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Significado de Tiago 2:18-20
Tiago antecipa que alguns opositores diriam que a fé e as obras não tinham conexão uma com a outra. Tiago indica que tal crença era uma tolice; ter fé, mas não agir sobre ela, não era em nada benéfico.
Tiago sabe que alguns de seus leitores (irmãos em Cristo) se sentiriam defensivos quanto à sua exortação de que precisavam colocar suas palavras em ação, ou seja, trabalhar com sua fé. Assim, antecipando-se à esta queixa, o apóstolo constrói um diálogo e responde à uma pergunta de forma preventiva, de modo a fechar o assunto. Ele parece sugerir que alguém se oporia ao seu ensino. É provável que ele já tivesse ouvido tal objeção antes, ou seja, debates entre os crentes sobre a fé e as obras; é por este motivo que ele já tinha uma resposta preventiva engatilhada.
Primeiro, antes de comentarmos sobre os versículos 16-20, há uma questão de tradução e pontuação que deve ser abordada. Diferentes traduções bíblicas colocam as aspas referentes às palavras dos opositores imaginários de Tiago em lugares diferentes. Algumas ocorrem após a primeira ocorrência do termo “obras” - "Você tem fé e eu tenho ações." Outras colocam o argumento dos opositores no final do versículo 18.
Não há consenso sobre onde termina o argumento dos opositores. Por que? Porque o livro de Tiago foi escrito em grego koine, que não usava pontuação. Não há aspas na redação original. Portanto, cabe a nós determinar onde termina a citação do opositor e a partir de onde Tiago responde.
O contexto deixa claro que o apóstolo não escreveu esse diálogo como um quebra-cabeças misterioso. Tiago estava instruindo a seus discípulos. Portanto, devemos esperar que ele fornecesse indicadores óbvios sobre onde terminariam os argumentos de seus opositores hipotéticos e onde começaria sua resposta a eles.
O argumento dos opositores, para este comentário, termina após a palavra “estremecem”. Portanto, a objeção completa do opositor imaginário de Tiago pode ser encontrada nos versículos 18-19:
Mas alguém dirá: “Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Crês tu que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o creem e estremecem.”
A objeção, qualquer que fosse ela, não apoiava nem coincidia com a afirmação de Tiago de que "a fé sem obras é morta" (versículo 17).
Nossa proposta é a de que Tiago dá aos leitores marcadores claros para o início da objeção dos opositores - palavra “alguém”, que inicia sua declaração - e “homem vão” para terminá-la.
O termo “alguém” indica que Tiago está se referindo a um opositor: “Alguém dirá”. O uso da palavra “alguém” sinaliza que Tiago está mudando de voz e o que se segue será a voz de alguém diferente dele.
A expressão “homem vão” indica que Tiago agora está respondendo ao opositor, a quem ele considerava um sujeito tolo trazendo um argumento tolo.
Essa mesma forma de objeção é encontrada em 1 Coríntios 15:35-36:
"Mas alguém dirá: Como são ressuscitados os mortos? E em que qualidade de corpo veem? Insensato, o que tu semeias não se vivifica sem que morra."
Para sustentar a hipótese de que o argumento do opositor termina pouco antes da expressão “homem vão”, a ilustração sobre os demônios terem fé se encaixa na objeção, não na instrução de Tiago. Não é o apóstolo quem emprega a fé dos demônios em sua ilustração. É o homem vão que usa os demônios como argumento de que Tiago cria em Deus e fazia coisas boas, mas os demônios também acreditavam em Deus e não faziam coisas boas; portanto, a fé e as obras não estariam relacionadas. Atribuir a Tiago a afirmação “Crês tu que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o crêem e estremecem” colocaria Tiago na posição de responder ao opositor com um argumento sem sentido.
Parece claro, por todos os ângulos, que a declaração do opositor se inicie com a expressão “Mas alguém dirá” e termina com a expressão “Mas queres saber, ó homem vão.” Portanto, devemos ler o diálogo da seguinte maneira:
Tiago: "Mas alguém dirá".
Opositor: "Tu tens fé e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Crês que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o crêem e estremecem".
Tiago: "Mas, queres saber, ó homem vão, que a fé sem as suas obras é estéril?"
Especificamente, os pontos do opositor são:
Explicação:
Simplificando, Tiago afirma que a fé sem obras é "morta", enquanto o opositor contraria esta visão, afirmando que a fé sem obras é "viva" porque fé e obras são separadas uma da outra, desconectadas. Ambas podem ser exercidas de forma independente.
O ponto de Tiago é que a fé e as obras possuíam uma conexão tão íntima que, se alguém não acrescentasse obras à sua fé, sua própria fé seria inútil. Tiago estava se referindo a uma fé viva e ativa (espiritualmente crescente/santificante), como visto em seu exemplo original sobre alimentar e vestir a outro cristão (Tiago 2:15-16). Ele não estava falando sobre a justificação pela fé e a salvação à parte das obras (Romanos 4:5), mas sim sobre a santificação por uma fé vibrante completada pela ação. A santificação diz respeito à salvação do poder e das consequências do pecado por meio da obediência diária. A justificação é um dom gratuito concedido através da fé em Cristo.
O argumento do opositor era o de que a fé e as obras eram coisas separadas, sem conexão significativa. Era compreensível que alguém na igreja primitiva pudesse aplicar a fé em Cristo a todos os aspectos da vida, mesmo após o renascimento espiritual. Tiago via isso como um erro.
Para provar seu ponto de vista, o opositor oferece alguns argumentos:
Tiago responde a seu opositor hipotético, sinalizando que agora ele estava falando novamente. Ele chama seu opositor de “homem vão”. Tiago responde à objeção no versículo 20, dizendo: "Mas, queres saber, ó homem vão, que a fé sem obras é estéril?" Em sua resposta, Tiago substitui a palavra “morta” por “estéril” (ocioso, ineficaz, etc).
O apóstolo aborda a suposição equivocada de que o crescimento espiritual era alcançado por meio da fé separada das obras. Podemos inferir que havia membros do público de Tiago que não estavam ajudando a ninguém, ao mesmo tempo em que se gabavam de sua fé em Jesus (Tiago 2:1-6, 2:14-15).
Tiago não duvidava que eles cressem em Jesus, mas diz que sua fé era estéril, tanto para as pessoas às quais eles poderiam estar ajudando quanto a si mesmos. Aqueles que não exerciam sua fé não seriam libertos de sua própria iniquidade interna, nem cresceriam no caminho da fé rumo à aprovação e ao prêmio da coroa da vida (Tiago 1:12).
Podemos inferir, ainda, que as pessoas que sustentavam ser espiritualmente santificadas à parte de seus atos estavam praticando favoritismo, colocando as pessoas ricas nos bons assentos da igreja e fazendo com que as pessoas pobres ficassem de pé ou sentadas no chão (Tiago 2:1-6). Assim, essas pessoas estavam tentando preservar o bolo e comê-lo ao mesmo tempo. Elas buscavam a aprovação do mundo enquanto mantinham a posição de ser espiritualmente completos. Isso ia diretamente contra o ensinamento de Jesus de que luz e trevas não podem se misturar. Os crentes não podem obter as recompensas do mundo e as recompensas do Reino de Deus ao mesmo tempo:
"Ninguém pode servir a dois senhores; pois ou odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mateus 6:24).
Praticar o favoritismo não significa que não cremos em Jesus, mas certamente significa que não estamos obedecendo a Jesus. Estamos confundindo/explorando as pessoas com base nos padrões mundanos. Tiago repreende seus leitores por serem parciais (Tiago 2:9).
Era neste ponto que a fé deles era estéril, porque eles não tinham as obras que Jesus os havia chamado para realizar (João 14:15, Mateus 22:39). Anteriormente, Tiago havia exortado seus leitores a praticarem a misericórdia, em vez do favoritismo:
"Assim falem e assim ajam, como aqueles que devem ser julgados pela lei da liberdade. Pois o juízo será impiedoso para aquele que não demonstrou misericórdia; a misericórdia triunfa sobre o juízo" (Tiago 2:12-13).
Ter fé sem obras não significa, de forma alguma, não ter fé, mas faz com que nossa fé seja morta e estéril. Pedro usa essa mesma palavra para rebater à mesma questão:
"Pois, se essas coisas vos pertencem e abundam em vós, fazem que não sejais ociosos nem sem fruto no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo" (2 Pedro 1:8).
Aqui, Pedro está preocupado com o fato de os crentes serem inúteis e "infrutíferos". Como Tiago, Pedro está focado em desafiar o que já haviam sido justificados em Cristo a crescer de tal forma que sua fé fosse demonstrada em obras. É possível um cristão crer, mas não crer? Claro que sim! Todos nós fazemos isso (1 João 1:8).
Paulo ecoa a mesma preocupação sobre a possibilidade (e erro) da esterilidade entre os crentes:
"Que os nossos aprendam a ser os primeiros a praticar boas obras para as coisas que são necessárias, a fim de que não sejam infrutuosos" (Tito 3:14).
A fecundidade é algo a ser aprendido, não algo que ocorre naturalmente. Assim como as crianças devem ser treinadas para serem produtivas, assim ocorre no plano espiritual.
Nos versículos seguintes, Tiago mostrará ao homem vão por que a fé sem obras é estéril.