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Significado de Salmos 16:9-12

Nosso coração fica feliz e se alegra não tanto com as coisas terrenas ou como resultado das circunstâncias, mas por quem Deus é e pelo que Ele fará. Podemos confiar que Ele nos guiará e tornará conhecida a Sua vontade e Sua presença, o que nos trará a plenitude da alegria.

“Portanto” é uma expressão que exige nossa atenção. Ela conecta o que foi dito antes com o que vem adiante, geralmente significando que algum tipo de conclusão será apresentada.

Neste caso, Davi declara que, à luz do conhecimento de um Deus que era seu refúgio e que dava propósito e sentido à sua vida - o mesmo Deus que o aconselhava, instruía e estava sempre com ele - seu coração estava alegre e sua glória se regozijava. São sentimentos maravilhoss! Mas, o que isso realmente significa?

Consideremos a bondade de Deus, conforme expressa por Davi. O Deus vivo ao qual Davi servia é bom o tempo todo. Então, como podemos declarar que "Deus é bom" diante de circunstâncias ruins, frustrantes ou dolorosas? Diante das tragédias e provações da vida? Como podemos dizer que nosso coração está alegre nos momentos em que perdemos um ente querido? Deus é realmente bom o tempo todo?

Quando Davi diz que seu coração estava alegre, ele queria dizer que a bondade de Deus estava em quem Ele era. Mesmo em seus momentos mais sombrios, Deus estava diante dele e à sua direita.

Em vez de focar no ambiente ao seu redor, Davi expressa um estado de espírito, uma perspectiva diferente sobre a vida. Davi olhava para além das circunstâncias, para a realidade de sua existência. A felicidade de Davi não estava enraizada nas circunstâncias, mas na escolha intencional de uma perspectiva: "Além de Ti não tenho outro bem" (Salmo 16:2). Tudo o que é bom vem de Deus e, portanto, tudo o que Deus permite em nossas vidas trabalhará para o nosso bem. O Novo Testamento diz que todas as coisas trabalham juntas para o nosso bem:

"E sabemos que Deus faz com que todas as coisas cooperem juntas para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados de acordo com Seu propósito" (Romanos 8:28).

Além de dizer que seu coração estava felilz, Davi também diz: Se rejozija a minha alegria. Esta frase pode parecer complexa. Várias traduções dizem: "Minha língua se alegra". Esta é, sem dúvida, uma resposta adequada a um coração alegre, porém ela não expressa plenamente o que o salmista parece pretender. Embora a língua seja parte de seu regozijo, ele vinha do seu homem interior, provavelmente a direção para a qual a palavra “alegria” aponta.

Davi, ao usar o termo “alegria”, parece se referir à sua própria alma, semelhante ao uso da mesma palavra hebraica no livro de Gênesis:

"Não entres, minha alma, no seu concílio; não te ajuntes, minha glória, com a sua assembleia" (Gênesis 49:6a).

Aqui em Gênesis, o termo "glória" é usado como sinônimo de "alma".

A palavra traduzida como "glória" no Novo Testamento (do grego "doxa") é usada exatamente desta maneira. Conforme lemos em 1 Coríntios 15:40-41, "glória" é a essência observável de alguém ou de algo. O sol tem uma glória diferente da glória da lua. Da mesma forma, cada pessoa tem uma glória, ou seja, a essência observável de quem ela é. As pessoas podem ter uma glória boa ou uma glória vergonhosa (Filipenses 3:19). Vai depender de sua essência.

Neste caso, a verdadeira essência de Davi, aquilo que ele era em seu íntimo, se alegrava porque Deus estava à sua direita. Davi se alegrava em seu íntimo porque a estabilidade de Deus como seu alicerce fazia com que ele não fosse abalado.

Mais uma vez, não sabemos se Davi estava se recordando de uma situação em particular. Porém, sabemos que seu regozijo vinha da realidade de que o Deus vivo era quem Ele dizia ser. Era por causa da bondade e fidelidade de Deus que Davi podia escolher uma perspectiva que o alegrasse.

Em nossa vida muito ocupada, cheia de constantes distrações, alguma vez conseguimos chegar a este lugar de adoração onde Davi chegou? Talvez devamos ser desafiados a seguir o exemplo de Davi e dedicar tempo para refletir e alimentar nossa mente sobre a realidade da verdade de Deus. Somos facilmente distraídos com todos os tipos de coisas às quais chamamos de “bem”. Porém, o salmista nos encoraja a não ter bem algum além do Senhor (Salmo 16:2).

Davi continua: A minha carne habitará em segurança. Se seguirmos a conexão aqui, pelo fato de Deus ser a nossa “mão direita”, nosso Ajudador constante, Alguém em quem podemos confiar, nossa carne habitará em segurança. Por termos tal estabilidade e a fé de que Deus sempre nos levará ao melhor lugar, independente das circunstâncias, o resultado é que nosso coração se alegra. Esta parece ser uma estrutura quiástica:

R: Porque Deus está à minha direita, não serei abalado

B Meu coração está alegre

B' Meu íntimo se alegra

A' Minha carne habitará em segurança

O centro do quiasmo apresenta a ênfase principal do conjunto de declarações. Neste caso, Davi enfatiza que sua felicidade estava enraizada em Deus, não nas circunstâncias. Davi não olhava para a definição de “bem” do mundo para definir sua felicidade. Em vez disso, ele declara: "Além de Ti não tenho outro bem" (v. 2).

A palavra “carne” na frase “Minha carne habitará em segurança” refere-se ao corpo físico de Davi. Aqui, a Escritura indica que nosso estado mental afeta o nosso estado físico. Se temos paz de espírito, nosso corpo goza de bem-estar.

Em seguida, a Escritura se volta a um versículo citado no livro de Atos do Novo Testamento sobre a morte e ressurreição de Jesus. A expressão “pois” no início do versículo 10 também pode ser traduzida como "porque". Davi aponta cinco razões para a alegria do seu coração e para sua confiança de que sua carne habitaria em segurança:

  1. Não abandonarás a minha alma ao Seol;
  2. Não permitirás que o Teu santo veja a corrupção;
  3. Far-me-ás conhecer a vereda da vida;
  4. Na Tua presença há plenitude da alegria;
  5. Na Tua destra há delícias para sempre.

1) Não abandonarás a minha alma ao Seol.

Algumas traduções possíveis para a palavra Seol são: o "reino dos mortos"; "entre os mortos"; "no inferno". Seol é muitas vezes traduzida como "túmulo"; Porém, o contexto do Seol estava enraizado no mundo da época de Davi. O pensamento geral sobre o Seol dizia respeito ao lugar para onde todos iam após a morte. O termo se referia à sepultura, pois era para lá que o corpo ia. Como as sepulturas ficavam na terra, assim as pessoas "desceriam" para o Seol. Uma das passagens do Novo Testamento indica que o Seol se referia não apenas a uma sepultura física, mas também ao lugar dos mortos.

Davi diz a respeito de Deus: Porque não abandonarás a minha alma ao Seol. Em Atos 2:25-28, Pedro, no dia de Pentecostes, cita o Salmo 16:8-11 e m seu sermão. O grego (a língua escrita do Novo Testamento) traduz a palavra Seol no Salmo 16:10 como "Hades" em Atos 2:27. Pedro, falando a uma multidão majoritariamente judaica, cita Davi para sustentar que a Escritura previa a ressurreição de Jesus, o Messias.

Pedro certamente acreditava que Davi estava apontando para a ressurreição ao dizer em Atos 2:31: "Prevendo isso, Davi falou da ressurreição de Cristo, que nem foi deixado no Hades, nem o seu corpo viu a corrupção". O Antigo Testamento fala com parcimônia sobre a vida após a morte. Porém, Davi nos informa sobre a crença existente na vida após a morte. Quando o primeiro filho de Davi com Bate-Seba morreu, Davi disse: "Eu irei até ele, mas ele não voltará a mim" (2 Samuel 12:23b). (Caso interesse ao leitor, duas outras referências do Antigo Testamento para a vida após a morte são Jó 19:25 e Daniel 12:13).

Davi expressou esperança em relação à sua ressurreição, expressa aqui na seguinte declaração: Não abandonarás minha alma ao Seol. A única esperança que temos está em Jesus Cristo: "Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 6:26). Para saber mais sobre este tema, leia nossos Tópicos Difíceis Explicados: O que é o Inferno? Hades e Tártaro na Bíblia.

A citação do Salmo 16:10 e m Atos 2:27 deixa claro que o Salmo 16 é profético. Podemos, portanto, considerar que as meditações intencionais de Davi, enraizadas no pensamento de não ter outro bem além do Senhor, foi a mentalidade escolhida por Jesus. Um versículo no livro de Filipenses confirma isso:

"Tende em vós este sentimento que houve também em Cristo Jesus" (Filipenses 2:5).

Filipenses 2:5-11 descreve a atitude, perspectiva ou mentalidade escolhida por Jesus. Sua escolha de confiar que Deus sabia o que era o melhor para Ele foi intencional. Assim, Ele se tornou "obediente até a morte". Ao fazer isso, Jesus mostrou que dar a nossa vida a serviço do Pai é para o nosso bem (Marcos 8:35-35).

2) Não permitirás que o Teu santo veja a corrupção.

Se seguirmos o raciocínio de Davi neste Salmo, entenderemos a citação de Pedro: Nem permitirás que o Teu santo sofra corrupção (Atos 2:31).

O apóstolo Pedro deixa claro que esta citação do Salmo 16 se refere profeticamente a Jesus no versículo seguinte, Atos 2:32, quando diz: "A este Jesus, Deus ressuscitou, do qual todos somos testemunhas". Pedro aqui correlaciona a expressão “santo” no Salmo 16 a Jesus. O fato de o “santo” não sofrer corrupção previa a ressurreição de Jesus.

Quando Davi diz: "Além de Ti não tenho outro bem" (Salmo 16:2), ele sabia que qualquer esperança eterna tinha que estar no Deus vivo, ninguém mais. Porém, parece razoável pensar que Davi também estivesse profeticamente apresentando a mesma atitude que Jesus adotou ao deixar Seu trono no Céu para fazer a vontade de Seu Pai e se tornar um servo (Filipenses 2:5-11). Jesus exibia constantemente a mentalidade de não ter outro bem além do Pai ao obedecê-Lo e assumir a forma de ser humano, morrendo por nossos pecados.

A frase " Além de Ti não tenho outro bem" significa escolher crer que tudo o que Deus tem para nós é para o nosso bem - independentemente das experiências ou aparências. Foi essa atitude que levou Jesus a aprender obediência e ir para a cruz. A fé de Jesus foi recompensada. O resultado de Sua obediência ao Pai O elevou acima de toda a criação (Mateus 28:18; Filipenses 2:10-11).

3) Far-me-ás conhecer a vereda da vida.

Ao meditarmos sobre a mente e o coração de Davi no Salmo 16, ficamos impressionados com sua humildade. No mundo em que vivemos, a humildade, quando é considerada, é vista como uma espécie de fraqueza. No mínimo, significa um tipo de reconhecimento de que somos insuficientes em alguma área.

O dicionário define a palavra “humildade” como "ausência de orgulho ou arrogância". O orgulho e a arrogância estão ambos enraizados na idéia de que sabemos o que é melhor. Na declaração “Far-me-ás conhecer a verdade da vida” Davi reconhece que Deus sabe o que é melhor. Comparando esta declaração com o tema principal do versículo 2 - "Além de Ti não tenho outro bem" - Davi defende a perspectiva de que os caminhos de Deus são sempre para o nosso bem.

Podemos dizer também que humildade é a disposição de ver a realidade como ela é. Davi afirma uma verdade nua e crua: os seres humanos não são capazes de encontrar a “vereda da vida” fora da direção de Deus. Ao dizer isso, Davi escolhe o Reino de Deus e rejeita os princípios do mundo.

O sistema mundial se alimenta do orgulho e da arrogância. Leve vantagem em tudo. Sinta, consuma, inveje, se vanglorie (1 João 2:15). As muitas tentativas do que podemos chamar de falsa humildade são manobras para que os outros olhem para as nossas realizações.

Podemos trazer uma aplicação espiritual à frase “Far-me-ás conhecer a vereda da vida” concentrando nossas orações em ouvir a Deus e buscar Seus caminhos. Quantas vezes nós, seguidores de Cristo, chegamos a Deus e dizemos: “Aqui está o que eu quero fazer, aqui estão meus planos. O Senhor, por favor, pode abençoá-los?' Davi, o rei de Israel, que tinha acesso a praticamente tudo o que o mundo tinha a oferecer, certamente poderia ter se chegado a Deus e dito: “Aqui estão meus planos. Gostaria de Tua bênção, ajuda ou confirmação”. Nesta declaração, entretanto, ele reconhece que Deus era o Rei e Ele colocaria sua "sorte em lugares amenos" (v. 6).

Ao lermos a afirmação “Far-me-ás conhecer a vereda da vida”, vale a pena nos perguntar: "Qual é a vereda da vida?"

Pensemos na declaração feita por Jesus em relação às escolhas de portas e caminhos:

"Porque estreita é a porta, e apertada a estrada que conduz à vida, e poucos são os que acertam com ela" (Mateus 7:14).

Davi reconhece que Deus lhe mostraria o caminho que levava à vida; porém, restaria a ele a escolha de trilhar pelo caminho. Jesus afirma que o caminho do mundo, o caminho amplo que leva à destruição (Mateus 7:13), era o "caminho de menor resistência". Seguir aos caminhos de Deus requer intencionalidade. Davi reconhecia, de fato, o caminho que levava à vida. Por isso, ele acreditava que valeria qualquer esforço.

No Novo Testamento, a palavra “vida” é a palavra grega "zoe". "Zoe" ocorre sempre que vivemos os princípios do Reino de Deus, traduzidos como o serviço a Cristo mesmo diante das provações na terra (Mateus 5:3, 11). A vida ("zoe") é resultado da busca pela harmonia com Deus e pela confiança Nele através da fé (Mateus 5:6, 8, 20). A vida ("zoe") será plena quando o Reino do Messias estiver totalmente estabelecido (Mateus 5:19). A vida ("zoe") significa o recebimento da recompensa do Pai que nos ouve em segredo (Mateus 6:1, 4, 6, 18).

Tudo isso vem através de Deus. Davi sabia que o caminho para a vida vinha de Deus. Jesus, entretanto, afirmava que Ele era a porta e o caminho que levavam à vida:

"Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14:6).

Diz-se por aí que há muitas montanhas a serem transpostas para chegarmos até Deus. No entanto, o argumento bíblico é que NÃO há montanhas para nos chegarmos a Deus. Deus veio até nós! E Ele veio até nós por causa de Seu grande amor por nós:

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16).

Paulo escreve:

"Mas, Deus demonstra Seu próprio amor para conosco [toda a humanidade] em que, enquanto ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós" (Romanos 5:8).

Pedro escreve em 2 Pedro 3:9 que Deus é "paciente, não desejando que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento". A oferta de vida é inclusiva a todos. No entanto, Deus escolheu permitir que cada pessoa decida que caminho irá escolher. Cada um de nós pode escolher entre o caminho que leva à vida ou o caminho que leva à morte. A morte significa separação. Escolher nosso próprio caminho produz muitos tipos de separação. Uma, em particular, é que tal decisão nos separa do nosso projeto original de servir e amar uns aos outros.

Para alguns, a expressão “veredas da vida” pode trazer à mente o conceito da perfeita vontade de Deus. No entanto, Deus nos diz claramente qual é a Sua vontade para cada um de nós: que sejamos santificados (1 Tessalonicenses 4:3). Ser santificado significa ser separado do mundo, viver com o propósito de servir ao próximo, buscando o seu melhor, falar e seguir a verdade, rejeitando o que é falso, viver como "santo", ou seja, "separado", trazendo alegria a Deus (Salmo 16:3).

"A perfeita vontade de Deus" se aplica à forma como fazemos o que fazemos. A expressão não se aplica necessariamente às nossas escolhas circunstanciais, como que emprego assumir, ou que casa comprar. Para essas escolhas triviais da vida, não há um único caminho padronizado de escolhas específicas às quais devemos seguir ou tudo está perdido. Porém, existe um único caminho para a vida - Jesus, como já observamos. Somente Ele é o caminho ou vereda para Deus Pai, para a vida eterna e para a justiça. Seguir a Seus caminhos e andar no poder da Sua ressurreição é a chave para experimentarmos o melhor da vida.

Leia novamente as palavras de Davi no versículo 11: “Far-me-ás conhecer a vereda da vida”. Pelo fato de Deus nos amar e ter um propósito ou plano para nós, Ele projeta um caminho para nós (Efésios 2:10). Esse caminho é um personalizado e foi criado para cada um de nós individualmente. É um caminho de boas ações em quaisquer circunstâncias em que nos encontremos. É uma caminhada conduzida pelo Espírito Santo através das indas e vindas da vida cotidiana.

No mundo ocidental temos o GPS (sitema de localização global) e ele pode nos guiar para onde quisermos ir, nos dizendo até mesmo onde estamos e quanto tempo levará para chegarmos ao ponto final. O GPS nos dá opções quanto à rota que queremos tomar e, às vezes, nos leva a lugares onde já estivemos antes, apenas por um caminho diferente pelo fato de haver uma construção ou um acidente no percurso original.

Esta é uma boa ilustração sobre como o Espírito Santo nos conduz na vereda da vida. Algumas dicas e direções podem parecer confusas ou difíceis de aceitar; podemos fazer uma curva errada. Às vezes, passamos a ignorar a instrução do GPS quando entendemos que ele cometeu um erro.

Na medida em que Deus dirige as nossas veredas, às vezes (talvez com muita frequência) podemos dizer a Deus: "Isso não está certo. Certamente o Senhor não quer que eu faça isso ou aquilo." Porém, quando aprendemos a confiar no Espírito Santo, nos tornamos cada vez mais conscientes de como Ele nos conduz e passamos a ser mais sensíveis à Sua direção.

No caso do GPS, precisamos acioná-lo no nosso telefone ou carro; ele não nos conduz automaticamente. Assim é com o Espírito Santo. Este compromisso é chamado de “oração” e é isso o que Paulo quer dizer ao nos instruir a "orar sem cessar" (1 Tessalonicenses 5:17). A melhor maneira de orar incessantemente é ouvir constantemente. Assim como ouvimos ao GPS, o Espírito Santo sempre nos guiará, se estivermos atentos. A boa notícia é que, assim como Davi declara que Deus o faria conhecer a vereda da vida, Deus faz o mesmo por nós quando buscamos a Sua vontade.

4) Na Tua presença há plenitude de alegria.

Ao acompanharmos a jornada de Davi neste Salmo, precisamos estar cientes de que há um ponto mais profundo do que as meras emoções. A “plenitude da alegria” aqui é algo que chega ao fundo da alma do salmista, muito além da mera felicidade circunstancial.

Davi conecta sua alegria à presença do Senhor. Suas confissões de que o Senhor era o único Deus verdadeiro - "Tu és o meu Senhor" (v. 2) -, de que "Além de Ti não tenho outro bem" (v. 2), de que Ele é "minha herança e meu cálice" (v. 5), de que sua sorte "caem em lugares amenos" (v. 6), de que "minha carne habitará em segurança" (v. 9), de que “Ele me dará a conhecer a vereda da vida” colocam Davi no lugar certo para experimentar a presença do Senhor. Nessa presença está a plenitude da alegria.

A alegria não vem de fontes ou circunstâncias externas, mas da percepção, reconhecimento e declaração de quem Deus é: Tu és o meu Senhor.

Muitas vezes, ao exibirem algum tipo de expressão de alegria, os crentes a associam a alguma circunstância boa, geralmente uma bênção recebida de Deus. Embora seja bom sermos gratos e nos alegrarmos nessas circunstâncias, a plenitude da alegria da qual Davi está falando aqui tem a ver com Deus e somente com Ele. É na presença de Deus que Davi encontrava a plenitude da alegria.

Já observamos que a presença de Deus era uma companheira constante de Davi, em todas as áreas de sua vida. Isso não se limitava a um tempo de silêncio uma vez por dia, quando talvez Davi pudesse sintonizar sua mente por alguns minutos. Ao contrário, ele experimentava a presença de Deus o tempo todo (Salmo 16:5-6).

Neste mundo de "gratificações instantâneas" no qual vivemos, pode parecer quase impossível nos tornarmos "verdadeiros adoradores que adorarão o Pai em espírito e verdade" (João 4:23). Por isso, é muito importante nos reunirmos para despertar uns aos outros o amor e as boas obras (Hebreus 10:24). O amor, a paz e a alegria podem ser experimentados em abundância nesses ambientes.

Meras emoções não eram suficientes para Davi, conforme lemos no versículo 9: "Portanto, está alegre o meu coração, e se regozija a minha alegria". Como nos tornamos os adoradores aos quais "o Pai procura" (João 4:23)?

Em Atos 13:22 lemos que Deus "testificou e disse: 'Encontrei a Davi, filho de Jessé, um homem segundo o meu coração'". Talvez pensemos que Davi sempre foi assim. Tendo sido escolhido por Deus e feito rei de Israel, ele tinha que ter um coração segundo o coração de Deus, certo? Porém, ao lermos o Salmo 16, podemos ver a intencionalidade de Davi em adorar ao Senhor:

"Em Ti me refugio" (Salmo 16:1);

"Tu és o meu Senhor" (Salmo 16:1);

"Além de Ti não tenho outro bem" (Salmo 16:2);

"Bendirei ao Senhor" (Salmos 16:7);

"Tenho posto sempre a Jeová diante de mim" (Salmo 16:8);

"Na Tua presença há plenitude de alegria" (Salmo 16:11).

Se quisermos ser os adoradores aos quais o Pai busca, precisaremos exercitar a disciplina em nossas vidas diárias. Nossos encontros semanais devem nos instigar à disciplina de vivermos uma vida intencional.

A palavra "disciplina", necessária para se viver com intencionalidade, não é uma palavra aggradável. No entanto, a disciplina, o autocontrole ou o autogoverno é fruto do Espírito.

"Mas, o fruto do Espírito (Santo) é... temperança" (ou autocontrole) (Gálatas 5:23a).

Passar um tempo todos os dias orando e lendo as Escrituras é uma boa base para nos tornarmos adoradores; porém, o propósito principal da nossa meditação sobre o que é verdadeiro é nos levar a viver a verdade. Tudo o que fazemos em nossas vidas deve ser um ato de adoração a Deus. Nossos relacionamentos, nosso trabalho, nossas posses, nossos hobbies devem fazer parte da nossa adoração. Adorar é simplesmente reconhecer a Deus por quem Ele é (Mateus 8:2, 19:8, 14:33, 15:25). Devemos fazer isso com nossas bocas e com nossas vidas.

Ao dizer: “Na Tua presença há plenitude de alegria”, Davi aborda o contexto da “vereda da vida”. Ao longo das nossas vidas, em todos os aspectos das nossas experiências de vida, precisamos experimentar a presença de Deus e adorá-Lo, trilhando Seus caminhos. Como sempre acontece, quando caminhamos em obediência a Deus, encontramos o melhor. Este é o verdadeiro caminho para a vida.

O apóstolo Paulo nos fornece uma excelente descrição da vida de adoração em sua carta aos Romanos:

"Rogo-vos, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo e santo, aceitável a Deus, que é o vosso culto espiritual de adoração" (Romanos 12:1).

Este versículo de Romanos nos diz que a verdadeira adoração diz respeito a viver nossas vidas como um sacrifício. Sacrificar significa abrir mão de nossas vidas para servir e amar uns aos outros. Quando vivemos nossas vidas para o serviço de Deus, vivemos uma vida de adoração. A palavra traduzida como "espiritual" na frase "culto espiritual de adoração" é a palavra grega "logikos", de onde temos o termo "lógica". Se entendermos que a plenitude da alegria vem de vivermos na presença de Deus através de uma vida de serviço e adoração, é lógico viver como sacrifícios separados (santos) para Seu serviço.

Ao adotarmos esta perspectiva (ou mentalidade) apresentada por Davi, nos juntamos a ele e experimentamos a plenitude da alegria na presença de Deus.

5) Na Tua destra há delícias para sempre.

A promessa de alcançar “delícias para sempre” deveria chamar a nossa atenção. Neste caso, as “delícias” eternas são encontradas à “mão direita” (destra) de Deus.

A frase “destra” aparece trinta e oito vezes nos Salmos. A expressão muitas vezes se refere à força, já que a mão direita é a mão forte para a maioria das pessoas, por exemplo, a mão que agarra a espada ou a lança. Este parece ser o uso aqui. Da presença e do poder de Deus fluem “delícias para sempre”.

As crianças têm mais interesse nas “delícias” que vêm das mãos de seus pais na forma de presentes de aniversário ou Natal. Elas tendem a assumir a presença dos pais como garantida. Da mesma forma, podemos lidar com Deus como uma máquina cósmica de bênção, uma mera fonte de benefícios materiais.

Porém, neste salmo, somos lembrados a ter o Senhor diante de nós o tempo todo, pois todas as coisas vêm Dele.

Lembremo-nos de que grandes multidões seguiam a Jesus, muitas daquelas pessoas tinham seus olhos focados nos prazeres tangíveis da Sua mão direita, ou seja, Seus milagres; porém, quando Ele começou a ensinar o que significava ser Seu discípulo ou seguidor, muitos deles foram embora porque aquele ensino era muito difícil de engolir. Eles não compreenderam que as verdadeiras “delícias” que fluem de Sua “destra” eram espirituais e eternos.

Quando colocamos o Senhor sempre diante de nós, todas as “delícias” que fluem do poder de destra passam a ser nossos. A mensagem clara do Salmo 16 é que nosso maior interesse flui do alinhamento da nossa mente, coração e ser interior com a pessoa de Deus. Quando nos alinhamos às orientações do nosso Criador, alcançamos as maiores realizações possíveis. É assim que nos tornamos quem devemos ser.

Podemos ter um vislumbre de quais podem ser as “delícias” à Sua “destra” ao lermos o a citação do profeta Isaías pelo apóstolo Paulo:

"As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não entraram no coração do homem, tudo quanto preparou Deus para os que o amam" (1 Coríntios 2:9).

O Salmo 16 nos convida a nos unir ao Senhor não tanto no chamado para fazer, mas para ser.

Deus realmente é quem Ele diz ser e muito, muito mais. Nossa oportunidade é seguir ao exemplo de Davi e declarar, crer e agir de acordo com essa verdade: "Tu és o meu Senhor".

Temos a oportunidade de reconhecer e crer que não temos bem algum além do Senhor (Salmo 16:2). Este é o cerne da realidade. Toda a existência provém do Grande Eu Sou, o Criador de todas as coisas. Nele todas as coisas foram feitas, existem e subsistem (Colossenses 1:16-17).

Conviver com essa perspectiva nos leva ao mesmo lugar de Paulo, que expressou ter chegado a um ponto em que o que mais se importava era conhecer Jesus:

"Para o conhecer e o poder da sua ressurreição e a participação dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte" (Filipenses 3:10).

Quando temos olhos para ver a realidade como ela é, isso faz todo o sentido, pois a maior experiência que podemos alcançar nesta vida é conhecer a Deus e conhecer a Jesus (João 17:3). Somente nesta vida temos a oportunidade de conhece-Los pela fé. Os anjos que estão na presença de Deus há eras observam a igreja para buscar compreender as muitas facetas da sabedoria de Deus (Efésios 3:10). Andar pela fé é uma das coisas que podemos fazer nesta terra, uma missão não recebida pelos anjos.

Parece razoável, assim, concluir que nossa maior oportunidade nesta vida é entender, pela fé, que não temos bem algum além do Senhor (v. 2). Devemos viver esta realidade, caminhando com Ele diariamente e experimentando Sua presença. Devemos seguir a Jesus em obediência e serviço, confiando que alcançaremos as bênçãos prometidas por Ele aos que O amam e guardam Seus mandamentos.

Podemos nos aproximar de nosso Senhor e dizer: "Não tenho nenhum bem além de Ti" (v. 2). Ao vivermos isso, chegamos ao ponto de aceitar que Deus traça a nossa "sorte" em "lugares amenos" (v. 6), aceitando todas circunstâncias que cheguem até nós, porque sabemos que tudo é para o nosso bem.

Dentro desses limites está nosso refúgio e nossa intimidade com Deus. Ele está sempre conosco, exterior e interiormente. Nossa eterna esperança e vida estão Nele e podemos experimentar Sua alegria e Suas delícias. Quando nos distrairmos ou ficarmos sobrecarregados com as circunstâncias, devemos nos lembrar das palavras do pregador John Wesley: "Tu, somente Tu, decido conhecer em tudo o que penso, falo ou faço" (Hino: "Avante em Teu Nome, ó Senhor, irei").

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