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Significado de Mateus 5:38-42

Jesus vira o sistema de “justiça” humano de ponta cabeça. Ele diz a Seus discípulos para buscarem oportunidades de servir, ao invés de buscarem oportunidades para se vingar de acordo com a letra da lei.

Após lidar com a questão dos juramentos e da honestidade em relação à justiça (harmonia social), Jesus fala sobre a questão da retribuição pessoal por um mal feito contra nós. Tendes ouvido que foi dito na Lei de Moisés: Olho por olho, dente por dente. Este era o princípio a ser aplicado para se devolver o prejuízo feito a uma pessoa. Jesus toma este princípio diretamente da lei do Antigo Testamento:

Mas, se resultar dano, então, darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe” (Êxodo 21:23-25).

Quem matar a alguém certamente será morto; e quem matar a um animal por este fará restituição: vida por vida. Se alguém causar um defeito em seu próximo, como fez, assim se lhe fará a ele: quebradura por quebradura, olho por olho, dente por dente; como causou um defeito num homem, assim se lhe retribuirá a ele. Quem matar a um animal por este fará restituição; quem matar a um homem certamente será morto. Uma e a mesma lei tereis, tanto para o estrangeiro como para o natural; pois eu sou Jeová, vosso Deus” (Levítico 24:17-22).

Deus havia dado esta lei a Moisés como padrão para a restituição, no intuito de evitar os excessos da vingança ou da influência de discriminação pessoal que poderiam destruir a harmonia na nação de Israel. A punição para um dano causado a qualquer pessoa deveria ser proporcional ao dano infligido pela outra. A perda de um dente não é uma perda grave. Uma pequena ofensa deveria demandar uma punição pequena: dente por dente. Perder um olho era uma perda mais severa. Uma infração severa deveria resultar em punição mais severa: olho por olho. Este princípio foi trazido às sociedades modernas dentro do princípio da “punição proporcional ao crime”.

A sociedade deve ser governada pelo estado de direito (Regra da Lei) e não por vendetas que levam a um ciclo insano e interminável de caos. A justiça humana e a restauração são cruciais. Mas, eles devem ser aplicados de acordo com as regras de Deus e não por tiranos ou vítimas. O Senhor diz: “Minha é a vingança” (Deuteronômio 32:35). E o padrão de Deus garante proporcionalidade à punição, para que os relacionamentos possam ser curados e para que se evite a escalada dos conflitos sociais.

Jesus diz que a justiça do Seu Reino não consistia da vingança obsessiva do olho por olho, mas de misericórdia. Usando de Sua autoridade mais uma vez - Eu, porém vos digo - Ele nos ensina a não resistir (não usar de vingança) ao homem mau pelo que ele fez contra nós. Ao invés de pagar o mal recebido com mal, deveríamos devolver o bem.

Este é o coração do Seu Reino. Este é o princípio da misericórdia que Jesus nos ensina nas Bem-Aventuranças: “Makarios (bem-aventurados) são os misericordiosos, porque eles alcançarão misercórdia” (Mateus 5:7). É isso que Paulo ensina aos crentes em Roma: “Não torneis a ninguém mal por mal; cuidai em coisas dignas diante de todos os homens; (...) não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Romanos 12:17, 21). É isso que Tiago nos ensina ao escrever que “a misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tiago 2:13). A justiça (harmonia social) aparece quando as pessoas perdoam e esquecem das ofensas feitas contra elas, não quando elas processam aos que lhe fazem mal.

Jesus, a seguir, apresenta quatro exemplos específicos do princípio da misericórdia que resulta em justiça, harmonia e vida.

O primeiro exemplo envolve o insulto: “Qualquer que te dá na face direita, volta-lhe também a outra. Bater na face de alguém é um tremendo insulto. A reação natural é bater de volta. Mas Jesus ensina a Seus discípulos a demonstrarem misericórdia e não retaliação. Eles deveriam voltar a outra face à pessoa que havia batido neles. Isso é chocante! Uma das aplicações possíveis a esta expressão é: “Nunca reaja quando alguém faz algo ofensivo contra você.” Este princípio também é registrado por Salomão:

“Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; e, se tiver sede, dá-lhe de beber. Porque lhe amontoarás brasas vivas sobre a cabeça, e Jeová te recompensará” (Provérbios 25:21, 22).

Esta passagem de Provérbios é citada por Paulo em Romanos 12:20. É interessante notar que a aplicação do princípio da misericórdia é, na verdade, mais efetiva do que a retaliação. Quando retaliamos, estamos focados e controlados pela ação do ofensor. Além disso, recompensamos ao agressor darmos atenção à sua ofensa. As pessoas não param para assistir a um ato de misericórdia. Elas param para assistir a uma luta.

Ao demonstrarmos misericórdia, “amontoamos brasas vivas” sobre a cabeça do ofensor. Uma das formas de se fazer isso é mostrar a ele que nossas ações não são controladas por ele. Mostraremos que vamos escolher agir de acordo com nossos valores, ao invés de sermos controlados por ele. Ao fazermos isso, não damos a ele a atenção que ele busca ao nos atacar. Quando nos comportamos desta maneira, o Senhor promete que seremos recompensados.

Este tipo de humildade e quebrantamento desarma as pessoas e evita o aumento da tensão e da violência. Ao oferecermos a outra face, podemos ser golpeados mais uma vez, mas continuamos no controle da situação. Isso pode ser visto como uma metáfora com a qual podemos responder ao sistema deste mundo. Ao nos recusar a reagir, convidamos o próximo a se unir a nós e a Cristo em harmonia no Seu Reino. Ao tomarmos esta atitude, estendemos ao próximo o convite para ser nosso irmão e eliminamos a motivação para o ataque. Qual é a graça de bater em alguém que não reage?

O segundo exemplo envolve a questão dos processos legais. Ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa. Caso alguém diga que você deve algo a ele, deixe-o levar não apenas aquilo que ele indica que lhe pertence, mas ainda mais. Ao invés de reagir e “contratar um advogado”, algo que vai transformar a outra pessoa num adversário, faça-o seu amigo ao dar a ele aquilo que ele demanda e algo mais.

No caso apresentado por Jesus, o oponente deseja abrir um processo. Isso implica que houve algum tipo de transação na qual uma das partes se sentiu lesada, e ela está com a razão. Caso não tivesse razão, não haveria base legal para o processo. Não estamos falando aqui de sermos feitos de capachos. Estamos falando sobre a busca da harmonia nos relacionamentos entre membros de uma comunidade.

A paz na disputa pode nos custar a túnica e a capa, mas ganharemos um amigo no final. Uma túnica e uma capa eram bens muito valiosos nos tempos de Jesus. Porém, a perda de qualquer um desses itens levaria qualquer pessoa à bancarrota. Além de não reagirmos à provocação, devemos também gerar oportunidades para benefícios mútuos. Parece ser impossível aplicar este princípio do Reino se estivermos focados apenas em extrair benefícios pessoais do processo. As transações do Reino devem proporcionar benefícios para ambas as partes.

O terceiro exemplo envolve obrigações e costumes. Quem te obriga a andar mil passos, vai com ele dois mil. Na lei romana, um dignatário ou autoridade romana podia exigir que pessoas das classes mais baixas na sociedade carregassem suas bagagens por uma milha. Naturalmente, as pessoas reclamavam por tal inconveniente e pela perda de tempo produzida pela caminhada de duas milhas (uma milha para ir, uma milha para voltar). Isso era especialmente verdadeiro para as pessoas que odiavam o império romano, como muitos judeus odiavam. Jesus diz a Seus discípulos que sempre que um oficial romano os forçasse a caminhar uma milha eles não deveriam fazê-lo reclamando, ou simplesmente porque eram obrigados a fazer. Ao invés disso, eles deveriam caminhar duas milhas (na verdade, quatro - duas milhas para ir, duas milhas para voltar).

“Caminhar mais uma milha” mostra o desejo de servir ao próximo. Tal atitude treina nosso coração a valorizar as pessoas e respeitar às autoridades. Este é um princípio tremendo e realmente capacita nossos corações a se submeter à autoridade de Deus.

O quarto exemplo de Jesus envolve uma pessoa que nos pede emprestado. Jesus nos ensina a não voltar as costas ao que deseja que lhe emprestes, mas a dar a quem te pede. Devemos dar graciosamente, sem restrições. Jesus exorta a Seus discípulos a ter um coração que busca o melhor para os outros, tratando aos outros com generosidade.

Este princípio do Reino reflete a sabedoria de Salomão:

“Não negues o bem a quem de direito, tendo na tua mão o poder de o fazer. Não digas ao teu próximo: Vai e volta, que amanhã o darei, tendo-o tu contigo” (Provérbios 3:27, 28).

Jesus contrasta este coração generoso à atitude da proporcionalidade legal. Seus discípulos não deveriam meramente buscar obedecer a lei e exigir seus direitos legais, que garantia os direitos de todos. Ao invés disso, os seguidores de Cristo deveriam buscar oportunidades para servir e compartilhar o que possuíam. Mais uma vez, o foco de Jesus está no coração. O objetivo mais elevado de nossas ações deve ser a geração de harmonia social (justiça), e não expectativas egoístas. Seus discípulos devem amar e buscar os benefícios do próximo e da comunidade.

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