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Significado de Levítico 4:1-12
Em Levítico 4:1-12, encontramos um conjunto detalhado de instruções dadas a Moisés sobre a oferta pelo pecado oferecida para pecados não intencionais cometidos por um sacerdote ungido (v. 3). Essas leis destacavam a gravidade do pecado e a santidade exigida por Deus, mesmo para pecados cometidos involuntariamente.
Então o SENHOR falou a Moisés, dizendo (v. 1). A expressão apontava para uma comunicação divina direta, enfatizando a seriedade das instruções. A conversa do SENHOR (Yahweh) com Moisés ocorre na Tenda do Encontro, um espaço sagrado onde a presença de Deus habitava entre os israelitas durante sua jornada pelo deserto nos após o êxodo do Egito.
Yahweh começa, no versículo 2, com uma introdução dirigida a uma pessoa ;que pecasse; porém, Ele rapidamente muda e a partir do versículo 3 passa a se dirigir aos sacerdotes ungidos e ao restante do povo, desde os líderes até o povo comum.
O SENHOR, então, diz: "Fale aos filhos de Israel, dizendo: 'Se alguém pecar involuntariamente em qualquer das coisas que o SENHOR ordenou que não se fizessem, e cometer qualquer uma delas" (v. 2). Isso ressaltava a universalidade do pecado e indicava que até mesmo ações inadvertidas podiam violar a lei de Deus. Isso transmitia a ideia de que a ignorância não absolveria a pessoa da responsabilidade. Também enfatizava que, para o pecado não intencional, o SENHOR forneceria um caminho de restauração da comunhão.
Contrastando com isso estavam as instruções para os pecados intencionais. O livro de Números diz que as ofertas pelo pecado eram para pecados não intencionais e não cobriam pecados intencionais (Números 15:29-30). Pecados intencionais tinham um conjunto separado de requisitos.
Para alguns pecados intencionais, como extorsão ou roubo, uma oferta pela culpa era exigida junto de um ato de restituição pela parte culpada para com o ofendido (Levítico 6:1-7). Assim, o ofensor era ordenado não somente a confessar sua culpa diante de Deus, mas também a reparar o dano que havia causado à pessoa a quem havia prejudicado. Assim, para pecados intencionais, a comunhão deveria ser restaurada com Deus e com seus semelhantes.
Pecados intencionais, como quebrar as leis do sábado, bruxaria, incesto, adultério, assassinato ou blasfêmia contra o nome de Yahweh, exigiam a pena de morte (Êxodo 35:2, Êxodo 21:12). Esses pecados intencionais reconheciam que tal rebelião contra o SENHOR era como um veneno e poluiria a nação inteira.
Os caminhos pagãos de exploração e autoindulgência levariam a maldições sobre a nação (Deuteronômio 28:15-68) e se colocavam em forte contraste com a ética de amar ao próximo ordenada por Deus, que os levaria a receber Suas bênçãos (Deuteronômio 28:1-14). Portanto, a eliminação dessas influências negativas protegeria a nação de cair em desordem e colapso.
Outros pecados intencionais exigiam que o culpado fosse “cortado”. A tradição judaica interpreta o fato de ser cortado (Hebraico “kareth”) como uma morte ou separação decretada por Deus ao invés de um tribunal humano (Mishnah Sanhedrin 9:6). Esta tradição dizia que ser “cortado do meio do seu povo” poderia acontecer de duas maneiras.
A primeira maneira tradicionalmente entendida era a de que o culpado experimentaria o julgamento divino nesta vida por meio de uma morte física precoce, ou que morreria sem descendência. Como exemplo, Gênesis 9:11 usa “kareth” para descrever aqueles que morreram pelo julgamento de Deus no dilúvio de Noé. O Novo Testamento contém um pensamento semelhante, quando Paulo diz aos crentes em Corinto que muitos estavam doentes ou até mesmo morreram prematuramente porque tomaram comunhão com Deus de uma “maneira indigna” (1 Coríntios 11:27-30).
Uma segunda maneira no entendimento judaico tradicional fala de um impacto adverso na próxima vida. Ela se baseia em versículos como Gênesis 25:8, que diz que Abraão morreu e foi “reunido a seu povo”. Isso gerava a interpretação de que o pecado intencional criava uma separação ou morte na vida após a morte e a pessoa era cortada da comunhão com seu próprio povo na próxima vida. A implicação de Abraão ser “reunido a seu povo” inferia que ele teria parentes na próxima vida; assim, o pensamento era o de que a pessoa poderia ser cortada da comunhão com seu povo na próxima vida caso quebrasse a comunhão através da exploração de seu próximo nesta vida.
Este conceito geral pode ser visto na parábola do mordomo injusto do Novo Testamento, onde Jesus declarou que parte da grande recompensa pelos serviços prestados por aqueles que, nesta vida, não tiverem abundância será sua retribuição na próxima (Lucas 16:9). Porém, este capítulo não lida com pecados intencionais. Ele se concentra nos pecados involuntários (v. 1).
Esta primeira oferta pelo pecado se concentrava nos sacerdotes que desempenhavam um papel espiritual e sagrado: “Se o sacerdote ungido pecar de modo a trazer culpa sobre o povo, então ele deverá oferecer ao Senhor um novilho sem defeito como oferta pelo pecado que cometeu ” (v. 3).
O pecado do sacerdote ungido tinha ramificações em toda a comunidade; daí a necessidade de uma oferta significativa — um touro sem defeito. Um touro era um sacrifício caro. Simbolizava a perfeição e a seriedade da expiação pelo pecado. Rashi, um comentarista rabínico do século XI, afirma:
“Quando o sumo sacerdote pecava, a culpa recaía sobre o povo (ou seja, o povo permanecia sob um fardo de culpa), porque eles dependiam dele para efetuar expiação por seus pecados e orar em seu favor; agora, ele próprio havia se degenerado e, portanto, não poderia expiar os pecados deles. Assim, eles permaneceriam sob culpa.”
Isso ressaltava a natureza séria do pecado de um líder. A passagem começa apontando para como um líder deveria lidar com seu pecado: Ele trará o novilho à porta da tenda da reunião perante o SENHOR, e porá a mão sobre a cabeça do novilho e o matará perante o SENHOR (v. 4).
Esta imposição de mãos era um ato simbólico de transferência do pecado do sacerdote para o animal, indicando substituição e identificação com o pecado que estava sendo expiado. Neste caso, o pecado era transferido para o touro sacrificado.
No Dia da Expiação, o sumo sacerdote realizava a oferta pelo pecado mais esperada do ano. Neste caso, sortes eram lançadas sobre dois bodes, uma para “Azazel” (às vezes traduzido como “bode expiatório”) e a outra para “Yahweh”. O bode sobre o qual a sorte recaía como Azazel era solto no deserto depois que o sumo sacerdote impunha sua mão sobre sua cabeça e confessava todos os pecados do povo sobre ele.
O bode sobre o qual a sorte recaía como Yahweh seria morto como oferta especial pelos pecados de toda a nação de Israel (Levítico 16:8-9). O sangue dessa oferta especial pelo pecado era trazido para dentro do véu do tabernáculo e aspergido sobre a Arca da Aliança (Levítico 16:15). Este era um prenúncio de Cristo entrando no véu como oferta perfeita pelo pecado, não com o sangue de bodes, mas com Seu próprio sangue (Hebreus 9:24-25).
Para saber mais sobre como os dois bodes no Dia da Expiação prenunciavam a obra de Jesus na cruz, veja nosso artigo: “Resgate e redenção: Jesus e Barrabás como símbolos do Dia da Expiação”.
Então o sacerdote ungido deveria pegar um pouco do sangue do touro e trazê-lo para a tenda do encontro (v. 5). A tenda do encontro se referia ao tabernáculo localizado no meio do acampamento israelita. O sangue na lei levítica simbolizava a fonte da vida; portanto, o meio de fazer expiação. Esta ação significava que a vida era dada em troca do pecado. Isto prenunciava Jesus, que daria Sua vida como expiação pelos pecados do mundo (Romanos 5:21).
As instruções continuam sobre a aplicação do sangue: O sacerdote molhará o dedo no sangue e aspergirá um pouco do sangue sete vezes perante o SENHOR, em frente ao véu do santuário (v. 6).
O número sete frequentemente representava completude ou perfeição na literatura bíblica; o ato de aspergir sangue diante do SENHOR era um ritual de purificação para o lugar santo. O sangue representava expiação, prenunciando a expiação de Jesus, que morreria uma vez por todas pelos pecados do mundo inteiro (Mateus 26:28, Romanos 3:25, Efésios 1:7).
A passagem continua falando da obrigação do sacerdote que houvesse peado: O sacerdote também porá um pouco do sangue nas pontas do altar do incenso aromático que está perante o SENHOR, na tenda da congregação; e todo o sangue do novilho derramará na base do altar do holocausto, que está à porta da tenda da congregação (v. 7).
O altar era o local central da adoração e a aplicação do sangue o santificava, tornando-o um lugar onde os israelitas poderiam oferecer suas dádivas a Deus. Os chifres do altar estavam em cada canto e significavam poder. O sangue nos chifres prenunciava o poder do sangue de Jesus para a remissão dos pecados (Colossenses 1:14). O incenso suave representava a oração de confissão, pois o incenso frequentemente representava as orações do povo de Deus (Apocalipse 8:3).
O resto do sangue era derramado na base do altar do holocausto, que ficava na entrada da tenda do encontro. A cor carmesim era visível a Deus e a todos os que entrassem no Tabernáculo, já que o altar ficava diretamente em frente à sua entrada. Da mesma forma, em Êxodo 12, quando os israelitas receberam a ordem de colocar o sangue do cordeiro da Páscoa nas vergas e batentes das portas de suas casas, a cor carmesim era visível a Deus quando Ele passou por eles (Êxodo 12:13).
Continuando com a oferta pelo pecado do sacerdote: Ele removerá dela toda a gordura do novilho da oferta pelo pecado: a gordura que cobre as entranhas, e toda a gordura que está sobre as entranhas, e os dois rins com a gordura que está sobre eles, que está sobre os lombos, e o lóbulo do fígado, que ele removerá com os rins (vs. 8-9). A gordura e os órgãos especificados eram oferecidos a Deus, enquanto o restante era retido para ser queimado fora do acampamento.
Então, o sacerdote deveria oferecê-los em forma de fumaça no altar de holocaustos (v. 10). Queimar a gordura e os órgãos no altar representava a transformação da oferta pelo pecado em um aroma agradável que subia a Deus, um visual simbólico da aceitação divina da oferta. O termo holocausto em hebraico é “oleh”, que significa “ascender”. À medida que os ofertantes observavam suas ofertas se tornar fumaça e subirem ao céu, isso fornecia uma representação fisicamente visível de uma verdade espiritual.
A palavra hebraica traduzida como rins é traduzida em outras partes das escrituras como “mente” (Salmo 16:7) e “ser mais íntimo” (Provérbios 23:16). Talvez aqui a imagem seja do primeiro e maior mandamento, que é o de entregar toda a nossa vida, incluindo nossos corações e mentes, em completa obediência a Deus (Deuteronômio 6:4-6, Mateus 22:36-37).
A gordura era frequentemente usada como imagem de abundância e prosperidade (Gênesis 45:18). Talvez a oferta da gordura fosse um reconhecimento de que Deus era a única fonte verdadeira de bênçãos e prosperidade. A imagem poderia ser a de oferecer de volta a Deus a gratidão pela vida e bênçãos, queimando-as e fazendo o aroma ascender até Ele.
No Novo Testamento, somos informados de que nossas orações ascendem à sala do trono de Deus como um incenso suave a Ele (Apocalipse 8:3-4). Ao falarmos com Deus em confissão, súplica e ação de graças, entendemos que nossas palavras sobem diretamente a Deus.
Porém, o couro do touro, e toda a sua carne, a cabeça, as pernas, as entranhas e os excrementos, isto é, todo o resto do novilho, ele levará para um lugar limpo, fora do acampamento, onde as cinzas são lançadas, e o queimará sobre lenha no fogo; onde as cinzas são lançadas, será queimado (vs. 11-12).
Esta instrução assegurava a eliminação completa do símbolo do pecado, removendo a impureza da comunidade e prevenindo a contaminação do espaço sagrado. Já que os israelitas viviam em tendas no deserto, o termo fora do acampamento era literal. Após a construção do Templo em Jerusalém, a frase passou a ser interpretada como “fora da cidade” de Jerusalém.
Na época de Jesus, esse lugar limpo ficava no Monte das Oliveiras e era onde era queimada a novilha vermelha para se obter as cinzas e criar a água purificadora (Números 19:9). Acreditava-se que sua localização ficava perto do lugar onde Jesus ascendeu ao céu depois de ressuscitar dos mortos.
Ao contrário das ofertas pacíficas, quando as porções comestíveis do animal eram apreciadas como refeição entre Deus, os sacerdotes e os ofertantes, várias ofertas, incluindo esta, eram totalmente consumidas pelo fogo fora do acampamento. O touro e o bode da oferta pelo pecado no Dia da Expiação eram totalmente consumidos fora do acampamento (Levítico 16:27). O sacrifício da novilha vermelha descrito em Números 19 também era totalmente consumido fora do acampamento; este sacrifício era necessário para se fazer a água purificadora do Tabernáculo antes de seu uso como morada de Deus. O autor de Hebreus faz uma ligação direta entre esses tipos de sacrifícios e o sacrifício de Jesus, que deu Sua vida em nosso favor:
“Pois os corpos dos animais cujo sangue é trazido ao lugar santo pelo sumo sacerdote como oferta pelo pecado são queimados fora do acampamento. Por isso, Jesus também, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. Então, saiamos a ele, fora do acampamento, levando o seu opróbrio.”
(Hebreus 13:11-13)
A instrução direta para “sair a Ele fora do acampamento, levando o Seu opróbrio” é direcionada a todos os crentes. Quando nos tornamos crentes em Jesus, devemos esperar compartilhar Seus sofrimentos e provações do mundo (Romanos 8:17, 2 Timóteo 1:8, 1 Pedro 4:13). Algumas pessoas que começam a seguir a Cristo ficam desencorajadas ao experimentarem sofrimentos e provações (Mateus 13:21). Porém, somos exortados a ter a atitude de Jesus, que tinha em mente uma causa transcendente: a recompensa prometida no Céu após suportar pacientemente o sofrimento (Filipenses 2:8-9).
A passagem de Levítico 4:1-12 e xplica a oferta pelo pecado no que se refere aos sacerdotes ungidos. As ações realizadas pelos sacerdotes ungidos não buscavam apenas restaurar o relacionamento entre os israelitas e Deus após o cometimento do pecado, mas também manter a santidade da vida comunitária e do tabernáculo. Esses ritos aconteciam no deserto, onde os israelitas viviam em um estado nômade, antes de entrarem na Terra Prometida. A localização específica desses eventos não nos é fornecida, mas estaria dentro do acampamento israelita onde o Tabernáculo, antecessor ao Templo, estava situado.
Os sacerdotes ungidos, aqui, faziam parte do sacerdócio levítico estabelecido após o êxodo dos israelitas do Egito, durante o segundo milênio a.C. O sacrifício ritualístico e a oferta eram conduzidos de maneira que aderisse cuidadosamente às instruções divinas, refletindo o antigo entendimento israelita de que os rituais e a obediência eram centrais para se manter a presença e o favor de Deus.