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Significado de Lucas 5:12-15
Os relatos paralelos do Evangelho para este evento estão em Mateus 8:2-4 e Marcos 1:40-45.
Quando ele estava numa das cidades, apareceu um homem cheio de lepra; vendo a Jesus, prostrou-se com o rosto em terra e rogou-lhe: Senhor, se quiseres, bem podes tornar-me limpo (v.12).
Depois de chamar a Seus primeiros discípulos às margens do Mar da Galiléia (Simão Pedro, André, Tiago e João), Lucas registra que Jesus estava em uma das cidades. Considerando a localização anterior de Jesus, esta cidade poderia ser a vila de pescadores de Cafarnaum ou uma das outras cidades na região da Galiléia, ao norte da Judeia - possivelmente Genesaré, na costa noroeste da Galiléia; Betsaida, na costa nordeste; ou Corazim, nas colinas da estrada norte de Cafarnaum.
O relato evangélico de Mateus descreve que "grandes multidões O seguiram" depois que "Jesus desceu do monte" (Mateus 8:1). No contexto de Mateus, esse "monte" seria o local do famoso Sermão da Montanha, encontrado em Mateus 6-8.
Apenas o Evangelho de Mateus parece destacar o ensino comumente referido como Sermão da Montanha. Neste sermão, Cristo defendeu os princípios do Seu Reino e ofereceu uma nova maneira de viver, diferente do legalismo obsoleto da instituição religiosa ou do hedonismo pagão dos gregos e romanos.
Tanto o legalismo judaico quanto o hedonismo pagão eram sistemas fundamentados na premissa do "eu ganho/você perde", que permitia às elites explorarem aqueles a quem deveria servir (Mateus 23:14, 27-28). Através de Seus ensinamentos, Jesus rejeita completamente esse modo de vida explorador e convida Seus seguidores a viver em harmonia com Deus, mostrando misericórdia uns aos outros e sendo humildes. Ele ensinou tudo isso enquanto cumpria a lei de Deus (Mateus 5:17-18). O Evangelho de Lucas contém muitos dos ensinamentos ensinados por Jesus no Sermão da Montanha (Lucas 6:20-49, 8:16, 18), mas ele o faz em diferentes contextos.
Isso demonstra como Jesus repetia a muitos dos Seus ensinamentos enquanto viajava em Israel proclamando o Reino de Deus. Isso também explica por que alguns dos detalhes registrados em uma dada parábola registrada em um Evangelho podem ser distintos dos detalhes da mesma parábola semelhante registrada em outro. Na verdade, há várias versões da mesma parábola contada por Jesus em diferentes cenários às quais os escritores do Evangelho registraram.
Tanto Mateus quanto Lucas descrevem a cura do homem coberto de lepra ao mesmo tempo em que detalham os ensinamentos de Jesus, provavelmente no Sermão da Montanha.
Lucas registra que “havia um homem cheio de lepra”.
Como médico, a descrição de Lucas é mais precisa do que a de Mateus e Marcos. O fato de estar “cheio de lepra” indicava que a doença estava bem avançada e que o homem poderia estar perto da morte. Lucas o descreve como “um homem cheio de lepra” como forma de ressaltar sua humanidade e descrever o que o afligia.
Mateus e Marcos simplesmente o chamam de "leproso" (Mateus 8:2; Marcos 1:40). O termo usado por Mateus e Marcos se concentra no aspecto social da doença que havia tornado o homem um pária da sociedade - "um leproso" (como cobrador de impostos, Mateus era outro tipo de pária). Lucas se concentra na condição física e enfatiza sua humanidade.
A hanseníase era uma doença temida no mundo antigo.
Fisicamente, a lepra era uma doença da pele e da carne que provocava a total decadência do corpo da pessoa. Os primeiros sinais da hanseníase eram manchas brancas na pele (Levítico 13:4). As pessoas cobertas pela hanseníase muitas vezes não sabiam que tinham a doença, até que acidentalmente se cortassem ou se machucassem sem sentir dor. Isso porque a hanseníase amortece as terminações nervosas e não envia os sinais adequados ao cérebro.
Eventualmente, feridas grotescas emergem em seus corpos. Pus escorre das feridas quando a carne começa a apodrecer (Levítico 13:10). Com o avanço da hanseníase, a pele dos leprosos seca e sua carne se degenera. Isso causa uma coceira ardente (Levítico 13:24). Pessoas cobertas de lepra usavam paus e cerâmica quebrada para se raspar e se arranhar, na tentativa de encontrar um momento de alívio para sua agonia. Depois de um tempo, dedos, dedos, orelhas ou partes do nariz se soltam. A lepra continua a desfigurar e atormentar suas vítimas, até que elas finalmente perecem.
Socialmente, o leproso também sofria angústia. A hanseníase era altamente contagiosa, sem tinha cura conhecida. Assim, os leprosos eram ostracizados. Eles eram proibidos de ter contato pessoal com qualquer pessoa, incluindo seus familiares e amigos. A partir do dia em que eram declarados "impuros", eles eram separados de toda a sociedade (Levítico 14:46).
Todos os seus relacionamentos e tudo o que haviam adquirido era tirado deles. Seu senso de identidade era roubado deles. Sua reputação e nome eram apagados por sua aflição. Sua identidade tornava-se sua doença - um leproso.
Os leprosos eram estigmatizados e temidos. Era comum que os judeus naquela época presumissem erroneamente (como os amigos de Jó fizeram com ele) que a razão pela qual a pessoa com lepra estava recebendo um castigo de Deus por causa de seu pecado. Talvez essa suposição tivesse sua origem em casos no Antigo Testamento em que as pessoas foram explicitamente atingidas pela lepra por desobedecerem a Deus.
No entanto, esta era uma perspectiva imprecisa, já que Jesus especificamente a refuta (João 9:2-3).
A única comunidade que os leprosos tinham era encontrada nas colônias de leprosos, onde eles se agrupavam em cavernas para cuidar uns dos outros enquanto sofriam e aguardavam a morte. Familiares e amigos levavam comida perto da entrada das cavernas para seus entes queridos, mas tinham o cuidado de manter o distanciamento, para que também não contraíssem a doença. Sempre que um leproso se aventurava para longe da colônia, eles eram obrigados a avisar as pessoas para ficarem longe tocando um sino ou gritando "Imundo! Imundo!" Aqueles que cruzavam o caminho de um leproso podiam sentir o cheiro da morte sempre que se aproximavam. Os meninos atiravam pedras nos leprosos para mantê-los afastados.
Além do tormento físico e do isolamento social havia a vergonha. As pessoas com hanseníase eram sobrecarregadas com sentimentos de culpa devido à crença cultural de que haviam contraído aquela doença como punição de Deus por seus pecados (Números 12:10; 2 Reis 15:5; João 9:2). A lepra tornava uma pessoa cerimonialmente impura (Levítico 13:3, 11, 14, 25, 30, 36, 44,). Até mesmo as roupas dos leprosos eram consideradas contaminadas e eram impuras. Se a lepra não pudesse ser curada, as vestes e pertences da pessoa deveriam ser queimados (Levítico 13:47-59).
Da mesma forma, se a lepra não pudesse ser removida de uma casa depois de ser completamente limpa e rebocada, o edifício deveria ser derrubado e toda a sua madeira descartada (Levítico 14:33-45). Qualquer um que entrasse na casa de um leproso, tocasse suas roupas ou se aproximasse dele também seria considerado cerimonialmente impuro (Levítico 14:46).
Lucas escreve que, quando o homem cheio de lepra viu a Jesus, ele “prostrou-se com o rosto em terra e rogou-lhe: Senhor, se quiseres, bem podes tornar-me limpo".
O homem cheio de lepra que viera a Jesus demonstrou grande fé. É provável que ele tivesse ouvido falar da capacidade de Jesus de curar milagrosamente (Mateus 4:24) e tenha vindo a Ele na esperança e ousadia de ser curado. Ele certamente arriscou tudo e provavelmente tenha experimentado a reação, os gritos raivosos e as repreensões dos espectadores por violar as normas sociais e se aproximar de Jesus. O homem cheio de lepra demonstrou notável humildade ao se aproximar de Jesus. Reconhecendo sua condição humilde, ele se prostrou diante Dele. Reconhecendo a autoridade de Cristo, ele implorou e suplicou: "Senhor, se quiseres, podes purificar-me".
O pedido desesperado do leproso revela pelo menos duas coisas sobre sua fé em Jesus. Ele se refere a Jesus como "Senhor". Ele sabia que Jesus tinha o poder para curá-lo. Ele diz a Jesus: O Senhor pode me purificar. Ele demonstrou confiança no poder de Cristo.
Em segundo lugar, o leproso demonstrou humildade. Ele começa seu pedido a partir da perspectiva certa: “Senhor, se queres”. Ele não exige que Jesus o cure. Ele entende que Jesus não lhe devia nada. Aquele humilde leproso simplesmente faz seu pedido, mas deixa a cargo de Jesus decidir o que Ele iria fazer.
Sua atitude parecia aceitar qualquer resultado que Deus decidisse. Uma atitude semelhante foi demonstrada pelo próprio Jesus ao orar a Seu Pai horas antes de sofrer na cruz: "Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a Tua" (Lucas 22:42).
Nesta passagem, Jesus usa duas palavras gregas diferentes traduzidas como "querer". Na frase "Pai, se quiseres", Jesus usa o termo "boulomai", que indica uma intenção, uma decisão baseada em um plano. Na frase "não seja feita a minha vontade, mas a Tua", Jesus usa o termo "thelema", que significa um desejo. Jesus estava dizendo que Seu desejo não era sofrer, mas que Ele confiava que os caminhos de Seu Pai Celestial eram para o Seu bem. Jesus estava essencialmente dizendo: "Que o Teu plano seja feito, não o Meu desejo".
Ao pedir para ser curado, o leprose não estava apenas pedindo para ser curado de sua aflição física e de seu transtorno. Ele pede para ser restaurado à sua família e amigos. A cura da doença seria o meio para esse fim.
Jesus, então, estende a mão, o toca e diz: "Quero. Fica limpo!" No mesmo instante, desapareceu-lhe a lepra” (v. 13).
Jesus compreendeu a necessidade do leproso e se comoveu com seu pedido. Ele estendeu a mão, o tocou e disse: "Quero. Fica limpo!" A maneira pela qual Jesus escolheu curar esse homem foi significativa. Ele poderia simplesmente ter proferido uma palavra ou acenado com a mão e o leproso teria sido curado. Mas Ele o tocou.
Cristo não considerou as tradições de purificação cerimonial como mais importantes que o quebrantamento daquele homem. Ao tocá-lo pessoalmente, Jesus valida sua humanidade e o restaura à comunidade humana mais uma vez.
Imediatamente sua lepra foi limpa. Ele foi curado instantaneamente. O homem não estava mais coberto pela hanseníase. O homem foi curado. Seu corpo ficou completamente saudável.
Então, Jesus “ordenou-lhe que não contasse isto a ninguém; mas, disse ele, vai mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta pela tua purificação, conforme Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho" (v. 14).
Depois de curá-lo, Jesus lhe ordena que não contasse a ninguém. À primeira vista, parecia ser um pedido estranho. Ele faz um pedido semelhante a Seus discípulos ao afirmar a eles ser o Messias (Mateus 16:20). Ele também proibiu os demônios de dizerem que Ele era o Filho de Deus (Lucas 4:35, 41).
Pode ser que Jesus tenha pedido isso porque simplesmente ainda não era hora de Sua identidade ser revelada, ou de Seu Reino ser visivelmente estabelecido (João 2:4, 6:15, 7:6). No entanto, depois de dizer ao homem para não contar a ninguém, Jesus imediatamente o instrui a sair e contar a alguém - o sacerdote. Esta instrução parece significar que Jesus lembra ao homem das prioridades. Jesus lhe instrui: “...mostra-te ao sacerdote e faz a oferta pela tua purificação, conforme Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho”.
Para serem oficialmente reintegrados à sociedade, os leprosos precisavam seguir a certos procedimentos e oferecer sacrifícios apropriados ordenados por Deus a Moisés (Levítico 14:1-32). A ordem de Jesus de que ele não contasse a ninguém provavelmente tinha a ver com a prioridade do leproso em obedecer à lei. Jesus pede que ele cumpra as instruções da Lei Mosaica para as pessoas curadas da lepra. Jesus desejava que o homem se apresentasse ao sacerdote e trouxesse a oferta ordenada por Moisés.
Não era necessário a ele agradecer a Deus desssa forma, já que ele teve oportunidade de fazê-lo pessoalmente, popis Jesus era Deus. Porém, ele precisava dar testemunho aos sacerdotes. Quando um ex-leproso se mostrava aos sacerdotes, eles naturalmente perguntavam como ele havia ficado limpo e saudável. Ele certamente lhes contaria que Jesus o havia curado milagrosamente e os sacerdotes, então, iriam investigar o assunto. Isso era consistente com a missão de Jesus de apresentar a Si mesmo e a plataforma do Seu Reino a Israel.
Parece que essa interpretação é pertinente, ou pelo menos sua aplicação. Se o homem curado da lepra fosse instruído a dar um testemunho ao sacerdote, era de se esperar que ele desse testemunho a muitas outras pessoas depois. Seria inevitável que as pessoas de sua cidade soubessem que ele havia sido curado (muitas pessoas de fato ficaram sabendo da cura milagrosa — v. 15.) Podemos supor que ele atendeu à ordem de Jesus de mostrar-se ao sacerdote e fazer a oferta ordenada por Moisés.
Mais uma vez, a instrução de Cristo deu ao homem a oportunidade de dar testemunho aos sacerdotes sobre o poder de Jesus, bem como de Sua obediência à Lei Mosaica. Levítico 14:1-32 apresenta os protocolos sacerdotais e os sacrifícios a serem oferecidos para se restaurar um homem curado de volta à sociedade. Jesus poderia estar ilustrando aos sacerdotes Sua declaração em Mateus 5:17 de que não havia vindo para abolir a Lei, mas para cumpri-la.
Entre os holocaustos (Levítico 14:13), ofertas pelo pecado (Levítico 14:13), ofertas de culpa (Levítico 14:14), ofertas de grãos (Levítico 14:20) e ofertas movidas (Levítico 14:24), esta oferta era inteiramente exclusiva dos leprosos que haviam sido curados. A oferta envolvia dois pássaros e era uma alegoria ritualística do sacrifício do Messias pela salvação do homem do pecado e da morte. Esta foi a oferta ordenada por Moisés e mencionada por Jesus:
Jeová disse a Moisés: Esta será a lei do leproso no dia da sua purificação: será levado ao sacerdote. O sacerdote sairá para fora do arraial e o examinará. Se a praga da lepra for curada no leproso, o sacerdote ordenará se tomem para aquele que se há de purificar duas aves vivas e limpas, e pau de cedro, e escarlata, e hissopo; e que se mate uma das aves num vaso de barro sobre águas vivas. Quanto à ave viva, tomá-la-á, e o pau de cedro, e a escarlata, e o hissopo, e os molhará juntamente com a ave viva no sangue da ave que for morta sobre as águas vivas. Aspergirá sete vezes sobre aquele que se há de purificar da lepra e declará-lo-á limpo, e soltará a ave viva sobre a face do campo (Levítico 14:1-7).
A hanseníase representa o pecado e a morte. O pássaro colocada no vaso representa a encarnação de Deus como ser humano. Sua morte representa a morte de Cristo na cruz. O pássaro vivo mergulhado no sangue do que foi morto representa a expiação de Cristo pelo pecador. O símbolo da ressurreição e da nova vida ocorre quando o pássaro é solto no campo aberto.
Mais tarde, quando o sacerdote realizasse a oferta pela culpa do leproso purificado, ele fazia algo incomum e bastante pessoal na cerimônia de sacrifício. Ele pegava o sangue do cordeiro e o colocava "sobre a ponta da orelha direita daquele que se há de purificar, e sobre o dedo polegar da sua mão direita, e sobre o dedo polegar de seu pé direito" (Levítico 14:14). Ele também faria isso usando óleo (Levítico 14:17). Tocar a orelha era um ato íntimo, um sinal de proximidade e afeto. É bem possível que, quando Jesus tocou o homem coberto de lepra para torná-lo limpo, Ele tenha tocado sua orelha direita.
...sua fama cada vez mais se divulgava, e grandes multidões afluíam para ouvir e ser curadas de suas enfermidades (v. 15).
Parece claro que o homem curado da lepra espalhou a notícia por toda parte. Ele também provavelmente foi ajudado em sua mensagem por outras testemunhas oculares que haviam visto a cura acontecer. O relato evangélico de Marcos confirma o papel do leproso na divulgação da notícia (Marcos 1:45).
Jesus apresenta Seu plano para anunciar a plataforma do Seu Reino em Lucas 4:43:
"Mas ele lhes disse: É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado".
No entanto, depois que a notícia da cura do leproso se espalhou, Jesus precisou permanecer em áreas despovoadas devido às multidões. A frase de Marcos 1:45 - " Porém ele, saindo dali, começou a publicar o caso por toda parte e a divulgá-lo" - pode indicar que o testemunho do leproso foi além do que Jesus gostaria. Por isso, Ele precisou reajustar Seu plano, para evitar o afluxo de multidões maciças.
O simbolismo da lepra nas questões espirituais era amplamente compreendido. Isso poderia explicar o aumento das multidões após a disseminação da notícia desse milagre.