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Significado de Zacarias 6:9-15

O SENHOR ordena ao profeta Zacarias que receba um presente de certos exilados e coroe a Josué, o sumo sacerdote, pois ele era uma imagem do Sumo Sacerdote e Rei que construiria o templo do SENHOR.

Após terminar de descrever suas oito visões, Zacarias detalha um comando que recebe do SENHOR sobre a coroação de Josué, o sumo sacerdote dos exilados que haviam retornado a Judá. Ele começa dizendo: Também veio a mim a palavra do SENHOR (v.9). O termo hebraico para “palavra” é "dābhār". É a mesma palavra usada para "coisa, evento ou assunto" (Provérbios 11:13; 17:9; 1 Reis 14:19). Por isso, os profetas bíblicos podiam dizer que "viam palavras" ao se referirem a objetos ou eventos (Amós 1:1; Isaías 2:1). Assim, a palavra é uma mensagem que requer ação por parte de seu(s) destinatário(s) porque lida com uma situação ou evento.

O termo hebraico para “SENHOR” é "Yahweh", o nome da aliança de Deus. Esse nome fala do caráter ou essência de Deus (Êxodo 34:6) e de sua relação com seu povo da aliança (Êxodo 3:14). Assim, o profeta diz à sua audiência que a mensagem vinha de Deus. Ele a deu a Zacarias em benefício de seu povo da aliança.

Na literatura profética, a expressão “a palavra do SENHOR” é uma expressão técnica que se refere à revelação de Deus (Oséias 1:1; Miqueias 1:1; Sofonias 1:1). Essa fórmula confere credibilidade à mensagem do profeta. Ela nos diz que o profeta recebe a mensagem diretamente do SENHOR, seja por ouvir Sua voz (Isaías 6:8) ou tendo uma visão (Amós 7:1).

A palavra do SENHOR aos Seus profetas era mais do que um simples discurso. Era um meio de atividade de Deus, contendo promessas, ameaças, exortações e poder. Ela vinha do SENHOR aos profetas, que a transmitiriam ao povo escolhido. Ao ouvir a palavra do SENHOR da boca dos profetas, o povo deveria obedecer às estipulações contidas nela, para que pudessem receber as bênçãos e a aprovação de Deus. Neste caso, a palavra revelava a vontade e o poder de Deus. Essa palavra divina veio a Zacarias, pedindo-lhe que receba da mão dos do cativeiro (v. 10).

A palavra “oferta” não está no texto em hebraico, mas os tradutores a adicionaram para suavizar a tradução. Essa adição se encaixa no contexto porque o próximo versículo menciona o presente que Zacarias deveria receber dos exilados (prata e ouro; v. 11). A oferta seria dada por três indivíduos: Heldai, Tobias e Jedaías (v.10).

O nome Heldai ocorre aqui e em outro lugar no Antigo Testamento (1 Crônicas 27:15). Porém, a pessoa com este nome em 1 Crônicas não é a mesma listada em Zacarias, já que ele havia vivido séculos antes durante o tempo de Davi e estava entre seus guerreiros (1 Crônicas 27:15). O nome Tobias também aparece em outros lugares no Antigo Testamento e provavelmente se refere a uma pessoa diferente (veja Esdras 2:60; Neemias 2:10, 19). O nome Jedaías aparece em Esdras 2:36.

O profeta Zacarias deveria ir no mesmo dia e entrar na casa de Josias, filho de Sofonias, para a qual vieram de Babilônia (v. 10). O fato de Zacarias partir no mesmo dia para receber o presente indica a importância e a urgência da mensagem. Ele deveria ir sem demora à casa de Josias. Lá ele receberia o presente dos homens que haviam chegado recentemente da Babilônia.

O homem Josias era filho de Zefanias. O pai (ou avô) de Josias era provavelmente o "sacerdote" mencionado em Jeremias 29:29, que leu uma carta de encorajamento para "Jeremias, o profeta" e foi executado mais tarde durante a invasão babilônica (2 Reis 25:18-21). Se for esse o caso, Josias vinha de uma família sacerdotal. Uma vez que os três exilados recém-chegados — Heldai, Tobias e Jedaías — estavam hospedados na casa de Josias e tinham alguns recursos, Deus instrui Zacarias a receber uma oferta deles para ajudar na reconstrução do templo.

O SENHOR, então, repete o comando e especifica os itens que Zacarias deveria receber das três pessoas. Ele declara: Pegue prata e ouro (v. 11). O verbo “pegar” muitas vezes significa apoderar-se ou agarrar algo. Às vezes, transmite a idéia de tomar algo à força. No nosso contexto, no entanto, evoca a idéia de iniciativa em relação às ações de alguém. Ou seja, Zacarias deveria fazer seu pedido aos homens para receber o presente. O propósito de receber a prata e o ouro era para fazer uma coroa a ser colocadas na cabeça do sumo sacerdote Josué, filho de Jeozadaque. (v. 11).

O substantivo traduzido como “coroa” ("ʿăṭārôt" em hebraico) é derivado de um verbo que significa cercar ou envolver. Refere-se a um diadema geralmente feito de metais preciosos e usado pela realeza (2 Samuel 12:30; 1 Crônicas 20:2; Ester 8:15; Apocalipse 4:4). No entanto, às vezes, as pessoas antigas o usavam para homenagear alguém digno de honra em uma celebração. No livro de Zacarias, a pessoa honrada era Josué, o sumo sacerdote que representava a liderança religiosa de Judá na época de Zacarias (Ageu 1:1). Naquele momento, Zorobabel representava a liderança civil de Judá (Ageu 1:1).

O nome Josué é a transliteração da palavra hebraica "Yeshua", um nome que significa "Yahweh salva" ou "Yahweh é salvação". É o termo hebraico transliterado como "Jesus" no Novo Testamento (Mateus 1:21; Lucas 1:31). Era Josué, não Zorobabel, quem deveria receber a coroa.

A razão é dupla. Primeiro, o SENHOR havia escolhido a Josué para garantir que Seu povo não pensasse erroneamente que Zorobabel era o Ramo - o Messias prometido, Filho de Davi. Uma vez que Zorobabel era da linhagem de Davi, ele poderia se encaixar nas expectativas do povo para o Messias prometido no Antigo Testamento (2 Samuel 7:12-13; Salmo 110:2, 4).

Em vez disso, o SENHOR usou Josué como uma imagem de um futuro sumo sacerdote que também seria um governante. Isso representava o futuro Messias como sendo tanto um sacerdote quanto um rei. Além disso, uma vez que o nome Josué significava "Yahweh salva" ou "Yahweh é salvação", isso indicava que o Messias salvaria o Seu povo. Essa é a relevância de "Jesus", o nome do Messias prometido (Mateus 1:21).

No entanto, Josué, o sumo sacerdote, não poderia se tornar rei naquele momento, pois isso ia contra a lei do Antigo Testamento que proibia alguém de desempenhar mais de um papel. Um exemplo da aplicação dessa lei encontra-se em 2 Crônicas, onde o SENHOR feriu o rei Uzias com lepra por desempenhar funções sacerdotais no "templo do SENHOR" (2 Crônicas 26:16-21). Portanto, a coroação de Josué prefigurava um futuro Sumo Sacerdote que poderia ocupar os dois papéis. Jesus é tanto o Rei, o Filho de Davi, quanto o Sumo Sacerdote, de acordo com a ordem de Melquisedeque (Hebreus 5:10).

Então, o SENHOR instrui Zacarias a falar com Josué. Ele usa a fórmula profética “Assim diz o SENHOR dos Exércitos” (v. 12) antes de instruir o profeta sobre o que dizer. O termo traduzido como “exércitos” é "Sabaoth" na língua hebraica e frequentemente se refere aos exércitos angelicais do céu (1 Samuel 1:3). Ele ocorre em pelo menos dois lugares no Novo Testamento como um termo hebraico em um trecho grego (Romanos 9:29 e Tiago 5:4).

A expressão “SENHOR dos Exércitos” frequentemente descreve o poder de Deus como um guerreiro liderando seu exército angelical para derrotar o mal e o inimigo (Amós 5:16; 9:5; Habacuque 2:17). Aqui e em outros lugares em Zacarias, a frase demonstra o poder de Deus como o guerreiro supremo que tem controle completo sobre todos os assuntos humanos. Sim, o SENHOR é Todo-poderoso. É por isso que Ele ordena a Zacarias que fale com Josué nesses termos: Eis o homem cujo nome é o Renovo; brotará do seu lugar (v. 12).

A partícula “eis” significava "veja". O profeta a utiliza para chamar a atenção quanto às palavras que estava prestes a dizer, preparando sua audiência para se concentrar e ouvir com atenção. Na medida em que os ouvintes de Zacarias prestassem atenção total à sua mensagem, eles descobririam que a coroa de Josué era simbólica, pois representava outro homem cujo nome era Renovo.

O termo “renovo” ("ṣemacḥ" em hebraico) é derivado de um verbo que significa "brotar". Ele se refere a árvores ou videiras (Gênesis 2:5; Êxodo 10:5). Na Bíblia, os ramos frequentemente representam árvores ou videiras saudáveis e produtivas (Gênesis 40:10). Ezequiel captura bem essa idéia ao se referir a uma vinha "frutífera e cheia de ramos devido às águas abundantes" (Ezequiel 19:10).

Nos livros proféticos de Isaías e Jeremias, o renovo é um termo técnico que se refere a um herdeiro legítimo de uma família da linhagem davídica. Ele retrata o Messias vindo da linhagem de Davi, como Deus havia prometido (2 Samuel 7:12-13). O Messias brotaria da linhagem de Davi, pois ele brotará do seu lugar. Como Isaías declara: "Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes um renovo frutificará" (Isaías 11:1).

A expressão “brotará do seu lugar” é um jogo de palavras com o termo "ṣemaḥ", que significa renovo, referindo-se ao lugar de onde o Messias emergiria (onde Ele estava) para construir o templo do SENHOR. O templo era o lugar onde o povo de Deus experimentaria Sua presença. Era onde Seu povo da aliança se encontraria com Deus para receber o perdão de seus pecados, permitindo-lhes ter comunhão com Ele. A linguagem aqui é figurativa. O templo em questão não se refere ao que foi reparado sob Josué e Zorobabel, os líderes que haviam retornado a Jerusalém com os exilados. Em vez disso, refere-se ao templo que o Messias construirá quando vier para reinar com plena autoridade e poder (Ezequiel 40-47).

O profeta Zacarias repete o mesmo pensamento para enfatizar esta idéia e diz: Ele edificará o templo de Jeová (v. 13). Neste ponto, o leitor ou ouvinte percebem a missão do renovo. É Ele quem construirá o templo, não Josué ou Zorobabel. Esse templo que o futuro Messias construirá é provavelmente mencionado em Ezequiel, capítulos 40 a 47. Isso parece se encaixar melhor como o templo a ser construído durante o reinado de mil anos de Jesus na terra atual (Apocalipse 20:1-4).

Não apenas o futuro Messias, o renovo, construirá o templo de Deus, levará a glória e se assentará, e dominará no seu trono (v. 13). Quando Jesus retornar, Ele derrotará as nações que se reuniram contra Ele (Apocalipse 19:11-21). Então, Ele estabelecerá Seu Reino nesta terra, que durará mil anos. Após o período de mil anos ser concluído, Satanás será solto do abismo (sua prisão durante o reino de mil anos) e instigará as nações a se rebelarem uma última vez. Então, a terra atual será destruída e um novo céu e uma nova terra serão erguidos em seu lugar (Apocalipse 21:1).

O termo “honra” ("hodh" em hebraico) frequentemente serve como um atributo real de um governante (Jeremias 22:18). Muitas vezes é traduzido como "esplendor" e é usado tanto para Deus quanto para o homem. Quando usado para Deus, descreve Seu senhorio na criação e na história. Ele é o Rei Todo-poderoso que criou tudo. A resposta à Sua "honra" é a exaltação de Seu nome (Salmo 148:11-13). Como o salmista Davi declara em sua oração:

Tua é, ó Jeová, a grandeza, e o poder, e a glória, e a vitória, e a majestade, porque tudo o que há no céu e na terra é teu. Teu é, ó Jeová, o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos. Tanto riquezas como honra vêm de ti, e tu dominas sobre tudo; na tua mão está força e poder; e na tua mão está o engrandecer e o dar forças a todos. Agora, nosso Deus, te rendemos graças e louvamos o teu glorioso nome” (1 Crônicas 29:11-13).

Quando usado para um rei terreno, o termo “honra” fala de sua posição privilegiada na comunidade da aliança como vice-rei de Deus. Por exemplo, "O SENHOR exaltou grandemente Salomão perante todo o Israel e deu-lhe majestade real tal como nunca dantes tivera nenhum rei sobre Israel" (1 Crônicas 29:25). Em Zacarias, a pessoa digna de honra real é o futuro Messias, que é o Renovo. Ele será tanto Deus quanto humano.

Será sacerdote sobre o seu trono, e haverá entre os dois o conselho de paz. (v. 13). Isso significava que haveria uma harmonia perfeita entre os dois ofícios. Essa harmonia perfeita existiria porque se encontra em um só ser - Jesus.

O Novo Testamento identifica Jesus Cristo como esse Renovo. Ele é o futuro líder de Deus e será tanto rei quanto sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Hebreus 7:1, 15; Salmo 110:4). Ele desempenhará os dois papéis de rei e sacerdote em perfeita harmonia porque é totalmente Deus e totalmente homem. Ele governará com pleno poder e majestade (Daniel 2:44).

Zacarias, agora, explica o significado imediato da cerimônia de coroação a seus leitores. Ele diz que a coroa não ficaria na cabeça de Josué, o sumo sacerdote, para sempre. Em vez disso, ela permaneceria no templo do SENHOR. O propósito era servir à Helém, e a Tobias, e a Jedaías, e a Hem, filho de Sofonias, de memorial no templo de Jeová. (v. 14).

Essa lista de pessoas que haviam voltado da Babilônia tem algumas pequenas mudanças em relação à lista anterior. O nome Helem aparece em vez de Heldai, mas provavelmente fosse um apelido para a mesma pessoa (v. 10). O nome Hen provavelmente seja um apelido para Josias. Assim, a coroa colocada no templo reconstruído comemoraria a generosidade de Heldai, Tobias e Jedaías, que forneceram a prata e o ouro para fazê-la, e a hospitalidade de Josias, que abriu sua casa para os retornados judeus se hospedarem.

Zacarias, então, prediz que aqueles que estão longe virão e edificarão no templo de Jeová (v. 15). O cumprimento imediato dessa afirmação pode se referir ao presente dos três homens que haviam acabado de chegar da Babilônia e que fizeram a doação para a reconstrução do templo.

Aqueles que aqueles que estão longe também poderiam se referir aos judeus que ainda estavam vivendo na diáspora no tempo de Zacarias. Eles viriam de longe e apoiariam a reconstrução do templo do SENHOR. Sua contribuição para o sucesso do templo lhes daria um sentimento de pertencimento, enquanto antecipavam o dia em que retornariam e adorariam a seu Deus Soberano no templo.

Essa profecia também pode se aplicar ao templo de Ezequiel que será construído pelo Messias, provavelmente durante o reinado de mil anos (Apocalipse 20:4-5). A vinda de pessoas de longe também pode se aplicar ao templo de Ezequiel, pois ele será construído depois que Deus trouxer Seu povo que estava disperso entre as nações de volta para a terra de Israel/Judá (Ezequiel 36:24).

Então, Zacarias declara: Sabereis que Jeová dos Exércitos me enviou a vós (v. 15). O cumprimento dessa profecia autenticaria a comissão do profeta como enviado do SENHOR. No entanto, a obediência era uma condição para a realização da promessa. Como o profeta afirmou: Isso acontecerá se obedecerdes completamente ao SENHOR, seu Deus (versículo 15). Um termo da aliança/contrato de Deus com Seu povo é que Ele os restauraria assim que se arrependessem e voltassem para Ele (Deuteronômio 30:1-4).

A cláusula “obedecer à voz de Jeová, vosso Deus” é uma citação literal de Deuteronômio 28, o capítulo no qual o SENHOR explica as bênçãos e maldições que aguardavam ao Seu povo da aliança, dependendo de seu comportamento escolhido na Terra Prometida (Deuteronômio 28:1). Essa cláusula lembrava os judeus de sua posição privilegiada perante Deus e de que haveria consequências para suas escolhas.

De fato, o SENHOR tinha um relacionamento de aliança com Israel e Judá, tomando-os como "sua propriedade entre todos os povos" e lhes concedendo graciosamente o privilégio de serem "um reino de sacerdotes e uma nação santa" (Êxodo 19:5-6). Cumprir o papel que Deus lhes atribuiu exigia fidelidade. Deus sempre cumpriria Sua parte no acordo da aliança porque Ele era "um Deus de fidelidade" (Deuteronômio 32:4). Porém, Israel e Judá falharam em fazer isso, o que fez com que Deus os disciplinasse ao enviá-los para o cativeiro, em conformidade com os termos do acordo de aliança (Deuteronômio 28:49-50; 2 Reis 17:23, 25:11). No livro de Zacarias, o profeta desafia o povo de Judá a agir com fidelidade, obedecendo a Deus e prometendo que, em troca, eles veriam o cumprimento da promessa de Deus na aliança.

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