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Significado de Habacuque 1:12-17
No início, Habacuque perguntara a Deus por que Ele parecia mostrar indiferença à iniquidade de Judá. Ele perguntara a Deus por que Ele estava tão silencioso e distante (v. 2-4). O SENHOR diz ao profeta que olhasse além da situação de Judá para ver o que Ele estava prestes a fazer em nível internacional. Deus diz a Habacuque que Ele usaria os caldeus (babilônicos) — um povo feroz e arrogante — como Seu instrumento para punir ao povo de Judá (vv. 5-11).
A resposta do Senhor à pergunta inicial de Habacuque levou o profeta a fazer uma segunda pergunta. O restante do capítulo 1 é a segunda pergunta de Habacuque: "Como pode ser justo uma nação ainda mais perversa do que Judá ser usada como agente de justiça?" O capítulo 2 começa com Habacuque reconhecendo que, como ser humano, ele havia sido muito ousado em fazer tal pergunta, reconhecendo plenamente que Deus poderia, justificadamente, castigá-lo por até mesmo pedir isso. Porém, Habacuque quer saber, por isso tem a coragem de perguntar. Como veremos, Deus será paciente e o responderá.
O profeta apresenta sua segunda pergunta a partir do reconhecimento de que o julgamento pendente de Deus sobre a iniquidade de Judá era correto e verdadeiro. Ele reconhece a justiça de Deus ao fazer uma pergunta retórica que antecipava uma resposta positiva: Não és eterno, ó SENHOR? Habacuque dirige-se a Deus usando Seu nome de aliança Javé ou "SENHOR". É o nome que Deus havia revelado a Moisés na sarça ardente (Êxodo 3:14, 15). Este nome significava "O Existente" e declarava que Deus era imutável, eterno e autoexistente (Deuteronômio 32:4, 40; Salmos 90:2; 102:27; Malaquias 3:6).
A palavra hebraica traduzida como “eterno” é "qeḏem" em hebraico. Aqui significa "desde antigamente" e refere-se aos tempos pré-históricos. A palavra enfatiza a eternidade de Deus, que existia antes de Sua criação (Gênesis 1:1). No entanto, "não há mudança" Nele (Salmo 55:19). O SENHOR é eterno e "reinará para todo o sempre" (Êxodo 15:18).
Ao fazer a pergunta retórica: "Não és eterno, ó Senhor?", Habacuque clama por Javé, meu Deus. O termo para “Deus” ["Elohim" em hebraico] enfatizava a força e o poder do Criador, Aquele a quem "todo joelho se curvará" (Isaías 45:23). O profeta confessa que o SENHOR era o seu Deus. De fato, o SENHOR era o Susserano (ou Governante) do povo de Judá, que deveria servi-Lo como vassalos. Deus, agora, declara que julgaria ao povo de Judá e Habacuque reconhece a soberania de Deus e Seu direito à justiça.
Habacuque chama a Javé de "Meu Santo". O termo “santo” significa "separado". Quando usado para seres humanos, significa que as pessoas (crentes) são separadas dos pecados e consagradas a Deus para o Seu serviço. Quando o termo é usado para Deus, significa que Ele é separado do pecado e consagrado a Si mesmo, porque não há autoridade superior a Dele. Ele é o governante supremo. Ele não possui pecado, Ele é perfeito (Deuteronômio 32:4). Só Ele é digno de louvor. Neste reconhecimento, Habacuque se aproxima de Deus com humildade, reconhecendo que Ele era Deus, o SENHOR e supremo Susserano (governante) sobre Judá.
Por causa do caráter do Senhor, o profeta declara: Não morreremos. Uma vez que Habacuque acabara de ouvir que Judá seria invadida por babilônicos cruéis e velozes, parece provável aqui que a referência de Habacuque a não morrer reflita seu conforto de que Judá seria adequadamente castigada, porém poupada de cair no abismo do paganismo, deixando de ser uma nação santa e sacerdotal como havia sido designada a ser (Êxodo 19:6). Talvez Habacuque estivesse indiretamente pedindo ao Senhor que preservasse ao povo de Judá. Deuteronômio 8 apresenta esta advertência a Israel (do qual Judá fazia parte):
"Se algum dia esqueceres o Senhor, teu Deus, e ires atrás de outros deuses, servi-los e adorá-los, testifico contra ti hoje que certamente perecerás. Como as nações que o SENHOR faz perecer diante de vós, assim perecereis; porque não ouviríeis a voz do Senhor, vosso Deus” (Deuteronômio 8:19-20).
O pronome oculto "nós" na frase “não morreremos” refere-se ao povo de Judá. O profeta estava confiante de que o povo de Judá não deixaria de existir por causa da natureza de seu Deus eterno. Portanto, embora o Deus imutável usasse os babilônicos como Sua ferramenta para decretar medidas corretivas sobre Seu povo da aliança, de acordo com os termos acordados do pacto, Ele não permitiria que eles perecessem por causa de Seu nome.
Além disso, Habacuque reconhece o julgamento de Deus sobre Judá através dos babilônicos (caldeus) dizendo: Tu, ó Senhor, os designaste (os babilônicos) para julgar, e Tu, ó Rocha, os estabeleceste (os babilônicos) para corrigir (Judá).
Na primeira linha, o profeta usou o nome Javé, o nome da aliança de Deus, traduzido como SENHOR. Na segunda linha, Habacuque usa o termo "Rocha" metaforicamente para Javé. O termo “rocha” é uma metáfora que descreve a estabilidade e a confiabilidade imutáveis de Deus (Deuteronômio 32:4, 15). O Deus imutável e eterno havia designado os caldeus para julgar ou corrigir ao povo de Judá. Habacuque tem confiança de que Deus não os destruirá. Este é um tema bíblico consistente: "A quem o SENHOR ama, Ele disciplina" (Provérbios 3:12; Hebreus 12:5-7).
Habacuque continua a recitar os atributos de Deus, antes de fazer sua segunda pergunta. Como veremos, Habacuque parece falar dessas coisas em relação ao caráter de Deus como preparação para sua próxima pergunta, que indicaria como o uso que Deus faria dos babilônicos para julgar a Judá seria consistente com Seu caráter. Ele, agora, descreve a pureza de Deus em duas declarações semelhantes: Seus olhos são puros demais para aprovar o mal e não podes olhar para a iniquidade com favor. Esta declaração precede a pergunta de Habacuque sobre como Deus poderia favorecer os caldeus em detrimento de Judá, dado que sua iniquidade excedia à de Judá.
O verbo hebraico traduzido como “favorecer” significava olhar para algo. Os olhos representam à pessoa como um todo. O profeta afirma que o caráter do SENHOR era tão limpo e puro que Ele não poderia olhar para o mal. Ele repete a mesma ideia na segunda linha. Sim, o SENHOR não pode olhar para a iniquidade porque Ele é santo.
Tendo feito essas declarações introdutórias sobre Deus, Habacuque, a seguir, faz sua segunda pergunta: Por que olhas com favor para aqueles que lidam traiçoeiramente? A primeira pergunta de Habacuque havia sido por que Deus não estava respondendo à sua petição para julgar ao povo de Judá por sua maldade desenfreada, violando seu acordo de aliança de amar ao próximo e, ao invés disso, explorá-los e usar de violência contra eles (Habacuque 1:2-3). Deus responde a essa pergunta afirmando que usaria a Babilônia para castigar ao povo de Judá (Habacuque 1:6).
Agora, Habacuque pergunta como Deus poderia olhar com favor para os babilônicos, que lidam traiçoeiramente, permitindo que eles derrotem e ataquem a Judá? Como podia fazer sentido que a maldade fosse vencida por algo ainda mais perverso? Deus responde a essa pergunta no capítulo 2 e deixa claro que a Babilônia também seria julgada. De fato, todo aquele que vive em orgulho será julgado (Habacuque 2:4a). Os justos são apenas aqueles que vivem pela fé (Habacuque 2:4b).
No contexto, a aplicação imediata seria para Israel, que havia recebido a Lei de Deus sobre quais comportamento garantiriam grandes bênçãos. Se Israel cresse em Deus e andasse na fé de que a palavra de Deus realmente os levaria às maiores bênçãos, eles seriam considerados justos. Porém, os orgulhosos, aqueles que achavam saber mais do que Deus, acabariam em juízo. Com os babilônicos não seria diferente. Era apenas uma questão de tempo.
O profeta faz a mesma pergunta de outra maneira: Por que te calas quando os ímpios engolem aos mais justos do que eles?
Os ímpios eram os caldeus (babilônios), aqueles que não temiam ao Senhor. Eles realizavam maldades continuamente. Por outro lado, mesmo que Judá fosse injusto em comparação com o padrão da lei de Deus, eles ainda eram mais justos do que os iníquos caldeus. O dilema de Habacuque surge com sua consciência de que o SENHOR estava prestes a capacitar os caldeus, "aquele povo feroz e impetuoso" (Habacuque 1:6), a engolir ao povo de Judá, uma nação mais injusta do que Judá.
“Engolir” a algo é fazê-lo desaparecer até que perca sua identidade. Em nosso contexto, significa "destruir". Os caldeus estavam prestes a destruir a nação de Judá. Muitos seriam mortos ou exilados de Judá para a Babilônia. Porém, o paradoxo é que os caldeus eram mais perversos do que o povo de Judá. É por isso que Habacuque desejava saber por que tais coisas aconteceriam desta forma. Ele estava profundamente perturbado. No entanto, ele estava ciente de que estava falando com o próprio Deus.
Habacuque reconhece o direito de Deus de fazer o que quiser, pois Ele era Deus. Porém, o profeta também desejava saber como aquilo poderia se encaixar, como tudo aquilo seria algo justo. Já que Deus é um Deus justo, tudo aquilo teria de se encaixar de alguma forma. Habacuque queria saber. Os seres humanos seriam tratados como ratos nas patas de um grande gato cósmico?
Habacuque faz outra uma pergunta adicional: como Deus poderia usar uma nação mais perversa para castigar uma nação menos perversa por sua maldade? Ele também levanta duas questões subsequentes. A primeira é: Por que fizeste os homens como os peixes do mar?
Quando Deus criou os seres humanos pela primeira vez, Ele ordenou que eles "governassem sobre os peixes do mar" (Gênesis 1:26; Salmos 8:6-8). Ora, o povo de Judá era como os peixes do mar, pois haviam se tornado indefesos diante dos exércitos dos caldeus. Os exércitos caldeus seriam como um pescador pegando os peixes em sua rede.
Na pergunta seguinte, Habacuque indaga por que o SENHOR havia feito os homens gostarem dos répteis sem governantes sobre eles? O termo “répteis” denotava os insetos ou vermes. Em nossa passagem, o termo é usado especificamente para as pequenas criaturas marinhas (Salmo 104:25). Essas criaturas que rastejam não têm leis para reger suas ações. Eles são desorganizados e indefesos, já que ninguém os governa. O ponto chave de Habacuque parece ser o de que o povo de Judá estava prestes a viver à mercê dos implacáveis caldeus, que não se importavam com eles mais do que os seres humanos se importariam com uma formiga ou um pequeno peixe.
Habacuque continua com sua analogia sobre os peixes e declara: Os caldeus trazem a todos eles com um anzol, arrastam-nos com sua rede e os reúnem em sua rede de pesca. O termo "caldeus" aqui não aparece no texto em hebraico, mas é representado pelo pronome "eles". Como o pronome representa os caldeus, nossas traduções o substituem para explicitar o sujeito do versículo ao leitor.
O termo traduzido como “anzol” ("chākhā" em hebraico) refere-se a um dispositivo curvo ou dobrado de osso ou ferro usado nos tempos antigos para capturar peixes (Isaías 19:8). O termo “rede” ("ḥērem" em hebraico) é um termo técnico da indústria pesqueira e significa "rede de arrasto". Geralmente é lançada por uma pessoa. É a mesma rede de pesca ("miḵmereṯ" em hebraico) encontrada em Isaías 19:8, mas requer várias pessoas para puxá-la da água.
De acordo com Habacuque, o poder dos caldeus havia se tornado tão grande (com a aprovação do Senhor) que eles poderiam capturar o povo de Judá e os das outras nações à vontade, como os pescadores faziam com os peixes, usando seus anzóis e suas redes de pesca. Eles podiam facilmente reunir pessoas com seus dispositivos de pesca. Assim como um peixe fica indefeso uma vez que caia numa rede, Judá também estaria indefesa diante dos caldeus.
Como resultado de sua conquista, eles (os caldeus) se alegraram e ficaram contentes. Esses dois verbos aparecem juntos aqui para intensificar o nível de alegria dos caldeus (Salmo 32:11). Eles ficariam cheios de emoção e alegria por pensarem que poderiam controlar o destino do povo de Judá, tratando-os como os peixes do mar.
Pior ainda, os caldeus não reconheciam ao Senhor como Aquele que orquestrava tais eventos. Em vez disso, eles atribuíam seu sucesso às suas redes. Como Habacuque declara, Eles oferecem um sacrifício à sua rede e queimam incenso à sua rede de pesca. A expressão “oferecer sacrifício” é "zābhach" na língua hebraica. Normalmente refere-se ao abate de um animal. Queimar incenso significava deixar uma oferta subir em fumaça diante de Deus (Êxodo 30:30-38).
Na religião israelita, o sacrifício era uma oferta de ação de graças que servia para trazer comunhão entre Deus e o adorador (Levítico 7:16; 22:18-23). O livro de 1 Reis descreve o protocolo deste ritual. O adorador pegava o animal, o matava e fervia sua carne. Ele, então, daria a carne ao povo para que pudessem comer (1 Reis 19:21).
Em nossa passagem, os caldeus pagãos não adoravam a um deus. Em vez disso, eles adoravam às suas redes de pesca como seus deuses, porque através desses instrumentos sua captura era grande e sua comida era abundante.
Esses implementos de pesca são usados metaforicamente para representar as armas de guerra que os caldeus pretendiam usar para vencer ao povo de Judá. Portanto, a implicação é que o objeto de adoração dos caldeus era seu próprio poder. Eles não deviam lealdade a divindade superior alguma. Eles adoravam a si mesmos e suas próprias capacidades. Deus chama isso de "orgulho" em Habacuque 2:4.
Essa situação levou o profeta Habacuque a perguntar: Será que eles vão esvaziar sua rede e matar continuamente as nações?
A expressão “esvaziar a rede” dá sequência à analogia dos peixes. Ela retrata os caldeus como pescadores que removem o peixe capturado de sua rede, depois continuam pescando até enchê-la repetidamente (vv. 14-16). A pergunta por trás da metáfora era: "Será que seu apetite por conquistas será saciado?" Será que Deus permitiria que aqueles perversos caldeus dominassem e governassem a Terra? Afinal, quem poderia detê-los?
O profeta queria saber por quanto tempo os caldeus continuariam a destruir nações sem mostrar qualquer misericórdia para com elas. A ação implacável e feroz dos caldeus parecia interminável para o profeta. Isso explica o porquê da pergunta de Habacuque a Deus a respeito de quando o Senhor iria acabar com eles.
No capítulo 2, Deus deixa claro que Ele colocaria limites à Babilônia. De fato, veremos no livro de Daniel que o maior rei da Babilônia, Nabucodonosor, se humilharia diante de Deus. E um judeu exilado, Daniel, traria a verdade de Deus para a corte da Babilônia.