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Significado de Eclesiastes 5:13-17
Essa nova seção começa com o que Salomão chama de mal doloroso, literalmente uma “enfermidade”. Ele usa a frase “sob o sol” como descrição recorrente da vida na terra. Ele fala, agora, sobre as riquezas sendo acumuladas por seu dono para seu próprio dano, ou seja, alguém que ajunta riquezas e é levado à autodestruição. Neste caso, a autodestruição vem pela acumulação. A palavra para “dano” é “ra’”, a mesma palavra usada para o “mal” no início do versículo.
Riquezas acumuladas são tipicamente um sintoma da perspectiva errada de que podemos controlar as circunstâncias. Acreditar que ter uma pilha de dinheiro ou posses nos faz seguros ou felizes e negar-nos a aproveitar as riquezas é algo muito danoso. É importante notar que Salomão declara que a acumulação leva ao nosso próprio dano.
A Bíblia é neutra em relação às riquezas. O que a Bíblia celebra ou condena é nossa atitude em relação a elas e a forma como são usadas. 1 Timóteo 6:17-19 diz:
“Exorta os ricos deste mundo a que não sejam orgulhosos, nem esperem na incerteza das riquezas, mas em Deus, que nos concede abundantemente todas as coisas para delas gozarmos; que pratiquem o bem, que se enriqueçam de boas obras, que sejam generosos e liberais, entesourando para si um fundamento sólido para o futuro, a fim de que se apoderem da vida que é realmente vida.”
Não existe demanda alguma para que os ricos se desfaçam de suas riquezas. Na realidade, os ricos são instruídos a apreciar suas posses, mas também são instruídos a fazerem o bem com elas, compartilhando e ajudando outras pessoas, o oposto de acumular. Quando fazem isso, eles fazem investimentos eternos e guardam tesouros no céu.
Como isso se harmoniza com a instrução de Jesus ao jovem rico, a quem Ele instruiu a vender todas as suas posses e dar o dinheiro aos pobres? No caso daquele jovem, ele havia perguntado a Jesus o que deveria fazer para herdar a “aionios zoe”, interpretado como a “vida eterna”. “Aionios” fala do tempo de dura uma era inteira. “Zoe” fala sobre qualidade de vida. Assim, a frase pode ser interpretada como “a qualidade de vida mais alta possível”. No Novo Testamento, a Bíblia fala da “maior qualidade de vida possível” de duas formas: relacionamento com Deus e recompensas. Nosso relacionamento com Deus vem como uma dádiva; através da fé em Jesus, nos tornamos filhos de Deus. Ele é nossa herança incondicional (Romanos 8:17a). Isso é unicamente baseado na fé. Jesus deixa claro que para herdarmos a dádiva da vida eterna precisamos apenas da fé.
A recompensa de grande qualidade de vida vem pelo favor de Deus, baseado no que fazemos. É normalmente a consequência que vem pela obediência, mas também inclui as recompensas na próxima vida. O jovem rico perguntou o que poderia “fazer” para herdar a maior qualidade de vida. O fato de Jesus ter respondido à pergunta “o que devo fazer” com atitudes a serem tomadas, podemos incluir a herança das recompensas ou a experiência de alcançar o nível mais alto de vida possível. No caso desse jovem, Jesus primeiro diz a ele para andar em obediência às leis de Deus. O jovem responde que já fazia isso e pergunta se havia algo a mais a ser feito.
Marcos 10:21 diz: “Jesus, contemplando-o, o amou e disse-lhe: Uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me.” Perceba que Jesus “amou” ao jovem rico. Ele não contestou o fato de ele já seguir às leis de Deus. Ele apenas responde ao jovem que, sim, havia uma recompensa ainda maior disponível.
Aplicando os princípios do Novo Testamento à instrução de Salomão, parece que o caminho da sabedoria é aproveitar e compartilhar a riqueza, mas também retê-la com mãos abertas. Devemos reconhecer que ela “não é nossa” e precisamos estar dispostos a dar ou entregar nossas posses a qualquer momento. Cada posse que temos eventualmente passará das nossas mãos. Somos apenas administradores por um período de tempo.
Salomão observa em seu exemplo que as riquezas acumuladas terminam sendo perdidas por investimentos ruins. Assim, agora não existe nada para apoiar o filho do acumulador. Essa tradução nos leva a entender que o homem perde suas riquezas em negócios tolos e não poderá mais apoiar a seu filho. Porém, se a intenção aqui é dizer apenas que ele perdeu seu dinheiro, parece estranho que somente o filho seja mencionado e não o resto da família. Além do mais, nos é dito que o homem rico estava acumulando suas riquezas, guardando-as para si mesmo. Os acumuladores de dinheiro não fazem investimentos.
Parece inconsistente acumular e, ao mesmo tempo, investir de maneira tola. A tradução para “investimento ruim” vem do hebraico “ra’ ‘inyan”, ambas palavras que já vimos antes (veja notas sobre Eclesiastes 1:12-15 para “inyan”). “Ra” significa mal e “inyan” significa trabalho, como um emprego ou uma ocupação.
Assim, não é um “negócio” como verbo, mas como um substantivo. A palavra pode ser melhor traduzida assim: Acumular é mais do que apenas um investimento ruim: é um “trabalho maligno”. Salomão menciona que não sobrará mais nada para o filho, que é o herdeiro, porém que fica sem benefício algum diante da acumulação do pai. Portanto, não existe nada para apoiar o filho. A palavra traduzida como apoio é “yad”, que literalmente significa “mão” e conota poder e orientação. Isso parece dizer que o apoio inexistente do pai se refere à orientação em mostrar ao filho como ser um bom administrador. Acumular é o oposto de administrar. É uma declaração de “isso é meu”. A administração é um reconhecimento de que somos apenas cuidadores de algo por um período de tempo. Faz sentido que alguém que declare “isso é meu” não irá dar nenhuma atenção a mentorear seu herdeiro, já que a pessoa necessitaria reconhecer que “pode não ter aquelas posses para sempre”.
O versículo 15 fala sobre a verdadeira perspectiva quanto às posses materiais e a futilidade da acumulação: Como nu saiu do ventre de sua mãe, assim nu há de voltar como veio e do seu trabalho não receberá coisa alguma que possa levar na mão. Aqui, a palavra “mão” também é uma tradução de “yad”, dessa vez traduzida no sentido literal, como mão, ao invés de apoio, como ocorreu no versículo anterior. Parece que o filho tem as mãos vazias por falta de orientação paterna e também por sofrer o destino de todos os que vivem na terra: todos nós deixaremos as posses para trás.
O contexto permite duas interpretações possíveis no versículo 15. O pronome “ele” pode se referir ao pai acumulador ou ao filho sem apoio. Talvez a descrição se aplique aos dois. “Ele” saiu nu do ventre de sua mãe, assim” ele” nu haverá de voltar como veio, e do seu trabalho “ele” não receberá coisa alguma que possa levar nas mãos (“yad”). Mesmo que o pai tente estocar as riquezas acumuladas, ele não as levará consigo. O filho vem para o mundo sem nada e não recebe ajuda por conta dos investimentos ruins de seu pai. Ambos experimentam o mesmo destino. Nenhum recebe o benefício das riquezas e ambos a deixam para trás.
No versículo 16, Salomão adiciona um comentário a mais sobre o acúmulo do pai: Isso também é um mal doloroso - exatamente como nasce, o homem vai morrer. Baseado na razão e experiência, uma vida construída ao redor da acumulação de tesouros é fútil. Isso é verdade para todos. Cada um terá que deixar seus tesouros para trás. Esta é uma realidade brutal para o acumulador e ele, então, labuta atrás do vento. Sua vida é focada em buscar vantagens para si mesmo, mas ele não terá nenhuma.
Claro que Salomão já deu a resposta para a acumulação, uma lição que ele vai repetir mais tarde. A satisfação real vem por meio da fé, não da acumulação. Porém, a escrita de Salomão reflete os ciclos da vida e ele continua a caminhar na lição que aprendeu, enquanto expande sua aplicação.
Salomão continua comentando sobre o homem que labuta atrás do vento, acumulando tesouros que serão deixado para trás, dizendo: Em todos os seus dias, ele come às escuras, e é muito vexado, e tem enfermidades e indignação. Este pensamento pode referir-se à natureza do acumulador, que o leva ao isolamento. O acumulador passa a suspeitar de qualquer um que se mostre como uma ameaça às suas posses. Isso pode levá-lo a uma vida de comer na escuridão, sozinho.
A palavra “comer”, no hebraico, é “’akal”. Outros usos para “’akal” incluem “queimar”, “consumir” e “devorar”. Esta palavra também pode ser aplicada ao “consumo” do tempo do acumulador na terra, um tempo de escuridão e falta de entendimento. Ele pode terminar vivendo uma vida focada na acumulação e na posses de riquezas materiais, ficando, assim, cego para a realidade de que irá morrer e deixar tudo para trás. A realidade está ao seu redor - é evidente que ele não pode levar tudo com ele, algo que pode, naturalmente, levar a pessoa a uma grande vergonha, trazendo enfermidades e indignação. A vergonha refere-se ao seu esforço para acumular tesouros, já que, ao final da vida, tudo vai parecer como labutar no vento. As enfermidades podem vir da busca pelo controle das coisas às quais Deus não nos deu controle, algo que naturalmente causa indignação, especialmente sobre nossa mortalidade e inabilidade de funcionarmos independentemente de um Criador soberano.