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Significado de Joel 1:2–4
O profeta Joel, tendo recebido uma mensagem de Deus, chama a atenção do povo de Judá. Ele começa com uma ordem para preparar seu público: Ouçam isto, ó anciãos, e ouçam, todos os habitantes da terra.
O verbo traduzido como “ouvir” é "shema" na língua hebraica. Descreve tanto a atividade mental da audição quanto seus efeitos (Deuteronômio 6:4; Oséias 5:1; Amós 5:1). Ou seja, a expectativa para quem ouve é obedecer. O verbo traduzido como “ouvir” pode ser traduzido como "dar ouvidos", ou seja, dar a devida consideração a alguém ou algo (Deuteronômio 32:1). Os verbos são usados aqui como sinônimo para chamar a atenção do povo de Judá.
Aqueles que são chamados a ouvir a mensagem profética são (1) os anciãos e (2) todos os habitantes da terra. Os anciãos eram tidos em alta estima e serviam em uma posição de liderança na comunidade israelita. Eles eram respeitados e muitas vezes serviam como autoridades de governo em suas cidades (Deuteronômio 1:13; 21:20). Os habitantes da terra referem-se a todos os que habitavam em Judá.
A chamada à atenção é seguida por uma pergunta retórica: Algo assim aconteceu em seus dias ou nos dias de seu pai? Neste ponto, Joel pode estar se referindo a um evento passado, ou pode estar se referindo a um evento futuro que certamente aconteceria. Parece que o contexto se encaixa melhor neste último, já que Joel está anunciando um evento futuro ainda não visto em Judá, ou nem mesmo em Israel.
A resposta esperada para a pergunta retórica de Joel é "não". O evento antecipado que Joel descreve seria algo que eles não tinham visto antes em seus dias. Isso pode indicar que a profecia de Joel precede a invasão assíria de Israel, ocorrida em 722 a.C. Ou pode ser que tal declaração tenha sido feita a uma geração em Judá que estava suficientemente distante do cativeiro de Israel. A mensagem alerta para uma invasão iminente, diferente de tudo o que eles já haviam experimentado. A primeira onda da invasão babilônica a Judá ocorre em 586 a.C., cerca de 136 anos após a invasão assíria a Israel. Isso colocaria a invasão de Israel depois de seus dias (aqueles que ouviam a profecia de Joel) ou os dias de seu pai, tornando necessária esta mensagem ao povo de Judá.
A posição que este comentário assumirá a partir deste ponto é que a declaração se refere ao povo que habitava em Judá, que ainda não havia experimentado uma invasão por potências estrangeiras durante nenhum momento da história do reino.
O desastre previsto seria diferente de tudo o que o povo e a nação tinham na memória. Nada disso havia ocorrido em seus dias. Nem eles nem seus pais tinham visto algo como esse terrível evento antes. O evento a seguir não teria precedentes.
Por causa da magnitude do desastre, Joel pede que seu público compartilhe a história com seus entes queridos. Ele afirma: Contem a seus filhos sobre isso, e que seus filhos contem a seus filhos, e os filhos destes à próxima geração. Esta declaração profética é tão certa que poderia ser proclamada como um evento determinado. Assim, depois da ocorrência do evento, ele precisaria ser lembrado. Grande parte do Antigo Testamento é dedicada a relatar os eventos do cativeiro babilônico de Judá e seu subsequente retorno. Ao analisarem esses eventos, as lições poderiam ser compreendidas e lembradas.
O exílio na Babilônia está registrado nos livros de 1 e 2 Crônicas, que contam a história da queda de Judá. Os dois livros explicam que o exílio ocorreu devido à infidelidade de Judá (1 Crônicas 9:1). Os livros proféticos de Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Ageu e Habacuque também dizem respeito ao exílio. Finalmente, o período de exílio inclui os livros históricos de Esdras e Neemias, que narram o retorno à terra e a reconstrução do templo e do muro de Jerusalém.
O exílio de Judá na Babilônia e seu retorno à Terra Prometida podem ser vistos como uma metáfora para o arco da história da raça humana. Devido ao pecado, os humanos foram separados do Éden e da Árvore da Vida, que dava a eles a imortalidade (Gênesis 3:22-24). Judá seria instruído a viver fielmente na Babilônia, comprar casas, construir negócios, abençoar a Babilônia enquanto criava suas famílias, aguardando o momento de retorno a seu verdadeiro país, a Terra Prometida (Jeremias 29:4-11). Da mesma forma, o povo de Deus é convidado a fazer algo semelhante na dimensão espiritual. Somos convidados a viver nesta terra caída, que não é o nosso verdadeiro lar, abençoando a terra criando famílias e construindo negócios, vivendo fielmente esperando o tempo em que teremos novamente acesso à Árvore da Vida (Hebreus 11:13-16). Portanto, o exílio foi causado pelo pecado e a redenção viria através da graça de Deus (Romanos 8:22).
O relato dos acontecimentos deveria ser ensinado e repassado às gerações seguintes para preservação. Joel desafia os pais a ensinarem tudo a seus filhos, para que todos aprendessem com a lição (Deuteronômio 4:9). Ações têm consequências. Pertencer à família de Deus é algo dado pela graça e não requer obra alguma (Deuteronômio 7:7; Efésios 2:8-9). No entanto, a posse das bênçãos que Deus nos concede requer que andemos em obediência aos Seus mandamentos, seguindo aos Seus caminhos (Deuteronômio 7:9-11; Efésios 2:10).
Até este ponto, o profeta Joel não fala nada a seu público sobre a natureza daquele fenômeno único. Ele se refere a ele como “este” (v. 2) e “ele” (v. 3), mas não revela detalhes específicos. Este suspense serve para captar a atenção de seus ouvintes. O fato de Joel precisar dizer aos ouvintes sobre o assunto em questão é um bom indicador de que ele não estava falando de um evento real que já havia ocorrido, mas de um evento futuro que certamente iria ocorrer por causa da declaração profética.
Agora que a audiência de Joel estava pronta, ele nomeia o desastre que tinha em vista, descrevendo-o como uma praga de gafanhotos: O gafanhoto comeu o que a lagarta deixou; e o que o brugo comeu o que o gafanhoto deixou; e o hasil comeu o que o brugo deixou. Isso provavelmente se refira a quatro reinos sucessivos que invadiriam e devastariam ao reino de Judá. O gafanhoto representaria a invasão babilônica. Os babilônicos destruíram Jerusalém e o templo e deportaram grande parte da população de Israel para a Babilônia (1 Crônicas 9:1). O brugo representaria o reino dos medos e persas, que sucederiam os babilônicos (Daniel 9:30). O rei persa Ciro permitiu que algumas pessoas retornassem a Israel e reconstruíssem Jerusalém (Esdras e Neemias). Porém, o reino de Judá permaneceu sob seu domínio. O hasil representaria o império grego, que sucederia ao império persa. O governante grego Antíoco Epifanias proibiu a prática religiosa judaica. A última casta de gafanhotos representaria o império romano. Roma acabaria tomando o lugar dos gregos, após um breve período de autogoverno dos Macabeus. Roma destruiu Jerusalém e o templo em 70 d.C.
O que os quatro tipos de gafanhotos têm em comum é que todos eles são dominadores. A destruição causada pela primeira e segunda classes de gafanhotos representava os impérios babilônico e romano, descrevendo apropriadamente a destruição física de Jerusalém e do templo. A terceira classe de gafanhotos representaria o domínio persa de Israel, embora o rei Ciro tenha permitido que Jerusalém fosse reconstruída e alguns judeus retornassem a Israel do cativeiro. A última categoria representava o esforço dos gregos para gradualmente corroer os costumes e a identidade judaica.
Os gafanhotos eram comuns no antigo Oriente Próximo. Embora os gafanhotos sejam individualmente insignificantes e fáceis de matar (Salmo 109:23), quando estão em enxames eles agem como exércitos em marcha (Provérbios 30:27) e são conhecidos pela devastação e danos que trazem. Em Deuteronômio 28, Moisés cita gafanhotos como a maneira de Deus julgar Seu povo da aliança: "Tirarás muita semente para o campo, mas recolherás em pouco, porque o gafanhoto a consumirá" (Deuteronômio 28:38). A iminente invasão pelas referidas nações estrangeiras seria como uma série consecutiva de infestações de gafanhotos que devastariam a toda a nação.