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Significado de Lucas 3:7-9

João faz uma repreensão surpreendente às multidões que haviam ouvido falar sobre sua popularidade e vieram para ser batizadas por ele. João os adverte a não confiar em sua herança judaica, já que ela não iria salvá-los do iminente julgamento.

O relato paralelo do Evangelho para esta passagem está em Mateus 3:7-10.

A mensagem de arrependimento de João ressoou por toda a Judéia. Multidões se reuniam para ver aquele homem estranho e ouvir o que ele tinha a dizer. Eles viajavam longas distâncias, como de Jerusalém (aproximadamente 35 quilômetros a oeste) e de todo a Judéia (Marcos 1:5). Neste contexto, a Judéia descreve a região centro-sul da província romana ao redor da cidade de Jerusalém (porém, não toda a província romana de judeus que se estendia das margens ocidentais do Mar Morto ao norte do Mar da Galiléia). Sabemos disso porque Mateus usa a palavra "distrito" ao descrever esse movimento (Mateus 3:5). O distrito da Judéia estava localizado ao sul do distrito de Samaria, a oeste do rio Jordão (a cidade de Jericó e o vale do rio Jordão, que alimentava o Mar Morto) e ao norte do distrito da Iduméia. Incluía não apenas a capital, Jerusalém, mas também as cidades de Betânia, Belém e Jericó.

Como as multidões vinham de longe, João não media palavras, chamando-as de raça de víboras e perguntando-lhes: Quem vos advertiu para fugir da ira vindoura? (v. 7).

Isso soa um pouco diferente do que encontramos em Mateus 3:7, onde Mateus descreve a João Batista especificamente dirigindo tal repreensão aos "fariseus e saduceus".

A provável razão pela qual o Evangelho de Lucas apresenta João Batista dirigindo-se às multidões, ao invés das autoridades religiosas judaicas, se deve ao fato de que o público principal de Lucas era gentio, enquanto o público de Mateus era judeu. O público de Mateus apreciaria a distinção entre as multidões normais de homens e mulheres hebreus e as autoridades religiosas judaicas; assim, ele destaca a hipocrisia espiritual dos fariseus e saduceus para seu público judeu. Lucas fala a um público gentio grego, que não era capaz de distinguir facilmente entre fariseus, saduceus e um judeu típico; portanto, ele os agrupa a todos como as multidões.

Depois de seu insulto surpreendente chamando as multidões de raça de víboras, João lhes oferece um caminho para a reconciliação. Ele faz um chamado ao arrependimento por meio da metáfora da árvore frutífera. A árvore representava a pessoa. O fruto representava as obras daquele indivíduo. João lhes diz para darem frutos de acordo com o arrependimento (v. 8a). João parece estar deixando claro que o foco não deveria estar no ritual do batismo em si. Vivendo sob a Lei Mosaica, os judeus haviam sido purificados muitas vezes como parte dos rituais de purificação judaicos. João diz às multidões que o que eles realmente precisavam fazer era mudar seus comportamentos.

O arrependimento requer uma mudança de coração. A palavra grega traduzida como “arrependimento” neste versículo é uma forma de μετάνοια (G3341 - pronuncia-se: "me-ta-noi-a"). É uma palavra composta que consiste em "meta" que significa "mudança" ou "transformação", e "noia" que significa "mente" ou "perspectiva". O arrependimento é a compreensão de que o antigo modo de viver não é um bom caminho a seguir; portanto, um novo caminho deve ser seguido. João aconselha as multidões a fazerem escolhas, a darem frutos que deixem claro que estavam se dirigindo a um novo rumo. Ele insistia que seu modo de vida atual era corrupto e precisava mudar.

João antecipava prováveis objeções à sua mensagem. Ele os adverte: Não comecem a dizer a si mesmos: 'Temos a Abraão por nosso pai'; pois eu vos digo que dessas pedras Deus é capaz de criar filhos para Abraão (v. 8b).

Os judeus tinham uma crença muito forte de que eles eram o povo escolhido de Deus. Deus havia declarado isso claramente em muitos lugares, inclusive em Suas conversas com Abraão. Deus disse a Abraão que ele seria pai de uma grande nação e abençoaria a todas as nações; e que Ele abençoaria aos que abençoassem e amaldiçoaria aos que amaldiçoassem aos descendentes de Abraão (Gênesis 12:2-3). A conclusão do povo judeu a partir disso era que eles desfrutavam de algum tipo de privilégio e que não seriam julgados por Deus por seus comportamentos.

No entanto, as multidões ignoravam a realidade da aliança de Deus com Seu povo. Embora Ele os aceitasse incondicionalmente como Seu povo, por causa de Seu amor por eles, Ele exigia obediência para conceder-lhes as bênçãos. Esta era a essência da lei estabelecida no livro de Deuteronômio, onde Deus deixa claro que Ele não havia escolhido a Israel por causa de sua justiça (Deuteronômio 9:4-6). Pelo contrário, Deus os amou, bem como a seus pais (Deuteronômio 4:37; Deuteronômio 7:7-8). Era uma realidade irrevogável. A aceitação do povo por Deus era incondicional. Ele nunca rejeitaria a Israel como Seu povo. No entanto, isso não garantiria que Deus não os disciplinaria. Deus sempre cumpriria Sua promessa a Abraão, mas ela não viria apenas porque a pessoas era filho ou filha de Abraão. João diz: Pois vos digo que destas pedras Deus é capaz de criar filhos a Abraão. Não havia, portanto, base alguma para o povo acreditar que não seriam responsabilizados por Deus por seus comportamentos.

Deus havia deixado claro em Sua aliança com Israel que a obediência era a condição para a bênção de entrar e permanecer na terra (Deuteronômio 11:8-32).

João retoma sua metáfora sobre a árvore frutífera e deixa claro que o julgamento de Deus, Sua disciplina, não era apenas certa, era iminente. Ele adverte sobre as consequências negativas de não se arrependerem para o perdão de seus pecados (Lucas 3:3) e se prepararem para o "Reino dos céus [que agora] está próximo" (Mateus 3:2). João adverte: De fato, o machado já está colocado à raiz da árvore, de modo que toda árvore que não dá bons frutos é cortada e jogada no fogo (v. 9).

O quadro que João pinta é que Deus já havia tomado Seu machado e começado o primeiro corte nas árvores. A sentença seria implacável. Se o povo não se arrependesse logo, Deus os cortaria em sua raiz para que fossem removidos. As árvores a serem cortadas eram aquelas que não dão bons frutos.

Esta frase pode indicar que as árvores estavam produzindo frutos podres ou nenhum fruto. O resultado final dessas árvores cortadas é que elas seriam lançadas ao fogo. O fogo na Bíblia é tipicamente uma metáfora para o juízo de Deus. As árvores, na metáfora de João, são cortadas e jogadas no fogo. Uma árvore frutífera que produzisse frutos ruins ou nenhum fruto precisava ser substituída. O dono do pomar desejava ter árvores produtivas. Assim, o proprietário cortaria as árvores improdutivas e as usaria como lenha para o fogo.

A admoestação de João ao arrependimento chamava as multidões a mudar seus comportamentos e não agir infielmente.

Se tomarmos apenas as declarações de João na metáfora (pulando seus comentários entre parênteses sobre Abraão), observaremos um aviso silogístico.

O silogismo começa com a conclusão (A) antes de anunciar as premissas (B) e (C).

A. Portanto, produza frutos de acordo com o arrependimento
B. O machado já está colocado na raiz das árvores
C. Assim, toda árvore que não dá bons frutos é cortada e jogada no fogo.

Nós, ocidentais, podemos organizar esta equação da seguinte maneira:

B. Deus está pronto a chamar as pessoas à responsabilidade porque elas são infrutíferas;

C. Os que forem encontrados infrutíferos serão cortados e lançados no fogo;

A. Portanto, arrependam-se (mudem suas ideias e ações) para que isso não ocorra.

Como a multidão deveria interpretar o aviso de João? O que João estava tentando transmitir?

Os judeus sabiam pelo livro de Deuteronômio que Deus era um fogo consumidor (Deuteronômio 4:24). Eles também sabiam que Deus havia advertido seus antepassados a se arrepender ou seriam exilados da terra de Judá. Deus havia falado através de Jeremias e Ezequiel. Os líderes não os ouviram, não se arrependeram e a nação foi exilada. Isso pode ser visto em muitos lugares no Antigo Testamento, mas uma passagem semelhante à metáfora de João é encontrada em Ezequiel:

"Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, como é que a madeira da videira é melhor do que qualquer madeira de um galho que está entre as árvores da floresta? A madeira pode ser tirada dela para fazer qualquer coisa, ou os homens podem tirar dela uma estaca para pendurar qualquer vaso? Se ele foi colocado no fogo para combustível, e o fogo consumiu ambas as suas extremidades e sua parte do meio foi carbonizada, então é útil para alguma coisa? Eis que, enquanto estiver intacta, não se transforma em nada. Quando o fogo a consume e fica carbonizada, ainda pode ser transformada em qualquer coisa! Portanto, assim diz o Senhor DEUS: 'Como a madeira da videira entre as árvores da floresta, que dei ao fogo como combustível, assim também desisti dos habitantes de Jerusalém; e coloquei a minha face contra eles. Embora tenham saído do fogo, ainda assim o fogo os consumirá. Então sabereis que Eu sou o SENHOR, quando eu colocar a Minha face contra eles. Assim farei a terra desolada, porque agiram infielmente’, declara o Senhor DEUS” (Ezequiel 15:1-8).

Ezequiel profetiza antes e durante o exílio de Judá na Babilônia, cerca de 600 anos antes do advento de Jesus. Nesta passagem, Ezequiel adverte que Jerusalém seria consumida no fogo do juízo e desolada por terem agido infielmente. Eles eram tão inúteis para Deus quanto uma videira seca era inútil ao proprietário da vinha. Não serve nem para fazer uma estaca para se pendurar alguma coisa. Ela só pode ser usada como lenha para iniciar um fogo.

Jerusalém foi sitiada pelos babilônicos e destruída em 586 a.C. Muitos de seus habitantes morreram e muitos foram levados para a Babilônia. Parece provável que este seja o tipo de imagem que João pretendia transmitir. O "Reino dos Céus está próximo". Como povo, os judeus decidiriam se colocariam sua lealdade em Jesus, o Rei dos Judeus. A maneira de fazerem isso seria dar frutos de acordo com o arrependimento.

Em uma grande ironia, as autoridades religiosas judaicas concordariam, mais tarde, que Jesus deveria ser assassinado para se evitar que Roma eliminasse a nação (João 11:48). Cerca de 40 anos depois, Jerusalém sofreria outra trágica destruição nas mãos dos romanos e voltaria ao exílio. Em vez de acolherem ao Reino de Deus, os fariseus e saduceus depositariam sua confiança em Roma. Assim, teriam o mesmo resultado de quando a geração anterior de líderes depositara sua confiança no Egito para protegê-los da Babilônia, contrariando as instruções diretas de Deus. Como resultado de sua infidelidade, Judá foi derrotado e exilado na Babilônia. Os livros de 1 e 2 Crônicas foram escritos para reafirmar a história de Judá e explicar o exílio como a disciplina de Deus e a aplicação de Sua aliança com Israel (1 Crônicas 9:1).

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