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Significado de Lucas 10:25-29
Esta interação não tem paralelo aparente nos outros relatos do Evangelho.
Depois de dizer em particular a Seus discípulos como eles eram abençoados porque estavam testemunhando o início do Reino que os profetas haviam predito (Lucas 10:23-24), um advogado se levantou e colocou Jesus à prova. O texto não indica se este diálogo ocorreu imediatamente após as observações privadas de Jesus ou algum tempo depois e em circunstâncias diferentes.
Os advogados eram especialistas jurídicos e religiosos na época de Jesus. Eles haviam criado regras para medir a justiça de uma pessoa. Esses advogados religiosos condenavam àqueles que não cumprissem às suas regras, mesmo após criarem brechas na Lei de Deus para se justificarem quando desobedeciam a Seus mandamentos. Esses advogados eram muito próximos aos fariseus e podem até ter sido um tipo especial de fariseu, que se concentrava na fabricação de leis religiosas. Eles também podem ter sido promotores dos que infringiam suas leis.
Embora os fariseus e advogados serem vistos pelos judeus como campeões da fé judaica contra as influências pagãs de Roma, na verdade eles zombavam da Lei de Deus, substituindo-a por uma versão corrupta do judaísmo. O resultado de sua farsa legalista era uma má religião (Mateus 23:1-36). Sua hipocrisia foi apontada por Jesus, para desgosto da instituição religiosa.
Este advogado em particular levantou-se e confrontou a Jesus, colocando-O à prova.
O advogado religioso poderia ter-se levantado em boa-fé para testar ou verificar se Jesus era ou não o Messias. Qualquer indivíduo poderia falsamente afirmar ser o Messias e seria apropriado testá-los, bem como a seus ensinamentos, tendo as Escrituras como pano de fundo. Como líder religioso, esse advogado tinha a obrigação de proteger o povo dos falsos mestres.
Porém, não parece que o advogado tenha vindo com essas intenções. Parece que ele desafia a Jesus apenas para buscar Nele uma falha. Parece que ele estava interessado apenas em procurar uma desculpa para descartar Jesus como sendo o Messias.
A palavra grega usada por Lucas para “teste” é uma forma do verbo: "ek-pei-ra-zo" (G1537). Significa "testar" ou "provar completamente". "Ekpeirazo" é usado outras quatro vezes no Novo Testamento. Em todos os quatro casos adicionais, "ekpeirazo" (teste) é usada em um contexto onde se é expressamente proibido testar a Deus.
"Ekpeirazo" (teste) é usada durante a refutação de Jesus a Satanás na tentação do deserto (Mateus 4:1-11; Lucas 4:1-13).
"Ekpeirazo" (teste) é usada mais duas vezes durante o exemplo negativo de Paulo quanto às reclamações do povo de Israel em sua primeira carta à igreja de Corinto.
Esses outros usos de "ekpeirazo" sugerem que aquele advogado religioso pode ter tido a intenção de testar a Deus dessa maneira negativa ao se levantar e colocar Jesus à prova. Parece que o advogado estava tentando distorcer a resposta de Jesus de forma a derrubá-lo.
Há aqui uma lição para todos nós, crentes e descrentes: Ninguém deve testar a Deus dessa maneira. Não devemos nos aproximar de Deus procurando maneiras de prová-Lo, minimizando Seus mandamentos, ou manipulá-Lo em conformidade com nossos desejos. Não devemos colocá-Lo à prova e exigir: "Se Deus realmente se importasse comigo, Ele me deixaria desfrutar disso", ou "Ele nunca me deixaria experimentar essa dor". Como criaturas, não devemos testar a bondade, a existência ou os propósitos do Criador. Ele é Deus.
A Bíblia nos diz que devemos nos aproximar de Deus de [boa] fé para agradá-Lo:
"E sem fé é impossível agradá-Lo, pois aquele que vem a Deus deve crer que Ele é e que Ele é um recompensador daqueles que O buscam" (Hebreus 11:6).
"Mas, se algum de vós carece de sabedoria, peça-lhe a Deus, que dá a todos generosamente e sem censura, e ela lhe será dada. Mas deve pedir com fé, sem qualquer dúvida, pois quem duvida é como a ressaca do mar, impulsionada e arremessada pelo vento. Pois esse homem não deve esperar que receba nada do Senhor, sendo um homem de mente dupla, instável em todos os seus caminhos" (Tiago 1:5-8).
A pergunta do advogado era básica e comum: Mestre, o que farei para herdar a vida eterna?
O advogado religioso dirigiu-se a Jesus usando um termo de respeito: Mestre (ele provavelmente usou o termo hebraico "rabino" e Lucas o traduziu a seu público usando a palavra grega "Di-das-kale" (G1320, ver João 1:38). Porém, mesmo que o termo Mestre fosse um termo de respeito, o contexto sugere que sua atitude não era genuína. O contexto sugere que o advogado se dirigiu a Jesus como Mestre apenas para lisonjeá-Lo, buscando pegá-lo em uma armadilha. Isso se deve tanto ao uso de "ekpeirazo"/teste mencionado acima, quanto ao fato de que, depois de Jesus responder, o texto observa que o advogado buscou se justificar, indicando não estar realmente buscando conhecer e aprender.
Curiosamente, a pergunta do advogado religioso foi notavelmente semelhante ao que o jovem rico mais tarde perguntaria a Jesus (Mateus 19:16-22; Marcos 10:17-22; Lucas 18:18-25). O jovem rico perguntou-lhe: "Bom Mestre, o que farei para herdar a vida eterna?" (Lucas 18:18). O jovem rico parecia estar de verdade buscando respostas, ao contrário desse advogado religioso.
A pergunta do advogado religioso — Mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna — era uma maneira de perguntar que coisas ele precisava fazer para receber a herança completa da vida eterna. Ele estava perguntando quais eram os requisitos morais para entrar no reino sobre o qual Jesus pregava (Mateus 4:17). O advogado não estava perguntando o que deveria fazer para ir ao céu quando morresse (para saber mais sobre a natureza religiosa da pergunta do advogado e do jovem, veja o comentário de Mateus 19:16-22).
Para saber mais sobre o que significa herdar a vida eterna, consulte "Vida Eterna: Receber o Dom vs Herdar o Prêmio".
Embora essas duas perguntas fossem funcionalmente idênticas, as respostas de Jesus ao advogado religioso e ao jovem rico são surpreendentemente diferentes em tom e conteúdo. A razão para essas diferenças provavelmente seja porque Jesus estava se dirigindo a dois corações muito diferentes. O jovem rico era sério em sua busca, o advogado religioso estava colocando Jesus à prova. Marcos deixa clara a sinceridade do jovem rico ao escrever que, quando Jesus viu o jovem rico, "sentiu amor por ele" (Marcos 10:21). Jesus reconhece e admira a autenticidade e devoção que o jovem rico tinha. Quanto ao advogado, parece não haver sinceridade em seu coração, mas uma armadilha sinistra sendo montada para destruir à reputação de Jesus. Portanto, Jesus dirige-se a cada homem de forma diferente - de acordo com o coração de cada homem ao apresentar suas perguntas.
Jesus essencialmente devolve a pergunta ao advogado através de duas novas perguntas: "O que está escrito na Lei? Como é que se lê para si?" Em outras palavras, Jesus lhe diz: "Você é um especialista religioso na Lei de Moisés. Diga-me você". Ao responder desta forma, Jesus astutamente não dá ao advogado nada que pudesse ser distorcido e usado contra Ele.
Na primeira pergunta — O que está escrito na Lei? — Jesus direciona o advogado às Escrituras, onde a resposta poderia ser encontrada. O advogado provavelmente considerava a Lei como sendo os livros de Moisés, os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. É notável que Jesus enquadre Sua pergunta direcionando o advogado à palavra de Deus, em vez de permitir que ele citasse as regras criadas pelos homens que pretendiam mostrar às pessoas como cumprir à Lei, mas, na realidade, tornavam as pessoas subservientes ao estabelecimento religioso. O advogado, de fato, tomaria sua resposta dos livros de Deuteronômio e Levítico, conforme sugerido por Jesus.
Com a segunda pergunta - Como é que se lê para si? - Jesus dedica-se à perícia do advogado e, sutilmente (talvez não tão sutilmente assim), devolve a ele a pergunta de modo a forçá-lo a dar uma resposta "farisaicamente correta". Esta foi uma manobra brilhante que enquadrou a questão dentro da palavra de Deus e deixou o advogado em cheque.
O advogado religioso, então, fornece uma resposta bíblica:
Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento; e a seu próximo como a ti mesmo.
Ele cita corretamente os dois maiores mandamentos. A primeira se encontra em Deuteronômio:
"Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças" (Deuteronômio 6:5).
O segundo maior mandamento se encontra no livro de Levítico:
"Não te vingarás, nem guardarás rancor contra os filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo; Eu sou o SENHOR" (Levítico 19:18).
Estes são os mandamentos aos quais Jesus citou mais tarde, ao ser perguntado por outro advogado no templo qual era o maior mandamento (Mateus 22:35-40; Marcos 12:28-34). Jesus responde que o maior mandamento era Deuteronômio 6:5, depois acrescenta que o segundo era como o primeiro (Levítico 19:18).
Para saber mais sobre esses dois mandamentos, veja nosso comentário de Deuteronômio 6:4-5; Levítico 19:9-18; Mateus 22:37-38; 22:39-40).
Jesus responde: Respondeste corretamente, faça isso e viverás.
O advogado religioso respondera corretamente. Jesus aponta para o que ele deveria fazer a fim de herdar a vida eterna e entrar no Reino. Ele deveria amar a Deus acima de tudo e servir ao próximo em amor. Isto era o que Jesus queria dizer ao declarar: Faça isso e viverás [abundantemente]. Em outras palavras, siga a esses mandamentos fundamentais e você herdará uma grande experiência de vida, a vida eterna. A vida eterna é tanto um dom quanto uma recompensa.
Observe como, mais uma vez, Jesus astutamente não dá ao advogado religioso nada ao qual ele pudesse usar para distorcer Suas palavras. O advogado não poderia condenar a Jesus por nada do que havia dito sem também condenar a si mesmo.
Porém, algo neste diálogo pode ter beliscado a consciência do advogado religioso.
Ele tinha vindo para colocar Jesus à prova, a fim de encontrar falhas Nele e descartar Seus ensinamentos. Porém, tendo essencialmente respondido à sua própria pergunta com a verdade, de acordo com a Lei de Deus, e quando Jesus (Aquele a quem ele queria destruir) humildemente confirma sua resposta, algo parece ter sido mexido dentro de seu coração.
Pode ter sido a resposta gentil de Jesus (Provérbios 15:1a); ou ouvir à sua própria voz falar da bondade da palavra de Deus (Isaías 55:11); ou poderia ter sido alguma outra coisa que moveu o advogado a continuar. Talvez ele sentisse que se não pudesse destruir a Jesus, ele pelo menos poderia parecer justo diante Dele.
Uma picada na consciência, o desejo de ter razão, ou ambos, ou qualquer outra coisa, e a conversa teria terminado. Mas, o advogado levanta uma última pergunta a Jesus:
Mas, querendo justificar-se, o advogado religioso disse a Jesus: "E quem é o meu próximo?"
Fosse o seu coração sincero ou (como parecia) hostil a Jesus, o advogado desejava justificar-se a si mesmo, bem como a maneira como tratava as pessoas.
A palavra “justificar” em grego ("di-kai-O" - G1344) compartilha da mesma raiz das palavras gregas "justo" ("di-kai-os" - G1342) e "justiça" ("di-kai-o-sun-é" - G1343). São essencialmente a mesma palavra em formas diferentes (justificar = verbo; justo = adjetivo; justiça = substantivo). Justificar algo significa alinhá-lo em posição correta ou em harmonia, de acordo com um padrão. Esse advogado estava buscando alinhar e harmonizar-se a si mesmo e a seu comportamento ao padrão da Lei de Deus em relação a amar ao próximo como a si mesmo. Ele não estava buscando aprender com Jesus e mudar seu comportamento, conformando-o com o padrão de Deus. Em vez disso, ele procura ter seu comportamento justificado. A resposta de Jesus presume que aquele advogado era um hipócrita que se distanciava de qualquer pessoa a quem considerasse inferior a si no cumprimento de seu código de regras religiosas.
O advogado chega para testar a Jesus, mas agora se vê em uma encruzilhada moral. Ele poderia arrepender-se de sua falha em amar ao próximo como amava a si mesmo, ou poderia justificar-se e traçar limites para a aplicação da Lei de Deus e, assim, oferecer desculpas às suas ações desprovidas de amor.
A primeira opção - o arrependimento - teria sido a melhor escolha caso o advogado quisesse herdar a vida eterna, obtendo a máxima realização da vida nesta terra (Mateus 4:17). No entanto, o advogado escolhe a segunda opção, a opção da auto racionalização.
Em vez de se arrepender e aprender a melhor forma de amar e servir ao próximo (como exigia o segundo maior mandamento), ele essencialmente pergunta a Jesus:
Ao perguntar a Jesus "Quem é o meu próximo?" o advogado religioso estava realmente querendo dizer: "Quem não é meu próximo?" Sua resposta implícita era: "As pessoas inferiores a mim". Jesus despoja o advogado religioso de sua posição e, ao fazê-lo, nos presenteia com uma das mais famosas parábolas.
É em resposta a essa pergunta dirigida por Jesus a esse advogado religioso que temos uma de Suas parábolas mais memoráveis: a Parábola do Bom Samaritano (Lucas 10:30-35).