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Significado de Mateus 26:6-13
Os relatos paralelos do Evangelho quanto a este evento são encontrados em Marcos 14:3-9 e João 12:2-8.
Lucas inclui um evento semelhante ao encontrado aqui, que pode ou não ser uma passagem paralela, em Lucas 7:36-50.
A próxima coisa que Mateus inclui em sua narrativa sobre a vida de Jesus foi sobre a mulher que derramou um frasco de perfume muito caro em Sua cabeça. Mateus registra que isso ocorreu na casa de Simão, o leproso, na aldeia de Betânia.
Este evento é comumente conhecido como a "unção de Jesus em Betânia".
Mais tarde, discutiremos quem pode ter sido esse Simão, o leproso, e examinaremos outras questões interessantes sobre o momento desse encontro no final do comentário para esta passagem. Primeiro, vamos nos concentrar nas características centrais dessa narrativa, que são:
Este comentário concluirá abordando questões mais técnicas, tais como:
Jesus visita a casa de Simão, o Leproso
Após Seus ensinamentos no templo (Mateus 22), Sua repreensão dos fariseus (Mateus 23) e Seu Discurso das Oliveiras sobre o fim dos tempos e Seu retorno (Mateus 24-25), Jesus retorna à aldeia vizinha de Betânia.
Betânia estava localizada a cerca de quatro quilômetros de Jerusalém, ao longo da encosta sudeste do Monte das Oliveiras (João 11:18). (Consulte Recursos adicionais para obter o mapa ). Marcos relata que Betânia era para onde Jesus e Seus discípulos voltavam para passar as noites durante toda a sua visita a Jerusalém para a Páscoa (Marcos 11:19).
Mateus narra que, enquanto estava em Betânia, Jesus veio à casa de Simão, o leproso. A cena que Mateus descreve em Sua narração parece ocorrer depois de um jantar. Era costume que as pessoas na antiga Judéia, depois de terem comido, se reclinassem à mesa para uma conversa depois do jantar. Jesus estava reclinado à mesa quando a mulher veio a Ele.
Como será discutido em mais detalhes mais adiante, a linguagem de Mateus ao introduzir esta parte do Evangelho é a seguinte: Agora, quando Jesus estava em Betânia... Esta frase tem a característica de relembrar uma cena ocorrida no início da narrativa. Em outras palavras, isso parece um flashback de quando Jesus chegou pela primeira vez a Betânia, vindo de Jericó, a caminho de Jerusalém (Marcos 10:46, 11:1; João 12:1). A unção de Jesus em Betânia ocorreu pouco antes de Sua entrada triunfal (Mateus 21:1-10) e "seis dias antes da Páscoa" (João 12:1).
A Mulher e a Unção de Jesus
Quando Jesus se reclinou à mesa na casa de Simão, o leproso, uma mulher veio a Ele.
João identifica a mulher como Maria (João 12:3), a irmã de Marta e Lázaro, a quem Jesus havia ressuscitado dos mortos (João 11:1-46). A menos que João (João 12:2-8) esteja escrevendo sobre um incidente separado daquele que Mateus e Marcos (Marcos 14:3-9) estão descrevendo, essa mulher é Maria. Por razões que abordaremos mais adiante, esses três escritores dos Evangelhos provavelmente estão descrevendo o mesmo evento. Mas, em nosso comentário de Mateus, usaremos sua linguagem (uma mulher) para nos referirmos a ela.
Parece que essa mulher veio a Jesus logo após o jantar, porque Ele estava reclinado à mesa quando ela o fez. Era muito provável que Jesus estivesse no meio de uma conversa com Simão, o leproso, e seus convidados quando ela veio a Ele. Sua interrupção pode ter cortado o fluxo da conversa. Se isso aconteceu, a violação da etiqueta pode ter irritado os convidados de Simão, incluindo os discípulos, pelo fato de ter ela interrompido assuntos importantes que estavam sendo discutidos. Porém, como veremos em breve, sua interrupção não perturbou a Jesus.
Por mais ousada que tenha sido sua interrupção, o que ela fez a seguir foi altamente incomum. Porém, era apropriado e necessário. Foi um ato de fé incomparável.
Mateus registra que, quando ela se aproximou de Jesus, trouxe consigo um frasco de alabastro de perfume muito caro.
O alabastro era uma pedra branca que vinha do Egito. Era o material preferido para armazenar pomadas e óleos no mundo antigo, porque não absorvia seu conteúdo. Também preservava o óleo para não se estragar.
A mulher usou um frasco de alabastro que continha o que Mateus descreve como um perfume caro. De acordo com Marcos, o perfume caro em seu frasco de alabastro era o nardo (Marcos 14:3). João diz que era "uma libra [literalmente um litro, pesando 12 onças] de perfume muito caro de nardo puro" (João 12:3).
O nardo era uma fragrância cara fabricada a partir das raízes de uma erva. Na antiga Judéia, o nardo era usado tanto para fins medicinais quanto como aromático. O nardo, às vezes, era usado como fragrância em funerais para refrescar o ar e mascarar quaisquer cheiros desagradáveis provenientes do cadáver. O nardo é mencionado pelo nome em apenas dois outros lugares nas Escrituras. Ambos estão no Cântico dos Cânticos de Salomão (Cântico dos Cânticos 1:12; 4:13-14). O primeiro desses dois exemplos parece ser um prenúncio profético deste momento na vida de Jesus:
"Enquanto o rei estava à sua mesa, o meu perfume exalava a sua fragrância." (Cantares de Salomão 1:12).
Uma tradução mais literal para perfume ("nérde") neste versículo de Cantares de Salomão é "nardo".
Mateus apenas comenta que o perfume era caro. "Os discípulos" no Evangelho de Marcos, e especificamente "Judas" no evangelho de João, estimam que o frasco custava "300 denários" (Marcos 14:4; João 12:5).
Na antiga Judéia, um denário valia um dia de salário para um trabalhador comum. Tirando os sábados e outros feriados, 300 denários compreendiam a renda de um ano de trabalho, sem os impostos. Era caro mesmo. Convertendo esses números nos padrões atuais (2022), o perfume neste frasco teria valido aproximadamente R$ 200.000.
O perfume caro no frasco de alabastro pode ter representado as economias de vida dessa mulher e, possivelmente, a segurança financeira para sua velhice. Caso isso não seja verdade, ela certamente possuía mais riqueza do que a grande maioria dos judeus na antiga Judéia.
Depois de vir a Jesus com seu perfume caro enquanto Ele se reclinava à mesa, Marcos diz que "ela quebrou o frasco" (Marcos 14:3). Tanto Marcos quanto Mateus registram que ela o derramou em Sua cabeça.
Essa ação provavelmente teria paralisado toda a sala. Todos os presentes teriam parado o que estavam fazendo ou discutindo para assistir, em choque e espanto, ao que estava acontecendo.
Primeiro, esse ato foi altamente incomum e uma interrupção extremamente ousada da conversa dos homens após o jantar. Uma mulher interromper uma conversa como ela fez já teria algo incomum, mas teria sido impensável para uma mulher esvaziar um vaso de azeite na cabeça de um homem publicamente, sem aviso prévio.
Segundo, foi algo invasivo ao espaço pessoal de Jesus. Não era romântico de forma alguma, mas era íntimo e intrigante. Quando ela derramou o frasco em Sua cabeça, o óleo encharcou Seu cabelo. Provavelmente correu por Seu rosto e por Sua barba. Provavelmente desceu por Suas roupas.
Como Jesus responderia a ela? Ele repreenderia a mulher por ter sido inadequada? Ele permitiria que ela fizesse isso com Ele? Ele acolheria, encorajaria ou elogiaria suas ações? Podemos especular quais pensamentos internos a mulher poderia ter tido ao contemplar essa ação. Ela certamente estava ciente de que poderia encontrar repreensão e rejeição por sua ação, algo que estava completamente fora do comportamento habitualmente aceito. Podemos especular que o tempo que ela passou ouvindo a Jesus pode tê-la inspirado a tomar tal decisão e a levado a concluir que aquilo era apropriado (Lucas 10:39).
Terceiro, aquela foi uma ação incrivelmente extravagante. Ao quebrar o frasco de alabastro e derramar o perfume caro na cabeça de Jesus, a mulher estava eliminando a possibilidade de usá-lo ou revendê-lo no futuro. Eram 300 denários que nunca mais poderiam ser usados.
A indignação dos discípulos
Mateus relata que os discípulos ficaram indignados quando a viram fazer isso. Indignar-se significa ficar moralmente ultrajado. Eles não viam valor no que ela estava fazendo. Eles perceberam sua ação extravagante como pecaminosa e algo a ser condenado.
Completamente horrorizados, os discípulos disseram: Por que esse desperdício? Para eles, essa era uma pergunta sem resposta. Para eles, não havia nenhuma razão concebivelmente aceitável em relação a como sua ação poderia ser considerada benéfica e não um desperdício extremo de recursos.
Os discípulos expressaram assim o motivo de sua indignação: Este perfume poderia ter sido vendido por um preço alto e o dinheiro dado aos pobres.
Os discípulos pensaram que, se o frasco caro fosse usado no ministério de Jesus, esta seria uma maneira muito melhor e claramente óbvia de usá-lo. E o uso não deveria incluir derramar o perfume sobre a cabeça de Jesus. Ou seja, eles achavam que deveria ter sido vendido a preço de mercado para que os recursos fossem usados no financiamento de seu ministério aos pobres, dando-lhes roupas, comida e outras necessidades. Eles viram uma oportunidade de ministério desperdiçada.
Esta era uma motivação justa, ou seja, eles não estavam errados em pensar desta forma. Exceto por Judas (João 12:4-6). Não parece que eles estavam egoisticamente desejando que o dinheiro da venda fosse usado para si mesmos. No que diz respeito às aparências, parece que os discípulos estavam realmente pensando em aspectos práticos, um dos quais dizia respeito aos pobres. Pode ser que eles também estivessem considerando um apoio financeiro a Jesus e Seu ministério, pois ainda não entendiam que Jesus estava prestes a morrer.
Porém, ao mesmo tempo, os discípulos não compreendiam o valor do que aquela mulher estava fazendo. Eles não consideravam que ela poderia estar certa em agir como agiu, ou que ela estava fazendo algo bom. Eles rapidamente ficarão com raiva e a julgaram por ter gasto aquilo que era dela. Seu zelo carecia de misericórdia e compreensão. Eles reagiram com indignação antes mesmo de considerarem a resposta de Jesus a ela quanto ao que tinha feito por Ele.
Jesus corrige sua opinião sobre a mulher e sua boa ação a seguir.
Curiosamente, Marcos (cujo relato é o mais próximo de Mateus) registra que foram apenas "alguns" dos discípulos que ficaram indignados. Aparentemente, houve "alguns" que não ficaram irritados com as ações da mulher. Ou talvez alguns dos discípulos não estivessem presentes quando isso ocorreu. Porém, Marcos não nomeia quais discípulos ficaram ou não chateados. Marcos diz que alguns dos discípulos, a princípio, zombaram entre si do desperdício (Marcos 14:4) e começaram a "repreender" a mulher (Marcos 14:5) por sua extravagância.
João vai muito além. Ele nomeia Judas Iscariotes como aquele que mais se queixou de sua extravagância. Além disso, João revela que os motivos de Judas eram impuros. Ele não se importava com os pobres, ele queria o dinheiro designado aos pobres para que pudesse roubá-lo.
"Mas Judas Iscariotes, um de Seus discípulos, que pretendia traí-Lo, disse: 'Por que este perfume não foi vendido por trezentos denários e dado às pessoas pobres?' Agora ele disse isso, não porque ele estava preocupado com os pobres, mas porque ele era um ladrão, e como ele tinha a caixa de dinheiro, ele costumava roubar o que era colocado nela" (João 12:4-6).
Pode ser que Judas tenha levado alguns dos discípulos a expressar sua desaprovação. O Evangelho de João revela que a indignação moral de Judas era falsa. A omissão de João em relação aos outros discípulos parece indicar que a) ou ninguém mais ficou inicialmente chateado, ou b) os que ficaram irritados não tinham os motivos egoístas de Judas.
Jesus Corrige Seus Discípulos
Jesus corrigiu a perspectiva de Seus discípulos em relação ao que a mulher fez a Ele.
Mateus nos informa como Jesus estava ciente do que Seus discípulos estavam pensando e dizendo sobre a atitude aquela mulher de desperdiçar o perfume caro.
Ao corrigir a perspectiva deles, Jesus começa fazendo-lhes uma pergunta: Por que vocês incomodam a mulher? O conteúdo da pergunta de Jesus parece ser retórico. Não havia resposta, assim como a pergunta da mulher não tinha resposta. Nem Mateus, nem Marcos dão qualquer registro da resposta dos discípulos a essa pergunta. A pergunta gentil de Jesus, porém com firmeza, sugere que não havia nenhuma boa razão para que eles a incomodassem. Ele parece lançar a pergunta no intuito de reformular a perspectiva de Seus discípulos (Jesus era um mestre em reformular perspectivas). Ao fazer essa pergunta, Jesus convida Seus discípulos a reexaminar sua indignação.
Jesus, então, oferece Sua perspectiva: “Pois ela fez uma boa ação a Mim.”
Com esta breve declaração, Jesus declara a Seus discípulos que o que aquela mulher fez não havia sido um desperdício de recursos valiosos, como eles o viam. Ele declara que o que ela havia acabado de fazer era algo muito bom. Ao afirmar a ação da mulher, Jesus demonstra que ela agiu apropriadamente ao vir a Ele, interromper Sua conversa à mesa e derramar perfume em Sua cabeça.
A declaração de Jesus pode ter corrigido a opinião dos discípulos sobre a mulher, de que o que ela fez havia sido bom. Mas, eles provavelmente ainda não entendiam de que forma havia sido bom. Então, Jesus explicou-lhes o motivo.
Ele começa Sua explicação afirmando a bondade das intenções expressas pelos discípulos.
O pensamento inicial da expressão de Jesus - Pois vocês sempre têm os pobres - foi uma alusão a Deuteronômio 15:11: "Porque os pobres nunca deixarão de estar na terra".
Este versículo de Deuteronômio continua dizendo: "Por isso eu vos ordeno, dizendo: 'Abrirás livremente a tua mão ao teu irmão, aos teus necessitados e pobres na tua terra.'" Os discípulos de Jesus provavelmente captaram a referência e foram capazes de completar seu pensamento. Por meio dessa alusão, Jesus afirmou a retidão do cuidado de Seus discípulos pelos pobres. Ao usar esta parte da passagem, Jesus está enfatizando não apenas a adequação de seu desejo de cuidar dos pobres, mas também de que haveria amplas oportunidades para que exercessem a caridade. No entanto, em breve, não restaria nenhuma oportunidade de realizar boas ações para Jesus.
Os discípulos haviam expressado indignação porque sentiam que o perfume muito caro deveria ter sido vendido e o dinheiro dado aos pobres. Cuidar dos pobres é bom. Procurar ser prudente com os recursos que Deus confiou ao máximo benefício também é bom. Jesus repetidamente ensinou e até ordenou a Seus discípulos que fizessem essas duas coisas:
"Vende os teus bens e dai à caridade..." (Lucas 12:33).
"Aquele que é fiel em uma coisa muito pequena é fiel também em muito; e aquele que é injusto em uma coisa muito pequena é injusto também em muito" (Lucas 16:10).
No entanto, dar aos pobres e alocar eficientemente os recursos não são o maior bem. Eles são um meio de servir a Deus servindo aos outros. Deus, no entanto, é o bem maior. Jesus é o bem maior. Mesmo em nosso ministério a Deus e serviço aos outros, devemos nos esforçar continuamente para buscar primeiro Seu Reino e justiça (Mateus 6:33). Jesus partiria em breve. Haverai amplas e apropriadas oportunidades para a caridade. Agora era a oportunidade de se fazer uma boa ação para Jesus.
Ao dizer isso aos discípulos, Jesus afirma a retidão geral de seus valores de mordomia e cuidado com os pobres, mesmo quando corrige sua perspectiva. Ele lhes oferece a oportunidade de ver que haviam perdido um bem muito maior em seu zelo pelo que é bom.
Jesus os corrigiu independentemente de suas boas intenções. Não nos é dito se os motivos dos discípulos estavam totalmente corretos. Mas, mesmo que seus motivos fossem misturados com más intenções, Jesus apenas aborda o que é bom e ignora o resto. Ele faz isso até mesmo com Judas, cujas intenções eram más (João 14:4-8). Isso é consistente com outras passagens bíblicas, incluindo a "Parábola dos Dois Filhos" de Jesus (Mateus 21:28-32) e a declaração do apóstolo Paulo sobre os mestres que têm intenções menos nobres (Filipenses 1:16-18). Jesus não tem problema com boas ações balizadas em motivos impuros. As ações abençoam os outros, por isso são sempre encorajadas. Os motivos serão tratados mais tarde, no dia do julgamento (Hebreus 4:12).
Ao falar à bondade de seus corações e não apontar qualquer intenção perversa, Jesus sabiamente estava pavimentando o caminho fácil para a mudança de sua perspectiva. Ele não queria distraí-los provocando desnecessariamente sua carne. Ao fazer isso, Jesus demonstrou os princípios do amor "ágape", que é a forma mais elevada de amor bíblico, o amor da escolha, baseado em valores: "O amor é paciente" (1 Coríntios 13:4); "[O amor] não leva em conta o mal sofrido" (1 Coríntios 13:5); "[O amor] suporta todas as coisas" (1 Coríntios 13:7); "O amor cobre uma multidão de pecados" (1 Pedro 4:8). Traduzindo esses princípios para o Reino da instrução moral: "O amor é cativante". O amor ágape busca o melhor para os outros, mesmo diante de dificuldades ou rejeições.
Há uma lição bastante útil a ser aprendida por todos os seguidores de Cristo que buscam instruir e ajudar outras pessoas a crescer em sua fé. Precisamos entender os erros dos outros - especialmente quando não há conexão entre seu erro e a lição primária que estamos tentando ensinar. Muitas vezes é mais benéfico encorajar o que as pessoas estão fazendo da maneira correta, do que desencorajá-las quanto ao que podem ter feito de errado.
Jesus explica a Seus discípulos: "Porque tendes sempre convosco os pobres; mas nem sempre Me tendes".
Esse paralelismo expressa alguns pensamentos.
Primeiro, comunica que cuidar dos pobres é bom, mas amar a Jesus é a maior prioridade. É do amor a Jesus que fluirá o bem maior para os outros.
Isso é semelhante ao que Jesus disse a Marta ao vê-la tão distraída com todos os seus preparativos que não teve tempo de ouvir a Jesus, como sua irmã Maria fez, quando de Sua visita à casa:
"Mas o Senhor respondeu-lhe e disse-lhe: Marta, Marta, estás preocupada e preocupada com tantas coisas; mas só é necessária uma coisa, porque Maria escolheu a parte boa, que não lhe será tirada'" (Lucas 10:39-40).
Há lugar para outras prioridades. Porém, elas devem sempre vir depois de ouvirmos a Jesus. Esta é a prioridade número um. É ouvindo a Jesus que aprendemos a melhor forma de servir aos outros. É ao ouvirmos Jesus que obtemos o maior benefício da vida para nós mesmos, bem como para os outros. Jesus afirma isso abertamente em Sua repreensão à igreja de Laodicéia. Depois de dizer-lhes que Ele repreende àqueles a que m ama, Jesus exorta os laodiceanos a buscar o verdadeiro tesouro que permanece, em vez de buscarem ganhar tesouros terrenos que passam. Ele lhes diz que o meio para isso é ouvir Sua voz e passar tempo com Ele:
"Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, Eu entrarei para ele e jantarei com ele, e ele Comigo" (Apocalipse 3:20).
Pode ser que, ao declarar isso, Jesus tenha se lembrado de Seu tempo com Maria, a mulher desta história, quando ela se sentou com Ele, absorvendo Seus ensinamentos, pouco antes de última ceia (João 10:39).
Mesmo em nossos ministérios, onde somos chamados a cuidar dos pobres e a investir sabiamente os recursos que Deus nos confiou, há momentos para atos extravagantes de amor e adoração. "Há um tempo designado para tudo", escreveu o rei Salomão (Eclesiastes 3:1). Mesmo em nossas próprias vidas, gastos extravagantes são muitas vezes considerados apropriados e bons para celebrações, como casamentos ou comemorações de membros amados da família em seus funerais (e como logo veremos, a ação da mulher funcionou um pouco como um funeral para Jesus).
Não é um desperdício gastar extravagantemente quando o momento pede extravagância. Cada decisão que tomamos sobre como investir recursos é uma questão de mordomia. Esta foi uma ocasião que exigiu extravagância. A mulher reconheceu-o pela fé, mesmo quando poucos, ou quase ninguém, o fez. Ela agiu de acordo com a extravagância do momento, antes que ele fosse embora. E Jesus celebrou esta mulher pelo seu generoso ato de fé.
O segundo pensamento expresso aqui é uma alusão à partida iminente de Jesus.
Seu tempo com Seus discípulos era curto. Ele seria executado dentro de alguns dias. E mesmo depois de ressuscitar, Jesus só permaneceria com Seus discípulos nos quarenta dias seguintes. Depois disso, Jesus não estaria mais com eles fisicamente. Eles não teriam mais Sua presença física para interagir, se consolar ou desfrutar. Os discípulos seriam encarregados de proclamar o Evangelho e cuidar dos pobres, mas Jesus não estaria fisicamente com eles enquanto o faziam. Este foi um lembrete doloroso de que as coisas logo seriam bem diferentes. Através de observações como essas, Jesus estava preparando Seus discípulos para a grande comissão que Ele confiaria a eles, ou seja, a de fazer discípulos de todas as nações (Mateus 20:18-20).
Depois de declarar que o que a mulher havia feito era bom, ao derramar o frasco de alabastro de perfume muito caro em Sua cabeça, e depois de reconhecer a virtude da preocupação dos discípulos com os pobres e aludir à Sua morte, Jesus continua a explicar a Seus discípulos por que ela havia feito coisa certa. Tendo terminado de compartilhar isso, Jesus agora foi mais direto sobre o por quê seu ato ter sido bom.
“Pois quando ela derramou este perfume em Meu corpo, ela o fez para Me preparar para o sepultamento.”
Jesus explica que aquela unção com o perfume caro funcionava como preparação para o sepultamento de Seu corpo. Isso provavelmente soou como algo muito estranho, porque um corpo não é preparado para o enterro antes da morte. Jesus estava claramente vivo quando disse essas palavras.
Se ela tivesse ungido Seu corpo morto com o mesmo perfume caro depois de Sua crucificação, é improvável que os discípulos tivessem reclamado do desperdício. Eles entenderiam que o que ela estava fazendo era expressar seu amor por Jesus. Ela estava fazendo o que podia para cuidar de Seu corpo com dignidade e respeito. Isso é semelhante a como Jesus descreve a mulher em Marcos: "Ela fez o que pôde" (Marcos 12:8).
Embora o texto em grego não deixe claro que a mulher tenha especificamente a preparação do funeral em mente ao fazer isso, sua atitude foi claramente um ato notável de amor. E Jesus sabia que morreria em breve. Ele, mais ninguém, foi capaz de apreciar a ironia daquela situacional. Ele interpreta o incrível ato de amor daquela mulher, para todos ouvirem, como um rito funerário para o Seu corpo. Enquanto ela preparava Seu corpo para o sepultamento, Ele estava preparando Seus discípulos para Sua morte que se aproximava.
Jesus Elogia a Mulher
“Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho seja pregado em todo o mundo, o que esta mulher fez também será falado em memória dela."
Jesus louvou grandemente aquela mulher por seu ato de fé ousado, generoso e amoroso. E, no processo, ajustou a perspectiva dos discípulos, de indignação para admiração. Ela era uma verdadeira heroína. Ela teve a ousadia de amar a Jesus e não deixar que as normas sociais ou o escárnio dos outros (até mesmo o escárnio dos crentes) a impedissem de fazê-lo. Ela foi extravagante para com Jesus e será recompensada por todos os tempos.
Quando Jesus elogiou aquela mulher, Ele fala a partir de Sua autoridade divina. A frase Em verdade vos digo era a maneira ousada de Jesus de ensinar a partir de Sua própria autoridade. Os rabinos judeus da época, muitas vezes, começavam seus ensinamentos com uma frase como: "Como o rabino fulano disse..." Isso reforçava seu ensino aos olhos do povo, porque estavam fundamentados em uma autoridade amplamente respeitada. Jesus não ensinou dessa maneira. Ele ensinava e confirmava Seu ensino a partir de Sua própria autoridade: Em verdade vos digo... Isso ocorre porque Ele era Deus: não havia autoridade superior a Ele mesmo à qual Ele pudesse apelar.
Apelando à Sua própria autoridade divina, Jesus afirma que onde quer que este Evangelho seja pregado em todo o mundo, o que essa mulher fez também será falado em memória dela.
A expressão Este evangelho refere-se à mensagem central de esperança proclamada por Jesus - que o Reino dos Céus estava próximo (Mateus 4:17). Em outras palavras, onde quer que o Reino fosse proclamado ou onde quer que Jesus fosse referido como o Messias, aquela mjulher e seu ato de unção também seriam falados em memória dela.
A frase Mundo inteiro pode se referir a toda a terra. Também pode se referir a toda a ordem criada no céu e da terra. A palavra grega "kosmos", aqui traduzida como mundo, pode significar tanto o mundo físico, quanto toda a ordem criada. De qualquer forma, este é um memorial e tanto.
Ao dizer isso, Jesus indiretamente predisse que esse relato seria incluído nos relatos do Evangelho, que os relatos do Evangelho seriam escritos e que esses relatos doEevangelho seriam espalhados a todo o mundo.
Nisso, a mulher é um exemplo do princípio de Jesus de que "os últimos serão os primeiros" (Mateus 20:16).
Vale a pena notar que existe uma maneira biblicamente apropriada de buscar a fama. Buscar a fama do mundo é algo, muitas vezes, autodestrutivo. Às vezes, perdemos nossa própria identidade buscando agradar aos outros. Ou talvez nos envolvamos em ações autodestrutivas para ganhar atenção. Os crentes são exortados a buscar um memorial duradouro fazendo o que é bom. Jesus usa essa boa ação da mulher como uma ilustração do que cada crente é encorajado a buscar:
"[Deus] que dará a cada pessoa de acordo com suas obras: àqueles que, pela perseverança em fazer o bem, buscam glória, honra e imortalidade, a vida eterna" (Romanos 2:6-7).
Este versículo de Romanos indica que qualquer crente que faça boas ações com a motivação de adorar e seguir a Jesus ganhará "glória e honra" de Jesus, assim como aquela mulher ganhou glória e honra. Pode muito bem ser que, embora saibamos por outros relatos que essa mulher seja Maria, Mateus (sob inspiração do Espírito Santo) simplesmente usou a expressão a mulher para indicar que tal oportunidade está disponível a qualquer mulher. Nosso mundo tem uma longa e triste história de abuso e condescendência em relação às mulheres. Mas esta passagem deixa claro que cada mulher tem a oportunidade de se elevar acima de sua "posição social" (seja ela qual for) e alcançar um nível de grandeza que vem diretamente de Jesus.
Alusões ao rei Davi
A unção de Jesus em Betânia tem múltiplas referências e conotações como a vida do rei Davi.
Primeiro, há uma clara alusão à unção de Samuel a Davi como Rei de Israel.
A história da unção de Davi é contada em 1 Samuel 16:1-13. Quando Samuel obedeceu a Deus e foi à casa de Jessé para ungir um de seus filhos para ser o novo rei, Deus disse a Samuel que Ele não havia escolhido a nenhum dos filhos que Samuel conheceu. Samuel, então, pergunta a Jessé se ele tinha algum outro filho que não estivesse presente. Jessé diz que havia o mais novo, mas ele estava cuidando das ovelhas.
Samuel pede a Jessé que chame a Davi, e quando ele chega, Deus diz a Samuel que Davi era quem ele deveria ungir. Então, para a surpresa e desgosto de seus irmãos mais velhos, Davi é ungido como futuro rei de Israel por Samuel. Samuel sabia que estava ungindo a Davi como rei sobre Israel, mas é provável que a família de Davi não entendesse que Davi estava sendo ungido como rei. Se soubessem, seus irmãos ciumentos poderiam ter usado esse conhecimento contra ele (1 Samuel 17:28). Da mesma forma, Jesus estava sendo ungido para a Sua morte, mas parece que a única pessoa a entender isso havia sido a mulher.
A alusão à unção de Davi tem um duplo aspecto em relação à unção de Jesus em Betânia.
O primeiro e mais óbvio aspecto dessa alusão é entre Davi e Jesus como ungidos. O rei Davi é frequentemente comparado ao rei Jesus. Como o Messias, Jesus é um sacerdote como Melquisedeque (Salmo 110:4), um profeta como Moisés (Deuteronômio 18:15-19) e um Rei como Davi (Isaías 9:7). A palavra para "Messias" em hebraico é "Mahsheeakh". Significa literalmente "ungido". Em grego, a palavra para ungido é "Christos". A palavra em português para Christos é Cristo. "Jesus Cristo" significa literalmente, "Jesus, o Messias" ou "Jesus, o Ungido".
Jesus era o Messias (Mateus 16:16-17). Os discípulos já sabiam disso quando Jesus estava em Betânia. Muitos judeus já O proclamavam como o Messias (Mateus 20:30; 20:8-9). E para aqueles que tinham fé para ver além das circunstâncias, sem cerimônia, na casa de Simão, esta era a unção terrena de Jesus. Jesus (como Davi) foi inesperadamente e escandalosamente ungido.
Além disso, Davi e Jesus também foram ungidos duas vezes com óleo. Davi foi ungido pela primeira vez por Samuel na casa de seu pai (1 Samuel 1:16) e mais tarde em Hebrom, quando ascendeu como rei de Judá (2 Samuel 5:1-5). Em sua primeira unção, poucos imaginavam o impacto significativo que Davi ou Jesus teriam sobre Israel. Na segunda unção de Davi, ele foi proclamado rei. Na segunda unção de Jesus por Maria, Ele estava sendo preparado para o Seu sepultamento, que levaria à Sua ressurreição, momento em que lhe foi concedida autoridade sobre o céu e a terra (Mateus 28:18).
Além disso, Jesus foi ungido pelo Espírito Santo em Seu batismo (Mateus 3:16-17; Marcos 1:9-10; Lucas 3:21-22; João 1:29-34). Quando o Novo Testamento descreve o Espírito Santo descendo sobre Jesus "como/como uma pomba" (Mateus 3:16; Marcos 1:10; Lucas 3:22; João 1:32) os escritores o fazem em termos femininos. O grego usa um termo "de gênero" e a palavra para "pomba" é o substantivo feminino "peristerah". A feminilidade da forma com a qual o Espírito desceu sobre Jesus em Sua primeira unção, juntamente com o fato de que a mulher O ungiu em Betânia, pode ser outro paralelo entre as duas unções de Jesus. A mulher foi criada como ajudante (Gênesis 2:28). A palavra hebraica traduzida como "ajudador" em Gênesis 2:28 é usada principalmente no Antigo Testamento para descrever a Deus. Jesus chama o Espírito Santo de "ajudador" (João 14:16). Jesus diz que Seu propósito ao vir à terra era o de servir (Mateus 20:28). Isso demonstra como marido e mulher exibem a imagem de Deus, como está escrito:
"Deus criou o homem à Sua imagem, à imagem de Deus Ele o criou; homem e mulher Ele os criou" (Gênesis 1:27).
Também pode ser observado que as duas unções de Davi são presságios dos dois Adventos de Cristo. Antes de se tornar rei, Davi foi "rejeitado" por Saul e teve que passar seus dias fugindo escondido em cavernas - no exílio, por assim dizer. Após a segunda unção de Davi, seu reinado como rei começou. Quando Jesus retornar à terra depois de ter sido inicialmente rejeitado, Ele também será reconhecido e coroado como Rei (Filipenses 2:9-11; Apocalipse 19:11-16).
Este é o primeiro aspecto da alusão.
Mas nessa alusão, Davi também é como a mulher em alguns aspectos. Este é o segundo aspecto da alusão.
Uma maneira pela qual Davi e a mulher são semelhantes é que tanto Davi quanto a mulher eram figuras subestimadas, negligenciadas e ignoradas em seus respectivos momentos. E ambos foram elevados à grandeza (Mateus 20:16).
Na casa de Jessé, a unção de Davi como rei foi inicialmente negligenciada. Ninguém, além de Deus e do profeta Samuel, parecia tê-lo considerado digno da unção. Foi uma surpresa e um choque para seus irmãos ver Samuel derramar o óleo da unção sobre a cabeça do jovem Davi. Mas, aquela foi a coisa certa a fazer. Naquele momento, é provável que ninguém, além de Samuel, entendesse que Davi estava sendo escolhido como rei. Após a primeira unção de Davi, o Espírito Santo veio sobre Ele, como ocorreu também quando Jesus foi batizado (1 Samuel 16:13). Da mesma forma, parece que poucos, talvea ninguém, tenha compreendido que a mulher estava ungindo Jesus por conta de Sua morte.
Na casa de Simão, o Leproso, aquela mulher foi inicialmente negligenciada e suas ações mal compreendidas. Como mulher naquela época, ela pode nem mesmo ter sido autorizada a sentar-se à mesa onde os homens se reclinavam. E, como mulher, ela certamente não tinha autoridade sacerdotal. Ela teria sido a última pessoa em Israel de quem se esperava alta honra de ungir ao Messias, assim como Davi era a última pessoa a ser vista como o maior rei de Israel.
Outra semelhança entre a mulher e Davi foi sua adoração extravagante. O extravagante ato de adoração da mulher na unção de Jesus em Betânia é uma reminiscência da dança “indigna” do rei Davi diante do Senhor.
A história de Davi dançando diante da Arca é contada em 2 Samuel 6:14-22. Quando a arca foi trazida de volta a Jerusalém, o rei Davi, vestido com vestes sacerdotais, dançou com todas as suas forças. Alguns, incluindo sua esposa, sentiram que ele fez isso de uma maneira indigna. Quando ela o repreendeu por se fazer de tolo na frente de todos, Davi lhe disse: "Foi diante do SENHOR" que ele havia dançado. Ele complementa que, de bom grado: "...me humilharei aos meus próprios olhos" (2 Samuel 6:21-22).
Como o rei Davi, que não se preocupava com sua "dignidade" ou "posição social" ou com as opiniões dos outros enquanto adorava ao Senhor, assim também essa mulher não se preocupava com sua dignidade ou com as opiniões dos outros ao adorar a Jesus. Ambos fizeram o bem aos olhos de Deus.
Uma terceira semelhança entre a mulher que ungiu a Jesus em Betânia e o rei Davi é que ambos serviram a Jesus.
Paradoxalmente, Davi é tanto ancestral quanto súdito do Grande Rei, Jesus. Jesus é o descendente de Davi que governará para sempre (2 Samuel 7:12-16, Mateus 1:1-17). Como o Messias, Jesus é maior do que o rei Davi. Jesus apontou esse paradoxo ao desafiar os fariseus no templo (Mateus 22:41-45). Como a mulher em Betânia serviu a Jesus (que é Deus) através de sua incrível fé, Davi também serviu e seguiu o coração de Deus (que é Jesus) (Atos 13:22).
Com essas alusões e conotações sobre a vida do rei Davi, Mateus liga ainda mais Jesus, o Messias, ao rei Davi nas mentes de seus leitores judeus.
O Tempo da Unção de Jesus em Betânia
Quando ocorreu a unção de Jesus em Betânia?
Todos os quatro Evangelhos descrevem um evento notavelmente semelhante, se não idêntico, ao descrito aqui em Mateus. Porém, cada versão inclui detalhes únicos que preenchem as lacunas ou distinguem seu relato como um evento separado na vida de Jesus.
Esta seção do comentário tentará classificar esses detalhes para ajudar o leitor a entender melhor o que a Bíblia diz.
Para começar, parece que Mateus, Marcos e João estão descrevendo o mesmo incidente. Há diferenças suficientes entre esses três e o relato em Lucas que fazem parecer mais provável que tenha sido uma ocasião diferente na vida de Jesus do que a descrita por Mateus, Marcos e João.
As diferenças notáveis em Lucas são:
Por essas razões, parece evidente que o que Lucas descreve no meio de seu Evangelho está separado do momento descrito por Mateus, Marcos e João no final dos seus respectivos Evangelhos.
Todos os três, Mateus, Marcos e João, concordam que:
Os detalhes descritos ao longo da versão de Marcos fazem dela o relato de conexão entre João e Mateus.
As narrativas de Marcos e Mateus sobre esse evento são um espelho quase perfeito um do outro. Além disso, ambos os Evangelhos:
Os evangelhos de Marcos e João compartilham estes dois detalhes significativos:
O Evangelho de João inclui os seguintes detalhes específicos não mencionados por Mateus ou Marcos:
João acrescenta novas informações ao mesmo evento, que não são encontradas nos relatos de Mateus ou Marcos. Quaisquer pequenas discrepâncias entre o relato de João e o de Mateus e Marcos são facilmente reconciliadas.
Primeiro, é provável que Maria inicialmente tenha derramado o perfume sobre a cabeça de Jesus e que parte dele caiu em Seus pés, aos quais ela limpa com os cabelos.
Em segundo lugar, quanto ao momento deste evento, se ele ocorreu antes ou depois da entrada triunfal de Jesus, apenas João é específico. Aconteceu "seis dias antes da Páscoa". Mateus e Marcos, tematicamente, colocam esse evento entre a trama dos sumos sacerdotes do assassinato de Jesus (Mateus 26:3-5; Marcos 14:1-2) e a traição de Judas (Mateus 26:14-16; Marcos 14:10-11). Aliás, o registro da traição de Judas imediatamente após este episódio pode ter sido sua maneira de sugerir que Judas era o discípulo mais indignado com aquele desperdício.
Mateus e Marcos apresentam seus respectivos relatos da unção de Jesus em Betânia com uma linguagem que pode ter sido usada para lembrar um evento que ocorreu anteriormente em sua narrativa. Mateus começa com a frase: Agora, quando Jesus estava em Betânia, na casa de Simão, o leproso. Marcos começa sua narrativa com a frase: "Enquanto Ele estava em Betânia, na casa de Simão, o leproso". Ambas as introduções são métodos literários de introdução de um flashback.
Todas essas evidências indicam fortemente que Mateus, Marcos e João estão recontando versões ligeiramente diferentes do mesmo evento e não descrevendo unções separadas de Jesus.
A Identidade de Simão, o Leproso
Simão, o Leproso, só é mencionado por nome nos relatos de Mateus e Marcos. Mas, curiosamente, num evento semelhante, porém provavelmente separado, descrito no Evangelho de Lucas (Lucas 7:36-50), a mulher que se aproxima de Jesus e lava seus pés com suas lágrimas ocorre na casa de "Simão", que é descrito como um "fariseu". Mesmo que esses dois anfitriões compartilhem o mesmo nome, há duas razões convincentes para acreditar que não são o mesmo indivíduo.
Aparentemente, Simão, o leproso, sofreu e parece ter se recuperado totalmente da doença da hanseníase. Se Simão não tivesse sido curado, ele não seria capaz de receber convidados, pois os leprosos viviam segregados dos outros, para protegê-los da infecção. Como não havia curas conhecidas para a lepra naquela época, é lógico que Jesus o havia curado daquela terrível doença. Mateus registra Jesus curando um leproso logo após o "Sermão da Montanha" (Mateus 8:1-4). Lucas registra Jesus curando dez leprosos, mas apenas o samaritano do grupo voltou para agradecê-Lo (Lucas 17:12-19). Jesus também curou inúmeras outras pessoas de várias doenças, que provavelmente incluíam muitas pessoas com lepra.
Talvez Simão fosse um dos leprosos aos quais Jesus havia curado e ele havia convidado a pessoa que o havia curado à sua casa como uma demonstração de gratidão quando Jesus estava em Betânia. Simão parece conhecer a Lázaro. Lázaro estava sentado ao lado de Jesus quando a unção em Betânia aconteceu na casa de Simão (João 12:2). Como Betânia era uma pequena aldeia, Simão provavelmente conhecia Lázaro antes mesmo de Jesus ressuscitá-lo dos mortos (João 12:9-11).
Há outra possibilidade para Simão, o leproso - o amigo de Jesus, Lázaro. Pode ser que o homem ao qual Jesus havia ressuscitado dos mortos em Betânia tivesse dois nomes: Simão, o leproso e "Lázaro", entre seus amigos íntimos e familiares. O nome de Lázaro é mencionado apenas no Evangelho de João, onde a ressurreição de Lázaro aparece com destaque (João 11:1-46), mas a notícia do milagre chegou aos ouvidos de Caifás, o sumo sacerdote (João 11:47-53).
A ressurreição de Lázaro foi tão notável que grandes multidões vieram "ver Lázaro, a quem [Jesus] ressuscitou dos mortos". Por causa disso, os principais sacerdotes planejaram matar Lázaro também porque, por causa dele, muitos dos judeus estavam saindo e crendo em Jesus (João 12:9-11).
Os outros Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas não fazem menção explícita a esse milagre. Eles não se referem a Lázaro como "Lázaro". No entanto, é possível que possam estar se referindo a esse homem que ficou famoso por ter sido ressuscitado dos mortos por seu nome mais formal, Simão e, em seguida, usar o descritor, leproso, porque ele havia morrido de lepra. João não diz que doença matou Lázaro - mas pode ter sido a lepra. Quando Jesus diz para removerem a pedra que selava seu túmulo, a irmã de Lázaro, Marta, adverte que "haverá um mau cheiro, pois ele está morto há quatro dias" (João 11:39). Isso pode indicar que eles não haviam usado especiarias para perfumar seu corpo por causa da ameaça de infecção, ou que a doença da lepra que destroi o corpo antes da morte produz um odor que rapidamente supera os perfumes funerários.
Tudo isso para dizer o seguinte: o nome Simão, o leproso, pode ter sido a maneira de Mateus e Marcos se referirem a Lázaro, e seu público judeu saberia exatamente quem era Simão, o leproso, sem qualquer comentário adicional por causa da fama do milagre.
Por mais fascinante que essa possibilidade possa ser, é claro que não há como sabermos com certeza se Simão, o leproso, e o amigo de Jesus, Lázaro, eram o mesmo homem.