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Significado de Lucas 15:11-24
A parábola trata de um pai com dois filhos; nenhum deles entende a perspectiva de seu pai em relação a eles, ou o que é realmente o melhor para eles. O irmão mais novo representa a atitude dos pecadores dos quais os fariseus se queixavam; o irmão mais velho representa os fariseus.
A primeira metade da parábola conta como o filho mais novo exige, prematuramente, sua herança e deixa seu pai para ir a um país distante, onde desperdiça tudo o que tem. Depois de ficar desesperado, e acreditando ser indigno de retornar como filho, ele voltou para casa na esperança de ser contratado como escravo por seu pai. Em vez disso, o pai graciosamente o reintegra como filho e convoca uma grande celebração porque, em suas palavras: "Este meu filho estava morto e voltou à vida; ele estava perdido e foi encontrado".
Não há paralelo aparente para essa parábola nos relatos dos outros Evangelhos.
Em resposta às calúnias dos fariseus contra Jesus devido à Sua disposição de confraternizar com publicanos e pecadores (Lucas 15:1-2), Jesus lhes conta três parábolas.
A primeira parábola foi: "A Parábola da Ovelha Perdida."
Tratava-se de um homem que deixa seu rebanho de noventa e nove ovelhas em busca daquela que estava perdida. Ele se alegra quando a encontra. Jesus conclui a parábola com uma declaração: "Haverá mais alegria no céu sobre um pecador que se arrepende do que sobre noventa e nove justos que não precisam de arrependimento" (Lucas 15:7).
A segunda parábola foi: "A Parábola da Moeda Perdida."
Era semelhante em estrutura e significado à primeira. Tratava-se de uma mulher com dez moedas que virou a casa de cabeça para baixo em busca da moeda que se perdeu. Ela se alegra quando a encontra. Jesus, então, conclui a parábola com outra declaração sobre o valor do arrependimento: "Há alegria na presença dos anjos de Deus sobre um pecador que se arrepende" (Lucas 15:10). Em ambos os casos, infere-se alguém que faça parte de Israel, que já pertencesse ao rebanho, ao grupo ou à família de Israel, o povo escolhido de Deus (Deuteronômio 7:7-8).
A terceira e última parábola contada por Jesus aos escribas e fariseus foi "A Parábola do Filho Pródigo”. Ela demonstra que Deus deseja arrependimento tanto dos pecadores (contra os quais os fariseus reclamavam) quanto dos próprios fariseus.
É talvez a parábola mais famosa de Jesus. É a história sobre três homens, membros da mesma família - um pai e seus dois filhos (um irmão mais velho e um irmão mais novo). A história acompanha as ações e reações desses homens e os efeitos que suas escolhas têm em seus relacionamentos uns com os outros. O pai representa Deus; o irmão mais velho representa os fariseus e mestres da lei; e o irmão mais novo representa os pecadores.
Até certo ponto, "A Parábola do Filho Pródigo" retrata três parábolas em uma. A primeira metade da história se concentra no filho mais novo e sua relação com o pai. É aqui que a parábola recebe seu nome, "A Parábola do Filho Pródigo." A palavra “pródigo” significa "excessivo", "prodigioso". Porém, devido à influência cultural desta parábola, o termo geralmente tem uma conotação negativa, porque o filho mais novo foi excessivo em seu uso irresponsável da liberdade e estilo de vida indisciplinado.
A segunda metade da parábola é uma espécie de sequência da primeira. Ela se concentra na relação do filho mais velho com seu pai e sua reação fria à compaixão que seu pai tem por seu irmão mais novo quando ele volta para casa, em paralelo com a atitude que os fariseus tinham em relação aos pecadores. O segundo filho é excessivamente crítico e focado em si mesmo. Indiscutivelmente, o título da história pode se aplicar a ele também, em referência à sua excessiva justiça própria. Pela observação, parece que a maioria das pessoas é, por natureza, propensa a cair em um desses dois excessos. Somos todos pecadores, mas podemos expressar nosso pecado de formas diferentes (Romanos 3:23). Portanto, esta parábola tem algo para todos nós.
O terceiro insight dessa alegoria é a história do pai. O pai é excessivamente justo, ao mesmo tempo em que é excessivamente amoroso. Se a história fosse chamada de "O Pai Pródigo", a palavra "pródigo" manteria seu significado, porém apresetando uma conotação positiva. Recebemos um bônus extra ao perscrutarmos o coração de Deus e observar Sua benevolência para com Seu povo, ao mesmo tempo em que compreendemos a realidade de que Deus nos concedeu o incrível dom de fazer escolhas. E, claro, nossas escolhas têm consequências imensas.
A Família Pródiga
Um homem tinha dois filhos.
Mesmo que a parábola tenha o nome do filho mais novo, todos os três membros desta família são pródigos, ou seja, excessivos, de uma forma ou de outra. O filho mais novo é excessivo em sua liberdade. Ele usa sua liberdade para mergulhar de cabeça na ruína (Gálatas 5:13, 15). O pai é excessivo em sua compaixão pelo filho. Ele o perdoa quando o filho se arrepende. Porém, o pai também é completamente justo e amoroso. Ele perdoa a seu filho mais novo relacionalmente, porém não restaura a herança perdida por ele, permitindo que ele sofra as consequências de seus atos. O filho mais velho é excessivo em seu legalismo julgador. Ele fica profundamente amargurado com a misericórdia de seu pai para com seu irmão mais novo.
A primeira metade da parábola apresenta a prodigiosa ascensão, queda e restauração do filho mais novo e a extravagante misericórdia de seu pai. O filho mais novo representa os cobradores de impostos e pecadores que migravam para o Evangelho de Jesus e se arrependiam, sendo restaurados à plenitude da vida (Lucas 15:1).
A segunda metade da parábola acompanha a reação fria do filho mais velho ao retorno de seu irmão mais novo e a amargura que sente em relação a seu pai e irmão após a restuaração de seu relacionamento. O filho mais velho representa os fariseus e escribas que reclamavam da restauração dos cobradores de impostos e pecadores no ministério de Jesus (Lucas 15:2). Para aprender mais sobre a segunda metade da parábola e a reação do irmão mais velho ao retorno de seu irmão mais novo, bem como a compaixão de seu pai por ele, veja o comentário de Lucas 15:25-32 .
O tema comum que liga as duas metades da parábola é a prodigiosa compaixão do pai por ambos os filhos. Esta parábola é, na verdade, sobre o pai desses dois filhos e seu grande amor por ambos. Embora o amor do pai abranja a ambos os filhos, eles fazem suas próprias escolhas e arcam com as consequências dessas escolhas. Assim, esta parábola é também um lembrete gritante de que os seres humanos são feitos à imagem de Deus e que grande parte dessa filiação é representada pelo dom de exercer nossa volição e fazer escolhas morais (Gênesis 1:27).
O pai nesta história representa Deus. O pai é representante do "perdão de Deus Pai às nossas ofensas segundo as riquezas de Sua graça que Ele [prodigiosamente] nos ofertou" (Efésios 1:7b-8a). Em um sentido literal, "A Parábola do Filho Pródigo" é uma imagem icônica de Deus Pai, contada magistralmente por Aquele que é o ícone (imagem) do Pai (Colossenses 1:15). Talvez mais do que qualquer outra parábola, esta parábola revela o caráter de Deus.
Deus é mostrado como sendo totalmente amoroso, tendo total benevolência para com Seu povo. Porém, Ele permite que Seu povo faça suas próprias escolhas. Deus convida Seu povo a ver as coisas a partir da perspectiva verdadeira, mas permite que façam suas próprias escolhas de perspectiva. No entanto, Deus é completamente justo. Embora possamos sempre consertar nosso relacionamento com Ele, nossas escolhas têm consequências reais.
A figura central da parábola
Jesus inicia a parábola com uma breve descrição da figura central: Um homem tinha dois filhos.
A figura central é o pai de dois filhos. Antes que a história termine, os dois filhos terão desempenhado um papel importante na parábola. Porém, por mais significativos e dramáticos que sejam os papéis de cada um dos filhos, a principal função que eles desempenham nesta parábola é a de revelar a surpreendente profundidade de compaixão que seu pai tem por eles. Portanto, parece apropriado que Jesus tenha começado esta parábola com o pai.
O Ultimato do Filho mais Jovem
O mais novo dos dois filhos diz ao pai: 'Pai, dá-me a parte da propriedade que me cabe'.
Há quatro pontos a serem destacados sobre esta alegação do filho.
Primeiro, o filho mais novo não pede ao pai: ele exige. Fazer tal pedido ao pai já seria um absurdo. Porém, como ordem é algo ainda mais ultrajante.
Em segundo lugar, a ordem do filho mais novo contrariava a estrutura social judaica da família, onde se esperava que os filhos se juntassem aos negócios da família e se tornassem sócios dos pais. Este filho não apenas queria deixar o pai e abandonar os negócios da família, como também insistia em remover imediatamente sua futura participação nos negócios familiares. Fazer isso provavelmente teria um efeito prejudicial, potencialmente catastrófico, na empresa familiar. A exigência do filho era extremamente egoísta.
Em terceiro lugar, é difícil imaginar uma reivindicação mais desprezível para um filho do que exigir algo de seu pai. O filho mais novo exige que seu pai desse sua herança antecipadamente. Elel exige um dinheiro que ainda não era seu. Ele insiste que uma parte do patrimônio de seu pai pertencia legitimamente a ele.
A dura ordem do filho revela que seu pai não significava nada para ele além de alguém que detinha seu patrimônio - seu pai simbolizava dinheiro, nada mais. Do ponto de vista do filho, sua relação com o pai era puramente transacional. O filho mais novo era totalmente desprovido de amor ou respeito. Ele essencialmente estava dizendo ao pai que desejava que ele (o pai) estivesse morto para que pudesse possuir o que acreditava ser sua parte legítima do patrimônio.
O que poderia ser mais vergonhoso para um filho do que exigir algo de um pai? Ao fazer essa exigência, o filho mais novo estava violando aos costumes judaicos fundamentais e o público de Jesus (os fariseus e os mestres da lei) prontamente o desprezaria como resultado.
A ordem do filho mais novo era uma flagrante transgressão do quinto mandamento: "Honra vosso pai e vossa mãe, para que vossos dias se prolonguem na terra que o Senhor, vosso Deus, vos dá" (Êxodo 20:12).
Em quarto lugar, o que o filho mais novo realmente parecia demonstrar era uma enorme quantidade de liberdade sem qualquer responsabilidade. Esta é uma expectativa comum abraçada por muitos jovens ao redor do mundo. O filho mais novo desejava que sua parte do patrimônio não apenas fosse dividida, mas também transformada em dinheiro vivo, ao qual ele pudesse gastar, eliminando assim qualquer responsabilidade por sua gestão. Ele desejava consumir o que seu pai havia trabalhado para produzir.
O filho mais novo não queria deveres ou responsabilidades. Ele só queria gastar o dinheiro. Nisso, ele demonstra uma imensa atitude de arrogância, refletindo a visão de que seu maior interesse estava no consumo, não no investimento.
Além disso, a linguagem que o filho mais novo emprega ao dar o ultimato a seu pai revela dois pressupostos profundamente falhos.
O primeiro pressuposto profundamente falho do filho mais novo era uma incompreensão do amor e da graça do pai.
O filho mais novo exige: Dá-me a minha parte do patrimônio.
Em oposição a um pagamento, um presente é um ato de graça ou favor imerecido. Além disso, é impossível presentear alguém com algo que já lhe pertença. A parte do patrimônio que caberia ao filho mais novo já lhe pertencia. Isso é visto pelo fato de que, ao retornar para casa, seu pai diz ao irmão mais velho: "Tudo o que é meu (que eu ajuntei) é seu". (Lucas 15:31). Quando o filho mais novo exige: "Dá-me a minha parte do patrimônio", ele insiste para que lhe fosse dado algo que já lhe pertencia; porém, sua posse só viria a partir da confiança (no pai) e da responsabilidade (para com o resto da família).
A perspectiva do filho mais novo era possuir sua herança sem se tornar um mordomo dos outros membros da família. Em vez disso, ele deseja ser livre para gastar os recursos em seus próprios prazeres. Assim, a exigência do filho mais novo minimizava drasticamente sua capacidade de receber sua herança. O amor ágape - fazer escolhas e buscar o melhor para os outros - estava totalmente ausente. O filho mais novo apenas desejava gastar sua herança em seus próprios apetites.
Ao dar a ordem sem qualquer amor a seu pai, o filho mais novo não reconhece que ele já era mordomo de tudo o que seu pai havia acumulado para ele - vida, bens e a oportunidade de herdar sua parte das ricas propriedades. Sua perspectiva parece ser a de que ele considerava tudo aquilo como algo sem valor, uma vez que ele não podia gastar nada para seu próprio entretenimento. Seu pai havia investido nele, porém ele não estava interessado em investir nos outros.
A atitude arrogante do filho cegou-o para o amor do pai. O filho mais novo não conseguia buscar o melhor para os outros, por isso não reconhecia o amor do próprio pai por ele. Enquanto vivia dentro da casa de seu pai, o filho mais novo recebia os benefícios materiais da graça e do amor de seu pai. No entanto, sua perspectiva egoísta o tornava incapaz de receber o amor de seu pai. Em outras palavras, o filho mais novo recebia indiretamente alguns dos efeitos da graça e do amor de seu pai, porém não apreciava ou desfrutava do amor e da graça de seu amoroso pai. Isso nos mostra que nossa capacidade de receber amor e graça seja provavelmente determinada por nossa disposição de demonstrar amor e graça aos outros.
O amor e a graça do pai, comparados à arrogância do filho mais novo, são semelhantes à citação de que “Deus faz Seu sol nascer sobre os maus e os bons e envia chuva sobre os justos e os injustos" (Mateus 5:45b). A graça, muitas vezes, chega àqueles que não a merecem, mesmo quando não a reconhecem como graça. Aqueles que concedem graça a outros provavelmente são os maiores receptores da graça de Deus, pois todas as recompensas dadas por Deus são uma manifestação de Sua graça e misericórdia.
Ao reconhecer apenas aos efeitos do amor, e não à sua substância, ou seja, buscar o melhor para os outros, o filho mais novo perde o bem maior - a intimidade com seu pai. Seu irmão mais velho (como veremos na segunda metade da parábola) caiu num equívoco semelhante. Por não compreender a natureza da graça e do amor de seu pai, ele joga fora as dádivas e ignora o grande amor de seu pai, em busca de suas exigências míopes.
A concepção errônea do filho mais novo sobre o amor e a graça de seu pai o levou a um sentimento ganancioso. Tal atitude impede que seu coração dê ou receba amor. Este sentimento ganancioso e arrogante também pode fazer o mesmo com nossos corações. Não devemos jamais deixar de nos maravilhar e agradecer pela generosidade da graça e do amor de Deus por nós!
O segundo pressuposto profundamente falho que o filho mais novo exibe em sua ordem é que o materialismo e o consumo eram o melhor caminho a seguir.
A palavra traduzida como “propriedade” nesta passagem é uma forma da palavra grega "ousia". Esta é a única vez que a palavra "ousia" é usada na Bíblia. Ela foi extensivamente usada pelo filósofo grego Platão, que ponderou sobre as propriedades metafísicas da realidade. Era um termo muito debatido nos concílios da Igreja que discutiram sobre a verdadeira "ousia" (essência) das duas naturezas de Cristo. Porém, neste contexto, "ousia" parece estar livre da base metafísica ou teológica. Neste contexto, "ousia" parece se referir à propriedade material do espólio. Na distorcida avaliação do filho mais novo, a "ousia" material que ele esperava receber de seu pai era essencialmente tudo o que seu pai significava para ele.
A perspectiva materialista do filho o precondicionara a não enxergar a verdadeira essência e o real valor de seu pai. O materialismo é uma visão de mundo que acredita que a realidade consiste inteiramente de matéria. Não há lugar para realidades imateriais, como Deus, o mundo espiritual, a vida após a morte, anjos, almas, etc. Ela torna a existência humana em algo sem sentido e sem moral. O material do universo - sejam dinheiro ou partículas - não se importa com a forma como vivemos. Ele não aprova nem se ofende com nossas escolhas. A consequência natural desta visão de mundo é um estilo de vida consumista que busca incessantemente pelos por insaciáveis.
O materialismo elimina a possibilidade de padrões e valores morais absolutos. Isso significa que não há possibilidade de amor genuíno - apenas delícias vazias. Isso ocorre porque o amor verdadeiro ("ágape") indica que faremos escolhas voluntárias no sentido de buscar o melhor para os outros.
A visão do materialismo para uma vida melhor é: "Aquilo que eu ainda não tenho é a única coiosa que me fará feliz". A visão materialista de mundo do filho mais jovem o levou a considerar a "ousia" (verdadeira substância) de seu pai como nada mais do que um patrimônio material. Por isso, ele considerava seu pai e sua "ousia" (propriedade) como um meio para sua felicidade, não uma pessoa a quem amar e compartilhar o prazer. Ele logo se envolveria com uma sociedade que compartilhava de seus pontos de vista e acabaria sendo tão desprezado quanto, agora, ele desprezava a seu pai.
Ao atropelar seu pai e exigir sua parte na herança, o filho mais novo estava vivendo sua visão materialista do mundo - "comamos e bebamos, pois amanhã morremos" (1 Coríntios 15:32). Ele não se importava com ninguém além de si mesmo. Ele não via nada além dos prazeres a ser alcançados.
Se adotarmos os falsos pressupostos de que só temos direitos e do materialismo do filho mais novo, daremos ordens igualmente ultrajantes a nosso Pai Celestial, sacrificando tudo nos altares dos nossos prazeres egoístas. Se buscarmos aos ídolos do direito e do materialismo como esse filho impudente que sequer reconhecia a personalidade de seu pai, vendo-o apenas como patrimônio, também iremos, cada vez mais:
A Resposta do Pai
Assim, o pai dividiu sua riqueza entre eles.
Notavelmente, o pai atende à exigência ultrajante e ofensiva de seu filho mais novo. Ainda que o pai tivesse a sabedoria para saber que aquilo era algo destrutivo, ele concede a escolha do filho. Lemos em Romanos 1 que Deus faz isso., e que Este tipo de comportamento, quando Ele concede nossos desejos malignos, é chamado de "ira de Deus" (Romanos 1:18). Em Romanos 1, a ira de Deus é derramada sobre a injustiça para qualquer um que não reconheça a Deus ou à Sua bondade, assim como o filho mais novo não reconheceu a bondade de seu pai. Assim, Deus nos concede o desejo de "viver do nosso jeito":
Para Seu povo, o padrão bíblico é o de que Deus entrega a seus próprios desejos àqueles que se apegam a eles, para que sofram as consequências adversas de suas ações, a fim de serem levados ao arrependimento. É desejo de Deus que todos se arrependam (2 Pedro 3:9).
Assim, o pai dividiu sua riqueza entre eles. Isso provavelmente signifique que o pai determinou quanto de seu patrimônio iria para seu filho mais novo e quanto seria mantido para o filho mais velho. No final da parábola, o pai diz ao filho mais velho: "Tudo o que é meu é teu"; assim, a divisão foi efetivada (Lucas 15:31).
A palavra grega traduzida como “riqueza” neste versículo é uma forma de "Bios". "Bios" significa literalmente "vida". A palavra "Biologia" significa "o estudo dos seres vivos". Na Bíblia, "Bios" normalmente se refere à soma dos interesses e tesouros terrenos. "Bios" descreve as externalidades da vida - saúde, posição social, riqueza, carreira, etc. (Marcos 11:1; Lucas 8:14; 2 Timóteo 2:4; 1 João 2:16). O Novo Testamento contrasta essa vida externa ("Bios") com o termo mais holístico "Zoe" (vida completa/espiritual), ou a vida interior da "psuché" (alma/vida).
Aqui, o pai organiza todas as "ousia" (coisas materiais) acumuladas ao longo de sua bios (vida) antes de dividi-la. Em seguida, ele transfere prematuramente uma parte de sua bios (vida/riqueza) a seu filho mais novo. É provável que a parte do filho mais novo tenha sido menos da metade do patrimônio do pai. Isso é provável por uma série de razões. O filho mais velho teria uma "porção dupla" que incluiria ser o "CEO" da família. Grande parte dos conflitos familiares bíblicos registrados gira em torno dessa questão do "direito de primogenitura", uma questão de "quem consegue governar".
Esta questão do direito de primogenitura (direito de governar) foi a fonte dos conflitos entre Jacó e Esaú (Gênesis 25:31-32). Foi provavelmente a fonte de conflitos entre José e seus irmãos. O casaco multicolorido de José parece ter sido um sinal de que Jacó havia concedido o direito de primogenitura a José como primogênito de Raquel (a esposa escolhida por ele), e não a Rúben, que nasceu primeiro do útero de Lia, a esposa dada a Jacó ao ser enganado por ser sogro. Esta rivalidade natural pode ser inferida nesta história como parte da animosidade entre os dois irmãos. A resposta bíblica para este ciúme natural é que qualquer líder que deseje ser grande deve se tornar o servo de todos (Marcos 9:35).
O pai fez exatamente o que o filho exigiu. Deus também nos concede o que pedimos. Se pedirmos coisas boas, Ele as dá (Mateus 7:9-11). Se pedirmos coisas ruins, Deus muitas vezes não atende aos nossos pedidos por um tempo. Muito do que conhecemos como misericórdia significa Deus não nos permitir obter coisas más às quais exigimos. Porém, eventualmente, Deus nos entrega aos nossos desejos depravados e nos permite experimentar as consequências (Romanos 1:18-32). Esta "entrega" é a principal maneira de experimentarmos a ira de Deus.
O Choran Makran (País Distante)
E não muitos dias depois, o filho mais novo juntou tudo e partiu para um país distante, e lá dissipou todos os seus bens, vivendo uma vida dissoluta.
O filho saiu de casa. Jesus diz que ele foi para um país distante. A frase grega traduzida como “país distante” é "choran makran".
Esta expressão possui duplo sentido. O primeiro e mais óbvio deles é “país estrangeiro”, localizado distante de casa. Porém, o segundo significado é proveniente da forma como ambas as palavras funcionam juntas. "Choran", a palavra grega traduzida aqui como país, significa literalmente "espaço situado entre lugares". Pode ser traduzida como "espaço vazio" ou "vazio". Makran vem de "makros", que significa "grande" ou "largo". "Choran Makran", assim, é uma expressão para um "grande vazio". Ambos os sentidos de ambos os significados de "Choran Makran" estão em plena atuação ao longo desta parábola.
O filho viaja para um país estrangeiro distante, porém este país distante também era um lugar desprovido de verdade e amor, um lugar de degeneração moral, com pessoas sem limites morais. Era uma miragem de liberdade ilimitada, na medida em que permitia a busca irrestrita pelo prazer. Como sempre acontece, era um lugar de exploração e escravidão (Romanos 6:16).
Este lugar estava descolado da justiça, da virtude ou dos princípios morais. Acima de tudo, era desprovido de amor e graça. O "Choran Makran" é um lugar onde vale tudo, um lugar onde as luxúrias são celebradas e onde as consequências devastadoras do pecado são ignoradas. É um país geográfica e moralmente distante do lar amoroso no qual o filho havia crescido. Quando o filho mais novo sai de casa para o "Choran Makran", ele se separa da generosidade e benevolência de seu pai, que o entregou aos abusos que tanto desejava.
Na era do Novo Testamento, o "Choran Makran" pode ser visto como representando uma vida de pecado intencional, separado da comunhão com Cristo, da comunidade cristã e das bênçãos advindas da proximidade com Ele.
No grande vazio daquele país distante ("Choran Makran"), o filho mais novo estava livre para viver como quisesse. Ele havia rejeitado sua antiga identidade e suas responsabilidades familiares. Ele passou a se comportar como se não fosse mais filho de seu pai e assume uma nova identidade para si mesmo - balizada em suas escolhas. No "Choran Makran", ele poderia viver de acordo com suas próprias regras. Enquanto estava lá, ele percebe que não havia razões para dizer não a seus apetites ou impulsos. Parecia não haver nada que o impedisse de viver a vida que desejava. No vazio moral do país distante e sem nenhum princípio virtuoso para guiá-lo, o filho mais novo esbanjou sua propriedade ("ousia") com uma vida devassa. Ele erroneamente compreende que tudo aquilo era para o seu bem, coisas que o levariam à sua maior felicidade. Ele estava errado.
O estilo de vida devasso do jovem refletia a experiência expressa pelo rei Salomão em Eclesiastes:
"Tudo o que meus olhos desejavam eu não os recusei. Não retirei o meu coração do prazer..."(Eclesiastes 1:10a).
O filho mais novo não se negou a viver nenhum dos prazeres da vida.
A Calamidade do Filho Mais Novo
Agora, após gastar tudo, uma fome severa ocorre naquele país, e ele começa a ficar pobre. Assim, ele vai até um dos cidadãos daquele país e pede um emprego. Ele é, então, enviado para os campos, para alimentar porcos. Ele estava grato por poder encher seu estômago com a lavagem que os porcos comiam, já que ninguém o estava alimentando.
O filho mais jovem gastou tudo o que tinha no país distante ("Choran Makran"). Ele havia deixado de lado sua identidade como membro da família. Agora, não havia sobrado mais nada de sua herança. Ele havia desperdiçado totalmente todo o seu patrimônio e, por suas próprias escolhas, ele foi cortado da generosidade e das bênçãos de seu pai. Esgotara tudo o que tinha e estava no vazio moral daquele país distante. Não havia mais dinheiro para gastar.
Jesus diz que, neste ponto, uma fome severa ocorreu naquele país.
A fome significa uma escassez de alimentos. No mundo antigo, a fome era muitas vezes o subproduto de causas naturais, como secas, gafanhotos ou pragas. Ou resultavam de atividades humanas, como guerra ou escassez de mão de obra. A fome leva à disparada dos preços dos alimentos e, consequentemente, à desnutrição e à fome aos que não podem pagar pelo alimento.
Jesus não disse o que havia causado a fome naquele país distante, mas afirma que a fome era grave - o que significava que os alimentos eram escassos e, consequentemente, caros. Talvez a razão pela qual nenhuma causa para a fome tenha sido sugerida indique que aquela situação não havia sido algo aleatório ou fruto de má sorte, mas que a fome espiritual é uma consequência inevitável de se viver uma vida moralmente falida. Ao se isolar da graça e do amor do pai, era inevitável que o filho mais jovem experimentasse a fome. Nós também experimentamos a fome espiritual quando cortamos nosso relacionamento com nosso Pai e seguimos a nossos próprios caminhos para o abismo moral do "Choran Makran":
"Pois o salário (consequências) do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna (incluindo a vida abundante) em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 6:23).
Como o filho mais novo havia desperdiçado todo o seu patrimônio e não tinha mais dinheiro, começou a empobrecer. Sem dinheiro para comprar comida, começou a sentir fome. Porém, ao invés de esperar morrer de fome, ele vai e pode emprego a um dos cidadãos daquele país, que o envia a seus campos para alimentar porcos.
O filho mais novo, que havia chegado àquele país distante ("Choran Makran") com uma parte substancial do dinheiro referente aos bens de seu pai, numa posição de poder comprar qualquer coisa, agora não tem nada. O jovem, filho de um homem muito rico, que tinha tudo o que seu coração desejava, agora é um estrangeiro indefeso, faminto, desesperado para fazer qualquer coisa por alguém em troca de comida. Era uma queda humilhante em relação à sua vida anterior .
Em casa, ele fazia parte de uma família e de uma comunidade que cuidavam umas das outras. Nesse país distante, ele era tratado exatamente como havia tratado a seu pai - ele era visto apenas como um meio para um fim. Enquanto tinha dinheiro, as pessoas estavam sempre ao seu redor. Uma vez que seu dinheiro se foi, ninguém mais ligava para ele. Parece que seu patrão era tão rígido que nem sequer lhe era permitido comer com os porcos. Ele até mesmo pensa em encher o estômago com a lavagem que os porcos estavam comendo, mas nem isso lhe foi permitido. O país distante ("Choran Makran") era um lugar de completa impiedade, apenas interessado no que poderia ser extraído e explorado das pessoas.
Para um judeu, o que esse jovem precisou fazer para sobreviver era um insulto dobrado. O filho mais novo começou a trabalhar para um dos cidadãos daquele país. Em outras palavras, ele, um judeu, estava trabalhando para um gentio. E, ainda por cima, diante daquela humilhação, ele estava alimentando aos porcos. Os porcos eram animais impuros e proibidos pela Lei de Deus para a dieta dos judeus (Levítico 11:7). Os suínos eram animais ofensivos às sensibilidades judaicas. Dizer que esse jovem recorreu a um gentio para alimentar aos porcos foi uma forma que Jesus encontrou para expressar que o filho mais jovem havia chegado ao fundo do poço.
Jesus reforça esta lição de forma mais intensa ao dizer: E ele teria de bom grado enchido seu estômago com a lavagem que os porcos estavam comendo. O abismo moral do "Choran Makran" o desumanizou totalmente. O filho mais novo foi reduzido a alguém que cobiçava comida de porcos. Neste ponto da história, podemos imaginar a reação dos fariseus e mestres da lei. Aquele filho mais jovem encontrou o que procurava, bem feito!
Antes que o filho mais novo voltasse a seus sentidos, Jesus acrescenta um detalhe final, porém fundamental. E ninguém lhe dava nada. O filho que vivia um estilo de vida transacional havia escolhido viver em uma terra distante ("Choran Makran") que possuía valores similares aos dele. Agora, ele está abandonado por todos ao seu redor porque não tinha mais nada com o que transacionar. Ele estava experimentando o que chamamos de "princípio da exploração" no mundo: explore aos outros antes que eles explorem a você. Isso é o oposto do princípio bíblico da misericórdia, dada a nós por Deus na mesma medida de misericórdia que damos aos outros (Mateus 7:1-2). No abismo moral do "Choran Makran", a exploração transacional acaba nos levando a ficarmos relacionalmente sozinhos (sem conexões amorosas) e espiritualmente destituídos.
A exploração mútua e desumanizante, bem como a falta de amor e graça, definem o "Choran Makran". Como vazio moral, ele literalmente suga a vida das pessoas e reduz a tudo e a todos a meras mercadorias. Toda a vida se torna transacional. As pessoas são reduzidas a objetos cujo valor é determinado pelo que pode ser extraído delas. Elas não possuem valor intrínseco. Assimm, os relacionamentos autênticos morrem.
Este sistema é o oposto da casa de seu pai. A humilhante queda do filho mais novo no "Choran Makran" é o mesmo tipo de atitude que ele aplicara a seu pai ao exigir sua parte na herança. Este é mais um exemplo do Princípio do Mesmo Peso, Mesma Medida de Mateus 7:2.
No início da parábola, o filho mais novo vivia no ambiente da graça e amor de seu pai, porém não conseguia entender a natureza daquela graça e amor. Ele desejava viver liberdade sem responsabilidade. Ele estava obcecado com o que achava ter o direito de possuir e gasta sua herança buscando a todos os tipos de apetites por puro prazer. Ele diz ao pai: Dá-me minha parte da herança. Agora, naquele país distante ("Choran Makran"), suas ilusões sobre a vida são quebradas e ninguém lhe dá absolutamente nada. Ele deve trabalhar para ganhar um pouco de comida. De forma tola, ele toma como certa a graça que recebia de seu pai e agora aprende através da experiência dolorosa o imenso valor daquela graça.
Todas as suas fantasias esperançosas se foram. O horror de sua realidade desaba sobre ele. O filho mais novo cederia ao amargo desespero produzido pelo vazio e pela exploração do "Choran Makran". Ou ele poderia cair na real e arrepender-se/mudar para um novo caminho.
O filho mais novo volta a seus sentidos
Mas, ao cair em si, disse a si mesmo: 'Quantos dos homens contratados de meu pai têm pão mais do que suficiente, mas estou morrendo aqui de fome! Levantar-me-ei e irei ter com meu pai, e lhe direi: "Pai, pequei contra o céu, e aos teus olhos; Não sou mais digno de ser chamado de teu filho; fazei-me como um dos teus homens contratados." Então ele se levantou e foi até o pai.
Depois de chegar ao fundo do poço, vivendo em um estado solitário de fome perpétua no vazio do país distante ("Choran Makran") enquanto trabalhava para alimentar os porcos de um gentio, o filho mais novo volta a seus sentidos. Ele percebe um vislumbre do que antes possuía (mas que havia desperdiçado) na casa de seu pai. Voltar aos sentidos significava começar a ver a realidade de forma honesta. Anteriormente, ele havia caído na falsa visão perpetrada pelo mundo e suas concupiscências.
Ele compara sua situação atual com o sustento dos servos de seu pai. Ele percebe o quanto eles estavam melhor do que ele. Ele considera como os homens que trabalhavam para seu pai sempre tinham pão mais do que suficiente para comer e que ele estava ali, morrendo de fome. Na casa de seu pai, os servos não eram jogados na lama, como ele. Os salários dos homens contratados por seu pai eram justos, até generosos, pois os homens aos quais ele contratava tinham mais do que precisavam. Quer compreendesse ou não plenamente o conceito de graça neste ponto, o filho mais novo parecia pelo menos intuir que, em casa, mesmo aqueles os que não faziam parte da família de seu pai experimentavam uma medida de amor e graça. Com isso, o filho mais novo parece reconhecer que seu pai cuidava das pessoas, ao invés de explorá-las.
O filho mais novo, então, elabora um plano humilde.
Vou me levantar e deixar o vazio sugador deste país distante ("Choran Makran") para voltar para casa. Vou ao encontro do meu pai. E quando o vir, dir-lhe-ei: "Pai, pequei contra o céu, e aos teus olhos; Não sou mais digno de ser chamado de teu filho; fazei-me como um dos teus contratados".
O plano do filho mais novo implicava arrepender-se pelo desrespeito e mal que havia causado a seu pai. Ele começa confessando como havia pecado contra a Lei de Deus. Então, ele prossegue e confessa como havia pecado contra seu pai.
Suas confissões eram verdadeiras. O filho mais novo havia pecado contra a lei de Deus, que exigia que ele honrasse a seu pai (Deuteronômio 5:16). Ao quebrar esse mandamento, ele havia pecado contra Deus e também contra seu pai. Aceitar honestamente e confessar esta realidade seria um passo crítico a ser dado caso o filho mais novo esperasse voltar para sua casa. Ele passara da arrogância à humildade.
O filho também diria ao pai que, por ter desrespeitosamente exigido e desperdiçado a herança do pai, ele não era mais digno de ser chamado filho. Esta foi mais uma avaliação sóbria, pois nenhum pai merecia ser tratado como aquele filho havia tratado a pai. Em vez de retornar como filho, ele esperava que seu pai pelo menos o aceitasse como um de seus servos. Dessa forma, ele não passaria mais fome nem correria o risco de morrer. Aqui, o filho mais novo reconhece que seu pai tinha um caráter perdoador e que ele poderia colocá-lo numa posição à qual ele não merecia, ou seja, seu pai dispensaria graça a ele.
Porém, mesmo após voltar a seus sentidos, o filho ainda estava operando com alguns de seus pressupostos falhos e a visão de mundo perversa do "Choran Makran". Ou seja, ele ainda percebia o valor das pessoas em termos materiais. No início da parábola, ele enxerga o valor de seu pai exclusivamente como uma fonte de dinheiro. Agora, ele vê seu valor pessoal na mesma escala. Sua principal preocupação ainda parece ser o seu estômago e ele não reconhece seu valor intrínseco, acreditando que seu valor consiste no que ele pode produzir para seu pai. Mesmo assim, o filho mais novo reconhece seu pecado, o que já é uma grande reviravolta.
Pelo fato de ter pecado contra Deus e contra seu pai, após haver desperdiçado tudo, o filho tinha muito pouco a oferecer, de acordo com sua visão transacional. Talvez isso também seja parte de sua transformação. Talvez ele acreditasse ser inútil como filho e que deveria se colocar à disposição da misericórdia de seu pai. Ele ainda não parecia entender completamente a graça, a misericórdia e o amor. Ele ainda não parecia entender que as pessoas possuem valor intrínseco.
Aliás, nem seu irmão mais velho (Lucas 15:25-32) nem os fariseus e escribas (Lucas 15:2) pareciam entender o valor intrínseco das pessoas - um dos pontos principais de Jesus nesta parábola.
Assim, o filho pródigo prossegue com seu hunilde plano. Ele se levanta e vai ter com seu pai.
A Compaixão do Pai
Porém, enquanto ele ainda estava longe, seu pai o viu e sentiu compaixão por ele, e correu e o abraçou e o beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e aos teus olhos; Não sou mais digno de ser chamado de seu filho'.
Jesus diz que o pai do filho mais novo viu o filho quando ele ainda estava longe. Isso sugere que o filho desaparecido havia muito tempo ainda estava na mente de seu pai. Ele estava tão presente em sua mente que o pai reconhece a seu filho, apesar da mudança de roupa ou aparência que havia sofrido, de uma grande distância.
Jesus diz que o pai sentiu compaixão por ele. Isso indica que o pai não estava zangado, nem amargurado, nem vingativo, nem presunçoso por seu filho ter voltado para casa totalmente destruído. O pai era muito amoroso. A atitude do pai foi cheia de graça e misericórdia. Ele estava feliz por seu filho não estar mais perdido. Ele estava feliz que seu filho estava de volta à casa. Tal atitude é semelhante às duas parábolas anteriores, onde o pastor se alegra ao recuperar a ovelha perdida (Lucas 15:6) e a mulher se alegra depois de recuperar a moeda perdida (Lucas 15:9). Podemos imaginar neste ponto que a prévia reação dos fariseus com a história começava a azedar.
Jesus diz que o pai correu. Na cultura judaica, correr era uma ação indigna - especialmente para um homem mais velho e rico. O pai, tomado de compaixão pelo filho, corre até ele. Quando chega a ele, o filho não abraça o pai, pois se sentia indigno. Porém, o pai abraça e beija ao filho. O pai estava expressando sua profunda compaixão por seu filho perdido, agora encontrado. Ele se alegra com o arrependimento de seu filho, que é o tema principal de todas as três parábolas em Lucas 15.
Neste momento, o filho começa a pedir desculpas, assim como havia planejado fazer. Ele confessa: 'Pai, pequei contra o céu e aos teus olhos; Não sou mais digno de ser chamado de seu filho'. O filho confessa seu pecado e sua indignidade como filho. No entanto, depois de dizer as duas primeiras partes de seu discurso, o filho foi surpreendentemente interrompido por seu pai e sua compaixão por ele. O filho nem conseguiu terminar a terceira e última parte de seu discurso - ele nunca chegou a apresentar seu pedido: faça-me como um de seus servos.
A Celebração
O pai disse aos seus escravos: Tirai rapidamente o melhor manto e colocai-o sobre ele, e colocai-lhe um anel na mão e sandálias nos pés; e trazer o bezerro engordado, matá-lo, e vamos comer e comemorar; porque este meu filho estava morto e voltou à vida; ele estava perdido e foi encontrado". E começaram a comemorar.
O pai interrompe o pedido de desculpas do filho no meio de seu discurso. Antes que pudesse sequer apresentar sua oferta para trabalhar como servo contratado, o pai diz a seus servos: "Tragam rapidamente o melhor manto e coloquem-no nele." A súbita reação do pai indicava que ele já havia perdoado a seu filho pelo abuso e desperdício de sua parte da herança. Seu pai não se concentra em nada disso - ele estava agradecido e feliz por seu filho perdido agora estar novamente em casa. Isso parece demonstrar a ânsia com a qual Deus recebe ao coração arrependido. Ele se alegra por seu filho ter se arrependido. A parábola, agora, se conecta ao tema das duas anteriores: o céu se alegra quando os pecadores se arrependem e retornam a Deus (Lucas 15:7, 10).
Vale notar que, embora o pai parecesse ansiar pelo retorno do filho, ele não saiu para procurá-lo, como foi o caso das duas parábolas anteriores. Nesta parábola, o pai espera que o filho se arrependa e volte. As duas primeiras parábolas parecem retratar os israelitas que estavam perdidos devido à sua ignorância. Neste caso, Deus procura por essas almas perdidas até encontrá-las. No caso do filho mais novo, ele se perdeu devido à uma desobediência intencional. Neste caso, o pai nunca perde seu amor por ele, mas espera que o filho colha as consequências adversas naturais de suas decisões, na esperança de que ele voltasse a seu sentido.
O pai começa a celebrar o retorno do filho perdido. Primeiro, o pai ordena a seus servos que tragam o melhor manto e o coloquem sobre o filho.
Era uma forma de encobrir a humilhação e a vergonha do filho. Os melhores mantos eram caros. O filho provavelmente estava sujo de sua viagem e pelo trabalho de alimentar porcos. Seu pai pediu que o melhor manto fosse colocado sobre ele de qualquer maneira. Este foi um ato instantâneo de graça e misericórdia. Esta dádiva de misericórdia não apenas cobriu a vergonha do filho , mas também foi uma maneira de mostrar a todos - talvez ao filho, acima de tudo - que aquele filho pertencia à família. Ele sempre havia pertencido, mas agora sua comunhão havia sido restaurada.
O filho mais novo podia não se sentir digno de ser considerado parte da família, mas ele foi recebido de volta na família por conta do amor e da graça de seu pai. O pai reafirma o valor intrínseco do filho. Ele reafirma que a aceitação de seu filho como tal era algo incondicional.
Roupas e vestes são frequentemente vistas como símbolo de retidão na Bíblia (Jó 29:14; Isaías 61:10; Zacarias 3:4; Efésios 4:24; Apocalipse 3:5). Assim como Deus vestiu a Adão e Eva depois de seu pecado no Jardim, o pai também veste a seu filho depois de se arrepender e retornar à casa (Gênesis 3:21). Para os crentes do Novo Testamento, Deus cobre nosso pecado com a justiça de Cristo (Salmos 85:2; Romanos 4:7; Romanos 8:1). Como crentes, somos exortados a "revestir-nos do Senhor Jesus Cristo" (Romanos 13:14). Dessa forma, nosso pertencimento é incondicional, conforme demonstrado nesta parábola, mas ainda temos grande responsabilidade por nossas escolhas, que sempre têm consequências imensas.
Os doios passos seguintes do pai é fazer com que seus escravos colocassem um anel em seu dedo e sandálias em seus pés.
Ambas as ações ressaltam o pertencimento, o valor intrínseco do filho perdido, bem como sua reintegração ao convívio da família. O anel era possivelmente um anel de sinete, que dava ao filho uma certa medida de autoridade. As sandálias colocadas nos pés indicavam que o filho estava descalço ao retornar. Quando inicialmente saiu de casa, ele levara vários dias para reunir seus pertences; agora, ele não tinha nem mesmo os bens mínimos que qualquer escravo possuía.
Finalmente, o pai pede a seus servos que tragam um bezerro cevado e o matem para que todos comemorassem.
O retorno do filho perdido foi motivo de grande celebração. Foi um momento tão importante que o pai pede para matarem o bezerro cevado como prato principal. O pai serve o melhor para comemorar o retorno do filho perdido. Como não havia mercearias ou refrigeração para se manter a carne fresca naqueles dias, as pessoas mantinham o animal vivo até a hora da refeição. O bezerro cevado era o prato principal. Era uma refeição muito cara. O pai estava disposto a fazer tal despesa pela festiva ocasião.
A imagem de se comer o bezerro cevado refletia como Jesus recebia e comia com os cobradores de impostos e pecadores arrependidos (Lucas 15:1-2).
A cena de se matar o bezerro cevado também lembrava o sistema de sacrifício judaico oferecido durante a expiação pelo pecado, como expressão significativa de arrependimento, simbolizando a restauração da comunhão com Deus quebrada pelo pecado. Este sistema de sacrifício prenunciava o sacrifício final de Cristo em nosso favor para que pudéssemos ter comunhão com Deus (Hebreus 9:8-12). O sacrifício era seguido de uma festa e a maior parte do sacrifício era consumida em comunhão com a família e amigos (Levítico 19:5-8).
Depois de pedir essas coisas (melhor roupa, anel, sandálias, bezerro cevado), o pai declara o motivo de ele e sua família comemorarem. A maneira como o pai derrama toneladas de misericórdia sobre seu filho retrata como, na plenitude de Cristo, recebemos "graça sobre graça" (João 1:16):
Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; ele estava perdido e foi encontrado".
Que declaração linda! O pai, agora, afirma, por meio de palavras, o que havia inidicado com suas ações: o filho não era inútil, como ele acreditava ser! Ele tinha grande valor intrínseco, tinha pertencimento, era aceito, pertencia ao pai. E nenhuma quantidade de pecado ou desperdício poderia alterar esses fatos. Tudo havia sido perdoado.
A Bíblia diz que se crermos em Jesus somos filhos e filhas de Deus:
"Mas a todos quantos O receberam, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, mesmo aos que crêem em Seu nome, que nasceram, não de sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (João 1:12-13).
A Bíblia afirma repetidas vezes que, se somos de Cristo, nenhuma quantidade de pecado ou desperdício pode alterar esse fato. Tudo foi perdoado:
"As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem; e eu lhes dou a vida eterna, e eles nunca perecerão; e ninguém os arrebatará da Minha mão. Meu Pai, que os deu a Mim, é maior do que todos; e ninguém é capaz de arrebatá-los da mão do Pai" (João 10:27-29):
"Onde o pecado abundou, a graça abunda ainda mais..." (Romanos 5:20b)
"Porque estou convencido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas presentes, nem as coisas futuras, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra coisa criada, serão capazes de nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 8:38-39).
Depois de afirmar com palavras que o homem ao qual ele estava abraçando era seu filho, o pai descreve apropriadamente o momento com dois comentários: Meu filho estava morto e voltou à vida ; ele estava perdido e foi encontrado.
Jesus usa a imagem da ressurreição para descrever o retorno do filho mais novo ao pai. A morte significa separação. O filho mais novo havia cortado completamente seu relacionamento com seu pai ao sair de casa para o "Choran Makran". Suas ações haviam demonstrado que seu pai estava morto para ele ao exigir sua parte da herança. Agora, seu filho retorna de seu autoexílio e se reconecta com seu pai após um longo período de separação no grande vazio de um país distante. Era como se o filho tivesse morrido e tivesse retornado à vida.
O pai repete este sentimento: Estava perdido e foi encontrado.
Seu filho estava realmente perdido. Ele havia perdido seus relacionamentos, seus sentidos, sua propriedade, sua herança, sua posição e estava prestes a perder sua vida pela fome. Agora ele foi encontrado. Esta linha ecoa os ítens perdidos nas duas parábolas anteriores: "A Parábola da Ovelha Perdida" (Lucas 15:3-7) e "A Parábola da Moeda Perdida" (Lucas 15:8-10).
A parábola também descreve a situação dos cobradores de impostos e pecadores que se aproximavam de Jesus em arrependimento (Lucas 15:1).
E começaram a comemorar. Isso significa que eles começaram a participar de uma celebração festiva que espelhava a comunhão renovada que acabara de ocorrer.
Vale a pena notar que, nas parábolas anteriores, Jesus faz menção ao regozijo do céu pelo arrependimento de um pecador. Porém, nesta parábola do Filho Pródigo, não há tal menção. Isso parece validar ainda mais a interpretação do pai como uma imagem representativa de Deus. Uma vez que Deus celebra o retorno de um filho ao céu, onde Ele habita, não há necessidade de tal comentário.
As Lições de Jesus na primeira parte da parábola
Alguns pontos principais a serem considerados da primeira metade da "Parábola do Filho Pródigo" dizem respeito a Deus representado pela figura do pai e aos "pecadores" representados pela figura do filho mais novo:
Assim, concluímos a primeira metade da "Parábola do Filho Pródigo". A primeira metade termina com a celebração do retorno do filho pródigo, de forma similar às conclusões das duas parábolas anteriores, onde o pastor celebra o encontro da ovelha perdida e a mulher celebra o encontro de sua moeda perdida.
A segunda metade da “Parábola do Filho Pródigo" se concentra na resposta do filho mais velho ao retorno de seu irmão e à celebração de seu pai (Lucas 15:25-32).