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Significado de Zacarias 3:1-5
Este trecho registra a quarta visão de Zacarias. Anteriormente, o profeta havia se concentrado em Jerusalém e seu novo estado. Na primeira visão, ele viu um homem montado em um cavalo vermelho liderando um grupo de cavaleiros celestiais. Através desta visão, o SENHOR revelou que Ele consolaria ao Seu povo da aliança e escolheria Jerusalém novamente como o local de Sua presença.
Na segunda visão, Zacarias viu quatro chifres que dispersariam ao povo de Judá, bem como quatro ferreiros que aterrorizariam aos chifres. Através dessa visão, o SENHOR explicou que a visão indicava que potências mundiais vindouras derrotariam as nações que haviam oprimido Judá. Na terceira visão, Zacarias viu uma Jerusalém renovada no futuro; a cidade era grande e segura.
Nesta seção, o profeta foca no templo e seus pátios. Zacarias começa dizendo: Então ele me mostrou Josué, o sumo sacerdote (v. 1). O pronome “ele” provavelmente se refira ao anjo intérprete de Zacarias (1:9, 13, 14, 19; 2:3). No tempo de Zacarias, Josué era o líder religioso de Judá, que retornou a Jerusalém com os exilados (Esdras 3:2). Como sumo sacerdote, ele representava ao povo de Judá perante o SENHOR. No livro de Ageu, lemos que Zorobabel e Josué foram as forças por trás da reconstrução da "casa de Deus" em Jerusalém (Ageu 1:1; cf. Esdras 5:2). Eles encorajaram aos exilados de Judá que haviam retornado à sua terra natal a reconstruir o templo ao qual os babilônicos haviam destruído em 586 a.C.
Zacarias viu Josué em pé diante do anjo do SENHOR (v. 1). O termo “anjo do SENHOR” se refere a um mensageiro divino especial. Este mensageiro falava como Deus, se identificava com Deus e desempenhava os deveres de Deus (Gênesis 16:7-12; Juízes 2:1-4). Ao contrário dos outros anjos de Deus, cuja função principal era a de comunicar a mensagem de Deus aos seres humanos, o anjo do SENHOR aqui está associado ao SENHOR em nome, autoridade e mensagem (Êxodo 3:2, 4, 7; Juízes 13:20). Consequentemente, podemos arriscar dizer que o anjo do SENHOR era o Cristo pré-encarnado.
O anjo do SENHOR representava ao SENHOR no âmbito humano e realizava poderosos atos divinos (Êxodo 23:20-22). Em nosso texto, o anjo do SENHOR servia como juiz no tribunal celestial, enquanto Josué, o sumo sacerdote que representava ao povo de Judá nos dias de Zacarias, estava diante do tribunal como culpado. Era algo provavelmente profético que aqui o sacerdote diante de Deus se chamasse Josué, o nome hebraico de "Jesus". De fato, somos informados no versículo 8 de que Josué e seus colegas eram um símbolo.
O adversário de Josué era Satanás (literalmente, "o Satanás"). O termo hebraico traduzido como “Satanás” significa "oponente" ou "adversário". Ele ocorre mais de vinte vezes no Antigo Testamento (Números 22:22; 1 Samuel 29:4; 1 Crônicas 21:1; Jó 1:6, 7; Salmo 109:6 e etc.). O termo pode descrever um adversário humano ou um ser sobrenatural. Zacarias acrescenta o artigo definido para designar uma função, ao invés de um nome próprio. Em outras palavras, Satanás aqui não se refere ao nome próprio de um acusador, como no Novo Testamento. Em vez disso, era um título para um ser que desempenhava o papel de advogado de acusação no tribunal celestial (Jó 1:1-6). Parece provável que o ser que desempenhava o papel de acusador fosse o ser angelical ao qual conhecemos como Satanás.
O texto afirma que Satanás estava à mão direita dele para ser o seu adversário. (v. 1). No mundo antigo, a posição tradicional para o acusador num tribunal de justiça era à mão direita do réu. No Salmo 109, o salmista Davi ilustra esse costume antigo ao clamar a Deus por alívio de seus inimigos: Designe-se um ímpio sobre ele, e um acusador fique à sua direita (Salmo 109:6). Aqui em Zacarias também, Satanás assume essa posição para acusar a Josué, o sumo sacerdote (v. 1).
Poprém, antes que Satanás pudesse dizer ou fazer algo para condenar Josué, o SENHOR diz para silenciá-lo. O termo “SENHOR” é o nome pessoal de Deus, que Ele revelou ao Seu servo Moisés na sarça ardente (Êxodo 3:14-15). Significa "O que Existe" e enfatiza a soberania de Deus sobre todas as coisas. Em nosso texto, o contexto sugere que o interlocutor era o anjo do SENHOR. Foi Ele quem disse a Satanás: O SENHOR te repreenda, ó Satanás! (v.2). Esse respeito demonstrado pela autoridade também sugere que o acusador aqui é o ser chamado Satanás, uma vez que ele aparentemente foi reinstalado como o príncipe deste mundo quando da queda de Adão (João 12:31).
O livro de Judas, no Novo Testamento, observa que devemos respeitar ao poder dos seres espirituais como sendo superior ao nosso; somos inferiores aos anjos (Salmo 8:5) e devemos repreender aos seres angelicais em nome de Deus, não em nossa própria autoridade (Judas 1:8-9). Aqui, provavelmente temos o Jesus pré-encarnado, que era Deus (o SENHOR), repreendendo a Satanás em nome do SENHOR.
Como o anjo do SENHOR dirige-se a Satanás em nome do SENHOR, o anjo se distingue do SENHOR. Isso nos leva à inferência de que esse mensageiro especial seja Jesus Cristo, a segunda pessoa da Trindade, antes de Sua primeira vinda à terra. Cristo era o único que poderia associar-Se a Deus Pai em nome e autoridade (Êxodo 3:2; João 8:58).
O verbo repreender significa "reprimir" ou "reprovar". O SENHOR não estava satisfeito com Satanás, o acusador, então Ele envia Seu mensageiro especial para repreendê-lo em Seu nome. O anjo intensifica a repreensão ao dizer: Sim, repreenda-te Jeová, que escolheu a Jerusalém (v. 2).
Essa repetição da repreensão a Satanás não apenas mostra o nível da ira de Deus contra Satanás, mas também Seu amor gracioso por Josué e pelo povo de Judá (Israel). O termo “Jerusalém” provavelmente se refira à população que vivia naquela cidade, a capital do reino do sul de Judá. Visto que o SENHOR havia escolhido os habitantes de Jerusalém como Seu povo da aliança, Ele afasta a Satanás e o expulsa.
O anjo do SENHOR, então, faz uma pergunta retórica, uma pergunta destinada a enfatizar uma lição, não para se buscar uma resposta: Não é este um tição tirado do fogo? (v. 2). Essa expressão lembra uma declaração no livro de Amós, onde o profeta Amós afirma que o Deus Soberano salvou a Israel da destruição completa no último momento (Amós 4:11). A imagem é a de um pedaço de pau usado para mexer o fogo, um tição, que deveria pegar fogo e se queimar, mas que é retirado do fogo para não ser consumido.
Aqui, a expressão “tição tirado do fogo” refere-se a Josué, que é poupado do julgamento por ser uma pessoa justa, assim como Noé foi salvo do julgamento quando a terra estava cheia de violência (Gênesis 6:11). Josué também pode representar aos exilados que sobreviveram até este ponto e sua privilegiada libertação do julgamento de Deus. Muitos judeus morreram quando os babilônicos "queimaram todas as casas de Jerusalém" (2 Reis 25:9). Porém, Deus resgata a Josué e ao pequeno remanescente, assim como alguém tira um pedaço de madeira do fogo antes que seja consumido. Deus poupa a Josué; agora ele é protegido dos ataques de Satanás.
Na visão de Zacarias, ele também nota: Ora, Josué estava vestido de hábitos sujos e posto em pé diante do Anjo. (v. 3). As roupas sujas simbolizavam os pecados e a culpa de Josué e, por implicação, os pecados dos exilados que haviam retornado, a quem ele representava. Josué estava ministrando ao SENHOR em uma condição de sujeira, ou seja, cerimonialmente imundo, o que representava a impureza de Judá nos dias de Zacarias. Parece provável que Satanás, o acusador, estivesse acusando essas pessoas por causa de seus pecados, assim como Satanás acusou a Pedro por causa de seu pecado (Lucas 22:31).
De acordo com a Lei Mosaica, o sumo sacerdote deveria usar "roupas sagradas" enquanto exercia suas funções ministeriais diante do SENHOR (Êxodo 28:2, 41). Ele não deveria se contaminar em nenhuma circunstância (Levítico 21:10-15). Como sumo sacerdote, Josué deveria usar roupas sagradas para liderar a adoração de uma forma que agradasse ao SENHOR. No entanto, ele estava de pé com hábitos sujos diante do anjo (v. 3), o que significava que ele e o povo de Judá eram culpados.
O termo “anjo” aqui se refere ao anjo do SENHOR, um mensageiro divino especial que carregava o nome e a autoridade do SENHOR (v.1). Assim, Josué permanecia culpado diante do SENHOR. Enquanto o anjo observava a condição de Josué, Este começou a falar e disse aos que estavam diante dele (v. 4). Embora não mencionado no texto anterior, aqueles que estavam de pé diante do anjo provavelmente eram outros seres angelicais. Eram servos celestiais. O anjo os comanda, dizendo: Tirai-lhe estes hábitos sujos. (v. 4).
O verbo traduzido como “tirar” indicava que Josué e o povo de Judá estavam impuros. Eles mereciam a condenação divina, mas o SENHOR teve misericórdia deles. Em vez de condená-los, como Satanás (o acusador) aparentemente esperava, Deus purifica a Seu povo da aliança e restaura suas vidas. Vale ressaltar que foi Deus quem providenciou as vestes limpas.
Após o anjo instruir o conselho celestial a remover as vestes sujas de Josué, ele o aborda diretamente e diz: Eis que hei feito passar de ti a tua iniquidade (v. 4). O verbo “passar” é "ʿāḇar" no texto em hebraico. A Bíblia frequentemente o usa para a remoção de culpa ou pecados (2 Samuel 24:10). O termo traduzido como “iniquidade” é "ʿāwōn" em hebraico. Ele descreve um pecado deliberado contra Deus.
Em Zacarias, o anjo dá a entender a Josué que seus hábitos sujos simbolizavam seus pecados, aos quais Deus havia perdoado. No entanto, como a purificação de Josué não estava completa com a remoção de suas vestes sujas, o anjo continua dizendo a ele: Te vestirei de ricos trajes. (v. 4). Os ricos trajes, ou “vestes festivas”, se referem a roupas ricas ou finas.
As “vestes festivas” simbolizavam o presente da justiça de Deus imputado a Josué e ao povo de Judá. Ao fazer isso, Ele restaura suas vidas, permitindo que ministrassem eficazmente a Ele novamente como um "reino de sacerdotes e nação santa" (Êxodo 19:4-6). Isso é consistente com o padrão bíblico de que os seres humanos não podem ser justificados na presença de Deus por meio de suas ações, mas recebem o presente de serem justificados aos olhos de Deus pela fé (Gênesis 15:6; Romanos 4:3).
Enquanto o profeta Zacarias observava a cena, ele aparentemente foi estimulado a falar. Ele intervém e diz: Ponham-lhe sobre a cabeça uma mitra limpa. (v. 5). A palavra traduzida como “mitra” é "ṣānɩ̂p̱" em hebraico. Significa "bandana" ou “turbante” e pode ser usada para um homem (Jó 29:14), uma mulher (Isaías 3:23), uma coroa real (Isaías 62:3) e (4) um sumo sacerdote, como neste trecho. Isso sugere que Zacarias conhecia as Escrituras, pois o que ele indica estava prescrito na Lei Mosaica.
Os servos celestiais seguiram às sugestões de Zacarias quanto a colocar uma cobertura na cabeça em Josué para completar seu traje. Assim, puseram-lhe, pois, sobre a cabeça uma mitra limpa e vestiram-no de vestidos (v. 5). De acordo com o Êxodo, o sumo sacerdote deveria usar uma touca feita de "ouro puro" com as palavras "SANTO AO SENHOR" inscritas nela (Êxodo 28:36).
Essa disposição da inscrição na touca foi prescrita no Êxodo. Ela deveria "estar sempre em sua testa, para que possam ser aceitos perante o SENHOR" (Êxodo 28:38). Portanto, essa touca limpa colocada na cabeça de Josué significava a dedicação de sua vida ao ofício sacerdotal, enquanto servisse como mediador entre o SENHOR e Seu povo. A cerimônia ocorreu e o Anjo de Jeová estava perto, de pé. (v. 5).
Entre as posturas retratadas na Bíblia, estar de pé é uma imagem significativa, denotando presença ou localização. Por exemplo, no livro de Josué, lemos sobre as "cidades que estavam em montes" (Josué 11:13) ou a "tenda do SENHOR que está em Israel" (Josué 22:19). No entanto, a imagem de estar de pé também sugere qualidades ou atitudes específicas (Salmo 122:2; Neemias 8:5).
O fato de o anjo do SENHOR estar perto, de pé indicava a importância da ocasião, assim como os servos do rei Davi estavam presentes enquanto ele lamentava (2 Samuel 13:31). Portanto, o fato de Josué ter sido purificado enquanto o anjo do SENHOR estava presente significava que Josué havia recebido a aprovação do SENHOR para continuar desempenhando suas funções sacerdotais.
Esta seção pode ser vista como profética, já que Josué (em hebraico, "Jesus") atuava como sumo sacerdote pelo povo, assim como Jesus é nosso Sumo Sacerdote (Hebreus 8:1-2). Josué é purificado do pecado e Jesus assumiu os pecados do mundo (Colossenses 2:14; João 3:16; Romanos 5:8). Assim, por meio de Jesus, nosso Sumo Sacerdote, Deus também justifica a todos os que crêem. Todo crente se torna justo a Seus olhos (João 3:14-15; Romanos 4:3). O versículo 8 nos dirá que Josué era um símbolo.