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Significado de Zacarias 11:4-6
Na seção anterior, o profeta Zacarias retratara graficamente a derrota do Líbano e Basã, duas regiões vizinhas ao norte e leste de Israel. Essas duas nações podiam ser representativas de todas as nações que cairiam sob o juízo de Deus por se oporem a Ele e a Seu modelo de amor ao próximo, em vez da exploração do próximo (v. 1-3). Na presente seção, Zacarias explica a mensagem recenida de Deus. Ele a apresenta com a fórmula: “Assim diz Jeová, meu Deus” (v. 4).
O termo hebraico traduzido como “Jeová” é Javé, o "Eu Sou", o Deus auto-existente e eterno que se revelou a Moisés na sarça ardente (Êxodo 3:14). O nome Jeová fala do caráter de Deus e de Seu relacionamento com Seu povo de aliança. Zacarias, como filho de Deus, beneficiava-se dessa intimidade. Assim, após declarar “Assim diz Jeová”, ele acrescenta "meu Deus", enfatizando, assim, sua experiência pessoal com Javé.
Na literatura profética, Javé frequentemente revelava Sua vontade a alguns indivíduos que, por sua vez, deveriam transmitir a mensagem divina a outros. Esses indivíduos eram responsáveis por anunciar fielmente a Palavra de Deus a seu público (Oséias 1:1; Joel 1:1; Miquéias 1:1; Sofonias 1:1). Por essa razão, eles muitas vezes introduziam a mensagem divina com a expressão profética “assim diz o Senhor”, ou alguma outra declaração semelhante, para dizer a seu público que a revelação não se originava neles. Pelo contrário, ela vinha diretamente do SENHOR (Javé), o único Deus verdadeiro e todo-poderoso.
Após a fórmula profética, vem a mensagem divina. O SENHOR ordena ao profeta que agisse como pastor: “Apascenta tu as ovelhas destinadas para o matadouro” (v. 4). Para um pastor, apascentar significava alimentar, guiar e defender as ovelhas, já que elas eram um dos animais menos inteligentes entre o gado. Elas também eram fracas, não tendo a capacidade de lutar por si mesmas em momentos de perigo.
Aqui, Zacarias é encarregado de agir como pastor em relação a Judá, representado como um “rebanho”. Assim, o SENHOR usa essa imagem para dizer a Zacarias que ele deveria liderar os judeus. Essa linguagem figurativa também ocorre em Isaías 40:11, Ezequiel 34:8 e Miquéias 5:4.
O profeta Zacarias deveria apascentar as ovelhas destinadas ao matadouro. Zacarias compara os judeus a ovelhas prontas para serem executadas.
O povo hebreu era como ovelhas destinadas a serem consumidas por outros: “os que as vendem” (v. 5). A imagem de alguém comprando as ovelhas indicava que o povo era visto como mera mercadoria.
Deus instrui Zacarias a conduzir o povo com sabedoria e a fornecer orientação sólida a eles. Os povos no entorno de Judá, bem como os líderes de Israel, pretendiam apenas explorar os judeus. Porém, Deus desejava seu cuidado e proteção. Ele nomeia Zacarias para pastorear Judá como a um rebanho.
Um bom pastor cuida e protege a seu rebanho. Jesus, o Messias de Israel, identificou-se como o "Bom Pastor" (João 10:11, 14). Zacarias apascentaria bem ao povo; no entanto, ele apenas os apascentaria por um breve período, como um prenúncio de Jesus, o "Bom Pastor", que por um curto período de tempo pastorearia Israel em Seu primeiro advento à terra, antes de ser rejeitado.
No entanto, o rebanho de Judá parecia preferir seguir aos líderes corruptos. Os bons líderes falam a verdade e oferecem correção a seus liderados (Hebreus 12:6). Muitas vezes, no curto prazo, as pessoas preferem ouvir mentiras. Assim, Zacarias entrega os judeus a pastores corruptos que os conduziriam à sua perdição. Isso parece ser indicado pelo valor vergonhosamente baixo pago a Zacarias pelo povo por sua liderança (Zacarias 11:13).
Os que vendiam e matavam o rebanho para seu próprio benefício aparentemente se referiam aos vizinhos de Israel (v. 1,2), bem como a seus líderes (v. 3). Também podem se referir aos mercadores da Judéia ou às potências estrangeiras que exploravam Judá, desnudando-o para satisfazer a seus próprios apetites.
A imagem aqui era de comerciantes abusivos que usavam e abusavam dos judeus. Eles faziam isso para seu benefício imediato. No entanto, embora saqueassem o povo de Deus, suas ações perversas ficariam impunes. A imagem dos comerciantes abusivos podia ser uma figura de líderes maus que atacavam o povo.
Também podia inferir um conluio entre os líderes religiosos e os comerciantes. Este certamente foi o caso durante o tempo de Jesus, quando os líderes judeus conspiravam com os mercadores para enriquecer às custas dos adoradores bem-intencionados (Mateus 21:13). Este conluio era historicamente referido como o "Bazar dos Filhos de Anás". Anás era o patriarca da família sacerdotal. No entanto, nesta passagem, a responsabilidade é colocada principalmente sobre os líderes.
Deus muitas vezes julga um povo removendo Sua proteção e entregando os rebeldes a seus desejos carnais. Este é um padrão replicado ao longo das Escrituras. No livro de Romanos, no Novo Testamento, Paulo afirma que a ira de Deus se derrama sobre a injustiça dos homens maus entregando-os às suas próprias paixões (Romanos 1:18, 24, 26, 28).
O resultado final daqueles que seguem às concupiscências do pecado é a perda da saúde mental (Romanos 1:28). Veremos que o julgamento pronunciado sobre a má liderança de Israel seria perder seu bom juízo (Zacarias 11:17).
De fato, cada um daqueles (mercadores/líderes) que vendiam as ovelhas diziam: “Bendito seja Jeová, porque eu sou rico”. Eles haviam se tornado tão insensíveis que eram capazes de considerar a exploração dos outros como bênção de Deus.
A imagem da exploração dos judeus era a de um comerciante vendendo ovelhas para serem abatidas e ingeridas. Sua ganância e ambições egoístas os haviam levado a explorar a seus irmãos e irmãs visando extrair benefícios para si próprios, sem levar em conta o bem-estar dos outros. Os líderes conspiravam com os comerciantes para explorar as pessoas através do uso de pesos injustos ou venda de mercadorias defeituosas (Levítico 19:36; Deuteronômio 25:13; Miquéias 6:11).
Na época de Jesus, os filhos de Anás aparentemente haviam criado uma moeda dedicada para ser usada no templo, explorando o "rebanho" de adoradores no templo através do uso de "cambistas" (João 2:14). Sem dúvida, a taxa de câmbio criara um grande fluxo de dinheiro para os bolsos sacerdotais. Foi por isso que Jesus se referiu ao templo como tendo sido transformado em "covil de ladrões" (Mateus 21:13; 23:14).
Os líderes (e talvez os comerciantes) se concentravam na exploração das pessoas. Eles deveriam ser honestos e cuidar do seu próximo. Eles deveriam procurar estabelecer uma sociedade autônoma baseada no princípio bíblico de "amar ao próximo como a si mesmo" (Levítico 19:18). Foi isso o que eles haviam concordado em fazer ao firmarem a aliança/tratado com Javé, o SENHOR (Êxodo 19:8).
Seu testemunho em cima de seus ganhos ilícitos - “Bendito seja Jeová, porque eu sou rico” - demonstrava que eles não haviam experimentado nível algum de remorso por explorarem a seus concidadãos, assim como os comerciantes de ovelhas não sentiam culpa por venderem uma ovelha para o abate. Eles aparentemente haviam chegado ao ponto da "mente depravada" (Romanos 1:28), ou seja, aquele ponto em que acreditavam que o errado era certo, desde que servisse a si mesmos. Era o fim do processo de auto-destruição originado em um comportamento pecaminoso (Romanos 1:24, 26, 28).
Os judeus sofriam porque aqueles que deveriam cuidar deles abusavam deles, explorando-os para seu próprio benefício, como um mercador vendendo uma ovelha gorda. A má liderança era cúmplice do abuso do povo, como se depreende da descrição: “...seus pastores não se compadecem delas” (v. 5). A expressão “seus pastores” referia-se aos líderes judeus corruptos.
O verbo traduzido como “compadecer” é "chāmal", em hebraico, significando ter compaixão de alguém. O verbo compreende tanto uma reação emocional quanto uma conduta ativa. Por exemplo, no livro de Êxodo, a filha do faraó "teve pena" do menino Moisés que havia sido exposto ao Nilo e deixado para morrer (Êxodo 2:6). Ela poupou sua vida acolhendo-o e adotando-o, até mesmo chamando à sua própria mãe para amamentá-lo (Êxodo 2:9).
No entanto, aqui em Zacarias 11, os líderes do povo nada faziam para protegê-los. Eles aparentemente não sentiam culpa ou remorso por suas ações. Eles eram completamente insensíveis.
A maldade dos judeus e de seus líderes levou o Senhor a pronunciar juízo contra os culpados. O SENHOR declara: “Não me compadecerei mais dos habitantes da terra” (v. 6). Os “habitantes da terra” aqui referem-se aos judeus que viviam na província de Judá, que naquela época fazia parte do império persa. Deus anuncia que não mais teria compaixão deles por causa de seus comportamentos pecaminosos. Após a declaração, o profeta Zacarias acrescenta a fórmula “diz Jeová”, buscando dar peso à sua mensagem e confirmar sua fonte.
Como julgamento por sua desobediência, o SENHOR os entregaria a líderes maus e a nações pagãs. Isso era consistente com as disposições contidas no pacto/tratado que os judeus haviam firmado com o SENHOR (Deuteronômio 28:15-68).
O julgamento é introduzido pela partícula “eis que”. O termo em hebraico é "hinneh", muitas vezes descrevendo um evento prestes a acontecer, um incidente surpreendente ou inesperado para os ouvintes. A expressão chama a atenção para a mensagem, preparando o público para ouvi-la com atenção. Neste contexto, o evento inesperado trazido por Zacarias era o juízo a estava prestes a recair sobre os judeus.
Deus declara: “Entregarei os homens, cada um nas mãos do seu próximo e nas mãos do seu rei” (v. 6). Deus declara que Judá cairia nas garras das potências estrangeiras. Eles ficariam sob o domínio de outro rei. Deus removeria os líderes corruptos da Judéia e os substituiria por potências estrangeiras. Naquele momento, Judá estava sob o poder da Pérsia, porém possuía alguma autonomia. A declaração de Deus, portanto, inferia que o povo seria exilado mais uma vez e espalhado aos quatro ventos. Isso estava de acordo com as disposições incluídas na aliança/tratado com o SENHOR (Deuteronômio 28:64).
O pronome "eu" na frase “entregarei os homens” é um termo enfático no texto em hebraico, implicando que somente o SENHOR tinha o poder supremo. Ele podia "matar e dar a vida" (Deuteronômio 32:39). Ele havia prometido guardar Sua aliança com Israel, incluindo as provisões de juízo caso Israel não seguisse aos caminhos do amor ao próximo como a si mesmos (Levítico 19:18).
Em Zacarias, Deus julgaria e removeria os líderes judeus corruptos e colocaria o povo sob a autoridade de outros líderes que estavam sob a autoridade de reis estrangeiros. Isso inferia que os judeus seriam espalhados pelo mundo.
O SENHOR conclui esta seção dizendo: “Eles ferirão a terra, e eu não os livrarei da mão deles” (v. 6). A frase refere-se às potências estrangeiras que atacariam a terra de Judá. Deus não os livraria de seu poder.
A situação aqui descrita era sombria. O povo de Deus sofreria danos por causa de sua liderança corrupta. Deus removeria os líderes corruptos, entregando-os a potências estrangeiras, inferindo a dispersão dos judeus. Ele não iria intervir para resgatá-los de sua opressão por um tempo.
As profecias aqui parecem se encaixar nas circunstâncias da Judéia do século I. A liderança da Judéia havia se corrompido. Eles eram exteriormente justos, mas completamente interesseiros por dentro. Jesus os descreve como aqueles que "devoram as casas das viúvas" (Mateus 23:14). Esses líderes aparentemente não tinham nenhum sentimento de culpa por fraudarem às viúvas e assim perpetuar seus luxos. Jesus também os descreve como "sepulcros branqueados, que, por fora, parecem realmente vistosos, mas, por dentro, estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia" (Mateus 23:27).
Veremos nas seções seguintes do capítulo 11 uma profecia referente a Jesus, que seria traído por 30 moedas de prata (Zacarias 11:13). Zacarias sarcasticamente se refere a esse pagamento por seu serviço como pastor de Judá como um "belo preço", já que 30 moedas de prata era o preço estabelecido na lei mosaica para o resgate de um escravo (Êxodo 21:32). Isso mostrava o quão pouco o povo apreciava ser liderado por um bom pastor. Na seção seguinte, Zacarias entregaria o povo de Judá para ser explorado.
Esta profecia parece prever que Jesus apareceria como pastor para o povo em Seu tempo, mas seria desvalorizado, rejeitado e traído. A fim de conseguir que Jesus fosse crucificado pelo governador romano Pilatos, que havia testado e inocentado a Jesus, os líderes de Judá quebraram a lei e traíram sua posição de liderança, cometendo blasfêmia ao declarar que o César romano era seu único rei, quando Deus deveria ser seu único rei (João 19:15).
Esta passagem provavelmente seja uma previsão do que ocorreu após a queda de Jerusalém e a destruição do Segundo Templo pelos romanos em 70 d.C. (Mateus 24:2). Após a destruição de Jerusalém, os judeus foram espalhados entre as nações e serviram a muitas pessoas em muitas nações. Esta foi a realidade do povo judeu até o século 20, quando Israel se torna uma nação novamente. Neste momento, esta é realidade para apenas uma parte do povo judeu.