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Significado de Salmos 23:1-3
Como muitos outros capítulos no Livro dos Salmos, o capítulo 23 é explicitamente descrito como sendo de Davi. A palavra “salmo” (em hebraico, "mizmor") significa melodia. É um poema musicado, uma canção.
Davi começa o salmo com um anúncio: O Senhor é o meu pastor. O nome de Deus (em hebraico, "Javé") é traduzido aqui como “Senhor”, como muitas vezes nas Escrituras. Javé significa "O Existente" (ou o "Auto-existente; Eterno"). Na tradição judaica, o nome não deveria ser jamais pronunciado. Era um reconhecimento de Deus como a única divindade, a única realidade. O judaísmo é considerado como a primeira religião monoteísta. Portanto, este reconhecimento de Javé como o único e verdadeiro Existente é uma afirmação significativa em si mesma, uma declaração à qual o público original ouvia regularmente como algo poderosamente distinto dentro de um mundo dominado pelo politeísmo.
O “pastor” era uma imagem familiar e significativa, tanto na cultura quanto na religião do povo judeu. Era uma metáfora de fácil assimilação em seu tempo. A sociedade, baseada na agricultura, estava totalmente familiarizada com o papel dos pastores que orientavam e protegiam as ovelhas. O pastor via e sabia mais do que suas ovelhas. Elas estariam perdidas sem ele, mesmo que não entendam ou gostem de sua correção.
A história do Judaísmo (e seu “descendente”, o Cristianismo) contém muitos personagens que serviam como pastores. O primeiro foi Abel (Gênesis 4:2), que trouxe as primícias de seu rebanho como oferta a Deus. Raquel, filha de Labão, era encarregada de cuidar dos rebanhos. Pastorear ovelhas tornou-se responsabilidade de Jacó (mais tarde renomeado Israel) ao casar-se com Raquel; mais tarde, o memso ocorreu com seus doze filhos (que se tornaram as doze tribos de Israel), mais notadamente José (Gênesis 29-30). Alguns descendentes posteriores também foram pastores, como Moisés, o legislador, que cuidava de rebanhos (Êxodo 3) e o rei Davi (1 Samuel 16-17).
A implicação do termo “pastor” aqui é que nós, seres humanos, somos como ovelhas. Esta é uma parte importante da metáfora. As ovelhas são conhecidas como algumas das menos inteligentes e carentes entre os animais domésticos. Elas possuem uma capacidade muito limitada de saber o que é melhor e, portanto, precisam de mais orientação que outros animais. As ovelhas também quase não possuem capacidade alguma de se defender. Elas são muito lentas para fugir e não têm capacidade real para lutar. Isso demonstra que, em comparação com Deus, nós, como seres humanos, somos extremamente limitados, frágeis e dependentes. Este salmo, em grande parte, fala sobre a adoção de uma certa mentalidade. Parte da metáfora diz respeito à admissão de nossa total dependência. Ela ecoa a oração do Pai Nosso, que reconhece nossa extrema dependência de Deus:
"O pão nosso de cada dia nos dá hoje" (Mateus 6:11).
Assim, a afirmação de que “o Senhor é meu pastor” é prática: Deus guia e protege aos limitados e dependentes. É também um reconhecimento de que Deus é líder e protetor supremo. Todos os antepassados que lideraram a nação de Israel (Abraão, Moisés, etc.) estavam a serviço de Deus, o Guia supremo.
A próxima linha da melodia de Davi - nada me faltará - é uma expressão de contentamento. A frase pode ser vista como a escolha de Davi por uma perspectiva correta, em vez de apenas reagir a um sentimento. Davi estava declarando uma realidade. Ele escolhe uma perspectiva que instruiria suas ações, em vez de meramente reagir a emoções ou apetites.
“Nada faltar” não diz respeito aos desejos da nossa carne humana. Este versículo não sugere que o Senhor nos dará tudo o que queremos. Esta é uma declaração sobre necessidades. Ao termos a Deus como nosso Pastor, sempre teremos o que é necessário. Não nos faltará provisão nas necessidades. Teremos tudo o que for essencial para vivermos. Outra maneira de afirmar isso pode ser: "Com o Senhor como nosso Pastor, tudo o que precisamos é exatamente o que já temos".
Um dos papéis significativos do pastor é manter os limites das ovelhas. Ele usa o gancho de seu cajado para afastar as ovelhas do perigo. Pode não ser o que as ovelhas gostam, mas é o que elas precisam (em última análise, o que elas realmente desejam). As ovelhas não possuem uma perspectiva suficientemente capaz de realmente saber o que é de seu melhor interesse. Assim, o pastor que guarda suas fronteiras realmente as ajuda a ter paz.
O Pastor “faz-me repousar em pastos verdejantes”. Ao termos um guia, um protetor, um pastor que sabe mais que nós, que guarda melhor que nós, que cuidando de nós, gozaremos de liberdade e paz.
A expressão “pastos verdejantes” vem de duas palavras em hebraico: "Dese" é frequentemente traduzida como "grama"; "na'a" significa "habitação" ou "casa", às vezes "pasto". Assim, o coração da expressão pode ser traduzido como "um habitat verde", um lar tranquilo e confortável. O verbo “fazer deitar” indica uma ação aberta e contínua. A idéia é que o pastor conduz de forma constante e consistente as ovelhas a lugares de alimento, sustento e bênçãos. Mais uma vez, o conceito é: Onde quer que eu esteja, este será o melhor lugar para mim. O fato de Davi escrever isso em forma de música a ser cantada era uma indicação de que sua intenção era a de criar uma decisão mental, uma perspectiva verdadeira que não é assimilada naturalmente.
O termo “deitar-se” é "rabas". Esta palavra hebraica era usada para quando um animal dobrava as pernas e descansava no solo. Esta é outra ilustração agrícola muito familiar à época. Um animal só fazia isso quando estivesse de barriga cheia, sentindo-se seguro e provido. A idéia é a seguinte: Onde quer que eu esteja, quaisquer que sejam as circunstâncias, estarei totalmente provido, independentemente das aparências.
Ele (o pastor) “conduz-me às águas de descanso”. O pastor não apenas proporciona descanso na forma de pastagens verdes, mas descanso em forma de total provisão. Ele guiava, ou levava as ovelhas às águas tranquilas. Diz-se que as ovelhas têm medo de águas correntes e, por isso, normalmente não bebem em um riacho. Ao conduzi-las a águas tranquilas, o pastor permitia que as ovelhas bebessem em paz. A idéia aqui ecoa o versículo do Novo Testamento que afirma:
"Não vos tem sobrevindo tentação que não seja comum aos homens; mas Deus é fiel, o qual não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas também, com a tentação, proverá o meio de saída, para poderdes suportá-la" (1 Coríntios 10:13).
Águas tranquilas nos levam a pensar nos momentos nos quais Deus nos encontra onde estamos, nunca nos testando além do que somos capazes de suportar. A provisão do pasto verdejante é um retrato de que sempre teremos o que precisamos, independentemente de como as circunstâncias possam aparecer. A calmaria das águas tranquilas mostra que Deus sempre provê de forma a nos impactar. Ele sempre fornece um meio de escape para que possamos suportar as dificuldades. Ao reconhecer essa realidade e escolher essa perspectiva, Davi era capaz de descansar em paz. A paz seguia a Davi. O descanso não estava no local, situação ou nível de atividade. O descanso estava no Guia.
Desta forma, continua Davi, “ele refrigera a minha alma”. O termos em hebraico para a palavra “refrigerar” é "sub", literalmente "retornar" ou "voltar atrás". O Pastor nos traz de volta à vida, longe do cansaço, do pavor e da destruição. Ele refrigera a nossa alma. A palavra “alma” (em hebraico, "nepes"), assim como o grego "psuche", significa o todo de uma pessoa. Podem ser traduzidos como vida, espírito, plenitude de emoções e/ou atividade do eu. Engloba todas essas coisas, a pessoa como um todo. O Pastor nos guia para o descanso, para a realização e para a restauração, permitindo-nos viver a vida que fomos criados para viver, a existência que realmente desejamos — de paz e significado.
Isso independente das circunstâncias. Nosso bem-estar está enraizado na dimensão espiritual. Isso se sobrepõe às realidades físicas. Nossas verdadeiras e mais profundas necessidades serão sempre supridas se seguirmos ao nosso Pastor e reconhecermos Sua provisão. Porém, isso requer a escolha de uma nova mentalidade, que é exatamente o propósito do salmo. Escolher essa mentalidade nos permitira viver acima das circunstâncias.
Os três primeiros versículos do Salmo 23 podem ser tomados como um bloco. Este bloco conclui com a expressão: Guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome. Davi louva a Deus pela tranquilidade e restauração. Agora, ele o louva pela atividade. Ele nos “guia nas veredas da justiça”. Isso significa que Deus nos ajuda a realizar as atividades corretas, construídas sobre o fundamento de Seu senhorio, a segurança de Sua proteção e a restauração da nossa alma (vida). A palavra para “vereda” aqui é "ma'gal", significando "entrincheiramento" ou "trilha"; ou seja, um caminho pré-estabelecido. Assim, o que Deus faz aqui é alinhar a vida do salmista (e de cada um de nós) no caminho pré-estabelecido do bem. O objetivo do Pastor não é o de escoltar as ovelhas para onde elas quiserem ir, o que provavelmente prejudicará a si mesmas. É orientá-las ao lugar de seu melhor interesse.
O apóstolo Paulo afirma que nosso melhor interesse é sermos conformados à imagem de Cristo. Este é um propósito divino que se sobrepõe às realidades físicas. Conforme escreveu:
"Sabemos que aos que amam a Deus, todas as coisas lhes cooperam para o bem, a saber, aos que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele fosse o primogênito entre muitos irmãos" (Romanos 8:28-29).
Deus é como um Pastor, fazendo com que tudo o que ocorre em nossas vidas, todas as circunstâncias, trabalhem para o nosso "bem", de forma a nos "conformar à imagem de Seu Filho". Nós, como ovelhas, tendemos a não saber o que é bom e a priorizar a busca de confortos físicos. Deus sabe o que é melhor e permite as dificuldades em nossas vidas para que possamos completar o nosso "propósito".
Tudo isso por causa do Seu nome. O propósito das nossas vidas tem a ver com o “Seu nome”. O nome de Deus inclui Seu caráter. O propósito de Deus para os seres humanos é que eles participem e dêem testemunho de Seu Reino e Sua bondade. Os seres humanos foram criados à imagem de Deus (Gênesis 1:26-27). A intenção divina de Deus é que os seres humanos sejam totalmente conformados à Sua imagem, ao Seu nome.
Este salmo, ou canção, fala sobre a escolha de uma mentalidade e inclui uma proclamação de ação de graças por quem Deus é, pelo que Deus provê individualmente. Ele é direcionado ao propósito comunitário de toda a nossa vida. Ao agradecermos a Deus pelo que Ele é, Davi orienta sua mente a aceitar que "tudo o que acontece em minha vida é para o meu bem". A gratidão é o caminho para aceitarmos e abraçarmos o fato de que a provisão de Deus está sempre presente, independentemente das circunstâncias. Deus está sempre nos moldando e nos conformando à Sua imagem, como um oleiro que molda o barro. Ao escolhermos ser gratos por isso, nos vestimos de uma atitude, uma perspectiva que nos permite receber tudo o que ocorre em nossas vidas com plena confiança na provisão de Deus.
Notaremos que esses três primeiros versículos se referem a Deus como "Ele". A segunda metade do Salmo 23 refere-se a Deus como "Tu". Isso sugere um foco comunitário nos três versículos seguintes. Falar sobre Deus na terceira pessoa sugere a presença de outras pessoas, como se, de certa forma, Davi estivesse explicando quem Deus era à sua comunidade. Ou, melhor dizendo, todos estavam, ao mesmo tempo, proclamando essas verdades juntos.
A segunda metade do Salmo 23 refere-se a Deus na segunda pessoa (Tu), uma comunicação direta entre Deus e Davi. É como se o salmista estivesse deixando de falar sobre Deus para falar com Deus. Talvez isso signifique uma progressão. Primeiro observamos a Deus e aceitamos a realidade de Sua provisão. Escolhemos a perspectiva de que "quaisquer que sejam as circunstâncias em nossas vidas, isto é o melhor para nós agora, ou seja, uma oportunidade de nos conformarmos à Sua imagem". Uma vez que escolhemos tal perspectiva sobre nós mesmos e nossas circunstâncias (como ovelhas dependentes), estaremos prontos para escolher a perspectiva sobre o Deus Criador, nosso divino Pastor.