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Significado de Zacarias 8:14-17

O Deus Susserano (Governante) promete restaurar a sorte do povo de Judá. Porém, Ele esperava que eles vivessem a verdadeira justiça na comunidade e se abstivessem de práticas malignas e desonestas.

Em Zacarias 8:9-13, o SENHOR exorta ao remanescente dos judeus que haviam retornado à sua terra do exílio na Babilônia a serem corajosos para completar a reconstrução do templo, porque Ele lhes daria paz de seus adversários e os abençoaria além da medida. Na presente passagem, Ele continua no tema das bênçãos e dix ao povo o que fazer para satisfazer Suas demandas. Porém, antes que o SENHOR falasse, Zacarias mais uma vez O apresenta usando a fórmula: “Assim diz Jeová dos Exércitos” (v. 14).

O termo “SENHOR” é “Javé” na língua hebraica, descrevendo o Deus de Israel como o Único auto-existente e eterno. Javé é o nome da aliança de Deus, através do qual Ele se revelou a Moisés na sarça ardente (Êxodo 3:14). Esse nome descreve Seu relacionamento com Seu povo e vem do verbo hebraico "ser". É por isso que Deus instrui Moisés a dizer aos israelitas: "EU SOU vos enviei" (Êxodo 3:14). Em Zacarias, o Deus eterno é chamado de Senhor dos Exércitos.

O termo traduzido como “exércitos” é "sabaoth" na língua hebraica e muitas vezes se refere aos exércitos angelicais do céu (1 Samuel 1:3). Assim, a frase “o Senhor dos Exércitos”, que ocorre com frequência nos livros proféticos, descreve Seu poder como um guerreiro liderando Seu exército de anjos para derrotar Seus inimigos (Amós 5:16, 9:5; Habacuque 2:17). Aqui em Zacarias, a frase demonstra Seu poder majestoso como guerreiro supremo que controla todos os assuntos humanos. De fato, o SENHOR é o Deus Todo-poderoso. Ele é "o Senhor de toda a terra" (Zacarias 6:5).

O Deus Todo-poderoso começoa Sua mensagem descrevendo os efeitos de Seu julgamento passado sobre Judá: “Como resolvi fazer-vos o mal, quando vossos pais me provocaram à ira(v. 14). O verbo hebraico traduzido como “resolver” é "zamam", significando “planejar e agir com propósito”. O termo explica a determinação de alguém em fazer algo. Em nossa passagem, lemos que Deus se propôs a “fazer o mal” a Seu povo desobediente a fim de discipliná-lo. Deus fez isso para o bem deles, pois Ele disciplina a quem ama (Provérbios 3:11-12; Hebreus 12:5-6Apocalipse 3:19). Deus sempre ama a Seu povo (Jeremias 31:3).

O verbo hebraico traduzido como “fazer mal” vem do substantivo "raʿah", com uma ampla gama de significados, dependendo do contexto. Em Jonas 1:2, é traduzido como "iniquidade" e refere-se a pecados morais como injustiça, violência e crime (Oséias 10:15; Jeremias 41:11). Em nossa passagem, tem a ver com desastre ou calamidade que Deus envia a Seu povo para discipliná-lo (Amós 3:6Obadias 13). Deus decidiu julgar a Seu povo “quando vossos pais me provocaram à ira” (v.14).

A palavra “ira” fala da ação de julgamento de Deus provocada pela desobediência e injustiça humanas. No caso de Israel, a ira de Deus sobre eles era uma provisão da aliança/tratado com Ele. Israel havia concordado em cumprir o pacto que continha disposições corretivas para a desobediência (Êxodo 19:8). As disposições eram definidas como uma regra de ouro ao inverso. O povo de Israel havia sido informado de que, se adotassem as práticas pagãs exploradoras de seus vizinhos, Deus os entregaria às nações para serem explorados.

No Novo Testamento, lemos que a ira de Deus se derrama sobre qualquer um que negligencie a verdade e, em vez disso, busque seguir à mentira (Romanos 1:18-20). Em Romanos, a ira de Deus se manifesta levando as pessoas a buscarem satisfazer às sua própria carne (muitas vezes às custas de outros), tornando-se escravizadas por seus próprios apetites. Deus os entrega às suas "concupiscências" (Romanos 1:24), produzindo "paixões vis" (Romanos 1:26) e resultando finalmente em uma "mente depravada".

Às vezes, o SENHOR executa Sua ira diretamente. Um exemplo foi quando Ele se irritou ao ver o povo de Israel bancar a meretriz com as filhas de Moabe e "adorou aos deuses delas" (2). Em Sua ira, Ele enviou uma praga matando a todos aqueles que haviam participado dessas atividades, 24.000 no total (Números 25:9).

Nesta passagem, Deus muda de Seu plano em fazer mal a Israel pelo fato de seus pais O terem provocado à ira para “fazer o bem a Jerusalém e à casa de Judá” (v. 15). Isso deixa claro que a ira de Deus não é reativa. Pelo contrário, é proposital. Assim como um pai humano disciplina a seu filho para o seu bem, assim Deus faz com Seus filhos (Hebreus 12:9-11).

O profeta insere a expressão “diz Jeová dos Exércitos” para relembrar a comunidade pós-exílica de Judá sobre o Autor principal da mensagem: Deus estava falando diretamente com eles. Então, o SENHOR acrescenta: “E não me arrependi”, referindo-me ao fato de ter visitado Sua ira sobre os desobedientes. O verbo “arrepender” aqui significa abandonar uma intenção severa ou um tratamento cruel. Por exemplo, no livro de Jonas, Deus teve uma mudança de coração em relação aos ninivitas. Ele mudou seu curso de ação. Em vez de destruí-los, como havia planejado fazer, Ele retira "Sua ira ardente para que não perecessem" (Jonas 3:9-10).

No entanto, em Zacarias, Deus declara não haver cedido de Seu plano de julgar aos israelitas/judeus. Seu julgamento continuou até o dia da profecia de Zacarias. No entanto, agora, Deus planeja abençoar Israel, fazer o bem a Jerusalém e à casa de Judá.

Em Zacarias 1, lemos que os profetas pré-exílicos haviam chamado os ancestrais do remanescente de Judá para retornar ao SENHOR (Joel 2:12-14). Eles foram convidados a abandonar a seus maus caminhos e voltar-se para Deus em fé. Repetidas vezes, os profetas os chamaram a "buscar a Deus para que vivais" (Amós 5:6). No entanto, eles foram rebeldes e teimosos. O povo ignorava a Deus e Suas leis.

Portanto, a paciência de Deus havia se esgotado e Ele pune severamente a Seu povo, conforme estabelecido na aliança/acordo com eles (Zacarias 1:2-6). Porém, o julgamento de Deus não era definitivo. Ele consola aos exilados que estavam retornando e diz: “Por isso, nestes dias, voltei a fazer o bem a Jerusalém e à casa de Judá”. Assim como Deus havia imposto juízo para que Seu povo pudesse se voltar a Ele, Deus agora propõe Sua restauração. No entanto, as pessoas teriam um papel a desempenhar. Sua missão era começar mais uma vez a guardar as principais provisões da aliança/tratado de Deus com eles — resumidas por Jesus como amar a Deus de todo o coração e amar ao próximo como a nós mesmos (Mateus 22:37-40).

Fazer o bem a Jerusalém e Judá” significava reverter os efeitos passados do julgamento, conforme indicado no versículo anterior. A frase preposicional “nestes dias” refere-se aos dias em que a comunidade pós-exílica vivia, em contraste com os dias anteriores, quando os judeus se rebelaram contra Deus e O provocaram à ira (v. 14). Naquele tempo, Deus decidiu discipliná-los ao enviá-los para o cativeiro na Babilônia (2 Reis 25). Porém, agora, Ele faria o bem aos habitantes de Jerusalém e Judá, permitindo-lhes prosperar novamente. Por isso, Ele os encoraja, dizendo: “Não tenhais medo!”

Neste contexto, o medo se referia ao temor das nações vizinhas. O medo é um motivador fundamental da ação humana. Ele pode imobilizar os homens ou afetar seriamente suas atividades. É por isso que o SENHOR diz a Jeremias para não temer a seus oponentes, porque Ele desejava que o profeta completasse sua missão profética (Jeremias 1:8). Da mesma forma, o SENHOR adverte Ezequiel a não temer os israelitas rebeldes, mas a falar-lhes a verdade com coragem, "quer ouçam ou não" (Ezequiel 2:6-7).

Em Zacarias, os exilados que retornavam deveriam ser corajosos a servir a Deus porque Ele promete restaurar Seu favor a eles. Infere-se nesta declaração que o povo de Deus estava sendo convidado a temê-Lo. O temor de Deus é o princípio da sabedoria (Salmos 111:10; Provérbios 9:10). Temer a Deus significa estar mais preocupado em fazer o que Deus nos ordena do que com o que as pessoas podem fazer conosco.

As bênçãos de Deus viriam caso o povo renovasse sua disposição em voltar à aliança à qual haviam prometido cumprir. O Deus Susserano (Governante) havia delineado as obrigações exigidas de Seus vassalos, Judá.

Ele introduz as normas da aliança com a seguinte declaração: “Estas são as coisas que fareis: falai a verdade, cada um com o seu próximo(v. 16).

O termo hebraico para a palavra “verdade” é "ʾemet", significando honestidade e factualidade, referindo-se a uma situação genuína em oposição a uma situação falsa (Deuteronômio 13:14; 17:4). Por exemplo, a rainha de Sabá confessou que o relato que ouvira sobre as "palavras e sabedoria" de Salomão era factual (1 Reis 10:6). Quando alguém fala a verdade aos outros, esaa pessoa é confiável e honesta. As pessoas podem ter confiança no que ela diz. Por outro lado, se ela fala mentiras, ninguém confia nela, a menos que demonstre evidências de uma mudança de comportamento mais tarde. Deus exorta os judeus a serem honestos em todos os seus caminhos. Eles deveriam ter integridade.

O Novo Testamento repete a importância de falarmos a verdade, contrastando-a com seguir a "fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro":

Mas, praticando a verdade em amor, cresçamos em todas as coisas, até chegarmos a ele, que é a cabeça, Cristo (Efésios 4:15).

Este versículo de Efésios nos mostra que falar a verdade em amor é um caminho importante para amadurecermos como crentes e obtermos a realização que Deus deseja para nós como seres humanos.

O segundo mandamento positivo é: “Julgai nas vossas portas juízo de verdade e de paz” (v. 16). A palavra hebraica traduzida como “julgar” é "mišpaṭ", podendo referir-se às leis ou ordens de Deus, abrangendo mandamentos individuais e um resumo de toda a lei (Êxodo 24:3; Deuteronômio 5:1; 7:12). Nesta passagem, "mišpaṭ" refere-se à administração de decisões legais em um tribunal, como sugere o termo “portas, o lugar da administração das leis. Mentir é uma forma de explorar e faz parte dos comportamentos exploradores. Uma das principais razões pelas quais Deus julgou a Israel foi porque sua terra havia se enchido de mentiras, roubos, mortes e adultério (Oséias 4:2).

Deus estabeleceu Israel como nação autônoma baseada no Estado de Direito, na propriedade privada e no consentimento dos governados. Jesus afirmou que a aplicação da lei de Deus resumia-se ao mandamento de amar ao próximo como a nós mesmos (Mateus 22:37-39). Assim, a justiça deveria ser administrada sem parcialidade. Seu povo não deveria "receber suborno", pois isso "cega os olhos dos sábios e perverte as palavras dos justos" (Deuteronômio 16:18-20). Eles não deviam dar preferência aos ricos ou deixar de dar preferência aos pobres, mas julgar com retidão, com base na lei (Levítico 19:5).

Aqui em Zacarias, o SENHOR diz ao povo para julgar com verdade, pois isso traria paz ("shalom", em hebraico), significando que esta prática traria harmonia à comunidade pós-exílio e promoveria a prosperidade do povo. A idéia de "shalom" é que todas as coisas trabalhem juntas de acordo com os bons desígnios de Deus. A lei de Deus reflete aos bons desígnios de Deus. Como afirma o apóstolo Paulo, quando os crentes do Novo Testamento são dirigidos por Deus e andam de acordo com o Espírito, eles cumprem a Lei (Romanos 8:4).

Nos tempos antigos, além de ser entrada e saída das cidades, as portas eram também o local onde os juízes se assentavam para administrar a justiça (Deuteronômio 17:5, 21:19). Uma das principais razões pelas quais Deus julgou a Judá e o enviou para o exílio foi porque eles haviam se tornado opressores dos pobres e não julgavam em justiça (Habacuque 1:4).

O SENHOR, então, equilibra os dois comandos positivos com dois comandos negativos. O primeiro diz: “nenhum de vós intente no seu coração o mal contra o seu próximo(v. 17). O verbo “intentar” carrega conotações ruins e fala de um ato premeditado. Significa conspirar contra alguém, ou seja, estabelecer um plano para prejudicar alguém (Oséias 7:15; Naum 1:9).

Intentar o mal é pensar em maneiras de ferir aos outros. Esse modo de pensar é o oposto de "amar ao próximo como a si mesmo" (Mateus 22:39), pois "o amor não faz mal ao próximo" (Romanos 13:10). A cultura do "amor ao próximo" leva os cidadãos de uma sociedade autônoma a viverem em harmonia uns com os outros, cuidando uns dos outros e protegendo-se uns aos outros. Em Zacarias, o SENHOR diz a Seu povo da aliança que não planejasse maneiras de ferir uns aos outros. Ele acrescenta outra ordem negativa: “Não ameis o juramento falso” (v. 17). Para saber mais sobre a natureza do "amor ao próximo" expresso na lei, leia nosso comentário sobre Levítico 19.

Perjúrio é o ato intencional de se falar algo falso sobre uma pessoa. No mundo antigo, os perjúrios ocorriam com frequência na "sala de audiências", ou seja, nas portas da cidade. Lá, as pessoas faziam juramentos solenes, invocando a Deus para atestar às transações de seus juramentos. Elas prometiam cumprir suas promessas. Mentir sob juramento representava uma atitude antissocial em relação àquele que aceitava o juramento como garantia. Era também uma transgressão contra o SENHOR que servia como fiador dos juramentos. Era um meio egocêntrico de manipular e explorar as pessoas, ou seja, o oposto da cultura de amar ao próximo ordenada por Deus a Seu povo para o seu próprio bem (Deuteronômio 10:13).

O SENHOR é bom e justo em todos os seus caminhos. "Ele ama a justiça" (Salmo 33:5). É por isso que Ele instrui Seu povo da aliança a falar a verdade e promover a justiça na comunidade de Judá. Esses mandamentos faziam parte das coisas às quais Deus amava, porque traziam harmonia à sociedade autônoma. Por outro lado, Deus pedia a Seu povo que se abstivesse de práticas malignas e desonestas. Ele lhes deu a justificativa para fazerem isso: “porque todas estas são coisas que aborreço” (v. 17). As coisas que aborrecem a Deus referem-se aos falsos juramentos e ao planejamento de danos uns aos outros.

Ações malignas e práticas desonestas são prejudiciais a qualquer sociedade, uma vez que rompem a confiança mútua entre os cidadãos, levando-os a ter que investir recursos para se proteger e defender, em vez de construir e criar. Isso leva as pessoas a viverem em isolamento relacional.

Falar falsamente e tramar o mal são contrários ao caráter de Deus. Deus é a verdade e Ele nos mostra os caminhos para a verdade (Salmos 25:10, 57:10, 117:2, 119:151; João 14:6). Deus odeia o engano. Ele fez os seres humanos à Sua imagem. Quando andamos no engano, nos afastamos dos bons desígnios de Deus (Salmo 5:5; Provérbios 6:16-19). Quando os seres humanos andam no engano, eles andam no caminho da morte e da autodestruição. Deus deseja que andemos por caminhos que nos abençoem, ou seja, os caminhos da verdade.

Zacarias encerra esta seção com a expressão “diz Jeová” para relembrar aos exilados judeus que retornavam à sua terra que essas ordens vinham do SENHOR, seu parceiro de aliança. Portanto, eles seriam abençoados se as obedecessem e receberiam o favor e a bênção divina.

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