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Significado de Mateus 16:13-20
O Evangelho paralelo que narra a história deste evento pode ser encontrado em Marcos 8:27-30 e Lucas 9:18-21.
Mateus reistra que Jesus e Seus discípulos foram para o distrito de Cesaréia de Filipe após terem cruzado o Mar da Galiléia, na região Magadã, e subido uma elevação de aproximadamente 500 metros durante mais ou menos 13 quilômetros por terra. Essa área de Cesaréia de Filipe continha o Monte Hermon e duas das três nascentes do Rio Jordão.
Cesaréia de Filipe era a capital do distrito de Gaulanitis. Mateus escolheu identificar o distrito pelo nome de sua capital. Ao registrar que eles haviam vindo pelo distrito de Cesaréia de Filipe, Mateus pode estar querendo transmitir a seus leitores a idéia de que Jesus e os discípulos chegaram nos arredores de Cesaréia de Filipe, mas não entraram na cidade. Já que seu público primário eram judeus, o propósito de Mateus propósito foi o de demonstrar que Jesus era o Messias prometido, o Filho de Davi. Isso pode ter sido importante, já que um judeu seria desonrado se entrasse naquela área brutalmente pagã de Cesaréia de Filipe.
Quando Israel conquistou pela primeira vez a Terra Prometida, essa região da Cesaréia de Filipe estava incluída no território designado para a tribo de Manassés (Números 32:39-42; Josué 13:29-31). Era o território mais ao norte do reino de Israel. Mais tarde, Manassés foi renomeado como Dã.
Porém, a cultura dessa região foi por muito tempo influenciada pelo paganismo. Até mesmo na era dos juízes de Israel (1100 A.C), a região de Dã (próxima de Cesaréia de Filipe) era renomada por sua idolatria (Juízes 18:6). Jeroboão (?- 909 A.C), o primeiro rei de Israel após a divisão de Judá, construiu um bezerro de ouro na cidade de Dã para as pessoas adorarem como se fosse um deus (1 Reis 12:28-31). Sob o reinado do rei Acabe e sua esposa Jezabel, Dã se tornou um centro de adoração a Baal.
Séculos mais tarde, durante a ocupação grega (334 A.C.- 175 A.C.) os gregos estabeleceram a cidade de “Paneas”, dedicando-a a seu deus da fertilidade, Pan, retratado como um fauno debochado (meio-cabra, meio- homem).
Em Paneas existia uma caverna nomeada pelos gregos como os portões do Hades. Para eles, aquele lugar significava uma porta de entrada para o submundo. Era chamado de portões de Hades porque na boca da caverna havia uma nascente de água e um pequeno riacho que jorrava da entrada da caverna. (Essa nascente era uma das fontes do Rio Jordão) e era nesse local que eles adoravam ao deus Pan.
O culto ao deus Pan envolvia sacrifícios e bestialidade. Os sacerdotes ofereciam sacrifícios a Pan jogando uma cabra no riacho na boca da caverna (os portões de Hades), de onde a nascente jorrava. Se a cabra fosse engolida pelo riacho, isso significava que Pan havia aceitado o sacrifício e concederia os pedidos de seus adoradores. Se a nascente jogasse a cabra para fora de sua corrente, então Pan aparentemente recusara o sacrifício e negaria seus pedidos. Se isso acontecesse, ao invés da cabra, uma criança era oferecida. Na gruta ao lado dos portões de Hades, os adoradores de Pan faziam sexo com animais publicamente.
Por causa dessa cultura abjeta de paganismo, um judeu justo deveria manter distância suficiente para evitar se tornar contaminado.
Algum tempo depois da conquista romana em 63 A.C., esse território foi incluído no reino de Herodes, o Grande. Ele construiu um templo de mármore na entrada da caverna (nos portões do Hades) e o dedicou a César Augusto (filho e herdeiro do cultuado Júlio César). Depois da morte de Herodes, o Grande, essa região (junto com os distritos de Iturea e Trachonitis) foi passada a seu filho, Filipe, que mudou o nome da região para Cesaréia de Filipe, em honra a Tibério César e a si mesmo.
Esse Filipe também se tornou esposo de sua sobrinha, Salomé (filha de Herodias e o outro filho de Herodes, o Grande, também chamado Filipe), que havia dançado para seu outro tio, Herodes, o Tetrarca, e foi presenteada com a cabeça de João Batista (Mateus 14:1-12). Filipe adicionou um templo separado dedicado a Júpiter (Zeus), além dos pátios ao lado dos portões do Hades, para facilitar o culto a Pan.
Mais tarde, a cidade foi renomeada para “Banias”, a versão hebraica de Paneas, como é chamada até hoje. Um visitante que for nos dias de hoje aos portões do Hades pode ver as ruínas da fundação do templo e irá perceber nichos vazios escavados na montanha ao lado da caverna, onde os ídolos eram dispostos. Um turista atual também verá que a nascente não flui mais da boca da caverna. O motivo é porque muitos terremotos ocorreram naquela área desde a época de Cristo.
Durante os dias de Jesus, a cultura de Cesaréia de Filipe foi dominada pelo paganismo romano. Quando chegaram a esse distrito, Jesus entrou por um lugar onde Ele poderia ensinar sem ser perturbado. É improvável que Jesus e os discípulos tenham ido aos templos situados em Cesaréia de Filipe, porque isso os tornaria imundos. Pporém, foi nesse distrito, talvez numa das maiores ribanceiras que dava visão aos portões do Hades, que Jesus compartilhou com os discípulos a conversa mais reveladora sobre Sua identidade e missão.
O tópico de sua declaração se focava no Filho do Homem. Nos dias de Jesus, o termo Filho do Homem tinha três significados diferentes. Poderia ser usado como uma expressão para “uma pessoa”, como UM Filho do Homem. Poderia ser usado como uma referência ao profeta Ezequiel, que usou esse termo para descrever a si mesmo noventa vezes. Mas também era de entendimento comum que o termo era uma descrição do Messias. Esse uso vinha da visão de Daniel, onde o profeta viu “alguém como um Filho do Homem...a quem foi dado... domínio eterno que não irá acabar e Seu Reino jamais será destruído” (Daniel 7:13-14).
Jesus pergunta a Seus discípulos: “Quem as pessoas dizem ser o Filho do Homem?” Os discípulos deram a Ele quatro respostas diferentes sobre quem as pessoas diziam ser o Filho do Homem.
A primeira resposta foi João Batista. Herodes, o Tetrarca, havia recentemente prendido a João (Mateus 11:2) e o executado (Mateus 14:1-12). João era primo de Jesus. Ele era um homem excêntrico, com uma aparência estranha e uma mensagem inflamada, chamando as pessoas para “se arrepender, pois o Reino dos Céus está próximo” (Mateus 3:2). João ajuntava multidões de judeus nas áreas mais afastadas do império (Mateus 3:5-6) e as batizava. As pessoas que iam até ele esperavam que ele fosse “mais que um profeta” (Mateus 11:9). Eles tinham esperanças de que João fosse o Messias, mas ele não era (João 1:20). Contudo, João era o precursor do Messias, aquele que preparou o caminho para Ele (Malaquias 3:1).
Outra segunda resposta que outras pessoas davam para quem era o Filho do Homem era Elias. Elias (~900 A.C. - ~850 A.C.) havia sido um profeta famoso no reino do Norte de Israel durante o reino do perverso rei Acabe. Elias era conhecido por realizar milagres poderosos no nome de Deus, entre eles o de profetizar o início e o fim de uma seca severa que durou três anos (1 Reis 17:1 e 18:41), ressuscitar o filho de uma viúva (1 Reis 17:17-24) e por golpear as águas do rio Jordão para cruzá-lo (2 Reis 2:8).
Mas seu milagre mais famoso foi seu confronto público com os 450 profetas de Baal, quando Elias pediu a Deus para enviar fogo e consumir o altar cheio de água (1 Reis 18:19-40). O livro de Reis também nos diz que Elias não morreu: “Caminhando eles ainda e conversando, eis que apareceu um carro de fogo e cavalos de fogo, os quais os separaram um do outro; Elias subiu ao céu por um redemoinho.” (2 Reis 2:11).
O profeta Malaquias, que previu o precursor messiânico (Malaquias 3:1), também profetizou que Elias iria retornar antes do “grande e terrível dia do Senhor” (Malaquias 4:4). Os últimos três versículos do Antigo Testamento têm fortes mensagens messiânicas e mencionam Elias por nome.
“Lembrai-vos da lei de Moisés, meu servo, a qual lhe mandei em Horebe para todo o Israel, a saber, estatutos e juízos. Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia de Jeová. Ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais, para que eu não venha e fira a terra com anátema.” (Malaquias 4:4-6)
Esta profecia levou muitos judeus a ver o retorno de Elias como um sinal de que o Reino de Deus e Seu Messias estavam chegando. Outros suspeitavam que o próprio Elias seria o Filho do Homem.
Uma terceira resposta que os discípulos deram a Jesus foi o profeta Jeremias (~650 A.C. - ~570 A.C.). Jeremias havia sido um profeta do Senhor que avisou aos reis de Judá sobre o juízo de Deus. Seus intensos alertas contra esses reis eram uma fonte de constante atrito com as autoridades governamentais (Jeremias 1:18-19, 2:26, 8:1-2, 22:11-12). Em retorno, Jeremias foi espancado, preso (Jeremias 37:15-16), jogado em um poço (Jeremias 38:6) e eventualmente exilado no Egito (Jeremias 42:1-7). Quando os líderes de Judá ignoraram seus conselhos, Deus permitiu que a Babilônia invadisse Judá, exilasse seus prisioneiros e trouxesse um fim para o reinado maligno daqueles reis.
Jeremias é normalmente conhecido como o profeta das lamentações, porque foi ele quem escreveu o livro de Lamentações, onde registra sua tristeza pela queda catastrófica de Jerusalém para a Babilônia. Mas, apesar de suas muitas proclamações de juízo iminente, ele também profetizou esperança e salvação (Jeremias 29:10-14; 31:3-6; 32:37-42; 33:6-9).
Jeremias também profetizou sobre o Messias, chamando-O de “renovo justo” e “renovo justo de Davi”:
“Eis que vêm dias, diz Jeová, em que levantarei a Davi um renovo justo, que como rei reinará, procederá sabiamente e executará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias, será salvo Judá, e Israel habitará seguro; este é o nome de que será chamado: Jeová é nossa Justiça.” (Jeremias 23:5-6).
“Eis que vêm os dias, diz Jeová, em que cumprirei a boa palavra que falei acerca da casa de Israel e acerca da casa de Judá. Naqueles dias e naquele tempo farei brotar um Renovo de justiça para Davi; ele executará juízo e justiça na terra. Naqueles dias Judá será salvo, e Jerusalém habitará em segurança; este é o nome de que será ela chamada: Jeová é a nossa justiça. Pois assim diz Jeová: Nunca faltará a Davi varão que se assente sobre o trono da casa de Israel; nem aos sacerdotes levíticos faltará diante de mim varão que ofereça holocaustos, e queime oblações, e ofereça sacrifícios continuamente.” (Jeremias 33:14-18).
Pode ter sido por causa das profecias de Jeremias sobre o juízo, libertação e a chegada do Messias que alguns achavam que Ele era o Filho do Homem.
Mateus resume as respostas adicionais dos discípulos sobre quem as pessoas achavam ser o Filho do Homem como sendo um dos profetas.
Depois que os discípulos apresentaram suas respostas sobre quem as pessoas diziam ser o Filho do Homem, Jesus pergunta a eles uma questão mais pessoal sobre Si mesmo:
“Mas, quem vocês acham que Eu sou?” Ele estava interessado em saber quem eles achavam que Ele era.
O mais franco dos discípulos, Simão Pedro, foi direto: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo.” Pedro acreditava que Jesus era mais do que apenas um grande mestre e fazedor de milagres. Ele acreditava que Jesus era o Messias tão esperado.
Cristo é a palavra em português para o termo grego “Christos”, que deriva da palavra em hebraico “Maschiach”, que significa “O Ungido”. “Maschiach” é transliterado para o português como “Messias”. Assim, Cristo significa “O Ungido”, que significa “O Messias”. Pedro reconheceu que Jesus era o Messias.
Levando em consideração o que Pedro já havia visto Jesus fazer e como ele já havia ouvido Jesus falar sobre Si mesmo (Mateus 18:20; 11:1-19), não foi surpresa que Pedro cresse que Jesus era o Cristo. Porém, o fato surpreendente foio que Pedro também identificou Jesus como o Filho do Deus vivo.
Até esse ponto Jesus tinha apenas dado indícios sutis sobre Sua identidade. Ele havia inferido que Ele era Deus (Mateus 9:2-6). Jesus normalmente Se referia a Deus como “Seu” ou “Nosso” Pai, assim como fez durante todo o Sermão da Montanha. No entanto, Mateus nos conta que Jesus apenas ocasionalmente chamava Deus de “Meu Pai” (Mateus 10:32; 11:26-27; 12:50). As Escrituras do Antigo Testamento haviam profetizado vagamente sobre a verdade de que o Messias seria Deus, como em Jeremias 23:2-3. Mas, poucos ou ninguém realmente parece ter notado esse fato.
O título Filho do Homem também supunha divindade, quando pensado como o cumprimento da profecia de Daniel 7. Alguns sábios judeus reconheciam a possibilidade de o Messias ser divino e isso poderia ter-se originado no período da tradição oral. Mas, não parecia ser uma visão e uma crença comum, conforme indicado pela resposta dos discípulos à pergunta de Jesus sobre o que as pessoas diziam sobre Ele.
Dada sua localização perto de Cesaréia de Filipe, havia algo a mais na resposta de Pedro. Ele chamou Jesus de o Filho do Deus vivo. O adjetivo vivo traz um contraste forte com a cultura do paganismo há muito tempo associada com aquela região e seus ídolos mortos exibidos nos templos e na gruta ao lado dos portões do Hades. A natureza verdadeira de Deus não é como a dos deuses pagãos. Ele não está morto. Ele está vivo.
Pedro também pode querer ter se referido a outro significado quando descreveu Jesus como o Filho do Deus vivo. Ele pode ter contrastado Jesus com o homem a quem um templo havia sido dedicado - César Augusto. O contraste era esse: O Pai de Jesus estava vivo. O pai adotivo de Cesar Augusto, Júlio César, não estava. Quando Otávio (nome de nascença de Augusto) assumiu o título de “César Augusto”, ele reivindicou ser o filho do endeusado Júlio César. Mais uma vez, Jesus era o Filho do Deus vivo. Ele não era, como Augusto dizia ser, filho de um “deus” morto - Júlio César.
Pela pergunta de Jesus e a confissão de Pedro, vemos três identidades importantes de Jesus. Ele é o Filho do Homem (humano). Ele é o Cristo, ele é o Messias Ungido (o Rei profético de Deus que restauraria a Israel para a glória eterna) e Ele é o Filho de Deus (o próprio Deus).
Jesus diz a Pedro: “Abençoado [“Makarios”]” é você, Simão Barjonas.” O nome de nascimento de Pedro era Simão e Barjonas significa “filho de Jonas”. A razão pela qual Jesus chamou a Pedro de “abençoado” foi porque carne e sangue não haviam revelado Sua identidade a ele, mas Seu Pai que está no céu. Em outras palavras, Pedro acreditava nisso, não porque houvesse descoberto por si mesmo e não porque alguém houvesse contado a ele. Ele soube porque Deus havia revelado isso a ele.
Jesus continuou falando com Seu discípulo Simão. Ele provavelmente tenha dado um sorriso a Simão neste momento: Eu também digo que você é Pedro. O apelido de Simão era Pedro - a palavra em grego é “Petros”. É a versão no masculino de “Petras”, a palavra grega para pedra. Uma pedra é dura, imóvel. Simão foi apelidado dessa forma por sua personalidade teimosa e sua cabeça dura. Sua obstinação fazia dele o último a entender as coisas e Jesus pode ter rido do fato de que havia sido Pedro, entre todos os discípulos, o único a compreender aquela revelação, porque ele era tão cabeça dura e lerdo que somente Deus poderia ter revelado a ele tal conhecimento.
Porém, o aspecto positivo de ser teimoso é que, mesmo que demorasse muito tempo para Pedro “entender” uma ideia, uma vez que tivesse compreendido, seria muito difícil tirar de sua convicção ou propósito. Jesus adicionou: Sobre essa rocha de convicção ousada, Eu construirei a Minha igreja. Uma convicção como a de Pedro seria o alicerce da igreja de Jesus.
Esta é a primeira vez que Mateus menciona a igreja, uma tradução da palavra grega “ekklesia”, que significa “ser chamado” ou “reunidos de longe”. A igreja é composta pelos muitos grupos diferentes de pessoas que crêem em Jesus reunidos dentro do Corpo de Cristo como filhos de Deus. Assim como os membros do corpo humano, os membros do Corpo de Cristo têm origens, talentos e oportunidades diferentes. Mas, eles são todos unidos em Cristo, em todo o mundo. A igreja não é liderada por ninguém, além de Jesus. A “Ekklesia” tem menos implicações políticas e mais implicações espirituais. O Reino de Deus não é deste mundo (João 18:36). Porém, o Reino de Deus vai ser trazido para essa terra no final da era (Apocalipse 20:4-10). Enquanto isso, os princípios e vida do Reino de Deus fluem para o mundo no presente pelas ações e interações do povo de Deus, Sua “Ekklesia”, o Corpo de Cristo.
O primeiro significado é uma referência ao famoso riacho já conhecido como portões do Hades. Talvez Jesus tivesse em mente um blefe para aquela caverna e tenha Se virado e apontado para ela quando fez tal afirmação a Seus discípulos. Este seria o significado mais imediato para eles, considerando que estavam no distrito de Cesaréia de Filipe, onde o riacho e a caverna estavam localizados.
Os portões do Hades eram um lugar físico que representava a cultura do paganismo que os cercava. Jesus estava dizendo que aquela cultura dominante não iria prevalecer contra a Sua Igreja. O Corpo de Cristo e sua mensagem de “amor ao próximo” está em uma batalha ferrenha contra o paganismo do mundo e sua filosofia de “o mais forte explora o mais fraco”. Jesus afirma, de forma clara e encorajadora, que “Sua igreja irá vencer essa batalha”.
Em uma batalha, os portões são uma estrutura de defesa que protegem a cidade de ser invadida. A imagem que Jesus está descrevendo aqui é que quando os cristãos, que constituem Sua Igreja, têm uma fé sólioda como uma rocha, assim como Pedro tinha, a cultura à sua volta não será capaz de resistir ao poder do Evangelho. Os crentes deveriam tomar uma posição ofensiva contra a cultura.
Assim como Paulo descreve na armadura de Deus, os cristãos devem usar “a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” como arma de ataque (Efésios 6:17) sempre que estiverem cercando os portões do Hades que protegem as culturas de exploração e idolatria. A forma de ataque aos portões é falar a verdade da Palavra de Deus, sob a liderança do Espírito Santo. Ao falarmos a verdade, de acordo com a liderança do Espírito, devemos nos lembrar que não estamos sendo chamados para julgar (Mateus 7:1). O dia do juízo irá chegar, mas será Deus quem irá julgar.
O segundo significado da afirmação de Jesus em relação aos portões de Hades é uma referência a quando Ele irá derrotar a morte. O Hades era o nome grego dado ao submundo, ou o lugar dos mortos. De forma mais ampla, o Hades era como o “Sheol” dos hebreus (1 Samuel 2:6; 2 Samuel 22:6; Salmos 30:3). Era o lugar para onde os espíritos dos mortos iam quando seu tempo na terra havia chegado ao fim. Em Atos 2:27, a palavra grega “hades” é substituída pela palavra hebraica “sheol”, em referência ao Salmo 16:10.
Jesus explicitamente derrotou a morte quando ressuscitou dos mortos (2 Timóteo 1:10). E Jesus compartilha Sua vitória sobre a morte e sobre o Hades com todos os que crêem Nele (João 3:16). A morte não tem nenhuma autoridade ou vitória sobre a igreja de Cristo (Oseias 13:14; 1 Coríntios 15:53-57). Os portões do Hades não podem reter os que têm a vida eterna garantida em Jesus (Hebreus 2:14). A morte e o Hades já foram derrotados por Jesus e, no fim, eles não terão nenhum poder sobre Sua igreja. A morte já foi sentenciada, de certa forma, para o “corredor da morte”. O destino da morte é ser lançada no lago de fogo.
“A morte e o Hades foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo.” (Apocalipse 20:14).
Esta é a segunda parte do duplo sentido de Jesus sobre os portões do Hades.
Jesus continuou conversando com Pedro, dizendo que daria a ele as chaves do Reino dos Céus.
De uma certa maneira, esta afirmação é pessoal e direta para Pedro. Mateus nos mostra que é específico porque usa a palavra “tu” (“soi”) na frase de Jesus para Pedro. Isso significa que Pedro vai receber das mãos de Jesis as chaves do Reino dos Céus. Isso vai acontecer no futuro. Jesus não disse a Pedro: “Estou te dando as chaves do Reino agora”. Essa entrega parece ter acontecido depois da ressureição de Cristo, logo após Jesus ter redimido Pedro do pecado de sua negação (João 21:15-22). Pode ter sido na Grande Comissão (Mateus 28:18-20). Pode ter sido na ascensão de Jesus (Atos 1:6-11); ou no dia de Pentecostes (Atos 2:1-4).
Não existe nenhum registro nas Escrituras referente a Jesus ter usado exatamente o mesmo termo dessa promessa para ninguém além de Pedro. Contudo, Jesus disse algo equivalente ao que foi dirigido a todos os discípulos:
“Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu; e tudo o que desligardes sobre a terra será desligado no céu.” (Mateus 18:18).
Essa afirmação de Mateus 18 reafirma essa mesma autoridade, sem a menção de ‘’chaves”. É provável que Jesus tenha adicionado a palavra “chaves” por estar usando o exemplo das “portas do Hades”. Quando consideramos o significado de Jesus referente às chaves do Reino e o que Ele diz a Pedro que irá fazer com as chaves, podemos facilmente reconhecer que Ele disse coisas similares a outras pessoas durante Seu ministério. Assim, ainda que a forma dessa frase tenha sido dirigida especificamente a Pedro, este princípio é disponibilizado a todos os que estão dispostos a seguir a Jesus. Isso fica muito claro quando consideramos o que Jesus quis dizer com as chaves do Reino dos Céus.
O que são as chaves do Reino dos Céus recebidas por Pedro?
Chaves são um símbolo de autoridade e uma ferramenta prática. Quem possui chaves pode usá-las para trancar e guardar o que quiser em segurança. Quem as possui também tem acesso a qualquer coisa que as chaves podem destrancar.
As chaves do Reino dos Céus representam um tipo de autoridade. Mais especificamente, a autoridade dentro do Reino dos Céus. E mais especificamente ainda, a autoridade de soltar e amarrar nos céus. Jesus disse a Pedro que ele poderia fazer duas coisas com essas chaves.
Primeiro: Qualquer coisa que você amarrar na terra será amarrada no céu. Isso significa que qualquer coisa que Pedro guardasse ou trancasse com aquelas chaves seria guardado ou trancado (literalmente amarrado) no céu. Em outras palavras, os momentos, os recursos, as ações que Pedro guarda e dedica a Deus nesta vida na terra serão guardadas no Reino dos Céus. Isso pode significar que qualquer coisa que Pedro faça na terra será uma parte de sua recompensa no céu, assim como Jesus havia ensinado a Seus discípulos no Sermão da Montanha (Mateus 6:1; 6:5-7, 6:16-18).
“Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os consomem e onde os ladrões penetram e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consomem e onde os ladrões não penetram, nem roubam; porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” (Mateus 6:19-21).
Porém, ao amarrar coisas na terra, Deus irá redimir como benção para todos no Reino dos Céus, de forma que Pedro não apenas iria semear e colher para seu próprio benefício, mas também para outros (2 Coríntios 9:8-15). Quando obedecemos a Deus e seguimos o exemplo de Cristo de servir aos outros, Deus usa nossas ações para enriquecer Seu Reino. Jesus está dizendo a Pedro que ele irá receber as chaves e a autoridade maravilhosa do céu para viver sua vida na terra de uma forma que abençoe a outros por toda a eternidade.
A segunda coisa que Jesus disse a Pedro que ele poderia fazer com as chaves do Reino é: Qualquer coisa que você soltar na terra, vai ser solto no céu. Assim como as chaves podem amarrar e trancar coisas, guardando-as em segurança, elas também podem ser usadas para destrancar coisas para serem usadas agora. Jesus estava dizendo a Pedro que, com aquelas chaves, ele poderia ter acesso aos armazéns do céu e soltar as coisas do céu na terra. O céu é o armazém de Deus. Ele iria prover qualquer necessidade que Pedro viesse a ter na terra.
Considere o que Jesus ensinou aos Seus discípulos no Sermão da Montanha:
“Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca acha; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. Qual de vós dará a seu filho uma pedra, se ele lhe pedir pão? Ou uma serpente, se pedir peixe? Ora, se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhas pedirem?” (Mateus 7:7-11).
Ao dizer a Pedro que daria a ele as chaves do Reino dos Céus, Jesus estava informando a Seu discípulo que ele teria acesso a qualquer coisa de que precisasse no céu para realizar a vontade de Deus na terra; e que as ações de amor e serviço de Pedro na terra seriam eternamente recompensadas no céu.
Ainda que a Bíblia registre Jesus dizendo essa frase em particular sobre entregar as chaves do Reino apenas a Pedro, ela oferece inúmeros registros de Jesus e Deus dizendo coisas similares a outras pessoas. A promessa que Jesus fez a Pedro não é única para ele. Ela está disponível a todos os que tomarem sua cruz e O seguirem (Mateus 16:24-27).
Houve alguma coisa especial identificada em Pedro que pode ter levado Jesus a escolhê-lo nessa passagem? Foi através de Pedro que Deus revelou aos judeus que Sua graça tinha sido disponibilizada aos gentios. Pedro declarou:
“Havendo uma grande discussão, levantou-se Pedro e disse: Irmãos, vós sabeis que há muito tempo Deus escolheu-me dentre vós, para que da minha boca ouvissem os gentios a palavra do evangelho e cressem.” (Atos 15:7).
A Pedro foi dado um sonho e um chamado e ele pregou o Evangelho aos gentios de Cesaréia, perto do Mar (essa Cesaréia é diferente de Cesaréia de Filipe), quando o Espírito Santo desceu sobre eles, mostrando que o Evangelho havia sido oferecido também aos gentios (Atos 10).
Apesar do chamado especial a Pedro para abrir o Reino dos Céus aos gentios, aqui estão alguns exemplos de Jesus concedendo a autoridade ou o poder do Reino a outras pessoas:
“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5:3).
“Respondeu-lhes: Porque a vós vos é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é isso dado. Pois ao que tem dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem até aquilo que tem, ser-lhe-á tirado.” (Mateus 13:11-12).
“Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu; e tudo o que desligardes sobre a terra será desligado no céu.” (Mateus 18:18).
Jesus recitou esses versículos a Seus discípulos. É importante notar como o versículo acima é basicamente idêntico ao que Jesus disse a Pedro sobre as chaves do Reino. Essa similaridade é mais uma evidência de que o tema principal de Jesus não era exclusivo somente a Pedro, mas que está disponível a todos os Seus discípulos:
“Ainda vos digo mais que, se dois de vós sobre a terra concordarem em pedir alguma coisa, ser-lhes-á feita por meu Pai, que está nos céus. Pois, onde dois ou três estão congregados em meu nome, ali estou eu no meio deles.” (Mateus 18:19-20).
“Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, fareis não só o que foi feito à figueira, mas até se disserdes a este monte: Levanta-te e lança-te no mar, isso será feito; 22e tudo o que, com fé, pedirdes em vossas orações haveis de receber.” (Mateus 21:21-22).
“Jesus, aproximando-se, disse-lhes: Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em o nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; instruindo-as a observar todas as coisas que vos tenho mandado. Eis que eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo.” (Mateus 28:18-20).
“...mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até as extremidades da terra.” (Atos 1:8).
A promessa de Jesus de dar as chaves do Reino dos Céus a Pedro não é exclusiva. Ela está disponível a todos os que tomarem Sua cruz e O seguirem (Mateus 16:24-27).
Porém, a linguagem que Mateus usa para transmitir o pensamento de Jesus é bem interessante por outros motivos. É valido pensar no verbo na voz ativa quanto ao que Pedro faria na terra em oposição à voz passiva do que seria feito no céu. As ações de Pedro de amarrar e soltar na terra são ativas, o que significa que ele é quem está ativamente fazendo essas coisas. No céu, porém, as ações de Pedro produzem respostas independente das ações terrenas. No Reino, tais ações são contadas como recompensas para as ações do discípulo.
Além das vozes ativas e passivas desses verbos, observamos aspectos do passado perfeito, ou seja, ações concluídas e ainda não concluída. No grego, o tempo passado é uma ação simples: “Tal coisa aconteceu e foi concluída”. O tempo perfeito descreve uma ação ou evento iniciado, porém dá ênfase aos efeitos contínuos ou suas consequências. Jesus disse a Pedro que qualquer coisa que ele amarrasse ou soltasse agora (tempo passado, ação concluída) na terra seria amarrado ou solto (tempo passado perfeito, impacto contínuo) no céu. A inferência é que qualquer ação definitiva de Pedro tem efeitos imediatos e contínuos no céu.
Esses usos do verbo no passado perfeito superam o tempo e ecoam pela eternidade. Existe um componente de passado e futuro em operação neles. A citação de Mateus sobre o que Jesus diz sobre ser amarrado/solto no Reino dos Céus expressa que tais ações já teriam sido realizadas mesmo antes das ações de Pedro serem feitas na terra. É como dizer que os efeitos das ações já estão acontecendo no céu antes que aconteçam na terra. Em outras palavras, no Reino dos Céus, Deus já havia amarrado ou solto as coisas que Pedro ainda faria na terra. É similar ao que Paulo nos ensina em Efésios:
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda a bênção espiritual nas regiões celestes em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação, do mundo para sermos santos e sem defeito perante ele; e, em amor, nos predestinou para sermos adotados como filhos por Jesus Cristo para si mesmo, conforme o beneplácito da sua vontade.” (Efésios 1:3-5).
“Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus, antes, preparou para que andássemos nelas.” (Efésios 2:10).
Mas também existe um componente futuro em jogo nesses verbos perfeitos. As coisas que Pedro amarra ou solta agora serão amarradas no Reino dos Céus e suas consequências ou efeitos vão se desdobrar no Reino para todo o sempre.
Se olharmos para trás, podemos pensar nessas coisas da seguinte maneira. Na eternidade passada, Deus predestinou Pedro para fazer e realizar boas obras para Seu Reino; e na eternidade passada, Deus planejou recompensar Pedro por fazer essas boas obras e dar bençãos eternas a outros no céu por causa das boas obras de Pedro. Durante a vida presente de Pedro, ele vai realizar essas boas obras, por sua própria e livre escolha, uma escolha que é real e genuína.
Isso traz à tona o paradoxo bíblico sobre a soberania de Deus sobre todas as coisas e Sua permissão para que os humanos façam escolhas genuínas e reais. Mas esse é apenas um de muitos paradoxos. Deus é Um, mas Três. Deus é espírito, mas também humano (em Jesus). Deus está no tempo, mas também além do tempo. Esses paradoxos estão alem do nosso entendimento. Em Eclesiastes, o rei Salomão diz que analisar essas questões é “hebel”, que significa “vaporoso” ou “nebuloso”. Nós não conseguimos ver claramente, porque somos seres finitos com a eternidade colocada em nossos corações (Eclesiastes 3:11). A resposta de Salomão tem o objetivo de reconciliar esses mistérios da fé em Deus como nosso Criador e, finalmente, nosso Juiz. A resposta de Paulo em Romanos conclui este assunto:
“Ó profundidade das riquezas, da sabedoria e da ciência de Deus! Quão inescrutáveis são os seus juízos, e quão impenetráveis os seus caminhos! Pois quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem se fez o seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro, para que lhe seja retribuído? Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja dada a glória para sempre. Amém.” (Romanos 11:33-36).
Na eternidade futura, quando Seu Reino vier, Pedro e os outros crentes vão receber bençãos eternas para as coisas que fizeram durante suas vidas, ou seja, andar nas obras que Deus preparou para fazerem (Efésios 2:10).
Mateus, a seguir, registra que logo depois de Jesus dizer essas coisas a Pedro, Ele alertou aos discípulos que não contassem a ninguém que Ele era o Cristo. Não fazia parte do plano de Deus que a identidade de Jesus como o Messias, ou o Filho do Homem, fosse conhecida publicamente pelo testemunho direto de Seus discípulos. As pessoas deveriam identificar a natureza e a identidade de Jesus de outras formas, assim como pelos testemunhos das obras que Ele realizava (João 14:11). Havia muitos motivos possíveis para Jesus ter escolhido aquela rota. Primeiro, foi para que se cumprissem as profecias, como mencionamos em nosso comentário de Mateus 13:10-17. Também é possível que Jesus tenha desejado levar as pessoas para longe de suas noções pré-estabelecidas sobre como o Messias iria aparecer, trazendo um novo entendimento através de Suas obras e testemunho. Também é possível que Jesus estivesse protegendo Seus discípulos de um ataque, até que fosse a hora certa.