AaSelect font sizeSet to dark mode
AaSelect font sizeSet to dark mode
Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência de navegação e fornecer conteúdo personalizado. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso de cookies conforme descrito em nossa Política de privacidade.
Significado de Gênesis 19:8-10
Ló se oferece para apaziguar a luxúria dos homens, entregando aos predadores suas duas filhas que não ainda haviam conhecido varão. É difícil para a mentalidade ocidental conceber como alguém a quem a Bíblia chama de justo poderia fazer tal oferta (2 Pedro 2:7). A decisão de Ló neste capítulo nunca é descrita como justa. Este não foi o seu melhor momento, e na verdade, em toda esta situação ele não tem momento brilhante algum. Ele só escapa da destruição pela graça de Deus. Não há elogios a Ló ou qualquer idéia de que devemos admirar as ações de Ló. Na melhor das hipóteses, ele se posicionou contra a multidão e pregou contra sua maldade; porém, mesmo assim, ele oferece trocar suas filhas para comprar a segurança dos visitantes.
Verdadeiramente, foi por sua fé em Deus que a justiça lhe foi atribuída (Romanos 4:5). Ele era o único seguidor do verdadeiro Deus em uma cidade absolutamente pagã, onde não haviam nem mesmo dez homens justos (Gênesis 18:32). O apóstolo Pedro descreve como Ló era miserável vivendo na cidade maligna de Sodoma:
"(porque aquele justo, habitando entre eles, com ver e ouvir, afligia a sua justa alma dia após dia com as suas obras iníquas)" (2 Pedro 2:8).
Ló adorava e servia ao Deus de seu tio Abraão. Veremos nas próximas seções que, quando Deus diz a Ló para deixar a cidade, ele obedece. E, mesmo assim, Ló hesita e precisa que os anjos agarrassem a sua família para levá-los para fora, tudo porque Deus teve compaixão deles (Gênesis 19:16). Isso é o máximo que podemos dizer a respeito de Ló: ele odiava a cultura pecaminosa de Sodoma e obedecia a Deus pela fé. Por isso, Deus ofereceu-lhe a graça. A obra de resgate completo vem de Deus: Ele nos resgata do pecado e nos chama a viver pela fé. Ele tem compaixão de nós (2 Timóteo 1:9).
No entanto, antes da fuga de Sodoma, existe esse feio capítulo da história. Uma turba voraz à porta e o temeroso Ló priorizando a segurança de seus convidados, oferecendo suas filhas para saciar aos homens maus.
Há uma história semelhante registrada em Juízes 19. Um israelita que viajava com sua concubina passa a noite em uma cidade israelita, Gibeá. Lá, ele esperava ser bem recebido. Ele aguarda na praça da cidade, esperando ser acolhido. Depois de uma longa espera, um israelita que vivia em Gibeá, mas que não era natural de Gibeá, o convida para sua casa. O anfitrião o aconselha a não passar a noite na praça da cidade, assim como Ló o fez em Gênesis 19.
Da mesma forma, os homens da cidade vêm e exigem ter relações com o visitante. O anfitrião (da tribo de Efraim) implora aos homens de Gibeá (da tribo de Benjamim) que não fizessem aquilo: "Este homem está em minha casa". Isso demonstrava a ética comum no antigo Oriente Próximo em relação à hospitalidade. Uma vez que um anfitrião recebia um convidado, ele tinha a honra de protegê-lo.
Parece que tanto Ló quanto o narrador de Juízes 19 viram sua situação de ter de proteger a seus convidados e proteger a suas filhas como uma escolha entre dois males. Sempre que temos que escolher entre dois males, tendemos a evitar o que consideramos o "mal maior" para justificar nossa escolha. Tanto Ló quanto o anfitrião israelita na história de Juízes 19 colocaram uma prioridade ética maior em seu dever de proteger aos hóspedes em detrimento da segurança sexual de suas filhas.
Em lugar algum a Bíblia compactua com tais decisões. As Escrituras não podem ser reduzidas simplesmente a um devocional com lições morais em cada versículo. Há muitos episódios dentro dela que são registros de seres humanos ruins fazendo coisas ruins com resultados ruins. Os livros de Gênesis e Juízes estão particularmente cheios de situações desesperadas, conflitos e comportamentos exploradores. Ambos os livros contêm muitas ocorrências gráficas e violentas que enfatizam como os seres humanos pecaminosos fazem coisas pecaminosas. Nosso trabalho é reconhecer esse mal e aprender com ele. Em última análise, isso deve levar nossos corações a buscar a Deus e rejeitar ao mundo. Mas, ambos os momentos em Gênesis 19 e Juízes 19 não são moralmente instrutivos. Eles são relatos da depravação do homem.
A prioridade de proteger ao hóspede acima de tudo era uma ética consolidada no antigo Oriente próximo. O período dos Juízes começou em Israel cerca de quinhentos anos após o episódio de Gênesis 19 e a destruição de Sodoma.
Na história de Juízes, o anfitrião oferece sua filha virgem e a concubina do viajante, mas os homens se recusam. Vale notar que a horda recusou a oferta das filhas virgens em cada caso. Pode ser que a oferta das filhas seja recusada.
Na história de Juízes 19, o viajante israelita empurra a concubina para fora da porta. O trecho diz:
"Mas os homens não o queriam ouvir; o homem pegou na sua concubina e a fez sair a eles, para fora. Eles a conheceram e dela abusaram a noite toda até pela manhã: largaram-na ao raiar da alva. Ao romper do dia, veio a mulher e caiu à porta da casa do homem, onde estava o seu senhor, e ali ficou até que se fez claro" (Juízes 19:25-26).
O viajante israelita estava em viagem porque sua concubina havia "sido infiel" (Juízes 19:2). Assim, talvez em represália contra ela, ele a empurra para fora da porta, com resultados desastrosos.
O homem demonstra um alto grau de insensibilidade para com sua concubina ao colocá-la para fora para ser abusada. Podemos observar a insensibilidade do homem para com sua concubina novamente pela manhã; ela está tão despreocupado com o bem-estar dela que diz, sem rodeios: "Levanta-te e vamos" (Juízes 19:28). Ele parece ter planejado dar-lhe uma lição. Todo o episódio é um triste e brutal exemplo da ação da natureza humana.
Talvez o homem tivesse se sentido justificado por causa de sua raiva contra a concumbina por sua infidelidade, ou talvez isso indicasse a natureza de seu coração duro, o que pode ter sido parte do motivo pelo qual a mulher fugiu dele, para começar (Juízes 19:2). De qualquer forma, mesmo que pareça querer recuperá-la, ele não parece estar muito preocupado com seu bem-estar.
O homem claramente não esperava que sua concubina fosse brutalizada até a morte, mas este foi o resultado. Ele levou seu corpo e terminou sua jornada para casa; depois a cortou em doze pedaços e enviou os pedaços a todas as partes de Israel para mostrar o que havia acontecido em Gibeá. Todo o Israel ficou chocado e consternado, dizendo: "Nunca tal coisa se fez nem se viu desde o dia em que os filhos de Israel subiram da terra do Egito até hoje" (Juízes 19:30). Israel se reúne e entra em guerra contra Gibeá. Isso deixa claro que tal comportamento perverso não era tolerado.
Da mesma forma que a situação em Juízes 19, Ló oferece suas filhas para salvar seus convidados. Ele oferece suas duas filhas virgens para que a turba abuse delas sexualmente. Porém, ele exorta a multidão a não "agir mal" (Gênesis 19:7).
Ló suplica: "Fazei-lhes como bem vos parecer”. Ele oferece suas filhas à multidão sem controle visando proteger a seus convidados que estavam sob o abrigo de seu teto. Ló adverte a multidão de homens que, caso eles realizassem tal comportamento desprezível, isso seria uma violação terrível da hospitalidade. Violar esse costume seria transformar a cidade em um lugar sem lei.
Assim como em Juízes 19, a turba rejeita a oferta das substitutas. Além disso, a multidão se concentra em suas ações perversas focadas nos dois anjos. Eles acusam Ló de julgá-los: "Esse indivíduo entrou a peregrinar e quer fazer-se juiz". Em hebraico, a palavra "peregrinar" significa permanecer ou habitar como um estrangeiro (não um parente consanguíneo) "por pouco tempo", não permanentemente. Ou seja, Ló não era um cidadão nativo. A palavra “juiz” significa mais do que alguém que "criticava". Em hebraico, é um verbo que significa "governar", como faz um governante ou governador, especialmente em relação a potenciais disputas. Em outras palavras, a multidão de homens estava dizendo: " Ló não é um cidadão de pleno direito, mas apenas um estrangeiro. Como ele ousa julgar nosso comportamento em nossa própria cidade natal?"
Como 2 Pedro nos diz, Ló permaneceu justo enquanto viveu em Sodoma. Porém, ele foi lentamente se integrando à vida da cidade. Primeiro, ele "armou suas tendas perto de Sodoma" (Gênesis 13:12). Depois, "ele se estabeleceu em Sodoma" (Gênesis 14:12). Foi unicamente por causa dele que a cidade foi salva por Abraão (Gênesis 14). Como veremos em breve, suas filhas estavam noivas de alguns jovens de Sodoma. Sua decisão de apegar-se a um padrão de justiça fez com que ele permanecesse um estrangeiro, mas agora ele estava em perigo mortal.
Os homens respondem atacando ao sobrinho de Abraão, garantindo-lhe que eles o tratariam pior do que aos visitantes. Eles pretendiam fazer o que quisessem com todos os homens na casa de Ló, incluindo ao dono da casa. Eles pressionaram muito e chegaram perto de arrombar a porta. A essas alturas, toda a imunidade da qual Ló acreditava desfrutar já havia evaporado. A multidão de homens recusa sua oferta e se move em direção à sua porta para garantir à força o que Ló não lhes queria dar livremente. Eles ficaram furiosos com a tentativa de Ló de interromper sua malignidade. Eles não queriam ser condenados ou julgados por ninguém. Eles poderiam ter se contido por medo de Abraão. No entanto, agora, sua luxúria e raiva fez com que abandonassem toda a cautela. Assim, eles teriam um juízo muito mais severo do que qualquer ação realizada por Abraão.
Tendo falhado em persuadir a multidão, o próprio Ló precisa ser resgatado. Os dois anjos estenderam as mãos e trouxeram Ló para dentro da casa. Ló tentou salvar a seus convidados, mas acabou sendo salvo por eles. Os anjos fecharam a porta.