemos a atividade de Deus, que faz todas as coisas. Nosso trabalho é investir da melhor forma possível. Porém, Deus é quem determinará os resultados. Podemos deixar os resultados para Ele e confiar que Seus caminhos são mais altos do que os nossos (Romanos 11:33). Tentar compreender Deus através da razão e da experiência é "hebel", um mistério cheio de vapor.

Não devemos ter a ilusão de que descobrimos o mundo ao nosso redor, ou que sabemos como Deus opera. Salomão insiste que não sabemos o caminho do vento e como os ossos do bebê são formados no ventre da mulher grávida, então não conhecemos a atividade de Deus que faz todas as coisas. Quanto mais a tecnologia moderna permite que os humanos mergulhem nas maravilhas da criação, maior se torna o mistério de como a criação, projetada com detalhes tão intrincados, funciona em uma ordem tão incrível.

Ao seguirmos o conselho de Salomão de investir sabiamente nossos recursos de tempo e tesouro, precisamos sempre ter em mente que compreender as coisas apenas com base na razão e na experiência é "hebel", vaidade, correr atrás do vento. Nossa única capacidade de tornar tangível o que é vapor é através da fé (Hebreus 11:1).

O fato de não entendermos (conhecermos) a atividade de Deus, que faz todas as coisas é um dos principais focos do livro. Salomão descobriu isso ao buscar compreender o sentido da vida, exercitando a razão e a experiência à parte da fé. Sua busca foi totalmente frustrada. Ele desejava entender as relações de causa e efeito de tudo o que Deus faz, mas foi incapaz de compreendê-Lo (Eclesiastes 3:11;  Eclesiastes 7:14Eclesiastes 8:17).

No entanto, a busca de Salomão foi bem-sucedida em outro aspecto. Ele aprendeu a aceitar a realidade. A árvore fica onde ela cai. A verdade desta realidade é que a atividade de Deus, que faz todas as coisas, está além do nosso alcance. Tentar exercitar nosso intelecto para ver como Deus vê é "hebel", vaidade, ou tentar agarrar o vapor. O propósito e a paz só vêm através do tipo de razão e experiência fundada na fé. Sem fé, nossa busca pela compreensão só encontrará o caos e a falta de sentido.

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