AaSelect font sizeSet to dark mode
AaSelect font sizeSet to dark mode
Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência de navegação e fornecer conteúdo personalizado. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso de cookies conforme descrito em nossa Política de privacidade.
Significado de Zacarias 10:1-5
Na última seção, Zacarias previu o tempo em que o SENHOR defenderia Seu povo da aliança, cuidaria deles e restauraria sua sorte, porque eles eram preciosos para Ele (Zacarias 9:14-17). Aqui, o profeta interrompe sua descrição sobre o futuro e aborda as necessidades e preocupações imediatas dos judeus de sua época. Ele abre seu discurso com uma ordem: “Pedi a Jeová chuva” (v. 1).
A ordem apontava para o SENHOR, o Deus Todo-poderoso, que havia estabelecido um relacionamento de aliança com Judá. Ela também contrastava Jeová com os deuses pagãos que não passavam de ídolos surdos e mudos (Deuteronômio 32:21). Em Zacarias, os exilados da Judéia que retornavam deveriam entender que o SENHOR era o Deus da provisão. Eles podiam pedir e Ele supriria suas necessidades.
O verbo “pedir” os convidava a tomar uma atitude diante de Deus. No Salmo 27, o salmista volta-se a Deus com fé ao experimentar perseguição. Ele pede para "habitar na casa do Senhor todos os dias" de sua vida (Salmo 27:4). Em Zacarias, os exilados que retornavam à sua terra deveriam pedir por chuva.
Os antigos israelitas viviam em um mundo agrícola, onde a seca e a aridez eram comuns. Eles dependiam muito das chuvas para suas plantações. Assim, a chuva era vital, simbolizando vida e abundância (Deuteronômio 11:11). Ela sinalizava o favor e a bênção divinas, geralmente entendidas como recompensa pela obediência às ordens da aliança. Caso contrário, eles experimentariam a ausência de chuva, significando privação, um sinal do desprazer divino, conforme nos mostra o livro de 1 Reis (1 Reis 17:1).
Nos dias de Zacarias, o povo da aliança não experimentou muitas chuvas. Por que isso aconteceu? O profeta Ageu, contemporâneo de Zacarias, nos conta que, quando os judeus retornaram à sua terra natal após os anos de cativeiro na Babilônia, o Senhor os instruiu a reconstruir o templo, destruído pelos babilônicos em 586 a.C. Os exilados que haviam retornado iniciaram o projeto de reconstrução, mas pararam por cerca de 16 anos, racionalizando que não era o momento certo para concluí-lo.
No entanto, eles se ocuparam na construção de suas próprias casas (Ageu 1:2-4). O SENHOR não estava satisfeito com eles; assim, Ele os disciplinou enviando seca à terra, permitindo-lhes experimentar a fome (Ageu 1:5-11). O profeta Zacarias encoraja os exilados que estavam retornando a pedir chuva ao Senhor, já que não experimentavam a prosperidade agrícola havia um bom tempo.
Em uma sociedade agrícola à mercê dos caprichos do clima, o momento da chuva era crítico. Assim, Zacarias instrui o povo a pedir que Jeová enviasse “chuva no tempo das chuvas serôdias” (v. 1). Em Israel, havia duas estações chuvosas. A primeira era a chuva temporã, ou chuva de outono (outubro-novembro), que encerrava o verão seco e soltava o solo em preparação para o plantio. A segunda era a chuva serôdia, ou chuva de primavera (março-abril), que proporcionava o período final de crescimento antes das colheitas (Deuteronômio 11:14).
O profeta fala sobre a última chuva apenas porque era a chuva que afetaria as colheitas. Seria uma dupla bênção, fruto da provisão do Senhor.
Zacarias, então, descreve o poder do Deus da aliança. Ele afirma: “Jeová que faz sair relâmpagos, ele lhes dará chuvas copiosas” (v 1). As antigas nações do Oriente Próximo que cercavam Israel e Judá eram politeístas, ou seja, acreditavam em muitos deuses. Eles criam que necessitavam ter mais de uma divindade para satisfazer suas necessidades. Eles adoravam ao deus da tempestade, que supostamente trazia chuva e fertilidade a seus campos.
Para os cananeus, Baal era a divindade das tempestades e da chuva. Os israelitas pré-exílicos seguiram às práticas cananéias e muitas vezes atribuíam a fertilidade dos campos a Baal, enquanto reconheciam publicamente ao SENHOR como seu Deus (Oséias 2:8). Por essa razão, Zacarias instrui a comunidade pós-exílica de Judá a ser clara em relação ao assunto. Eles deveriam buscar ao Senhor, e não a Baal, como sua fonte de bênção, porque Deus lhes daria “chuvas copiosas, dará a cada um erva no campo” (v. 1).
Tendo descrito o poder do Senhor para prover a chuva, Zacarias apresenta a razão para confiarem Nele. Ao fazer isso, ele contrasta Jeová, o Deus da aliança, com os falsos deuses. Em poucas palavras, ele diz a seus ouvintes que o Deus Susserano (Governante) era o Todo-poderoso. Ele podia fazer o que quisesse. Ele era fiel e verdadeiro. Os falsos deuses eram impotentes e insignificantes: “...os terafins têm falado vaidade, e os adivinhadores têm visto mentira; têm contado sonhos falsos, procuram consolar em vão” (v. 2).
O termo “terafim” é a transliteração de uma palavra hebraica para os ídolos domésticos. Ela geralmente descreve pequenos objetos sagrados e portáteis, especialmente os ídolos usados para a adivinhação. Os antigos israelitas frequentemente associavam essas pequenas imagens à sorte, segurança e prosperidade. Estes foram os itens roubados por Raquel de seu pai Labão, o que ocasionou sua perseguição furiosa (Gênesis 31:19, 34).
O profeta Zacarias personifica o ídolo “terafim” e declara que ele falava mentiras. Em outras palavras, seu uso pelo povo de Deus os havia levado a cometer atos iníquos. Em Deuteronômio, Moisés condena tais práticas idólatras (Deuteronômio 18:9-14). A idéia básica por trás da adoração a ídolos é: "Estou no controle dos poderes divinos, eles respondem a mim". Isso gera uma atitude de impiedade e exploração que acaba levando as pessoas a imitar as culturas pagãs.
Os adivinhos tentavam manipular o ambiente através de meios místicos e espirituais para preverem o futuro. Muitas vezes eles liam os sinais para tentar interpretar acontecimentos estranhos. Eles enganavam as pessoas com falsas visões e sonhos porque suas mensagens não se originavam em Deus (Jeremias 23:32). De fato, eles consolavam em vão, dando falsas esperanças ao povo de Deus. Eles desviavam o povo de Deus, reforçando a crença de que podiam manipular as forças divinas para fazer a vontade das pessoas. Como resultado, o povo “segue seu caminhos como ovelhas” (v. 2).
As ovelhas eram parte integrante da economia israelita desde os primeiros dias (Gênesis 4:2). Abraão, Isaque, Moisés, Davi e Amós eram todos pastores (Gênesis 12:16, 26:14; Êxodo 3:1; 2 Samuel 7:8; Amós 1:1). As ovelhas dependiam de pastores para sua proteção, direção, cuidado e abrigo, porque eram animais pouco inteligentes. Elas são muito lentas para fugir e fracas para lutar por si mesmas.
As ovelhas também são propensas a vagar e são incapazes de encontrar seu caminho de volta ao curral (aprisco), mesmo quando ele está próximo. Em suma, as ovelhas não sobreviveriam muito tempo sem um pastor porque não sabem o que fazer. Em Zacarias, o profeta compara o povo de Judá a ovelhas perdidas, sem um verdadeiro senso de direção. “São aflitas porque não há pastor” (v. 2).
Isso significava que os responsáveis por liderar o povo e cuidar dele negligenciavam seus deveres. Aqueles que deveriam buscar o melhor interesse do povo os explorava. Isso provavelmente indicava os pagamentos que o povo lhes fazia para interceder por eles junto às divindades pagãs. Esses maus líderes, portanto, exploravam seu rebanho e os ensinava a serem, eles próprios, exploradores. Portanto, eles mereciam a disciplina divina.
O profeta se afasta brevemente da cena, permitindo que Deus falasse diretamente a Seu povo. O objetivo do discurso direto era o de adicionar mais peso à mensagem. Deus declara: “Já se acendeu a minha ira contra os pastores, e castigarei os bodes”. A ira de Deus é Seu intenso desagrado. Deus é santo. Embora seja longânimo, Ele eventualmente visita com juízo o pecado. Quando os seres humanos pecam, eles quebram sua comunhão com Deus, separando-se de Seus bons desígnios.
A ira de Deus é particularmente reservada aos líderes que desviam as pessoas do bom caminho. Há graves consequências pelo desvio daqueles que nos são confiados. Jesus usou uma imagem hiperbólica para enfatizar a realidade de que Deus responsabilizará a todos os líderes:
Aquele que receber um menino, tal como este, em meu nome a mim é que recebe; mas quem puser uma pedra de tropeço no caminho de um destes pequeninos que creem em mim, melhor seria que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho e que fosse lançado no fundo do mar (Mateus 18:5-6).
Deus expressa o mesmo sentimento em Sua aliança/tratado com Israel, afirmando que lidaria severamente com os que oprimissem aos "estrangeiros" ou "viúvas e órfãos" (Êxodo 22:22-24). Esses versículos mostram por que a ira de Deus se acendeu contra os pastores ou líderes de Israel, que desviavam Seu povo e os explorava para seu próprio benefício.
Em Zacarias, a ira de Deus se acendeu contra os pastores, os líderes corruptos dentro da comunidade de Judá que desviavam o povo de Deus. O SENHOR refere-se a eles como “bodes”, uma vez que esses animais normalmente lideram os rebanhos (Isaías 14:9). Uma vez que os líderes da Judéia desagradavam a Deus, Ele os dispersaria. “porque Jeová dos Exércitos tem visitado o seu rebanho” (v. 3). Deus é o verdadeiro Pastor de Israel. Seus servos (os líderes) devem ser mordomos fiéis. Se não forem, eles prestarão contas ao Supremo Pastor (1 Pedro 5:2-4).
O termo traduzido como “exércitos” na frase “Senhor dos Exércitos” é "Sabaoth" em hebraico, referindo-se aos exércitos do céu, cujo líder é o SENHOR. Assim, a frase SENHOR dos Exércitos qualifica Deus como guerreiro que lidera Seus exércitos para derrotar os que estão contra Ele (Amós 5:16, 9:5; Habacuque 2:17). Aqui em Zacarias, o termo demonstra o poder de Deus como guerreiro supremo com total autoridade sobre todos os assuntos humanos. É por isso que Ele visita a Seu rebanho, a casa de Judá.
A casa de Judá refere-se à tribo de Judá. Eles faziam parte do rebanho de Deus. O verbo traduzido como “visitar” nessa frase é "pāqaḏ" no texto em hebraico. É uma palavra com duplo sentido. Às vezes, significa julgamento disciplinar, como em Zacarias 10:3a, onde Deus promete punir os bodes, ou os líderes corruptos de Judá. Outras vezes, comunica amor e cuidado, como aqui. Assim, Deus afirma que assumiria a posição de Pastor de Judá para guiar o povo e dirigi-lo “como o seu belo cavalo na batalha” (v. 3). Ele os transformaria em uma poderosa força militar e eles se tornariam tão invencíveis quanto os cavalos treinados para a guerra. Nesse tempo, o povo eleito de Deus experimentaria renovada estabilidade.
“De Judá sairá a pedra angular, dele, o prego” (v. 4). A expressão “pedra angular” ("pinnah", em hebraico) refere-se à pedra principal em torno da qual os povos antigos ancoravam suas construções. Era, portanto, o ponto focal do edifício. Jesus Cristo usa esse termo para falar de Si mesmo na parábola dos arrendatários da vinha (Mateus 21:42; Marcos 12:10; Lucas 20:17). Paulo, mais tarde, identifica Jesus como a “pedra angular” da igreja (Efésios 2:20). O “prego” da tenda ("yathed", em hebraico - estaca principal) era uma madeira cilíndrica usada para prender as tendas firmemente ao chão (Juízes 4:21-22). Esses pregos significavam para a tenda o que a pedra angular significava para o edifício: sustentá-los em seu lugar.
Uma vez que a passagem diz que deles viria a pedra angular, bem como as estacas da tenda, isso provavelmente se referisse a Jesus Cristo. Jesus nasceu da tribo de Judá, da casa de Davi.
O povo de Deus não apenas experimentaria força e estabilidade, mas também teria vitória sobre seus inimigos. O profeta deixa isso claro ao dizer: “...o arco de guerra, dele, todos os exatores juntos” (v. 4). O termo traduzido como “arco” ("qešeṯ", em hebraico) indicava um instrumento usado para caça ou guerra. Ao atirar, o arqueiro segurava o arco na mão esquerda e puxava a corda do arco com a direita enquanto apontava a flecha (2 Reis 13:15).
Zacarias usa esses termos para descrever a estabilidade, força e vitória futuras de Judá. Ele diz a seu público que Deus levantaria líderes na tribo que seriam fortes como pedras angulares, estacas de tenda e instrumentos de guerra (Gênesis 49:10). Com a ajuda do SENHOR, eles seriam como “valentes que na batalha pisam aos pés os seus inimigos na lama das ruas” (v. 5). Ele os capacitaria a derrotar seus adversários.
Isso provavelmente prenuncie o tempo no qual Jesus reinará sobre a terra, livrando-a do mal e trazendo o Reino de justiça (Apocalipse 2:27, 19:15). Jesus veio da tribo de Judá, chamada aqui de "rebanho" de Deus (Apocalipse 5:5).
O termo traduzido como “valentes” que pisarão os inimigos de Judá é "gibbor" em hebraico, referindo-se a uma pessoa forte capaz de realizar grandes obras (Gênesis 6:4). Em outras palavras, "gibbor" descreve um herói. Assim, Zacarias diz a seus ouvintes que os judeus derrotariam a seus inimigos como militares fortes que conseguiriam matar muitas pessoas na batalha de uma só vez (2 Samuel 23:8). Isso se aplicava a todos os governantes juntos.
O Deus Susserano capacitaria a Seus guerreiros e eles lutariam (v. 5). A razão pela qual o fariam era porque o SENHOR estaria com eles. A presença de Deus garantiria o sucesso e a vitória de Seu povo. Ele abriria o caminho para eles, permitindo-lhes marchar em direção ao inimigo com ousadia. Como resultado, “os que andam montados em cavalos serão confundidos” (v. 5). Isso significava que o povo de Deus destruiria aos soldados inimigos, trazendo-lhes vergonha e humilhação.