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Significado de Eclesiastes 5:1-3

Quando nos aproximamos de Deus, devemos fazer isso com um desejo puro de ouvir e obedecer, ao invés de buscarmos formas de tentar forçar Deus a realizar nossos desejos. Ouvir demanda esforço, mas é o caminho para a sabedoria.

Salomão, agora, sai da observação e entra no ambiente da instrução. Até esse ponto, Salomão nos guiou em direção a fé como a única fundação sobre a qual viver uma vida de significado e propósito. A alternativa é viver uma vida de loucura. A fé permite que o mistério da vida seja uma fonte de alegria, contentamento e propósito. Quando nos apoiamos na razão e na experiência humana para descobrir o propósito da vida, as incertezas da vida nos levam à frustração e à tolice. O significado e o propósito da vida vêm a partir da fé em Deus e em Sua benevolência por nós. Uma vida de propósito se origina na criança de que a vida é um presente, que devemos viver para agradar a Deus e que, por fim, estaremos diante Dele no julgamento.

No Capítulo 5, Salomão começa a nos instruir sobre como efetivamente vivermos uma vida de gratidão e fé. Salomão muda da reflexão para a instrução, visando nos mostrar como fazer isso. Isso fica evidente na gramática usada. Até aqui, Salomão falou na primeira e terceira pessoas; aqui, ele começa uma nova forma de se comunicar - pela instrução direta, na segunda pessoa.

Ele começa com a instrução de como se aproximar de Deus. Faz parte da natureza humana nos chegar diante de Deus com uma longa lista de desejos, como fazemos com o Papai Noel no Natal. Porém, Salomão nos instrui a nos aproximar de Deus para ouvi-Lo.

Tudo começa com uma humildade cuidadosa, guardando nossos passos, reconhecendo que, longe de Deus, não conseguiremos compreender o mundo ao nosso redor. Isso deve nos levar a essa humildade. Não encontraremos significado e propósito sozinhos; assim, devemos ouvir a Deus. Temos a maravilhosa oportunidade de chegar perto Dele com a intenção de ouvi-Lo, ao invés de oferecermos sacrifícios de tolos.

Nos tempos de Salomão, uma parte integral do louvor era o sacrifício de animais. Na maioria das vezes o animal era cozido e comido, com uma parte dele sendo oferecida aos Levitas (aqueles que cuidavam do templo e lideravam as práticas religiosas). Salomão não especifica o que significam os sacrifícios dos tolos. Porém, ele deixa claro que são os sacrifícios feitos em ignorância, porque o tolo não sabe o mal que está fazendo.

Existem exemplos bíblicos dos sacrifícios aos quais Deus rejeita e eles podem nos dar uma ideia do que Salomão tinha em mente. O primeiro desses exemplos é o sacrifício de Caim em Gênesis 4. É provável que Deus não tenha sido favorável ao sacrifício de Caim não pelo que ele trouxe, mas porque “suas ações eram más” (1 João 3:12). Como Deus se importa com o coração, provavelmente tenha sido este o motivo de Deus ter dado a seguinte instrução a Caim depois de explodir em raiva quanto à rejeição de seu sacrifício:

Porventura, se procederes bem, não terás levantado o teu semblante? E, se não procederes bem, o pecado jaz à porta; a ti será o seu desejo, mas tu dominarás sobre ele” (Gênesis 4:7).

Outro exemplo similar é encontrado em 1 Samuel 15, onde Deus diz ao rei Saul: “Eis que o obedecer é melhor do que sacrificar, e o atender do que a gordura de carneiros” (1 Samuel 15:22). Saul fez o sacrifício, mas isso não agradou a Deus. Ele o fez para levar as pessoas a segui-lo.

O livro de Hebreus, no Novo Testamento, dedica uma parte considerável para instruir os crentes judeus, para quem a carta fora escrita, a não confiarem nos sacrifícios como forma de agradar a Deus. No dia do julgamento, o pecado será julgado por Deus com base em nossas ações e nossos corações. Não podemos “subornar” a Deus, tentando levá-Lo a se agradar de nós através de práticas religiosas.

Esses exemplos podem nos dar um insight sobre como alguém pode estar usando práticas religiosas para fazer o mal.

O tolo se aproxima a casa de Deus com a intenção de fazer sacrifícios. Salomão diz que ele não sabe o mal que está fazendo. Parece que, neste exemplo, a pessoa está fazendo o mal em ignorância. Salomão nos instrui sobre como alcançar a sabedoria para evitar tamanha tolice. O ponto chave do louvor não é subornar a Deus para alcançar Seu favor, mas, sim, focar em Deus e ouvir. Que suas palavras sejam poucas.

Devemos nos aproximar da casa de Deus para ouvir e obedecer. O Senhor nos instrui a ouvir. Ele não busca sacrifícios como se precisasse deles. Deus não vende favores. Tudo já é Dele. Deus não precisa de nós. Nós precisamos Dele.

Uma coisa que vai nos ajudar a ouvir é não sermos afobados em trazer questões na presença de Deus. Salomão diz: Não seja afobado nas palavras ou impulsivo em pensamentos na presença de Deus. Não devemos nos aproximar de Deus acreditando que sabemos o que é o melhor para nós e, a seguir, sacrificar algo para forçar Deus a realizar nossas vontades. Devemos nos chegar a Deus buscando direção. Devemos nos chegar com poucas palavras.

A palavra traduzida como “pensamento” na frase “não seja afobado em palavras ou impulsivo em pensamentos” é “leb” em hebraico, que normalmente é traduzida como “coração”. As palavras fluem dos pensamentos que habitam dentro de nossos corações. Isso parece falar da nossa perspectiva interior, nossa visão de mundo, nossa atitude. Quando nós chegamos a Deus, devemos focar em termos nossas perspectivas alinhadas às Dele, com o que é verdadeiro. Tratar a Deus como se fosse um gênio da lâmpada é a perspectiva dos tolos.

O louvor sábio é buscar em Deus a melhor forma de pensar, moldar nossa perspectiva baseada na fé em Deus, compreender os mistérios da vida através da confiança e obediência a Deus. Salomão deixa claro que buscar entendimento longe de Deus é algo fútil; assim, faz sentido que ele também nos instrua a não nos chegar a Deus com nossas mentes decididas sobre uma questão. Buscar a Deus para que Ele valide nossas perspectivas é um sacrifício de tolo.

Salomão nos alerta a sermos deliberados em buscar entendimento através do louvor. E uma parte disso é reconhecer a realidade. Deus está no céu e nós estamos na terra. Salomão tentou descobrir significado e propósito pela razão e experiência, mas descobriu que tudo é vapor. Para alcançarmos conhecimento do nosso propósito precisamos ter a perspectiva do Deus que está no céu. Já que Deus tem essa perspectiva, e é impossível para nós a alcançarmos longe Dele, faz sentido sermos rápidos em ouvi-Lo, ao invés de confiarmos em nossa própria sabedoria, riqueza ou trabalho.

Salomão recomenda que ultrapassemos nossas próprias capacidades de ter entendimento, porque estamos na terra. Ele nos instrui a não sermos afobados com nossos pensamentos quando nos aproximamos de Deus, mas a estarmos dispostos a ouvir, reconhecendo que Deus é Deus e nós não somos.

Quanto tempo devemos esperar em Deus? Quanto tempo é suficiente para ouvi-Lo? Salomão responde: Um sonho vira verdade depois de muito esforço. Ouvir é trabalho. A palavra traduzida como “sonho” é normalmente usada no Antigo Testamento para se referir a visões noturnas, normalmente uma revelação de Deus. Um exemplo está em Jó 33:14-17, no discurso de Eliú:

Entretanto, Deus fala de um modo e ainda de outro modo, sem que o homem lhe atenda. Em sonho, em visão noturna, quando cai sono profundo sobre os homens, e dormem na cama, então, lhes abre os ouvidos e lhes sela a instrução, para apartar o homem do seu mau propósito e escondê-lo da soberba”.

Em Jó 33:15, Deus o instrui através de sonho. As visões noturnas são destinadas a livrar o homem da soberba. O termo “sonhar”, em Eclesiastes 5:3, traz a ideia de muito esforço e abundância de ocupação, incluindo a noção de Deus falando com nosso espírito, nosso subconsciente, a parte de nós que sonha enquanto passamos pela vida.

Salomão recomenda que prestemos atenção, porque Deus fala enquanto realizamos nossas atividades diárias. A palavra traduzida como “ocupação” é “inyan”. Ela aparece oito vezes em Eclesiastes e é traduzida como “tarefa” seis vezes. A palavra se refere a atividades diárias.

Talvez a união de Eclesiastes 5:3 com a passagem de Jó, ou seja, ouvir as instruções de Deus através de “sonhos” enquanto passamos pela vida, nos tire da soberba. Por outro lado, as muitas palavras são o caminho para nos tornarmos tolos.

O contexto também apoia as interpretações dos sonhos como formas de compreender os plano para o futuro que temos para nós mesmos. Algumas passagens do Antigo Testamento, como Jeremias 29:8, parecem aplicar a palavra em hebraico dessa maneira. O contexto desta seção lida com o louvor tolo, aquele que nos leva a nos dirigir à casa de Deus com a seguinte idéia: “O que tenho que fazer ou dizer para conseguir o que quero?” Salomão nos instrui a não tratarmos Deus como o gênio da lâmpada. Se temos um sonho, devemos não apenas buscá-lo por formas mágicas. Precisamos colocar o esforço necessário para torná-lo realidade. Se tudo que fazemos é falar sobre o sonho, estamos apenas sendo tolos.

Da mesma forma, pedir a Deus para fazer algo quando não nos esforçamos para seguir Suas instruções é tolice, assim como abafar a voz de Deus com muitas palavras é um louvor tolo. O verdadeiro louvor é ouvir a Deus e então transformar Suas palavras em ações em nossa “inyan”, as atividades diárias da vida.

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