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Significado de Mateus 22:29-33

Jesus responde à pergunta dos saduceus sobre a ressurreição, apontando seu erro. Ele, então, passa a explicar como as pessoas não são dadas em casamento na ressurreição, antes de demonstrar a ressurreição dos livros de Moisés. As multidões ficam maravilhadas com Sua resposta.

Os relatos paralelos do Evangelho quanto a este evento são encontrados em Marcos 12:24-27  e Lucas 20:34-38.

Os saduceus haviam acabado de fazer a Jesus uma pergunta hipotética, extrema e carregada. Sua pergunta era quem seria o marido de uma mulher sete vezes viúva e sem filhos na ressurreição, já que ela havia se casado com sete irmãos consecutivos (Mateus 22:25-28). Eles fizeram referência à lei de Moisés em Deuteronômio 25:5-6 que dizia que um irmão deveria se casar com a viúva de seu irmão falecido e sem filhos (Mateus 22:24). Os saduceus não acreditavam na ressurreição (Mateus 22:23). Eles estavam tentando enganar Jesus e fazê-Lo parecer tolo, enquanto justificavam uma de suas principais crenças.

Porém, Jesus rejeitou seu enquadramento e habilmente desarmou sua armadilha antes de responder à sua pergunta.

Jesus respondeu e disse-lhes: "Estais enganados..."  Ele indicou diretamente que a crença dos saduceus quanto à ressurreição estava incorreta.

Seu erro resultava de não entenderem duas coisas:

  1. As Escrituras
  2. O poder de Deus

Jesus pode ter inferido várias coisas ao dizer aos saduceus: Vocês não entendem as Escrituras.

Jesus pode ter querido dizer que sua compreensão das Escrituras era muito restrita. Acredita-se que os saduceus aceitavam apenas os primeiros cinco livros do Antigo Testamento (os livros de Moisés) como cânon. O historiador judeu do primeiro século, Josefo, escreveu que os saduceus "não admitem nenhuma observância além das leis [de Moisés]" (Antiguidades 18:16). Embora os livros de Moisés não exponham a doutrina da ressurreição, ela está presente, mas a compreensão estreita dos saduceus  sobre o que as Escrituras ensinam os isolou da luz em outras porções da Palavra de Deus. É por isso que Paulo, mais tarde, ensinaria a Timóteo sobre valorizar a totalidade das Escrituras e não negligenciar nenhuma parte dela:

"Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para o ensino, para a repreensão, para a correção, para o treinamento na justiça; para que o homem de Deus seja adequado, equipado para toda boa obra". (2 Timóteo 2:16-17).

Quando escolhemos quais Escrituras seguiremos e quais Escrituras não seguiremos, distorcemos a Palavra de Deus e tentamos subordinar Sua vontade à nossa. Quando negamos porções das Escrituras, substituímos o que é absolutamente verdadeiro pelo que nossa perspectiva finita vê vagamente (Salmo 119:30); e substituímos a percepção divina pela cegueira e confusão humanas (Salmo 119:105;  Mateus 15:14). Quando cortamos e colamos as Escrituras ao nosso gosto, não estamos seguindo a Deus; estamos adorando a nós mesmos e nos falta fé que agrade a Ele (Provérbios 3:5Hebreus 11:6). Devemos ter cuidado para não abraçar (apenas) o que gostamos da Bíblia, enquanto negligenciamos ou rejeitamos suas verdade mais duras - para que não nos tornemos como os saduceus.

Se os saduceus tivessem aceitado os livros posteriores das Escrituras, por exemplo, Josué ou Malaquias, com sua história, sabedoria e profecia, talvez tivessem tido mais facilidade em entender coisas como a ressurreição, anjos e o espírito do homem (Atos 23:8).

Segundo, Jesus poderia ter querido dizer que sua interpretação das próprias Escrituras estava errada. Em outras palavras, eles não entendiam ou interpretavam as Escrituras corretamente.

Mas, Jesus também pode ter-se referido tanto à sua compreensão excessivamente restritiva de quais livros as Escrituras incluíam quanto à sua má interpretação do que aquelas Escrituras diziam.

Jesus explicou-lhes que a razão pela qual eles estavam enganados era porque eles não entendiam o poder de Deus. Eles não entendiam como a ressurreição era possível ou como fazia sentido. E pelo fato de lhes faltar a compreensão, eles escolheram não acreditar. Eles confiavam em seu próprio entendimento, em vez de confiarem em Deus (Provérbios 3:5). Nós também podemos ser como aqueles saduceus quando confiamos na compreensão finita do que faz sentido de acordo com a lógica humana, em vez de confiarmos na infinita e infalível sabedoria e poder de Deus. Como observado em Eclesiastes, quando confiamos na razão e na experiência humanas para ganhar sentido na vida, podemos esperar um resultado de loucura e maldade (ver comentário sobre Eclesiastes 1:12-15).

Ao apontar e explicar como os saduceus estavam enganados, Jesus havia descarregado a munição de sua pergunta sobre de quem seria aquela esposa, a viúva dos sete irmãos, na vida futura. Ao reconhecer seu erro e suas falsas suposições que levaram a ele, Jesus estava, agora, livre para explicar a verdade.

Ele lhes disse: Pois na ressurreição eles não se casam nem são dados em casamento, mas são como anjos no céu. As pessoas não ficam casadas na vida futura. Os casamentos chegam ao fim quando um ou outro, marido ou esposa, morrem. Após a ressurreição, eles não são mais casados. Na ressurreição, eles são como anjos, explicou Jesus.

Depois de desarmá-los e responder à sua pergunta, Jesus passou a demonstrar como os livros de Moisés ensinavam a respeito da ressurreição dos mortos:

Mas a respeito da ressurreição dos mortos, vocês não leram o que foi dito por Deus: 'Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó'?

A pergunta de Jesus Vocês não leram implica que aqueles líderes religiosos não haviam lido ou, se haviam, eles não haviam conseguido compreender seu significado em relação à ressurreição dos mortos. Em ambos os casos, era uma acusação precisa e embaraçosa contra os saduceus, que eram não apenas as autoridades do templo judaico, mas também os “especialistas” dos livros de Moisés. Jesus escolheu dar exemplos dos cinco primeiros livros, que eram os livros que os saduceus acreditavam ter autoridade espiritual e legal.

O relato do Evangelho de Marcos cita um “golpe” extra de Jesus ao fazer a seguinte pergunta: "Vocês não leram no livro de Moisés sobre a passagem da sarça ardente, como Deus falou com ele..." (Marcos 12:26). A passagem citada por Jesus foi o famoso encontro de Moisés com Deus na sarça ardente (Êxodo 3:6). Praticamente todos os judeus com mais de três anos de idade estavam familiarizados com essa passagem. Ao insinuar que eles nunca haviam lido esta Escritura tão conhecida com entendimento foi um insulto extra.

De volta ao relato de Mateus, a frase Dita a vocês por Deus indica que não foi Moisés quem havia proferido aquelas palavras, mas o próprio Deus. Isso é verdade em um sentido geral e particular. É verdade em um sentido geral que  Deus havia falado aquelas palavras, porque Deus é a inspiração divina e a autoridade por trás de todas as Escrituras (Deuteronômio 8:3Salmos 119:160Provérbios 30:5; 2 Timóteo 2:16) — incluindo os cinco livros de Moisés. O escritor do Evangelho de João disse algo nesse sentido no prólogo de seu relato do Evangelho, ao escrever: "Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade foram realizadas por meio de Jesus Cristo [Deus se tornou humano]" (João 1:17). Nesse sentido, todas as palavras de Deus registradas nas Escrituras são direcionadas a nós - isto é, toda a Bíblia inclui Sua mensagem para nós e para nosso benefício (Lucas 11:28).

Porém, embora haja um sentido geral de que as Escrituras são um registro do que foi falado por Deus, Jesus cita um encontro mais direto e num sentido mais específico no qual Deus falou havia falado sobre a ressurreição dos mortos. Ele citou o famoso encontro de Deus de Moisés na sarça ardente em Êxodo 3. Quando Moisés viu a sarça ardente e se afastou, Deus literalmente chamou a Moisés e falou com ele. Quando  Deus se apresentou a Moisés, Ele disse: "Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó" (Êxodo 3:6).

Jesus então explicou como o que Deus havia falado a Moisés na sarça ardente dizia respeito à ressurreição dos mortos: [Deus] não é o Deus dos mortos, mas dos vivos.

Quando Deus disse a Moisés: Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, Ele estava falando no tempo presente, como se aqueles homens estivessem vivos. Os patriarcas mortos e enterrados há muito tempo estavam vivos. Isso nos diz que até mesmo os tempos verbais nas Escrituras estão repletos de significado. A resposta de Jesus nota, nesta frase das Escrituras, que Deus fala no tempo presente.

Notavelmente, embora Abraão, Isaque e Jacó tivessem morrido e sido enterrados cerca de quatrocentos anos antes de Deus falar essas palavras a Moisés na sarça ardente, eles estavam de alguma forma vivos quando Deus falou a Moisés. Como esses homens ainda poderiam estar vivos depois de terem morrido e sido sepultados, a menos que Deus os tivesse ressuscitado dentre os mortos?

Outras Escrituras ensinam sobre a ressurreição dos mortos com mais detalhes, mas Jesus provavelmente escolheu essa passagem de Êxodo (um dos cinco livros de Moisés) porque os saduceus provavelmente apenas aceitavam os livros de Moisés como autoridade. Mesmo que estivessem errados em negar o resto das Escrituras, Jesus estava disposto a usar a porção que eles acreditavam para mostrar-lhes que havia uma ressurreição dos mortos. Depois de explicar isso aos saduceus no relato de Marcos, Jesus acrescentou um último “golpe”: "Vós estais muito enganados" (Marcos 12:27).

A ressurreição é central para a identidade de Jesus (João 11:25) e para o plano de redenção (1 Coríntios 15:1-51 Coríntios 15:12-19; 2 Tessalonicenses 4:14). Jesus ensinou que Sua ressurreição seria o sinal claro de que Ele era o Messias de Deus (Mateus 12:39-40; 16:21; 20:19; João 2:18-22). Aos saduceus ou a qualquer um que não acreditasse na ressurreição dos mortos, muito do que Jesus havia ensinado não faria qualquer sentido.

Quando as multidões ouviram isso, ficaram espantadas com Seus ensinamentos. Mateus  não diz explicitamente por que o povo ficou surpreso. Porém, sua reação foi a mesma da reação da multidão após a conclusão do Sermão da Montanha: "Eles ficaram surpresos, pois Ele ensinava como quem tinha autoridade" (Mateus 7:28-29).

Eles poderiam ter ficado surpresos porque o que Jesus havia dito sobre a ressurreição era novo e perspicaz para o pensamento deles. Eles poderiam ter ficado surpresos porque Jesus havia respondido tão bem à pergunta ao truque dos saduceus. Eles poderiam ter ficado surpresos porque Jesus havia desafiado a autoridade dos saduceus, expondo sua ignorância das Escrituras e os humilhado no templo. Ou poderiam ter ficado surpresos por algum outro motivo. É possível que eles tnenham ficado surpresos com todos esses fatores combinados.

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