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Significado de Mateus 17:9-13

Jesus proíbe Pedro, Tiago e João de contar a qualquer um sobre o que haviam acabado de ver, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. Os discípulos parecem pensar que Ele não quis que contassem a ninguém até que Elias retornasse e, então, pedem a Jesus para explicar como Elias viria antes do Messias e viria de novo no futuro, embora Jesus, o Messias, já tivesse chegado. Jesus lhes explica isso.

Os relatos paralelos do Evangelho quanto a este evento são encontrados em Marcos 9:9-13 e Lucas 9:36.

Quando Jesus, Pedro, Tiago e João estavam descendo da montanha depois de Sua transfiguração, Jesus ordenou-lhes que mantivessem segredo quanto ao haviam tinham acabado de testemunhar: "Não contem a visão a ninguém, até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos". Eles não deveriam dizer aos outros discípulos ou a qualquer outra pessoa o que tinham visto, até que Jesus tivesse ressuscitado dos mortos.

Depois que o Filho do Homem ressuscitou, eles puderam contar a qualquer um sobre aquela visão notável. Porém, eles não contaram a ninguém antes disso (Lucas 9:36). A transfiguração foi registrada em Mateus, Marcos e Lucas e nenhum desses autores estava presente quando ela ocorreu (Mateus 17:1-8Marcos 9:2-8Lucas 9:28-36). Pedro e João mencionaram a transfiguração de Cristo direta e indiretamente em seus escritos posteriores.

"E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos  a Sua glória, glória como do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade." (João 1:14)

"Pois não seguimos contos habilmente inventados quando lhes demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas fomos testemunhas oculares de Sua majestade. Pois quando Ele recebeu honra e glória de Deus Pai, tal declaração como esta foi feita a Ele pela Glória Majestosa: "Este é o Meu Filho amado, com quem me comprazo" - e nós mesmos ouvimos esta declaração feita do céu quando estávamos com Ele na montanha santa.” (2 Pedro 1:16-18)

Mas, a transfiguração de Jesus e o que eles testemunharam aparentemente estava na mente dos discípulos quando desceram da montanha. Eles discutiram esses pensamentos com Jesus enquanto estavam a sós com Ele. Curiosamente, o que parece ter sido o pensamento mais importante na mente dos discípulos dizia respeito a Elias. A essa altura, Pedro, Tiago e João estavam plenamente convencidos de que Jesus era o Messias. Mas não pareciam registrar que Jesus, o Messias, ressuscitaria dos mortos, embora Ele hes tivesse dito claramente que ressuscitaria.

A razão para a confusão dos discípulos parece resultar da composição de duas falsas suposições.

A primeira suposição errônea foi a de que os discípulos parecem ter presumido que o Messias viria apenas uma vez - não duas vezes. Eles acreditavam que Ele viria para inaugurar o Seu reino no final dos tempos, então, uma vez que o Messias estava presente, eles presumiam que aquela era estava prestes a terminar e uma nova era seria introduzida, na qual o Messias reinaria no trono de Davi (2 Samuel 7:13). Eles se mantiveram nesse erro até que Jesus ascendeu ao Céu (Atos 1:6-9).

Eles ainda não compreendiam que o Messias:

  • Viria uma vez para chamar as pessoas ao Seu Reino espiritual (Mateus 4:17João 18; 36),
  • Seria crucificado (Mateus 27:26-50),
  • Morreria pelos pecados do mundo (1 João 2:2),
  • Seria sepultado por três dias (Mateus 27:57-66),
  • Ressuscitaria dos mortos (Mateus 28:6),
  • Convidaria Seus seguidores a fazerem discípulos de todas as nações (Mateus 28:18-20, Atos 1:8),
  • Ascenderia ao Céu (Atos 1:9), e depois de um intervalo no tempo
  • Retornaria à terra novamente no final desta era (Mateus 24:27, Hebreus 9:28, Apocalipse 22:12).

Eles pareciam acreditar que já estavam no fim dos tempos, ou pelo menos muito próximos, e que Jesus havia aparecido naquele tempo para estabelecer Seu Reino físico na terra.

Em certo sentido, eles estavam certos. Se Israel tivesse aceitado Jesus, isso teria ocorrido. Jesus deixou isso claro quando respondeu:

"E se você está disposto a aceitá-lo, o próprio João é Elias, que estava por vir" (Mateus 11:14)

Este versículo indica que João Batista teria sido um cumprimento completo do ministério de Elias como precursor de Jesus - SE Israel tivesse aceitado Jesus como seu Messias.

No entanto, foi predito que Israel rejeitaria a Jesus como o Messias, como Jesus claramente indicou (Mateus 13:13-14). Depois que Jesus subiu ao céu, Pedro prometeu ao povo que, se eles se arrependessem e cressem, então Jesus retornaria e estabeleceria Seu Reino na terra (Atos 3:19-20). Assim, a lacuna de tempo poderia ter sido bastante curta, se Israel acreditasse. Mas não foi isso que aconteceu, não foi isso o que havia sido profetizado (Romanos 11:12).

Os judeus haviam notado que havia profecias messiânicas e tipos diferentes de Messias, tanto o servo sofredor, como o rei conquistador. Alguns até pensavam que poderia haver dois Messias. O que eles não pareciam ser capazes de compreender era que o mesmo Messias viria duas vezes, em dois adventos. Uma vez para servir e morrer pelos pecados de todas as pessoas e, mais tarde, para reinar na terra como rei. Aliás, esse padrão messiânico é o que Jesus chama Seus seguidores a fazer. Ame e sirva humildemente as pessoas através dos sofrimentos e provações desta vida e, em seguida, reine com Ele como reis-servos na próxima vida.

Os discípulos acreditavam que Elias deveria aparecer também no fim dos tempos e que Elias viria primeiro, isto é, antes que o Messias viesse. Eles parecem ter acreditado que ambos seriam um único evento. Para eles, a frase de Jesus Até que o Filho do Homem ressuscitasse dos mortos soava como uma vaga referência ao fim dos tempos - não à ressurreição literal de Jesus.

Além da suposição de que o Messias viria apenas uma vez, os discípulos parecem ter mantido uma segunda suposição falsa, que era uma fusão errônea do Filho do Homem com Elias. Quando Jesus disse "... até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos", os discípulos pareciam ter acreditado erroneamente que Ele estava, de alguma forma, se referindo a Elias - a quem os discípulos haviam acabado de ver (Mateus 17:3).  Elias estava fortemente associado nas mentes judaicas tanto ao Messias quanto à ressurreição. Parece que eles acreditavam que era Elias quem ressuscitaria dos mortos.

Já mostramos a conexão entre Elias e o Messias (Mateus 11:10-14; 16:14; 17:3). Isaías havia profetizado sobre um precursor que anunciaria a vinda do Messias e prepararia a Sua chegada: "Uma voz está chamando: 'Limpai o caminho do SENHOR no deserto; Fazei suave no deserto um caminho para o nosso Deus'" (Isaías 40:3). João  Batista disse que essa profecia de Isaías se aplicava a ele, ao mesmo tempo em que sustentava não ser Elias (João 1:23). Isso era verdade, porque haveria dois adventos.

Malaquias também falou sobre este mensageiro e o identificou como Elias.

"Eis que Eu enviarei o Meu mensageiro, e ele abrirá o caminho diante de Mim. E o Senhor, a quem procurais, de repente virá ao Seu templo; e o mensageiro da aliança, em quem vos deleitais, eis que Ele está vindo', diz o Senhor dos Exércitos." (Malaquias 3:1)

"Eis que vos enviarei Elias, o profeta, antes da vinda do grande e terrível dia do Senhor. Ele restaurará os corações dos pais aos seus filhos e os corações dos filhos aos seus pais, para que eu não venha e ferir a terra com uma maldição." (Malaquias 4:5-6)

Ainda hoje, quando os judeus celebram a Páscoa, como fazem há milhares de anos, eles estabelecem um lugar, derramam um cálice especial e deixam a porta aberta para Elias entrar, na esperança de que ele anuncie a iminente chegada do Messias.

Mas, além de ser um precursor messiânico, os judeus do primeiro século também associaram fortemente Elias à ressurreição dos mortos. Essa associação talvez tenha sido, em parte, pelo fato de que Elias nunca tenha morrido (2 Reis 2:11). Mas, mais do que isso, essa associação vinha do que as tradições orais diziam sobre Elias e a ressurreição.

Além das escrituras hebraicas que conhecemos, como o Antigo Testamento, havia uma tradição oral chamada "Mishná". De acordo com a própria tradição oral, a Mishná remontava aos tempos de Moisés. Porém, muitos acreditam que ela foi iniciada durante a era pós-exílica, em algum momento entre o tempo de Esdras (450 aC) e o tempo dos Macabeus (150 aC). Séculos mais tarde (350 dC), a Mishná oral foi escrita e tornou-se parte do "Talmude" judaico. Muitas das ideias da Mishná estavam muito em circulação durante os dias de Jesus.

Esta tradição oral ensinava que "a ressurreição dos mortos vem de Elias, bendito seja a sua memória, Amém" (Mishná: Sotah 9). Acreditava-se que essa ressurreição ocorreria no final dos tempos.

E, assim, é plausível que, quando Pedro, Tiago e João ouviram Jesus proibi-los de não contar a ninguém o que haviam visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos, eles naturalmente e erroneamente assumiram que Jesus estava lhes dizendo para não falar sobre isso até o fim dos tempos, quando Elias retornaria. Eles pareciam confundir a expressão de Jesus como uma figura de linguagem para o fim dos tempos, quando Elias supervisionaria "a ressurreição dos mortos" - não a ressurreição literal de Jesus dentre os mortos.

Isso pode parecer estranho, mas temos o benefício de, agora, saber que Jesus morreu e ressuscitou dos mortos. Então, olhando para o que Jesus disse, é fácil para nós (como mais tarde foi fácil para eles) entender o Seu significado real. Há numerosas Escrituras que nos dizem que os discípulos só vieram a entender as Escrituras, e o que Jesus lhes dissera, depois que Ele ressuscitou dos mortos (Lucas 24:24-34;   Lucas 24:44-45João 2:22Atos 1:16). Mas, na época, suas falsas suposições os levaram a interpretar erroneamente seus significados ou os impediram de entender algumas das coisas que Jesus estava ensinando. Nós também carregamos suposições, ou perspectivas, que podem nos impedir de entender Jesus - é por isso que devemos levar cada pensamento (incluindo suposições) cativo à obediência de Cristo (2 Coríntios 10:5).

As duas falsas suposições dos discípulos, portanto, eram: 1) O Messias só viria uma vez, não duas vezes; e 2) Jesus estava falando de Elias, não de Si mesmo. Essas suposições/perspectivas erradas foram uma grande parte da razão da pergunta dos discípulos a Jesus: "Por que, então, os escribas dizem que Elias deve vir primeiro?"

Pedro, Tiago e João, ao perguntarem: "Por que, então, os escribas dizem que Elias deve vir primeiro?", estavam querendo dizer: "Como Elias pode vir diante de Ti [Jesus] se ele ainda não retornou? Os escribas dizem pelas escrituras e tradições que Elias deve vir antes do Messias e Tu és claramente o Messias, e Tu já estás entre nós, mas Elias ainda não veio. E, agora, Tu estás dizendo para não dizermos nada até que Elias retorne no final dos tempos, na ressurreição dos mortos. Como podem ser essas coisas? Por favor, explique-nos estas coisas, Jesus."

Jesus respondeu-lhes explicando que, sim, Elias estava vindo e restauraria todas as coisas. Nesta declaração, Jesus afirmou a ideia de que Elias apareceria no fim dos tempos, como a tradição oral e Malaquias 4:5-6 sugeriam. É possível que Elias seja uma das duas testemunhas durante o Apocalipse (Apocalipse 11:3-13). Jesus assegurou aos discípulos que Elias ainda estava por vir.

Mas, em outro sentido muito real, Eliashavia vindo. Ao fazer essa afirmação, Jesus usou Sua autoridade divina - Eu lhes digo que Elias já veio. Jesus estava falando aqui de João Batista. O problema era que eles (fariseus, escribas, saduceus, herodianos, etc.)  não o reconheceram a João Batista como Elias. Fizeram-lhe o que quisessemEles o  interrogaram (João 1:19-28,   Mateus 3:7), eles o dispensaram (Mateus 11:7-8), eles o criticaram injustamente (Mateus 11:18), eles o aprisionaram (Mateus 4:12; 11:2; 14:3), e eles o mataram (Mateus 14:10).

Portanto, os discípulos não entenderam que Jesus havia falado sobre como João Batista era Elias. João Batista veio no espírito e no poder de Elias, mas sua mensagem foi rejeitada. Portanto, ele não cumpriu o ofício, como o próprio João predisse que seria o caso (João 1:21).

Mas, mesmo após Pedro, Tiago e João terem finalmente entendido que João Batista havia servido no papel semelhante ao de Elias como precursor messiânico, e que Elias viria novamente e ajudaria a restaurar todas as coisas no fim dos tempos, eles não pareciam captar mais nada sobre o que Jesus dizia. Assim como os fariseus, escribas, saduceus, herodianos, etc, não reconheceram a João Batista, abusaram dele e o executaram, assim também fariam com Jesus.

Assim, também, o Filho do Homem vai sofrer nas mãos dos seus (fariseus, escribas, saduceus, herodianos, etc).

Jesus estava novamente dizendo a Seus discípulos que, embora fosse o Messias, Ele sofreria e seria morto pelas autoridades (Mateus 10:38; 16:4; 16:21; 16:24). O silêncio de Mateus sobre a reação dos discípulos quanto a este comentário sugere que Pedro, Tiago e João não compreenderam nada naquele momento.

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