Significado de Gênesis 14:17-20

Provavelmente Abrão e suas tropas tenham levado várias semanas para chegar a Damasco e além, lutar e depois retornar. Em seu retorno, Abrão parou no vale de Savé (isto é, o Vale do Rei) perto de Salém (Jerusalém).

O rei de Sodoma foi ao seu encontro, mas aparentemente não trouxe presentes a Abrão. Por outro lado, Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho e ofereceu uma bênção (14:18-20).

Era perfeitamente natural que um herói que regressava da uma guerra, cuja vitória beneficiaria a toda a terra, fosse oficialmente saudado pelas pessoas ilustres daquele lugar. O rei de Sodoma representava o nível secular. Melquisedeque simbolizava o nível espiritual. Os versículos 17 e 18 são provavelmente uma ocorrência única, não dois eventos separados, onde ambos os reis saem para se encontrar com Abrão ao mesmo tempo. Melquisedeque, rei de Salém, era um jebuseu (Josué 15:8) sacerdote-rei de Salém (Jerusalém).

O nome "Melquisedeque" significa “rei da justiça” (Hebreus 7:2) e Salém (Jerusalém) significa "paz". Assim, ele era, como Hebreus 7:2 aponta, o rei da paz. Os capítulos 6 e 7 de Hebreus nos dizem que Melquisedeque era um retrato de Jesus, que também é Rei e Sacerdote, sendo superior a Abraão. Como Melquisedeque, o ofício sacerdotal de Jesus é superior ao ofício sacerdotal dos levitas. Os levitas eram descendentes de Abraão e Melquisedeque era superior a Abraão.

Melquisedeque abençoou a Abrão porque ele tinha uma posição superior. Abrão pagou o dízimo a Melquisedeque pelo mesmo motivo. Melquisedeque era um retrato de Jesus porque ele aparece na história de repente, com grande autoridade, como rei e sacerdote. Depois disso, não o vemos novamente por muito tempo. Mas ele é o Rei dos Judeus e o Príncipe da Paz. Hebreus 7 também argumenta que o ofício de Jesus como rei-sacerdote era o mesmo de Melquisedeque, sendo superior ao sacerdócio levítico. O autor argumenta que, quando Abraão pagou o dízimo a Melquisedeque, em essência, Levi também estava pagando seu dízimo, já que Levi viria dos lombos de Abraão. Isso mostrava que o ofício sacerdotal de Jesus e de Melquisedeque eram superiores ao sacerdócio levítico. Hebreus argumenta que Jesus era um Sacerdote melhor, com um sacrifício superior (Ele mesmo) e um Rei melhor com um Reino melhor.  Portanto, devemos segui-Lo acima dos líderes das instituições humanas.

Melquisedeque trouxe pão e vinho, um costume comum da época que demonstrava amizade e hospitalidade, um sinal de boa vontade (Juízes 19:19; Eclesiastes 10:19; Lamentações 2:12). Não parece estar ligado à ordenança de comunhão do Novo Testamento (1 Coríntios 11:26). Ele era um sacerdote do Deus Altíssimo. Esta é a primeira ocorrência da palavra "sacerdote" (hebraico “Kohen”) na Bíblia. O texto nos diz que Melquisedeque era um sacerdote do Deus Altíssimo. É fascinante ver que Deus tinha um relacionamento íntimo com Melquisedeque. O fato de a Bíblia se concentrar na história de Abraão e nos dizer que ele foi declarado justo não impede vermos como Deus trabalhava de muitas maneiras e com muitas pessoas naquela época. Deus não nos relata a história da maioria das pessoas. Parece improvável que um rei e sacerdote tão importante não tivesse seguidores, ou seja, pessoas que também servissem ao único Deus verdadeiro. Parece provável, portanto, que houvesse muitas outras pessoas que também criam em Deus e foram declaradas justas.

É possível que Melquisedeque e seus seguidores fizessem parte da razão pela qual Deus atrasou Seu juízo sobre Canaã (Gênesis 15:16). Há um princípio bíblico de que um remanescente justo muitas vezes protegerá o restante da sociedade do julgamento, pelo menos por um tempo. Neste caso, Deus adiou o julgamento por "quatro gerações". Na época do Êxodo (cerca de 500 anos depois), os jebuseus seguiam a falsos deuses, ao iinvés de seguirem ao único Deus verdadeiro (Êxodo 23:23-24). Israel não conseguiu expulsar os jebuseus da terra (Juízes 1:21). No entanto, o rei Davi conquistou o que parecia ser sua principal cidade de Jerusalém, a cidade de Melquisedeque (2 Sm 5:6-9; 1 Crm 11:4-9). Foi lá que Davi fundou a "Cidade de Davi". Arqueólogos descobriram esta cidade e suas ruínas podem ser visitadas hoje. Isso fornece uma conexão entre o rei-sacerdote Melquisedeque e o rei-sacerdote Jesus, o Filho de Davi e legítimo Rei de Jerusalém.

Melquisedeque reconheceu a orientação divina de Deus sobre a terra, chamando-O de possuidor do céu e da terra (Salmos 115:15, 134:3). Embora Deus tenha criado toda a terra, Sua propriedade da terra fora rejeitada por aqueles que não lhe obedeciam. Melquisedeque declara que o Deus soberano deveria ser seguido e obedecido. Abrão, ao oferecer o dízimo a Melquisedeque, também se reconhece como servo de Deus, estando sob Sua autoridade. Embora Abrão tenha recebido a promessa da terra, ele reconhece estar subordinado a Deus, o Grande Susserano, Soberano Governante de todos. Abrão mostra seu serviço a Deus através de Melquisedeque.

Melquisedeque louva a Deus por ter dado vitória a Abrão e por ter entregado o inimigo  em suas mãos, dizendo: Bendito seja Deus Altíssimo, que entregou teus inimigos em tuas mãos. O Deus ao qual Abrão adorava em seu altar em Hebrom (Gênesis 13:18) era "possuidor do céu e da terra", que entregara os quatro reis do oriente nas mãos de Abrão. Abrão deu ao sacerdote Melquisedeque um décimo de todos os despojos capturados (Gênesis 28:22). Um décimo era a parte do rei (1 Samuel 8:15-17). Abrão reconhece Melquisedeque como sendo superior espiritualmente (Hebreus 7:2-6). Embora Abrão tenha se esforçado substancialmente e demonstrado grande coragem, ele reconhece que Deus lhe havia dado a vitória.