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Significado de Levítico 19:9-18
A seção é iniciada pela exposição de certos comportamentos exploratórios derivados do estado caído da natureza humana. A queda de Adão, a natureza humana (a carne) é caracterizada como mesquinha, enganadora, injusta, rancorosa, vingativa, egocêntrica e odiosa para com os outros. Ela produz uma cultura miserável de exploração e violência. Deus desejava que Seu povo seguisse o Seu Espírito, que produziria o fruto que Levítico 19 procura estabelecer, ou seja: o serviço de amor uns aos outros produzir uma sociedade próspera e agradável.
Podemos olhar para os frutos da nossa vida, a qualquer momento, e facilmente verificamos se estamos escolhendo na carne ou no Espírito. A carne produz imoralidade, impureza, sensualidade, idolatria, feitiçaria, hostilidade, contenda, ciúme, explosões de raiva, disputas, dissensões, facções, inveja, embriaguez e outras coisas assim (Gálatas 5:19-21). Na medida em que a vida de um crente produz essas coisas, ele claramente não está andando no Espírito, mas na carne. É assim que conseguimos saber se escolhemos o Espírito ou a carne em algum momento. Por outro lado, o andar em Espírito produz resultados de amor, alegria, paz, paciência, bondade, fidelidade, mansidão e autogoverno (Gálatas 5:22-23).
Deus ordena que Seu povo cuidasse dos necessitados e dos estrangeiros na terra. Além disso, eles deveriam se abster de colher todos os frutos nos campos: Não segarás totalmente os cantos do teu campo, nem colherás o rabisco da tua sega. Colher aqui significa "pegar as migalhas", por assim dizer, ou seja, não coletar os frutos caídos e as sobras das colheitas. Desta forma, o dono do campo participaria do suprimento aos pobres locais, deixando áreas de seu campo sem colher. As sobras para os que precisassem comer era ignoradas. Tal generosidade ficava disponível a qualquer pessoa necessitada, incluindo os estrangeiros, ou seja, os imigrantes provenientes de outras nações.
Um estilo de vida de autogoverno agrada a Deus. Deus não deseja impor nada a Seu povo; Ele deseja que eles façam escolhas que trarão vida a si mesmos. Este mandamento de prover aos necessitados é repetido em Levítico 23:22 e m conexão com a Festa das Semanas, bem como em Deuteronômio 24:19-22. Quando cada proprietário de terras deixava para trás as colheitas, os necessitados podiam, então, entrar no campo e coletar alimentos para seu sustento. Ao invés de criar um sistema de bem-estar social baseado em esmolas, Deus desejava que Seu povo exemplificasse o autogoverno e o trabalho, permitindo aos necessitados e aos estrangeiros a dignidade de coletarem seu próprio alimento.
A verdade é um grande alicerce para qualquer sociedade ou relacionamento. Quando a verdade permeia uma cultura, ela produz confiança e harmonia. Quando indivíduos ou grupos roubam ou mentem uns aos outros, isso produz desconfiança e corrupção no tecido social. Quando as pessoas podem confiar umas nas outras, o comércio e a troca florescem, elevando a comunidade. Isso pode ser visto em nível nacional, comunitário, familiar ou individual.
Os caminhos de Deus são diferentes dos caminhos da carne. Os caminhos de Deus são caminhos de verdade. Ele diz: Não furtareis, nem enganareis, nem mentireis uns aos outros. Não jurareis falso pelo meu nome, de sorte que profaneis o nome de vosso Deus: eu sou Jeová. Não oprimirás o teu próximo, nem o roubarás. Uma das formas de roubo era reter o salário diário de uma pessoa até o dia seguinte. Muitas pessoas naquela época viviam dos pagamentos que podiam receber a cada dia. Portanto, Deus diz: "A paga de um jornaleiro não ficará contigo até pela manhã". Este mandamento também é reforçado por Moisés em Deuteronômio:
"Não defraudarás o jornaleiro pobre e necessitado, ou seja ele de teus irmãos ou seja ele dos teus peregrinos que estão na tua terra, das tuas portas para dentro. 15No seu dia, lhe darás o seu jornal, e isso se fará antes do sol posto, porque é pobre e nisso põe o seu coração. Não suceda que ele clame contra ti a Jeová, e isso te seja pecado" (Deuteronômio 24:14, 15).
Quando não há consequências para nossos maus comportamentos, seremos tentados por nossa carne a tirar vantagem ou desencadear mais frustrações nas pessoas. Deus proíbe esse tipo de comportamento, dizendo: "Não amaldiçoarás o surdo, nem porás tropeço diante do cego, mas temerás o teu Deus: eu sou Jeová". Pode-se pensar, pelo fato de o surdo não ouvir a maldição, ou o de cego não ver o obstáculo, ou quem o colocou lá, que não haverá consequências diretas por palavras e ações. Mas, Deus deixa claro que todas as ações têm consequências, pois Ele tudo vê.
Muitos mandamentos na lei de Moisés foram escritos em estilo jurisprudencial, significando que tais ordens eram exemplos ou precedentes para que os princípios fossem usados para se julgar outros casos de natureza semelhante. O princípio de não amaldiçoar a um surdo, nem colocar uma pedra de tropeço diante do cego também pode ser aplicado para a maldição de qualquer pessoa pelas costas (alguém que não consegue ouvir a maldição) ou pela colocação de uma pedra de tropeço diante de qualquer um que não esteja ciente ela. Embora a pessoa possa não ser pega imediatamente quebrando esse princípio, é claro que todos terão de prestar contas de cada palavra e ação feitas nesta vida, porque Deus vê e ouve tudo. Deus tem o poder de corrigir as desobediências nesta vida, bem como na próxima:
"Digo-vos que de toda palavra ociosa que falarem os homens, dela darão conta no dia de juízo; porque pelas tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado" (Mateus 12:36, 37).
É apropriado que este mandamento seja concluído com o mandamento de reverenciar (temer) a Deus. Deus observa a humanidade e julgará a cada palavra e ação:
"Vi também os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono; livros foram abertos, e foi aberto outro livro, que é o da vida; e foram julgados os mortos pelas coisas que estavam escritas nesses livros segundo as suas obras" (Apocalipse 20:12).
Embora sejamos desencorajados a julgar as pessoas, é inevitável e necessário que julguemos nossas própria ações em nossas mentes e depois ao próximo, caso tenhamos jurisdição para tal (pai para filho, empregador para empregado). Uma das posições sociais mais necessárias em uma cultura saudável é o de juiz. Deus ordenou a Moisés que nomeasse juízes em todas as tribos de Israel (Deuteronômio 16:18).
Quando o ofício de juiz é executado com equidade e retidão, interpretando adequadamente os decretos legislativos estabelecidos, a sociedade colhe a justiça semeada por este cargo (Deuteronômio 16:18-20). Quando o juiz é parcial ou há corrupção em seu gabinete, a sociedade fica fraturada e disfuncional e as pessoas tenderão a fazer justiça com as próprias mãos. Deus exige que os juízes não cometam injustiças: Não farás injustiça no juízo; não terás respeito à pessoa do pobre, nem honrarás a pessoa do poderoso; mas com justiça julgarás o teu próximo.
Esta advertência deixa claro que os juízes devem julgar com base no que é verdadeiro e certo, sem parcialidade de qualquer espécie. O juiz não deve ser parcial com os pobres e decidir: "Ah, o rico pode pagar, então vou ajudar ao pobre". Por outro lado, o juiz não deve ceder aos grandes e dizer: "Se eu fizer algo por essa pessoa, ela poderá fazer algo por mim também". Em vez disso, os juízes devem julgar a cada pessoa como se fosse seu próximo, de forma justa.
Em conexão com o julgamento com justiça, Deus ordena: Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo, nem conspirarás contra o sangue do teu próximo. A calúnia é proveniente de egoísmo ou ódio. Se encontramos ofensa em alguém, devemos primeiramente trazer a ofensa ao conhecimento daquela pessoa, buscando ajudá-la (Tiago 5:19-20). Porém, quando há ódio pelo ofensor, a carne fica inclinada à calúnia e buscaremos denegri-lo aos olhos dos outros.
A calúnia tende a ter o resultado inverso do que o caluniador pretende. É por isso que Salomão diz em Provérbios 10:18: "Quem encobre o ódio tem lábios mentirosos; e aquele que espalha a calúnia é louco". Além da calúnia, há muitos outros pecados que nascem do egoísmo e do ódio. Deus deseja iluminar-nos para esta sabedoria ao dizer: Não aborrecerás a teu irmão no teu coração. Esta admoestação é como a ordem que Jesus deu no Sermão da Montanha, exortando Seus seguidores a se concentrarem em ter uma atitude correta, pois pecados terríveis, como assassinato e adultério, começam no coração (Mateus 5:27-30). Levítico 19:16 destaca esta conexão entre as atitudes do coração e a violência física. Imediatamente após a instrução contra a calúnia, o Senhor faz uma advertência para que os israelitas não agissem contra a vida do seu próximo.
O povo de Deus deveria corrigir potenciais erros. Moisés continua: São deixarás de repreender o teu próximo e não levarás sobre ti pecado por causa dele. Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo. É bom corrigir comportamentos errados. Porém, o foco deve ser o de beneficiar a pessoa que recebe a correção, não de executar qualquer retribuição. A execução de uma retribuição pode gerar uma disputa de sangue. O povo de Deus não deve se vingar quando é injustiçado. Tampouco deve guardar rancor contra o próximo. Carregar rancor envenena nossa própria alma. Somos os principais perdedores. Porém, podemos ser vencidos pela vingança, que destrói a harmonia comunitária.
Esta seção termina com o que Jesus chama de segundo mandamento mais importante de toda a lei: "Amar ao próximo como a ti mesmo" (Mateus 22:36-40; Marcos 12:28-31). Se o pecado nasce do ódio (Levítico 19:16-17), então só o amor (o oposto do ódio) pode resolver tais disputas (Levítico 19:18):
"Tendo, antes de tudo, ardente caridade uns para com os outros, porque a caridade cobre a multidão dos pecados (1 Pedro 4:8).
Cada um dos mandamentos de Deus pode ser cumprido através do amor. Paulo diz em 1 Timóteo 1:5 que o objetivo da lei é o amor a partir de um coração puro, uma boa consciência e uma fé sincera. Paulo repete de forma consistente como o amor é o cumprimento da lei (Romanos 13:9, Gálatas 5:14).
Tiago, meio-irmão de Jesus, faz referência a Levítico 18:19 (amar ao próximo como a nós mesmos) ao contrastar o amor com a parcialidade no julgamento:
"Se vós, porém, cumpris a lei real segundo a Escritura: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem; 9mas, se vos deixais levar de respeitos humanos, cometeis um pecado, sendo condenados pela Lei como transgressores" (Tiago 2:8, 9).
Paulo afirma que os crentes cumprem a lei de amar ao próximo como a si mesmos quando usa a liberdade dada por Deus para fazer escolhas que sirvam uns aos outros:
"Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne, mas, num espírito de amor, sede servos uns dos outros. 14Pois toda a Lei se resume em um só preceito, a saber: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. 15Mas, se vós vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não vos consumais uns aos outros" (Gálatas 5:13-15).
"Ahav" é a palavra hebraica para “amor”. A Bíblia usa "Ahav" para descrever o afeto íntimo entre pai e filho, marido e mulher, mãe e filho e entre amigos. Outra forma de entender o amor é como um verbo, uma ação. O amor-ação consiste em buscar-se o melhor interesse dos outros. Conforme Jesus disse: "Se me amardes, guardareis os Meus mandamentos" (João 14:15).
Esse tipo de amor fruto de uma escolha e orientado para a ação está implícito em Levítico 19:18: “amar ao próximo como a si mesmo”. Esta orientação é enfatizada por Jesus na parábola do Bom Samaritano (Lucas 10:30-37). Jesus contou esta parábola logo após citar Levítico 19:18 como sendo o segundo mandamento mais importante: “Amar ao próximo como a si mesmo”. Ele contou a parábola do Bom Samaritano em resposta a alguém que havia perguntado: "Quem é o meu próximo?". A pessoa buscava justificar-se e desculpar-se de ter que obedecer a esta ordem (Lucas 10:29).
No relato de Jesus sobre O Bom Samaritano, Jesus define o "próximo" como qualquer pessoa que precise de ajuda, independentemente dos afetos naturais. Em sua parábola, um samaritano (inimigo dos judeus) ajudou a um judeu necessitado, tomando medidas para oferecer atendimento médico a ele depois de ter sido espancado por ladrões.
A palavra grega "ágape" reflete esse tipo de amor em ação, ou seja, é um amor fruto de escolha. O amor ágape é usado em Lucas 10:27, assim como é descrito no relato de Jesus sobre O Bom Samaritano. O amor ágape tem a ver com fazer a escolha deliberada de agir de maneiras que obedeçam aos mandamentos de Deus e sirvam ao melhor interesse dos outros (1 Coríntios 13:3-8a). Pedro, em sua segunda carta, descreve uma progressão que começa com a fé e culmina no amor ágape, o vínculo da perfeição (Colossenses 3:14):
"Por isso mesmo, vós, aplicando da vossa parte toda a diligência, ajuntai à vossa fé a virtude; à virtude, a ciência; à ciência, a temperança; à temperança, a fortaleza; à fortaleza, a piedade; à piedade, o amor dos irmãos; e, ao amor, a caridade ('ágape')" (2 Pedro 1:5-7).
Mais tarde, Levítico 19:34 falará dos estrangeiros que residiam em Israel. Fica claro que o termo "próximo" era um conceito que significava "quem está em nossa esfera de influência", conforme enfatizado por Jesus na parábola do Bom Samaritano (Lucas 10:30-37).