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Significado de Mateus 8:18-22
A expulsão de demônios atraiu uma grande multidão ao redor de Jesus. Quando Ele viu a multidão se reunindo, Jesus tomou o que parece ser uma decisão repentina. Mateus indica isso começando sua observação com “Vendo Jesus”. Enquanto a multidão se acumulava ao seu redor, Ele deu ordens a Seus discípulos para partirem para o outro lado do mar. A frase do outro lado do mar não significava apenas uma localização geográfica. Era como ir para outro país, onde os gentios viviam. Significava atravessar o mar até Decápolis, na margem leste do lago. Embora a poucos quilômetros de distância, culturalmente era outro mundo. A cidade de Hippo, em Decápolis, ficava no alto de uma colina na costa leste. Decápolis era a província romana que se formou em torno das dez cidades gregas estabelecidas após as conquistas de Alexandre, o Grande. Jesus e Seus discípulos estavam saindo de um mundo judaico para um mundo gentílico.
A ordem para partir para o outro lado parece ser uma mudança surpreendente de rotina e um caminho incomum para um rabino judeu tomar. Uma coisa era os gentios virem a Ele em busca de cura. Agora, o Mestre vai até eles. Mateus não dá uma razão explícita pela tal decisão de Jesus. Ele só registra que quando Jesus viu uma multidão ao seu redor, Ele deu a ordem. Talvez Jesus estivesse tentando buscar algum descanso das multidões (após ministrar por várias horas, Ele certamente estava cansado e precisando dormir, algo que Ele faz no barco, quando uma tempestade aterrorizante ameaça matar a todos, Mateus 8:24-25). Talvez Jesus tenha decidido partir porque enxergava os motivos egoístas e a dureza do coração das multidões. Mais tarde, Ele condenou os judeus da costa norte da Galileia por sua falta de fé (Mateus 11:21-24).
No entanto, a ida de Jesus para o outro lado sempre foi parte do plano de Deus. Embora Jesus fosse o Messias judeu, as boas novas do Evangelho eram para todas as pessoas, tanto para os judeus como para os gentios. Ao viajar para o outro lado, onde viviam os povos da Grécia e de Roma, Jesus traz-lhes a luz das boas novas de uma maneira muito tangível e poderosa. Sua "viagem missionária" fornece um vislumbre das ordens finais que Ele dará a Seus discípulos no que é descrito como "a Grande Comissão".
"Ide, pois, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei." (Mateus 28:16-20)
Em menos de três anos, esses mesmos discípulos que receberam a ordem de Jesus de partir para o outro lado para ministrar ao mundo gentio estarão fazendo exatamente isso em uma escala muito maior; eles imniciarão um programa de evangelização para o mundo inteiro. Jesus os está treinando pelo exemplo. No processo de declaração desta ordem, Jesus requer um maior nível de compromisso de Seus discípulos.
Mateus nos diz que depois que a ordem foi dada, dois homens que estavam seguindo a Jesus se aproximaram Dele para dizer-Lhe algo.
O primeiro era um escriba. Mateus deixa este escriba sem nome. Os escribas eram especialistas do Direito. Eles estudavam continuamente. Os escribas conheciam a Palavra de Deus em grande detalhe. Eles eram os advogados do Antigo Testamento. Os escribas eram frequentemente associados aos fariseus ao longo das narrativas do Evangelho (Mateus 5:20; 12:38; 15:1; 23:2; 23:29; Marcos 2:16; 7:5; Lucas 5:30; 11:53; João 8:3). Em outros casos, os escribas conspiraram com os principais sacerdotes, o grupo dos saduceus, sobre como eles poderiam matar Jesus (Marcos 15:1; Lucas 22:2; 23:10) e zombaram Dele em Sua morte (Mateus 27:41; Marcos 15:31). Não está totalmente claro se este escriba em particular era ou não um discípulo de Jesus.
Este escriba poderia ser um seguidor anônimo, alguém que apenas seguiu a Cristo por um curto período de tempo (João 6:66), ou um admirador presente. Este escriba certamente não era Tiago, João, Pedro ou André, porque estes eram pescadores. A única outra ocupação dos discípulos mencionada nas Escrituras é a de Mateus, cobrador de impostos. Em sua conversa com Jesus, o escriba mostra um grau de admiração por Ele. Ele se dirige a Jesus como Mestre e expressa entusiasmo em ir com Ele para o outro lado. O escriba Lhe diz: Eu te seguirei onde quer que fores.
A resposta de Jesus ao entusiasmado escriba é interessante. Ele diz: As raposas têm buracos e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. Jesus está dizendo ao escriba que, se ele vai segui-Lo onde quer que Ele vá, então ele terá que abrir mão de ter uma casa. As raposas têm buracos no chão para dormir e os pássaros têm seus ninhos, mas o Messias não tem onde reclinar a cabeça. O lar e a identidade do Messias não se encontra neste mundo. Se aquele escriba quer seguir a Jesus, então sua identidade também não deveria ser encontrada neste mundo. Ele teria que deixar sua identidade e sua casa para trás.
Mateus fica em silêncio quanto à resposta do escriba. Não sabemos se ele seguiu ou não a Jesus depois que recebeu tal resposta.
Dentro da resposta de Jesus ao escriba está a primeira ocorrência de Jesus usando a frase Filho do Homem. É uma referência a Si mesmo. No total, os quatro evangelhos usam o termo Filho do Homem oitenta e quatro vezes. Todos, exceto duas dessas ocorrências, são encontrados na própria palavra de Jesus. Uma exceção é Marcos 9:9, onde o escritor resume as diretrizes que Jesus deu a três de Seus discípulos. A outra está em João 12:34, onde a multidão repete a frase que Jesus acabara de usar para descrever a Si mesmo. Assim, todas as ocorrências do Filho do Homem nos Evangelhos são direta ou indiretamente atribuídas e aplicadas a Jesus.
O que Jesus quer dizer com essa frase repetida com tanta frequência?
A frase Filho do Homem vem dos livros poéticos e proféticos do Antigo Testamento. Fora dos profetas exilados, Ezequiel e Daniel, a frase é em grande parte um sinônimo de "homem" ou "humanidade" (Jó 25:6; Salmo 8:4; 146:3; Isaías 56:2; Jeremias 50:40). Este significado genérico também era empregado na língua aramaica dos dias de Jesus como um termo que significava "o homem" ou "alguém".
A frase Filho do Homem aparece no livro de Ezequiel noventa vezes. Nesse livro, refere-se ao profeta Ezequiel. Ela enfatiza a fragilidade e a humanidade de Ezequiel, ou talvez seja a maneira de Ezequiel se identificar com seu povo.
O livro de Daniel usa a frase Filho do Homem com poderosas conotações messiânicas no capítulo 7. A visão do profeta e a interpretação de sua visão neste capítulo são apocalípticas e messiânicas. A frase em si ocorre no final da visão de Daniel sobre as quatro bestas e o Ancião dos Dias. Veja o versículo 13.
"Continuei olhando nas visões noturnas, e eis que vinha com as nuvens do céu um como um Filho do Homem, e Ele veio até o Ancião dos Dia, e foi apresentado diante Dele. E a Ele foi dado domínio, glória e o reino, para que todos os povos, nações e homens de todas as línguas possam servi-Lo. Seu domínio é um domínio eterno, que não passará; e o seu reino não será jamais destruído." (Daniel 7:13-14)
Daniel diz que o Ancião dos Dias (Deus Todo-Poderoso) dará o domínio eterno sobre todos os povos a "Um" que é "como um Filho do Homem". Parece que o profeta tem dificuldade em encontrar um termo que descreva esse Ser impressionante que se aproxima do Ancião de Dias, mas que é, de alguma forma, também humano. A visão de Daniel refere-se ao Senhor vitorioso, glorificado e encarnado que veio reivindicar o Seu Reino. O uso que Daniel faz do termo Filho do Homem, neste caso, descreve a humanidade do Messias, o Conquistador divino.
Um anjo explica a Daniel o que significa a visão:
"Então a soberania, o domínio e a grandeza de todos os reinos sob todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; Seu reino será um reino eterno, e todos os domínios O servirão e obedecerão.'" (Daniel 7:27)
Essa interpretação se refere a "Aquele que é como um Filho do Homem" no versículo 13 e como "o Altíssimo" no versículo 27. Sabemos disso porque ambas as descrições são usadas para descrever Aquele que recebe todo o domínio, glória e reino eterno que não será destruído. Ao usar o título "o Altíssimo", Daniel identifica o "Um”, o “Filho do Homem", como Deus. Esta é uma profecia de que o Messias será, de alguma forma, divino e humano. É uma profecia cumprida em Jesus. Além disso, como o Messias, a mensagem do Reino de Jesus no Evangelho de Mateus (e especialmente no Sermão da Montanha) é um desenvolvimento da profecia de Daniel de que "a soberania, o domínio e a grandeza de todos os reinos sob todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo" (Daniel 7:27).
Ao longo do Antigo Testamento, bem como nos dias de Jesus, a frase Filho do Homem poderia significar qualquer uma dessas três possibilidades: Poderia significar um homem ou uma expressão para "alguém"; poderia ser uma expressão para enfatizar a humanidade e se identificar com a experiência de sua nação no exílio, conforme usado por Ezequiel; ou poderia ser um termo messiânico associado ao Deus Homem que, um dia, receberia todo o poder e autoridade.
Descrevendo-se a Si mesmo com este termo, Jesus provavelmente quis indicar todos os três usos. Sendo uma expressão comum, não necessariamente atrairia atenção indesejada quando dissesse isso de Si mesmo. Jesus teve o cuidado de não revelar plenamente Sua identidade divina, o que permitiu às pessoas a oportunidade de conhecê-Lo pela fé. Ao fazê-lo, era uma frase geral que significava que Ele era um humano, tentado como outros humanos (Hebreus 2:17-28), ao mesmo tempo em que significava que Ele era o Messias divino. Ao mesmo tempo, Jesus também a usa como Ezequiel, como uma maneira de se identificar tanto com Sua frágil humanidade quanto com aqueles a quem Ele viera salvar do sofrimento de seus pecados e da opressão política dos tiranos terrenos.
Neste caso em particular, ao confessar ao escriba que o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça, a humanidade de Jesus é enfatizada, mas o significado messiânico da expressão deve ter ofendido aos ouvidos de qualquer escriba judeu perspicaz.
Após essa interação, Mateus nos diz que um segundo homem, também anônimo, faz um pedido a Jesus. Este homem é claramente um discípulo, pelo fato de que Mateus o chama de outro dos discípulos. Outro é um tanto ambíguo em seu significado aqui. Pode se referir ao escriba mencionado anteriormente e incluir o escriba entre os discípulos, ou pode ser uma maneira de dizer que ele era um dos discípulos de Jesus. Esse discípulo pode ter sido um dos doze ou alguém entre o grupo mais amplo daqueles que seguiam a Jesus naquela época, talvez da multidão de discípulos que ouviram Seu Sermão da Montanha (Mateus 5:1-2).
Este discípulo chama Jesus de Senhor. Ele pede a Jesus que lhe permita ir primeiro enterrar a seu pai. Ele indica que tem obrigações familiares das quais deve cuidar e cumprir, antes de poder seguir a Jesus plenamente. Por respeito a Jesus, ele busca Sua permissão para cumprir suas responsabilidades familiares primeiro, antes de continuar a segui-Lo. Jesus lhe diz que ele terá de fazer uma escolha: segui-Lo ou ficar em casa. Siga-Me e permita que os mortos enterrem seus próprios mortos. Este mandamento se alinha com o que Jesus havia ensinado mais cedo naquele dia no Sermão da Montanha, quando disse: "Ninguém pode servir a dois senhores" (Mateus 6:24). Jesus espera total compromisso de Seus seguidores. Ele quer que eles estejam dispostos a servir aos outros em Seu nome até a morte.
"E Ele estava dizendo a todos eles: 'Se alguém deseja vir depois de Mim, ele deve negar a si mesmo, e tomar a sua cruz diariamente e Me seguir. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá, mas quem perder a sua vida por Minha causa, é ele quem a salvará". (Lucas 9:23-24)
"Este é o Meu mandamento, que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que este, que se dê a vida pelos seus amigos". (João 15:12-13)
Os discípulos não conseguem fazer isso se estiverem mais preocupados em agradar aos outros do que em agradar a Jesus. Não há como seguir a Jesus pela metade, caso desejem agradar ao Senhor.
É bem provável que esse discípulo, na realidade, não estivesse pedindo permissão para rapidamente participar do funeral. É mais provável que ele estivesse dizendo que precisava sustentar seu pai idoso até que ele morresse, algo que poderia durar meses ou anos. A Bíblia é clara que o tempo para a obediência é sempre "hoje" (Hebreus 3:7). Em cada caso, tanto do escriba quanto do outro discípulo, parece que seu pedido ocorreu após a ordem de Jesus de partir para o outro lado do mar. Talvez eles estivessem incertos de quanto tempo Jesus pretendia ficar do outro lado do mar. Eles poderiam estar perguntando de uma maneira indireta: "Qual é o plano?" Jesus não acomoda sua relutância. Ele apenas lhes diz: Sigam-Me.