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Mateus 5:3-10 explicação

Visão geral dos comentários: Jesus começa o “Sermão da Montanha” com o estilo literário que ficou conhecido como As Bem-Aventuranças. Jesus repetiu várias vezes a palavra “Bem-aventurados” (Makarios) – no sentido de uma realização - para descrever os cidadãos do Seu Reino. A característica central desses cidadãos é a justiça (harmonia social) e misericórdia (generosidade e compaixão).

Jesus inicia o capítulo comunicando a Seus discípulos uma série de declarações que descrevem a Vida Plena (Vida Abençoada) do Seu Reino.

Ele aplica um estilo literário conhecido como “quiasmo”. Um quiasmo é um padrão poético de declarações ou idéias cuja organização se assemelha à metade do formato da letra grega “Chi”, muito parecida com a letra “X”. Os quiasmos funcionam em um padrão A-B-C..C’-B’-A’. A ideia principal do quiasmo é situada ao centro. Na medida em que o padrão se estreita, os quiasmos ficam mais próximos e destacam mais o significado da declaração mais importante, antes de serem concluídos. Os quiasmos podem ser encontrados por toda a Bíblia. Eles eram um formato comum de pensamento usado pelos judeus para expressar suas idéias.

Jesus compartilha oito idéias distintas a respeito da Vida Abençoada ao longo de nove declarações. O quiasmo é expresso na primeira das “Bem-Aventuranças” (a nona declaração repete e expande a oitava).

Eis o quiasmo:

A. Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.

B. Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.

C. Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.

D. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles

serão fartos.

D’. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão

misericórdia.

C’. Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.

B’. Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.

A’. Bem-aventurados os que têm sido perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.

O uso do tempo verbal e voz ao longo do quiasmo sugere tanto o aspecto presente quanto futuro do Reino dos Céus.

  • A e A’ usam verbos no presente, voz ativa - pois deles é — para descrever a realidade presente dos Bem-Aventurados.
  • B e B’ usam verbos no futuro, voz passiva - pois eles serão — para descrever o que Deus, um dia, fará pelos Bem-Aventurados.
  • C e C’ usam verbos no futuro, voz ativa - pois eles serão — para descrever o que os Bem-Aventurados, um dia, terão ou farão.
  • D e D’ usam os verbos no futuro, voz passiva - pois eles serão/receberão — para descrever o que Deus, um dia, dará aos Bem-Aventurados.

O cerne dos quiasmos de Jesus é a justiça (harmonia social) e misericórdia (compaixão), ambos temas centrais do Sermão da Montanha e em todos os ensinos públicos de Jesus. Os dois temas também são centrais na Lei Judaica e na aliança que Deus estabeleceu com Israel, conforme expressa em Deuteronômio.

Em inglês, cada declaração neste quiasmo começa com a expressão Bem-Aventurado. A palavra grega para este termo é Makarios (G3107). Makarios descreve uma completa e total realização na vida. Não se refere a uma felicidade passageira ou um boa sorte. É um estado permanente ou condição imutável.

Makarios  é uma escolha interessante de palavra para descrever o Reino de Cristo no quadro cultural do mar da Galiléia. O mundo onde os discípulos de Jesus e o público de Mateus habitavam era predominantemente uma subcultura judaica dentro do universo romano e grego. Os romanos conquistaram os gregos, porém assilimaram intensamente a cultura grega. A Judéia já estava sob o governo dos gregos havia um século e meio, desde o tempo de Alexandre, o Grande (332 a.C.) até a revolta dos macabeus (167-160 a.C.). Quando o general romano Pompeu incorporou a Judéia como província do Império Romano pela primeira vez em 63 a.C., ele reintroduziu a cultura e cosmovisão gregas que Roma já havia absorvido. Uma das grandes personagens do mundo grego foi o mestre de Alexandre, o Grande: Aristóteles.

Aristóteles começa um de seus livros mais famosos - “Ética” - com a pergunta: “Pode a virtude “bons hábitos) trazer a felicidade?” Em outras palavras, “Será que viver uma vida correta e ser moralmente bom leva o ser humano a obter uma boa vida? ”Aristóteles conclui que a virtude traz, sim, a felicidade (Eudamonia, em grego), porém não traz a bênção (Makarios). De acordo com Aristóteles, Makarios só era possível pela combinação da virtude da pessoa e das circunstâncias da vida. A visão de mundo de Aristóteles compreendia que Makarios era algo externo. No entanto, no Evangelho de Mateus, Jesus diz exatamente o oposto de Aristóteles. Jesus ensinava que Makarios vinha de dentro para fora, não podendo ser extraída de circunstâncias terrenas.

Ao considerarmos as diferentes perspectivas representadas pelas cidades na costa do mar da Galiléia, descobrimos que elas se alinhavam à posição de Aristóteles. Os herodianos e saduceus, na costa ocidental, diriam que Makarios vinha de apreciar as circunstâncias de luxo e poder à custa de outros. Os soldados romanos, dentro da guarnição de Decápolis localizada na costa oriental, acreditavam na mesma coisa.

Os zelotes de Gamala, que tinham ódio visceral dos romanos, diziam que Makarios viria quando conseguissem arrancar os romanos do poder, ou seja, quando sua circunstância externa mudasse. Os fariseus que ensinavam em todas as cidades e vilas do norte da Galiléia acreditavam que Makarios era ter uma reputação ilibada na comunidade, ainda que vivessem como os romanos e devorassem as casas das viúvas (Mateus 23:14).

Jesus rejeitou o conceito falso, terreno e enganoso de Makarios ensinado por Aristóteles e muitos outros. Os reinos da terra, em seus esforços para governar e destruir, haviam perdido a noção de uma boa vida. Os moradores do Reino dos Céus encontrariam a boa vida através da humildade e do serviço ao próximo em amor.