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Significado de Mateus 13:10-17

Os discípulos perguntam a Jesus porque Ele falava ao povo em parábolas, em vez de ensiná-las através de declarações literais. Jesus lhes dá uma resposta completa, explicando que somente aqueles cujos corações estavam abertos a Ele poderiam compreender os mistérios do Reino. Ele acrescenta que aquele era o cumprimento de uma profecia de Isaías.

Os eventos e ensinamentos paralelos dos relatos do Evangelho são encontrados em Marcos 4:10-13, Marcos 4:25, Lucas 8:9-10, Lucas 8:18 e Lucas 10:23-24.

Depois que Jesus compartilhou essa parábola, Seus discípulos se aproximaram Dele e perguntaram: Por que o Senhor fala com eles em parábolas? À primeira vista, as parábolas pareciam ser uma maneira indireta de ensinar a verdade e seu significado nem sempre era óbvio. Os ensinamentos das parábolas não eram imediatamente digeríveis. Suas verdades não eram apresentadas em afirmações proposicionais. Elas exigiam ouvidos atentos para apreender seus significados. O significado das parábolas, muitas vezes, poderia ser mal compreendido. Seus discípulos perceberam que as parábolas nem sempre eram eficazes em comunicar as verdades que o Mestre ensinava e O questionaram sobre o motivo dele falar ao povo dessa maneira.

A pergunta dos discípulos parece ter origem em um lugar de humilde curiosidade. Eles não parecem estar desafiando Jesus em relação a como Ele ensinava ou instruindo-O sobre como deveria ensinar. Em vez disso, os discípulos pareciam estar se perguntando porque um grande mestre se incomodaria em usar parábolas quando poderia ser mais efetivo se ensinasse sobre o Reino dos Céus por meio de declarações literais.

Jesus deu aos discípulos uma resposta completa. Ele começa com a ideia principal. A vós foi concedido conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não.

Há duas categorias de pessoas e dois termos importantes na visão geral da resposta de Jesus. As duas categorias são Vós, referindo-se aos seguidores de Jesus (os discípulos); e eles, referindo-se a todos os outros (os que não seguiam a Jesus). Os dois termos são: concedido conhecer e mistérios do Reino dos Céus. À categoria de discípulos é concedido conhecer. À categoria dos outros seguidores não é concedido conhecer.

No primeiro termo, concedido conhecer, a palavra grega é "ginosko". "Ginosko", neste contexto, significa estar "familiarizado" ou "conhecer pessoalmente" os mistérios do Reino dos Céus.

A palavra Concedido na frase concedido conhecer ocorre na chamada voz "passiva". Isso significa que os discípulos eram o alvo de uma concessão. Além disso, no grego, o verbo traduzido por Concedido está no que chamado tempo "perfeito". O tempo perfeito descreve uma ação concluída (passada), enquanto que, ao memo tempo, enfatiza as consequências ou efeitos contínuos dessa ação. Alguém ou algo anteriormente havia concedido aos discípulos a capacidade de conhecer os mistérios do Reino dos Céus, e eles estavam atualmente colhendo o benefício dessa concessão ao compreender as parábolas de Jesus. Aqueles que apenas seguiam externamente a Jesus não haviam recebido tal capacidade.

Quem ou o quê havia concedido aos discípulos aquela visão do "ginosko"?

A possibilidade mais óbvia é que havia sido Deus quem havia concedido aos discípulos a capacidade de conhecer os mistérios do Reino. Deus pode muito bem ter pessoalmente aberto os olhos dos discípulos para ver, seus ouvidos para ouvir, as verdades das parábolas. Deus pode ter-lhes concedido isso quando soberanamente os escolheu e elegeu na eternidade passada, antes da fundação do mundo (Efésios 1:4). Ou Ele pode ter especificamente concedido aos discípulos essa habilidade quando Jesus os chamou e os escolheu para segui-Lo. Se assim for, isso implica que Deus não  abriu as mentes daqueles que não se relacionavam com Jesus.

Outra possibilidade é que os corações dos discípulos, que estavam abertos aos ensinamentos de Jesus e procuravam obedecê-Lo, concediam às suas mentes a capacidade de conhecer. O caráter dos discípulos em relação a Jesus e Suas parábolas lhes concedeu a compreensão de que eles não seriam capazes de conhecer se tivessem a mente fechada ou se fossem contra Ele. Aqueles que não seguiam a Jesus ou não criam Nele tinham corações fechados para o que Ele ensinava. O coração fechado do povo não lhes concedia a capacidade de compreender plenamente o que Jesus ensinava através de Suas parábolas. Aos discípulos foi concedido (dada a capacitação) de ouvir e conhecer os mistérios de Suas parábolas porque eles tinham um coração aberto. Seu coração aberto era resultado da decisão de querer ver o que era verdadeiro e real. Eles haviam escolhido a perspectiva de que a verdade vinha de Deus e decidiram buscar a verdade.

Esta interpretação de que a concessão de conhecer era uma questão resultante da escolha em buscar o que é verdadeiro se encaixa no contexto da "Parábola do Semeador" que Jesus acabara de contar (Mateus 13:3-9) e estava prestes a explicar (Mateus 13:18-23). Essa interpretação também correspondia à explicação que Jesus ofereceu, nesses versículos, referentes à profecia de Isaías citada por Ele. A Bíblia apresenta Deus como sendo soberano sobre todas as coisas, ao mesmo tempo em que afirma que as pessoas têm escolhas reais que produzem consequências reais.

A ideia pode parecer paradoxal para nós, ou seja, de que ambos os fatos são verdadeiros. Deus havia soberanamente concedido a eles conhecer os mistérios; mas os discípulos escolheram conhecer os mistérios. É impossível conciliar essas duas coisas a partir de uma perspectiva humana. Isso é, no entanto, consistente com a forma como a Bíblia apresenta Deus, que é, Ele mesmo, paradoxal do ponto de vista humano. Por exemplo, Deus é apresentado como sendo Um, e também Três. Jesus é apresentado como sendo plenamente Deus, ao mesmo tempo em que é plenamente humano. Como o "EU SOU", Deus é a essência da existência, ao mesmo tempo em que é o Criador de tudo o que existe. Tomados em conjunto, a voz "passiva" e o aspecto "perfeito"  de Concedido apontam para o paradoxo bíblico de que Deus é soberano e de que os indivíduos são livres e responsáveis por suas escolhas.

O segundo termo que merece ser aprofundado é o dos mistérios do Reino dos Céus. O Reino dos Céus é um tema central no ministério de Jesus. Como o Messias da linhagem de Davi, Jesus era o Rei. Sua mensagem muitas vezes se referia ao Reino dos Céus, seja na forma de pregação (Mateus 4:17), ensino (Mateus 5-7) ou parábolas (Mateus 13).

A palavra grega para "mistério" é "mysterion". Refere-se a algo oculto ou secreto, muitas vezes de natureza divina. Para quem não seguia a Jesus, o Reino dos Céus era misterioso e seus caminhos eram secretos e desconhecidos. Mas, aos discípulos que seguiam a Jesus, os caminhos do Reino dos Céus lhes haviam sido revelados. Quando os discípulos ouviam as parábolas, recebiam a concessão de entendimento sobre o Reino. Mas quando as outras pessoas que apenas seguiam externamente a Jesus ouviam as parábolas, elas não recebiam a concessão do mesmo nível de entendimento. Para estes, as parábolas de Jesus, da mesma forma que Seu Reino, eram mistérios desconhecidos.

É importante ter em mente que o Reino dos Céus tem múltiplas dimensões. Ele ele é eterno, ele é presente e futuro ao mesmo tempo. É ao mesmo tempo deste mundo e não deste mundo. É algo que os seguidores de Jesus podem acessar nesta vida. E é onde aqueles que são fiéis reinarão quando estiver plenamente estabelecido. Os mistérios do Reino também são eternamente presentes e eternamente futuros. Seus segredos e caminhos são de natureza espiritual e literal.

Jesus continuou respondendo à pergunta dos discípulos oferecendo um princípio gêmeo. O primeiro lado do princípio é que ao que tem, a este mais será dado. Em outras palavras, a quem tem um coração aberto à compreensão, mais compreensão lhe será concedida. E na medida em que esta pessoa alcança mais compreensão, ela será capaz de entender mais e mais, até que tenha uma abundância de conhecimento.

Porém, o reverso do princípio também se aplica. Ao que não tem, até mesmo o que tem lhe será tirado. Em outras palavras, quem não tem um coração aberto à compreensão não só não receberá mais compreensão, mas perderá a capacidade de compreender até o ponto em que começará a interpretar mal até mesmo o pouco entendimento que possuía.

Tudo começa com o coração. Deus organizou o universo de tal forma que os corações humanos sempre encontrem o que buscam (Jeremias 29:13, Mateus 6:19-21, Mateus 6:32Tito 1:15). É por isso que é imperativo guardar nossos corações (Provérbios 4:23). Não é apenas o mero entendimento que leva à sabedoria e à vida. É um coração que teme ao SENHOR e procura agradar a Ele que nos permite entrar no Reino:

"de sorte que inclines o teu ouvido à sabedoria e apliques o teu coração ao entendimento; se clamares ao discernimentoe alçares a tua voz ao entendimento; se buscares a sabedoria como a prata e a procurares diligentemente como a tesouros escondidos; então, entenderás o temor de Jeováe acharás o conhecimento de Deus. Pois Jeová é quem dá a sabedoria; da sua boca procedem o conhecimento e o entendimento."  (Provérbios 2:2-6)

Jesus explicou a Seus discípulos que a razão pela qual "lhes falo em parábolas" é porque eles (os outros) não temiam ao Senhor, nem tinham um coração aberto ao que Ele ensinava. Mesmo vendo os milagres, que testemunham claramente que Jesus era o Messias, eles não entendiam. Mesmo ouvindo as parábolas demonstrando o Reino dos Céus, eles não ouviam as verdades fundamentais, nem compreendiam seus mistérios.

Então, Jesus explica a Seus discípulos que aqueles cujos corações estavam contra Ele desde o início, sua confusão havia sido profetizada por Isaías.

Esta é a décima terceira vez que Mateus aponta explicitamente como Jesus cumpriu as profecias do Antigo Testamento referentes ao Messias. As doze vezes anteriores são encontradas em Mateus 1:22-23; 2:5-6; 2:1; 2:16-18; 2:23; 3:1-3; 4:4-6; 4:13-16; 8:17; 10:35-36; 11:10; e 12:17-21. Esta lista não inclui as três profecias messiânicas adicionais que Jesus apresentou em Mateus 11:5-6.

Jesus citou Isaías 6:9-10 aos discípulos:

Ele disse: Vai e dize a este povo: Haveis de ouvir, porém não entendereis; haveis de ver, porém não percebereis. Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para não suceder que, vendo com os olhos e ouvindo com os ouvidos, entenda no coração, e se converta, e seja sarado.”

Esta passagem de Isaías é a primeira coisa que a voz do Senhor ordenou ao profeta que falasse ao povo imediatamente após a famosa e aterrorizante visão de Deus em Seu trono (Isaías 6:1-8). Ela estabelece e repete o padrão poético chamado de ouvidos-olhos-coração. Nesta passagem, Deus atribui a responsabilidade pela cegueira moral e surdez àqueles que fecharam seus olhos.

As duas primeiras linhas retratam os sentidos anestesiados das pessoas para ouvir e ver, sem que sejam capazes de entender ou perceber.

Vocês ouvirão, mas não entenderão;

Vocês verão, mas não perceberão.

Estas linhas são seguidas pela declaração: O coração deste povo tornou-se insensível. Isso indica que o verdadeiro problema não vem da mente que ouve e percebe pensamentos, mas do coração que decide. Nesse caso, o povo havia decidido buscar seus próprios caminhos, em vez de buscar a verdade. O resultado é que eles alcançaram o que buscavam. Sempre que seguirmos nosso próprio caminho, ao invés do caminho de Deus, alcançaremos alguma forma de morte.

O padrão do ouvidos-olhos-coração se repete.

A primeira linha da repetição fala sobre os ouvidos que ouvem mal. Isso ecoa o que Jesus disse no versículo 12: A quem não tem, até mesmo o que tem lhe será tiradoEmbora os ouvidos ouçam, as pessoas fazem questão de não obedecer.

A segunda linha é: E eles fecharam seu olhos. Não foi Deus quem fechou seu olhos.  Eles próprios fecharam seus olhos. O povo deliberadamente se cegou e se recusou a ver a realidade de quem Jesus era. Eles não queriam enxergar. Há uma espécie de lamentação quanto às oportunidades perdidas como resultado deste fechamento de olhos. Caso contrário, eles teriam conseguido enxergar. Em outras palavras, se o povo não tivesse fechado os olhos, eles teriam visto a verdade sobre Jesus.

O terceiro e último pensamento desta repetição é: Compreendam com o coração e retornem, e sejam sarados. Pelo fato de seus ouvidos e olhos não ouvirem ou verem, devido à confusão de suas mentes, seus corações não se arrependem (o que seria a resposta adequada). A consequência disso é trágica.

O resultado mais doloroso de não ver, ouvir ou entender a verdade em seus corações é a falta de arrependimento e, consequentemente, a ausência de cura. O resultado do arrependimento sempre será a cura.

A palavra grega para curar nesta última linha da citação de Jesus sobre Isaías, quando Deus diz que os curaria caso eles entendessem com o coração e se arrependessem, ocorre na voz ativa-passiva, o que é algo bastante surpreendente. No mundo da língua inglesa, estamos familiarizados com a voz ativa, onde o sujeito realiza a ação (exemplo, Moisés golpeou a rocha). E estamos familiarizados com a voz passiva, onde o sujeito recebe a ação (exemplo, a rocha foi golpeada por Moisés). Mas não estamos tão familiarizados com a voz ativa-passiva, na qual o sujeito realiza e recebe a ação (Moisés golpeou a si mesmo).

Quando Jesus usou a voz passiva-ativa para dizer que os curaria, Ele estava dizendo que Ele era Aquele que os iria curar; porém, surpreendentemente, Ele também se inclui entre aqueles que seriam curados! O que Jesus poderia estar dizendo com isso? Como é que Jesus, o Deus perfeito e onipotente, poderia ser curado?

Quando Deus, o Filho, se tornou homem, Ele se identificou com toda a fragilidade e fraqueza do homem (Filipenses 2:5-8Hebreus 2:9-10, 17). Ele também assumiu todo o pecado da humanidade sobre Si mesmo (Isaías 53:5; João 1:292 Coríntios 5:211 João 2:2). Jesus morreu para que pudéssemos ser curados através de Sua morte (1 Coríntios 5:151 Pedro 3:18), para que nosso relacionamento com Deus pudesse ser restaurado e pudéssemos entrar em Sua família. Isso restaura a criação ao lugar ao qual foi destinada. Uma vez que Jesus fez tudo, e n'Ele todas as coisas se mantêm juntas (Colossenses 1:17), talvez Jesus esteja indicando aqui que trazer todas as pessoas a Si mesmo traria cura para Sua criação, o que seria uma extensão de Sua glória.

Pode ser nesse sentido que Jesus é tanto o Curador quanto Aquele que é curado (Romanos 8:11; 1 Coríntios 6:14).

Depois de citar o cumprimento da profecia de Isaías, Jesus afirma aos discípulos: Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque veem; e os vossos ouvidos, porque ouvem.  Seus discípulos vêem e entendem porque escolheram em seus corações confiar e seguir a Jesus. Eles se arrependeram de seus caminhos, retornaram a Deus e foram curados por Ele. Eles eram pobres de espírito (Mateus 5:3), lamentavam seus pecados (Mateus 5:4) e agora são puros de coração (Mateus 5:8). Consequentemente, os discípulos eram "Makarios", capazes de compreender o significado das parábolas de Jesus e os mistérios do Reino dos Céus.

Jesus conclui Sua resposta à pergunta dos discípulos com um pensamento maravilhoso. Ele lhes diz que muitos profetas e homens justos desejaram ver o que vocês vêem e ouvir o que vocês ouvem, mas eles não viam nem ouviam. O que eles desejavam ver e ouvir era a voz do Messias pelo qual ansiavam e ao qual amavam.Os discípulos tiveram o maravilhoso privilégio de ver e ouvir Jesus, o Messias, diariamente enquanto ministravam e proclamavam Seu reino juntos.

É fascinante notar que, embora os discípulos tivessem recebido a permissão para ver, eles ainda não conseguiam reter muito do que Jesus lhes ensinava. Eles não entendiam que Jesus precisava sofrer e morrer e resistiram a este pensamento, mesmo quando Jesus disse isso claramente. Pedro foi tão longe a ponto de repreendê-Lo quanto a isso (Mateus 16:22). Eles não entendiam muitas coisas até mesmo após Jesus ter ressuscitado dos mortos (João 2:22; 12:16). Isso deixa claro que conhecer a Jesus pela fé é uma jornada que leva tempo e exige experiência. Se os próprios discípulos de Jesus falharam, e Jesus foi paciente com eles, isso é encorajador para nós.

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