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Significado de Mateus 5:23-24

Ao concluir Seu exemplo de como a ira é a demonstração externa de desarmonia (injustiça), Jesus fala sobre sua aplicação prática.

O exemplo de Jesus sobre oferecer um sacrifício sobre o altar revela o segundo princípio do Reino: a qualidade da nossa comunhão com Deus é condicinada à nossa atitude em relação ao nosso próximo. Isso significa fazer todo o possível para nos reconciliar com as pessoas, priorizando a paz sobre a mera atitude religiosa.

A forma como tratamos ao nosso próximo tem muita importância para Deus. Isso é verdade não apenas para nossas atitudes, mas também para nossas palavras e sentimentos. Não é suficiente meramente evitarmos matar ou ferir alguém fisicamente para sermos considerados justos (e, portanto, agradarmos a Deus e conquistar nossas recompensas). Devemos também guardar nossas línguas, o que significa guardar nossos corações (Lucas 6:45; Provérbios 4:23). Se falharmos nisso, arriscamos perder os benefícios do Reino de Deus. Se falharmos nisso, seremos expostos aos resultados negativos da corrupção e morte (dos relacionamentos, das oportunidades, etc) figurados pelo depósito de lixo conhecido como Geena (v.22). Este segundo princípio do Reino se torna ainda mais relevante se levarmos em conta o que Jesus diz a seguir.

Trazer uma oferta de sacrifício ao altar era algo encorajado pela Lei Mosaica com o objetivo de aproximar a pessoa de Deus (Levítico 1). Neste ponto da história, o templo ainda estava de pé em Jerusalém e todos os judeus que seguiam a Cristo faziam ofertas no altar do templo em Jerusalém como forma de observância religiosa. Porém, Jesus diz aqui que fazer as pazes com o próximo tinha mais prioridade do que observer sacrifícios religiosos.

Portanto, Jesus declarou, se você estiver buscando a paz com Deus através da apresentação de um sacrifício no altar, e acabar se lembrando de que seu irmão tem algo contra você, interrompa a oferta imediatamente. Esta situação dramática indica a relevância que Deus dá à busca de relações interpessoais harmoniosas.

O preparo e o transporte da oferta de sacrifício até o altar no templo em Jerusalém podia levar dias aos que viviam nas proximidades do Mar da Galiléia. Havia uma distância de mais ou menos 110 quilômetros entre a Galiléia e Jerusalém. Podemos imaginar os ouvintes de Jesus planejando a viagem até Jerusalém para apresentar a tal oferta. Às vezes, eles preparavam um cordeiro, caminhavam por quatro dias até Jerusalém e participavam do ritual de purificação necessário para apresentarem a oferta no altar. Jesus, agora, declara que se eles, de repente, se lembrassem de que um irmão tinha algo contra eles, a oferta no altar deveria ser interrompida para dar lugar à reconciliação.

Podemos imaginar os discípulos pensando: “Por que não terminar a oferta e me reconciliar quando for conveniente?” Jesus insiste que eles deveriam interromper a oferta e se reconciliar imediatamente. Ao instruir a pessoa a deixar a oferta no altar, talvez Ele quisesse dizer que o tal irmão fizesse parte do grupo que havia viajado com a pessoa até Jerusalém. Isso significaria sair do templo, se reconciliar com a pessoa, passar outra vez pelo ritual de purificação e voltar para dentro do templo. Ou, talvez, o irmão estivesse em sua casa. Neste caso, eles teriam que viajar quatro dias de volta, se reconciliar e retornar a Jerusalém para apresentar a oferta. O foco de Jesus era um só: não interessa o quanto a ação vai dar trabalho: a reconciliação deveria ser a prioridade.

Com este exemplo, Jesus destacou uma questão dramática. Ele é enfático de que a reconciliação entre os irmãos tivesse prioridade sobre a observância religiosa. Parece que a reconciliação entre os irmãos era um requisito para a observância religiosa, algo que compensava qualquer esforço. A oração do Pai Nosso irá mostrar esta questão com mais clareza. A busca da harmonia com o próximo deve ser o pré-requisito da busca por Deus.

O apóstolo Paulo ecoa este princípio em relação à cerimônia cristã da Ceia do Senhor, também chamada de Comunhão. Ele ensina que os que participam dela de “forma indigna” podem acabar ficando doentes ou mesmo morrer. A resposta de Paulo é que cada um “se examine”. Ele conclui: “Se, porém, bem julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados” (1 Coríntios 11:27-32). De qualquer forma, a observância religiosa é sempre inferior à atitude do coração.

Jesus disse que o maior dos mandamentos era “amar ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo teu entendimento e de toda a tua força” (Marcos 12:30). Jesus, mais tarde, vai dizer em Mateus que toda a lei e os profetas são fundamentados neste grande mandamento, juntamente com o segundo: “Amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39). Isso significa que ambos são necessários para que a lei e os profetas tenham um alicerce sólido. Jesus está dizendo que quando não queremos nos reconciliar com nosso irmão, Deus não irá aceitar a nossa oferta, nem se reconciliar conosco. Pessoas são mais importantes que atitudes religiosas. Este é o coração da oração do Pai Nosso (Mateus 6:14).

Jesus não está ensinando que a observância religiosa deve ser negligenciada. É apenas uma questão de prioridade. Busque se reconciliar com seu irmão primeiro. E então venha e apresente a sua oferta a Deus. A justiça (harmonia social) não vem meramente da atitude externa de se oferecer um sacrifício físico (1 Samuel 15:22; Oséias 6:6). Ela vem do sacrifício do nosso orgulho na busca pela reconciliação com os da nossa casa e da nossa comunidade. Ao compreendermos isso, Jesus nos garante que “não estaremos longe do reino dos céus” (Marcos 12:34). Se formos fiéis em fazer isso, em obediência a Deus, o Reino dos Céus e suas bênçãos serão nossas (Mateus 5:3-10). Esta é nossa maior recompensa.

Reflita sobre isso: Jesus nos apresenta aqui uma questão altamente prática. Devemos ser uma comunidade de pessoas que resolvem seus conflitos e não guardam rancor, algo que gera alegria a todos. O contrário disso é uma comunidade de pessoas em constante tensão e amargura que estará vivendo em um lugar como o Geena. Viver os princípios do Reino de Jesus nos traz grandes recompensas nesta vida.

Mais uma vez: a aplicação prática que vemos Jesus fazer nos mostrar dois princípios do Seu Reino em ação. Primeiro: a justiça é uma questão interior do coração e não uma obra externa. E, segundo: a qualidade da nossa comunhão com Deus está condicionada à atitude do nosso coração em relação ao nosso próximo.

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