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Significado de Salmos 19:7-11
A segunda seção do Salmo 19 (versículos 7-11) passa da consideração do que pode ser conhecido sobre Deus ao observarmos o mundo criado para uma fonte mais direta: a palavra de Deus. Agora, o próprio testemunho de Deus, falado e preservado através de várias gerações, convida os leitores e ouvintes — como nações, tribos, comunidades e indivíduos — a entrar e manter um relacionamento responsável e firme com o Senhor Deus da Criação por meio de Sua palavra revelada.
Pela primeira vez no Salmo 19, o versículo 7 invoca o nome íntimo e pessoal de Deus em hebraico, "Javé", ou Aquele que Existe. A tradução aqui é "Senhor". A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma. Revelado pela primeira vez a Moisés em Êxodo 3:14, Davi agora irá invocar repetidamente o sagrado nome pessoal de Deus nos versículos 7-11, visando sublinhar a origem e a autoridade da fonte reveladora, o Senhor Deus, refletindo assim a natureza perfeita e os atributos divinos do Senhor.
Quando aplicado estritamente dentro do estudo das escrituras hebraicas, o termo “lei” (em hebraico, "Torá") pode ser uma referência aos cinco livros de Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Além destes, no entanto, o termo se tornou mais amplamente aplicado ao que era, no tempo de Davi, um crescente corpo de escritos sagrados. Quando usado neste sentido mais amplo, o termo “lei” aponta para o que era, na época de Davi, a coleção escrita da revelação divina de Deus incluindo, entre outros, escritos que, em última análise, se tornariam os livros de Josué, Juízes, partes iniciais dos escritos do profeta Samuel, bem como o "Salmo de Moisés", o Salmo 90. Davi provavelmente tinha essa visão mais ampla da "torah" em mente ao compor o Salmo 19. Em nossa aplicação aqui, incluímos toda a Bíblia.
Os que se esforçam para viver um relacionamento harmonioso com o Senhor, mantendo-se fiel à Sua lei perfeita, são levados à plenitude e à saúde da alma. O termo hebraico para “alma”, "nephesh", indica a essência do ser humano: a constituição do corpo, da mente, do caráter e do espírito dos indivíduos. A menos que a alma humana - a pessoa inteira - comungue e receba os benefícios de seu Criador, o Senhor Deus, ela é inevitavelmente vulnerável aos danos colaterais causados pelos efeitos deletérios da corrupção mortal do pecado.
Uma alma restaurada se livra das amarras pesadas da corrupção mortal e do pecado. O pecado nos leva à escravidão e à morte, ao vício e à separação de Deus (Romanos 6:26). A lei de Deus protege, prepara e separa continuamente a nossa alma, um processo de restauração que a leva a ser guiada em direção à comunhão cada vez mais plena, abundante, libertadora e, finalmente, imortal com o Criador. Este processo de ser separada do mundo liberta a alma para ser tudo o que Deus a projetou a ser, trazendo-a, assim, à sua máxima realização (Romanos 12:1-2).
Davi aprecia o caráter multifacetado da auto-revelação de Deus. Como um diamante colocado contra o sol revela vislumbres de sua qualidade, Davi olha e descreve a auto-revelação divina a partir de várias perspectivas que não excluem a “lei” ("torah"). Testemunhos, preceitos, mandamentos, temor: a autoexpressão de Deus é muito mais rica do que a capacidade dos seres humanos em expressá-los através de palavras escritas, falas, músicas ou cantos, artes visuais ou qualquer outra disciplina acadêmica ou científica. Cada uma das revelações expressivas de Deus tem resultados significativos que elevam a alma daqueles que recebem o que por Ele é oferecido.
A auto-revelação de Deus como testemunho (v. 7b): O testemunho de Jeová é fiel e dá sabedoria ao simples. A palavra hebraica "eduth" se alinha estreitamente em significado à palavra contemporânea "testemunho", conforme usada nos processos judiciais. O uso do termo “testemunho” por Davi na construção do paralelo poético que descreve as palavras escritas de Deus destina-se a ratificar tais palavras sagradas por meio da confirmação de um testemunho crível em relação à sua confiabilidade.
Este “testemunho” não apenas fala sobre Deus, a fonte da criação e da revelação, mas também estabelece a obra redentora do Seu testemunho na vida das pessoas. Os “testemunhos” de Deus, da mesma forma que o testemunho da lei de Deus, refletem o caráter e o alcance do interesse, interação e benevolência do Senhor para com a Sua criação, particularmente com a humanidade. Esses “testemunhos” atestam a supremacia, a bondade, a santidade, a sabedoria e a busca incansável de Deus pelo que há de melhor em todas as coisas criadas, especialmente aquela criação tão parecida com Sua imagem e semelhança (Por exemplo, consulte Salmos 145:8-9).
A primeira dádiva do testemunho do Senhor é a sabedoria. A sabedoria é tão fiel, tão completa que até mesmo os mais simples entre nós são elevados ao abraçarem os testemunhos de Deus: somos feitos sábios (hebraico "chakam"). A sabedoria bíblica remete a como vivermos a vida de uma forma a nos levar aos melhores resultados possíveis. A alma humana é limitada quando carece dessa sabedoria e é deixada à mercê de um atoleiro de autoengano e mortalidade (Provérbios 18:7). Em contraste, a busca fiel do testemunho do Senhor e a sabedoria que eles concedem geram benefícios eternos para a alma humana, bem como grandes bênçãos nesta vida (Provérbios 3:5-6, 2 Coríntios 5:10).
A revelação dos princípios de Deus que nos levam à sabedoria são descritos como “preceitos”: Os preceitos de Jeová são retos e alegram o coração. A palavra hebraica “preceitos” também pode ser traduzida como "estatutos". Com base no sólido fundamento moral da "torah" (lei de Deus), os preceitos do Senhor são conselhos, regras ou códigos de comportamento orientados por princípios, dados como orientações indispensáveis para a vida individual e corporativa.
Davi sabia que o conselho do Senhor sempre levava os que o seguissem a resultados autenticamente positivos. Quando o profeta Samuel repreendeu ao rei Saul por realizar os sacrifícios de animais, em violação às diretrizes dadas pelo Senhor, sua admoestação foi feita através de um preceito: "Obedecer é melhor do que sacrificar" (1 Samuel 15:22). Seguir a Deus em obediência é o que nos leva à maior das recompensas, enraizadas na aprovação de Deus (1 Coríntios 2:9). Um pai humano amoroso aprova as coisas que beneficiarão a seus filhos. Quanto mais nosso benevolente Criador que se descreve como nosso Pai!
Talvez a jornada da vida seja acidentada; no entanto, os preceitos do Senhor são moldados pelo amor imutáavel de Deus, levando nosso coração à alegria. O termo "alegrar" traduz a experiência pessoal de paz profunda e inabalável, um sentimento permanente de felicidade, apesar das circunstâncias difíceis, pois sua origem está na fidelidade eterna de Deus. É uma alegria que não pode ser tirada ou roubada pelos golpes cruéis da vida. O coração "alegrado" por Deus será conduzido, mesmo em meio às calamidades, a "pastos verdejantes" e "águas tranquilas" (Salmo 23:2). Note que Davi está dizendo que é a iniciativa de Deus produzir alegria no coração, levando a pessoa a acessar esta experiência de profunda paz e gozo. A alegria do Senhor não é a realização da vontade ou do esforço humano, mas é uma dádiva amorosa de Deus.
A auto-revelação de Deus também é descrita como “mandamento”: O mandamento de Jeová é puro e esclarece os olhos. Numa sociedade onde muito se discute sobre "deveres" e "obrigações", o Senhor nos apresenta o que devemos fazer para cumprirmos Seus propósitos e, assim, lançar luz às responsabilidades da humanidade relacionadas a esses propósitos. Não há espaço para a incerteza ou timidez onde o Senhor ordena que um mandamento (hebraico "mitsvah") seja cumprido. Como Ele é o nosso Criador, nossa maior realização como seres humanos somente virá através do cumprimento do propósito para o qual fomos criados. O mandamento do Senhor nos mostra o caminho que conduz ao nosso maior interesse.
O mandamento do Senhor é puro. No Novo Testamento, Tiago descreve a pureza de Deus: "em quem não sombra ou variação" (Tiago 1:17). O mandamento do Senhor é originado na própria pureza de Deus. Não há elemento no mandamento do Senhor capaz de diluir seu propósito, comprometer sua integridade ou corromper sua natureza perfeita. O mandamento do Senhor é limpo e puro (hebraico "bar") em todas as aplicações religiosas, morais, éticas, interpessoais e pragmáticas. Seus mandamentos sempre para o nosso bem. Isso jamais muda.
O mandamento do Senhor é puro e esclarece os olhos. Jesus enfatiza o maior dos mandamentos referindo-se a Deuteronômio 6:5: amar a Deus de todo o nosso coração; e Levítico 19:18: amar ao próximo como a nós mesmos (Mateus 22:36-40; Marcos 12:28-31). O amor a Deus e o amor ao próximo são algo inegociável ao povo de Deus. Foi o amor de Deus que trouxe Seus mandamentos com o propósito de esclarecer os nossos olhos. Em obediência ao governo de Deus e Seus mandamentos, alcançamos visão e compreensão irrepreensíveis — iluminação.Desta forma, podemos responder a Deus, à criação e aos outros com amor autêntico e redentor (1 João 4:19).
Pouco antes de sua morte no Calvário, Jesus emitiu uma ordem abrangente a Seus seguidores: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei" (João 13:34). A essência comum que percorre os mandamentos do Senhor, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, é o amor. O amor de Deus — inseparável do fundamento de Seus mandamentos — tem um impacto iluminador e purificador nos relacionamentos muitas vezes confusos que as pessoas buscam ter com Deus, consigo mesmas e com seu próximo.
O amor de Deus - o "porquê" da criação e da redenção - traz vida e luz onde antes só haviam confusão e trevas. O livro de 2 Samuel registra o cântico de louvor de Davi a Deus após ser libertado das mãos assassinas do rei Saul: "Tu que fazes resplandecer a minha lâmpada; Tu, Senhor, derramas luz nas minhas trevas" (2 Samuel 22:29).
[Para saber mais sobre este tema, veja o artigo "Os Dez Mandamentos Reafirmados", um comentário sobre Deuteronômio 5, trazendo uma excelente discussão sobre a coleção mais rconhecida dos mandamentos do Senhor.]
O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Ela nos leva a seguir às Suas leis, algo que nos leva às maiores bênçãos. O temor de Jeová é limpo e permanece para sempre. Onde a lei (em hebraico, "torah") fala, o Senhor (em hebraico, "Yahweh") fala. Neste sentido, um não é distinto do outro. Por meio de um estratagema poético usado por Davi aqui, a palavra "Senhor" é equiparada à palavra "lei", transmitindo a perfeita unidade entre o Senhor e Sua lei. Davi aponta para o caráter imortal de Deus e a mesma eternidade de Sua lei. Durante seu ministério na terra, Jesus descreveu a necessária perseverança na lei de Deus:
"Porque em verdade vos digo: Enquanto não passar o céu e a terra, de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, sem que tudo se cumpra" (Mateus 5:18).
A palavra de Deus nos é dada na forma escrita. As palavras são um meio pelo qual os seres humanos transmitem conhecimento. Jesus Cristo, como o próprio Deus, é o Verbo feito carne (João 1:1, 14).
O temor de Jeová é limpo e permanece para sempre. A palavra “temor” geralmente alude a situações nas quais nos preocupamos com possíveis consequências adversas a serem evitadas. Quando Deus deu os Dez Mandamentos a Israel, o povo pediu a Deus que falasse por meio de Moisés. Eles não queriam ouvir a Deus diretamente e arriscar morrer (Êxodo 20:19). Naquela circunstância, o povo temia a morte e procurava evitá-la. Curiosamente, Deus responde que eles não deveriam temer a morte física tanto quanto deveriam temer pecar contra Ele, quebrando Seus mandamentos (Êxodo 20:20).
Quando tememos ao Senhor, reconhecemos que quebrar Seus estatutos produz a pior das consequências adversas para nossas vidas. Reconhecemos que ao quebrarmos os mandamentos de Deus, isso nos leva à corrupção, sujeira, degradação e desfiguração do que Deus nos fez para ser. Em contraste com uma vida de pecado, o temor do Senhor é limpos, ou puro. As consequências do pecado são como senhores duros que a tudo destroem (Romanos 1:22,,, 24266:16). Andar no pecado eventualmente nos leva à perda de nós mesmos (Romanos 1:26). Porém, andar nos caminhos de Deus nos leva à nossa maior realização e nos conduz a possuir a recompensa da nossa herança (Colossenses 3:23; Filipenses 2:5-11).
Quando nos aproximamos da palavra de Deus, não podemos tomar o que apreciamos e jogar fora o que não gostamos. Não há nada na Palavra de Deus que não seja para o nosso bem; tudo é completamente puro/limpo. Nosso grande “temor” deve ser nos afaster dos caminhos de Deus; se fizermos isso, trilharemos o caminho da destruição e da perda (Romanos 6:23). Também não devemos ajustar a palavra de Deus à mudança dos tempos. Deus é a fonte eterna da eternidade; Seu amor, santidade e pureza jamais cessam ou diminuem. Sua palavra não muda e Seus caminhos transcendem os tempos e as épocas (Hebreus 13:8).
Davi completa seu registro poético quanto aos aspectos da autorevelação de Deus com uma frase maravilhosa: Os juízos de Jeová são verdadeiros. O ponto central, a essência da permanência do mundo, é Jeová, o Senhor. Seus julgamentos (hebraico "mishpat"), por um lado, e seu caráter verdadeiro por outro, produzem um equilíbrio perfeito.
Os juízos de Jeová são verdadeiros (hebraico "emeth"). "Emeth" também é traduzido como "correto" e "fiel". Podemos depender de um julgamento consistente e correto da parte de Deus. Ele nunca comete erros. Quando Ele julga, Seu julgamento é sempre a afirmação, confirmação e veredito corretos.
O termo “juízos” se coloca como um descritor positivo. Nós, leitores modernos, podemos concluir, equivocadamente, que este termo signifique castigo ou condenação; porém, aqui, “juízos” referem-se a decisões, descobertas ou declarações feitas por uma autoridade. A Palavra do Senhor é conclusiva; ela não nos deixa no escuro. Embora, às vezes, não pareçam ser corretos, Seus juízos são sempre fieis e verdadeiros.
Como extensão do próprio caráter de Jeová, Seus julgamentos são sempre verdadeiros. Eles são confiáveis, verificáveis, íntegros, corretos, apropriados, indiscutíveis. Todos estes termos servem para definir o que Davi queria dizer com “verdadeiros”. Há, no entanto, mais do que verdade em relação aos julgamentos do Senhor. Assim como acontece com Sua própria natureza, a verdade de Seus julgamentos é permeada por Seu amor e bondade (Salmos 107:1; Salmos 136:1).
A frase final de Davi no versículo 9 é um eco da frase anterior relacionada aos “juízos” de Deus: Eles são inteiramente justos. Não há erro em parte alguma dos juízos de Jeová. A palavra hebraica para “justiça”, "tsadeq", é inequívoca em seu significado: é uma justiça imaculada, uma retidão inflexível. Ela transmite pureza moral, ética e relacional. Ela é o solo fértil no qual floresce o amor autêntico e duradouro. Ela é a harmonia entre o Criador e a criatura. Tudo opera de acordo com seu verdadeiro projeto.
O versículo 10 dá a última pincelada de arte poética no louvor dos mandamentos revelados de Deus: Eles são mais para desejar do que o ouro. Os seres humanos desejam o ouro porque consideram que seu poder de compra pode melhorar e elevar suas vidas. A sabedoria de Deus, portanto, concedida através de Seus mandamentos, é mais desejável ainda do que o ouro para nossa vida nesta terra. Seus mandamentos nos mostram o caminho para vivermos uma vida de abundância espiritual, independentemente das circunstâncias físicas.
Aquilo que consideramos precioso, o ouro, não pode ser comparado ao valor inerente dos escritos sagrados de Deus. Conforme afirma Paulo:
"Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça; para que todo homem de Deus seja adequado equipado para toda boa obra" (2 Timóteo 3:16).
A palavra escrita de Deus nos educa e treina para a obra que Ele nos designou enquanto vivermos esta vida. Ao realizarmos este trabalho, alcançamos nossa maior satisfação. Deus designou a cada pessoa uma contribuição específica e única na construção do Seu Reino:
"Porque somos obras Suas, criados em Cristo Jesus para as boas obras, que Deus preparou de antemão para que andássemos nelas" (Efésios 2:10).
A comparação entre a quantidade e a qualidade do ouro fino também fica aquém dos mandamentos de Deus. Sim, a lei de Deus é mais preciosa do que muito ouro fino. Não há ouro suficiente no mundo para se comparar ao valor eterno da verdade, da justiça e do amor contido nas palavras reveladas de Deus.
O valor não deve ser calculado com base em conceitos de valor material; há um prazer relacional disponível para a humanidade que só pode ser encontrado na comunhão com seu Criador. Andar nos caminhos de Deus é mais doce do que o mel e os destilar dos favo de mel. Davi compara a vida em harmonia com a lei do Senhor a conhecidas e exclusivas experiências sensoriais profundamente agradáveis e satisfatórias. A viscosidade das gotas de mel traz consigo um quadro completo de doçura de sabor e aroma, bem como uma sensação tátil única. Da mesma forma que tal doçura domina nossos sentidos, assim a doçura da lei de Deus ultrapassa e inspira aos que a abraçam, trazendo benefícios eternos.
Davi, um excelente comunicador, completa a segunda seção do Salmo 19 com uma palavra aos que não eram necessariamente dados a simpatias poéticas. No versículo 11, o salmista é direto em relação a uma conclusão importante a ser tirada da linguagem figurativa dos versículos anteriores referentes aos juízos do Senhor: Demais disso, por meio deles o teu servo é advertido. A palavra “servo” (em hebraico, "ebed") era aplicada aos que pertenciam a um senhor, tendo a responsabilidade de servi-lo. Quando uma pessoa entra em um relacionamento de aliança com Deus, ela passa a ter a responsabilidade de viver sob Sua lei. O termo “servo” aqui pode ser traduzido como escravo, subordinado, seguidor ou adorador.
Como explicar, então, a insistência do Novo Testamento de que os crentes em Jesus não estão mais sob a lei (Romanos 3:21; Gálatas 5:18)? Esta realidade não anula o imenso valor da lei de Deus (Romanos 7:7, 13). O princípio do Novo Testamento transcende as normas e chega ao espírito por trás delas. Conforme afirmado por Paulo:
"...para que se cumpra em nós a exigência da Lei, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito" (Romanos 8:4).
E novamente:
"Porque à liberdade fostes chamados, irmãos; não transformeis vossa liberdade em oportunidade para a carne, mas por meio do amor servi uns aos outros. Pois toda a Lei se cumpre em uma palavra: "AMARÁS A TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO" (Gálatas 5:14-15).
Quando os crentes do Novo Testamento andam em Espírito, eles cumprem o propósito para o qual a lei de Deus foi dada, ou seja, apontar cada pessoa ao melhor caminho para si mesmo e para todos à sua volta.
Os servos de Deus advertidos pela palavra de Deus são todos os integrantes da família de Deus. O Novo Testamento usa o termo “servo” para se referir àqueles que creram em Jesus e nasceram de novo (João 3:5; 14-16; 1 Pedro 2:16; Apocalipse 1:1). Os crentes em Cristo têm o imenso privilégio de ouvir à voz de Jesus e entrar em íntima comunhão com Ele, a fim de aprender sobre Seus caminhos e alcançar o maior dos tesouros (Apocalipse 3:18-21).
O servo é “advertido”. Isso demonstra a intenção transparente da lei do Senhor de oferecer correção a comportamentos destrutivos. A lei nos leva a comportamentos benéficos. Este alerta é muito parecido com os manuais de instrução que acompanham os aparelhos eletrônicos, sendo projetados para facilitar e oferecer segurança a trabalhos difíceis. Utilizado dentro dos parâmetros projetados, o equipamento facilita as tarefas. Se os cuidados de segurança não forem ouvidos, no entanto, grandes danos podem se seguir.
Todo o Salmo 19 fala da lei, estatutos, mandamentos e juízos de Deus. Estas não são palavras que normalmente associamos à doçura do mel. Correção, repreensão, instrução são as palavras que normalmente associamos a gostos amargos. Porém, Davi descreve a direção de Deus exatamente como doçura.
Por que? As palavras de Deus nos alertam sobre como evitarmos danos. Não apenas isso: a direção e a instrução de Deus nos mostram como vivermos construtivamente, trazendo-nos as maiores recompensas.
Os servos do Senhor recebem diretrizes, direcionamentos e proteção específicos, detalhando as expectativas sob as quais vivem e se relacionam uns com os outros e com Deus. Os limites éticos, as exigências morais e as convenções relacionais ficam aparentemente claras ao povo de Deus através de Sua Palavra.
Precisamos da Palavra de Deus para realmente discernirmos o que é para o nosso bem. Há uma estranha realidade nos seres humanos - normalmente não sabemos o que realmente queremos. Precisamos de direção. Podemos pensar que sabemos. Podemos pensar que mais alguns dólares na conta bancária ou mais alguns seguidores no Instagram vão nos levar aos desejos do nosso coração. Porém, este "mais" é sempre um destino inatingível. Às vezes, temos objetivos específicos que, acreditamos, nos trarão felicidade. Muitas vezes, entretanto, muitos dos que finalmente alcançam tais objetivos aos quais tanto desejavam colhem um vazio imenso.
Vivemos em um mundo que busca o ouro e o mel, mas não percebe o suprimento infinito de algo muito superior a ambos. A Palavra de Deus fornece tesouros espiritua]is em abundância e está prontamente disponível a todos nós, caso sigamos aos caminhos de Deus, conforme descritos em Sua Palavra.
A Palavra de Deus é mais preciosa que o ouro e mais doce que o mel. Ela nos conduz por caminhos de realização dos nossos desejos mais profundos.
Ao longo do Salmo 19, Davi se mostra otimista e não fatalisticamente resignado. As consequências negativas da rejeição das leis reveladas de Deus são implícitas, ou seja, não mencionadas diretamente. Davi se concentra nos aspectos positivos de levarmos a sério Javé a Deus e Suas leis. Para concluir sua composição de louvor às leis, testemunhos, preceitos, mandamentos e juízos do Senhor, Davi deixa ao leitor uma declaração resumida: Em os guardar há grande galardão.
A palavra hebraica "eqeb", traduzida como “galardão”, especifica uma consequência ou resultado. Dadas as descrições poéticas nos versículos 7-10, fica claro que Davi pretende que seu público entenda que a consequência final de abraçar ao Senhor e Sua lei será nada menos que uma grande recompensa. É um erro de cálculo significativo limitarmos a recompensa em termos de ganho de riquezas ou status social. Essas coisas passam. Por outro lado, as riquezas de Deus são eternas.
Uma alma restaurada; sabedoria divina recebida; um coração ensinado a alegrar-se; uma iluminação da mente. Estas são, de longe, recompensas muito mais valiosas que qualquer coisa material ou qualquer ganho sócio-político. Isso porque os primeiros são eternos, como parte da natureza pura do Deus Imortal. Os últimos são meros trapos rasgados que vestem nossa mortalidade e são destinados à corrupção, à destruição e à morte.