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Significado de Zacarias 8:9-13
Em Zacarias 8:1-8, o profeta diz aos exilados de Judá que Deus, um dia, residiria em meio a Jerusalém. Ele promete resgatar a Seu povo de seus adversários e ser o seu Deus em verdade e justiça. A promessa de jamais abandoná-los tranquiliza o povo (Deuteronômio 7:7-8).
Agora, na presente passagem, Zacarias sai do futuro distante e volta para o presente, exortando o povo a ser forte e completar a reconstrução do templo. Ele novamente introduz a mensagem com a fórmula “Assim diz Jeová dos Exércitos” (v. 9) para assegurar-lhes que suas palavras eram provenientes de Deus.
O termo hebraico traduzido como “Jeová” é Javé, o Deus eterno e auto-existente que se revelou a Moisés da sarça ardente (Êxodo 3:14). Javé é Seu nome de aliança, descrevendo Seu relacionamento com Seu povo. Esse nome vem do verbo hebraico "ser". É por isso que Deus instruiu Moisés a dizer aos israelitas: "EU SOU vos enviei" (Êxodo 3:14). Em Zacarias, o Deus eterno é chamado de Jeová dos Exércitos, ou "Senhor dos exércitos".
O termo traduzido como “exércitos” é "sabaoth" na língua hebraica e muitas vezes se refere aos exércitos angelilcais do céu (1 Samuel 1:3). Assim, a frase “Jeová dos Exércitos”, que ocorre em todos os livros proféticos, muitas vezes descreve o poder de Deus como guerreiro liderando a Seus exércitos de anjos para derrotar a Seus inimigos (Amós 5:16, 9:5; Habacuque 2:17). Aqui em Zacarias, a frase demonstra o poder de Deus como guerreiro supremo que tem controle total sobre todos os assuntos humanos. De fato, o SENHOR é o Deus Todo-poderoso. Ele é "mui digno de ser louvado; a sua grandeza é insondável" (Salmo 145:3).
No entanto, embora Deus tenha toda a força, Seu desejo era que Seu povo reconstruísse o templo. Assim, Ele instrui o povo: “Sejam fortes as vossas mãos” (v. 9). Deus fez os seres humanos conforme a Sua imagem (Gênesis 1:26). Como Deus é forte e corajoso, Ele exorta Seu povo a ser forte e corajoso. Como Deus é construtor e criador, Ele encoraja Seu povo a construir e a criar.
O verbo “ser forte”, neste contexto, refere-se à força física. O termo é aplicado de forma semelhante a Josué, que ainda se sentia “forte”, apesar de sua idade avançada (Josué 14:11). Isaías fala de uma pessoa doente que recupera suas forças (Isaías 39:1). Porém, o verbo também pode se referir ao entusiasmo ou determinação (Deuteronômio 31:6). Assim, a expressão “sejam fortes as vossas mãos” era um encorajamento não apenas para que eles exercessem o esforço físico necessário para reconstruir o templo, mas também que continuassem a se esforçar (Juízes 7:11; 2 Samuel 7:2). A expressão significava empreender tarefas desafiadoras e perseverar, até que tudo fosse realizado. Deus desejava que Seu povo estabelecesse metas e se esforçasse para alcançá-las. Especificamente, Deus exorta Seu povo a se esforçar para alcançar o grande prêmio da vida sendo testemunhas fiéis e vivendo em Seus caminhos (Filipenses 3:14).
O SENHOR exorta os judeus a serem corajosos: “Ó vós que nestes dias ouvis estas palavras da boca dos profetas” (v. 9). Deus não desejava que eles apenas ouvissem as palavras que estavam sendo ditas, mas que as compreendessem e agissem de acordo com elas. Este é um refrão comum em todas as Escrituras: ouvir, entender e, em seguida, agir de acordo com a Palavra de Deus. Seguem-se alguns exemplos notáveis:
Porque este mandamento que eu hoje te ordeno não é demasiado difícil para ti, nem está longe de ti. Mas a palavra está muito perto de ti, na tua boca e no teu coração, para que a observes (Deuteronômio 30:11, 14).
Bem-aventurado o que lê, e bem-aventurados os que ouvem as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas, pois o tempo está próximo (Apocalipse 1:3).
O termo “profeta” ["nābî", em hebraico] significa "proclamador" ou "anunciador", descrevendo alguém que servia como emissário de Deus. O profeta tinha o chamado particular para receber uma mensagem divina, vivê-la e anunciá-la ao povo. Ele deveria discernir o que Deus pensava sobre uma situação específica, buscando saber o que Ele queria que Seu povo fizesse.
Ambora os profetas fossem responsáveis por proclamar a revelação divina, o povo precisaria entendê-los e obedecê-los, porque eles eram embaixadores de Deus. A responsabilidade atribuída ao povo da aliança com Deus era o de servir como uma nação sacerdotal, mostrando uma maneira melhor de viver às nações vizinhas (Êxodo 19:6).
Na época de Zacarias, os exilados que haviam retornado deveriam obedecer aos profetas, “que existiam nos dias em que foi posto o fundamento da Casa de Jeová dos Exércitos, isto é, do templo, a fim de que fosse edificado” (v. 9). Essa admoestação enfatizava que os profetas estavam falando as palavras de Deus e deveriam ser ouvidos. Esses eram os mesmos profetas que haviam falado no dia em que a reconstrução do templo foi iniciada.
A casa do SENHOR refere-se ao templo de Jerusalém, ao qual os babilônicos haviam destruído em 586 a.C., fazendo com que os judeus passassem cerca de 70 anos exilados na Babilônia (2 Reis 25:8-12). Os profetas que ministraram durante a consagração dos alicerces foram Ageu e Zacarias (Esdras 5:1, 6:14; Ageu 1:1-2).
Na época de Zacarias, alguns judeus já haviam retornado à sua terra natal. Sob o governo de Zorobabel e com a permissão do rei persa, eles haviam retornado a Judá em 538 a.C. e começaram a lançar a fundação do templo em 536 a.C. (Esdras 3:8-13). Eles desejavam completar o projeto, mas pararam de trabalhar nele por cerca de 16 anos por causa das intrigas hostis de seus inimigos. Em 520 a.C., o SENHOR levantou Ageu e Zacarias como Seus mensageiros para encorajar o povo a retomar o trabalho de reconstruir o templo (Esdras 5:1, 2; Ageu 1:1, 2).
O SENHOR, então, explica por que os judeus deveriam ser fortes e completar o projeto de reconstrução contrastando aquele tempo presente com os dias anteriores. Ele declara: “antes daqueles dias, não tinham jornal os homens, nem tinham jornal os animais” (v. 10). A frase “antes daqueles dias” refere-se ao tempo em que os exilados que estavam retornando haviam decidido a reconstruir o templo em 520 a.C. (Ageu 1:15). O fato de não haver “jornal” (salário) indicava que não havia dinheiro para nada, além de sua sobrevivência. As pessoas não tinham renda suficiente para pagar salários nem para homens nem para animais. Era uma luta para simplesmente sobreviver.
Antes de Ageu entrar em cena, em setembro de 520 a.C., a vida era difícil para os judeus. O povo de Judá trabalhava duro para cultivar a terra. Eles plantavam muito, mas colhiam pouco. Eles sentiam fome devido à falta de alimento e tinham pouco vinho para beber. Embora alguns pudessem ganhar dinheiro, suas despesas excediam em muito sua renda (Ageu 1:6). Pior ainda, “nem havia paz para o que saía, nem para o que entrava, por causa do adversário” (v. 10).
A ausência de paz inclui a presença de violência. Quando há violência, as pessoas destinam recursos substanciais para sua proteção. A aplicação de recursos para o aumento do status econômico cria mais coisas a serem tomadas à força; assim, as pessoas preferem investir sua energia para proteger o pouco que têm.
A ausência de paz também indica uma falta de confiança, o que gera uma diminuição do comércio. Sem a livre troca de bens, a comunidade perde o benefício de dividir o trabalho daqueles que possuem habilidades especiais. A consequência natural da violência é a pobreza.
O termo hebraico traduzido como “paz” é a palavra hebraica "shalom". Esta é uma palavra abrangente que aponta para uma vida de harmonia, na qual todas as coisas funcionam de acordo com os bons desígnios de Deus.
Segundo Esdras:
Então, o povo da terra enfraqueceu as mãos do povo de Judá, e os perturbou no trabalho de edificar, e alugou contra eles conselheiros, para lhes frustrar o desígnio por todos os dias de Ciro, rei da Pérsia, até o reinado de Dario, rei da Pérsia (Esdras 4:4, 5).
O "povo da terra" molestava os judeus, desencorajando seu trabalho e frustrando a reconstrução do templo.
Além disso, Deus causou um conflito interno na comunidade pós-exílica de Judá. Como Ele afirma: “Incitei todos os homens, cada um contra seu próximo”. Deus fez isso porque o povo havia perdido suas prioridades. Enquanto deixavam o templo de Deus desolado, eles reconstruíam suas próprias casas. Portanto, Deus os disciplinou através de dificuldades, visando chamar sua atenção (Ageu 1:1-11).
No entanto, os dias ruins haviam se passado e a esperança estava chegando. Deus introduz esse ponto de virada com a frase: “Agora, porém, não me haverei para com o resto deste povo como nos dias passados” (v. 11). O profeta, então, reinsere a fórmula “declara Jeová dos Exércitos” para relembrar a seu público de que Deus era o Autor da mensagem. Ao fazê-lo, ele acrescenta mais peso à revelação.
A expressão “resto desse povo” refere-se aos exilados da Judéia que haviam retornado à sua terra natal em Jerusalém depois de muitos anos de cativeiro na Babilônia (Ageu 1:12, 14). O SENHOR lhes assegura de que as coisas seriam diferentes porque eles "obedeceram à voz de Jeová, seu Deus, e às palavras do profeta Ageu" (Ageu 1:12). A obediência a Deus sempre produz recompensas. Como Jesus disse: "Bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam!" (Lucas 11:28).
O SENHOR ainda explicita duas bênçãos especiais às quais Seu povo receberia. A primeira dizia respeito à produtividade da terra. Nos dias anteriores, eles haviam experimentado uma devastação em suas colheitas (Ageu 1:6). Porém, agora, “haverá a semente da paz” (v. 12). O termo hebraico para “paz” é "shalom". Shalom é um conceito intenso que expressa que todas as coisas trabalham em harmonia com os bons projetos de Deus. Em nossa passagem, isso provavelmente significava que a terra seria fértil. O projeto inicial de Deus era o de que a terra produzisse abundantemente; ela passou a produzir espinhos e cardos como resultado da queda, quando os seres humanos escolheram o caminho da morte em vez do caminho da vida (Gênesis 3:17-19).
Em outras palavras, os judeus plantariam colheitas e as colheriam com sucesso. Todas as plantas cresceriam: “a vide dará o seu fruto, e a terra produzirá a sua novidade, e os céus darão o seu orvalho” (v. 12). Deus faria com que esta bênção fosse a nova realidade dos judeus.
O termo “videira” refere-se às uvas usadas para se fazer vinho. A frutificação da videira indicava paz e produtividade. O termo “orvalho” refere-se à umidade condensada do ar quente pelo solo frio. Grande parte da umidade para a vegetação em Israel e Judá vinha do orvalho, os ventos úmidos que sopram do Mar Mediterrâneo. Deus estava enviando o orvalho para criar prosperidade às culturas e à vegetação natural, especialmente na estação de seca (abril a outubro).
O orvalho é uma fonte de água da qual a vida depende (Gênesis 27:28). Nos dias de Ageu, o SENHOR interrompeu o orvalho na terra de Judá. Como resultado, "a terra tem retido os seus frutos" (Ageu 1:10). Porém, como a disciplina de Deus havia terminado, Ele liberaria novamente o orvalho, permitindo que a terra produzisse colheitas abundantes para Seu povo. Conforme Ele afirma: “farei que o resto deste povo herde todas essas coisas” (v. 12).
O verbo “herdar” é "nāḥal", em hebraico, significando o recebimento de uma parte da herança. No mundo antigo, um pai determinava como deveriam ser divididos seus bens antes de sua morte (Deuteronômio 21:16). O filho primogênito desfrutaria do privilégio de ter "uma porção dupla" (Deuteronômio 21:17). Essa dupla porção provavelmente indicava a sucessão dos chefes de família.
De acordo com Provérbios, a herança é um presente de "um homem bom" para seus filhos (Provérbios 13:22). Em nossa passagem, Deus é esse bom Pai, que supria bons produtos agrícolas a Israel e Judá. Deus recompensa grandemente aqueles que O amam e guardam Seus mandamentos (1 Coríntios 2:2:9). Deus fala da terra de Israel como uma herança, o que significava que Israel governaria a terra (Deuteronômio 4:38). O Novo Testamento também fala de uma herança e afirma que aqueles que são fiéis em seguir em obediência a Deus compartilharão o reinado de Cristo na terra (Colossenses 3:23; Apocalipse 3:21).
Em nossa passagem, lemos que o povo herdaria todas essas coisas. Essas coisas incluíam as bênçãos articuladas nos seguinte versículos:
Assim como Deus recompensaria a Seu povo com colheitas abundantes, Ele também restauraria sua identidade, removendo sua vergonha e maldição. Ele afirma: “Como vós éreis uma maldição entre as nações, ó casa de Judá e ó casa de Israel, assim eu vos salvarei, e sereis uma bênção” (v. 13).
A “casa de Judá” referia-se ao reino do sul, enquanto a “casa de Israel” representava o reino do norte. Esses reinos haviam se dividido durante o reinado do filho de Salomão, Roboão (1 Reis 12:16-17). Ao nomear cada reino separadamente, o SENHOR confirma que os reunificaria (Oséias 1:11).
Deus também elevaria o status de Israel entre as nações. Eles não seriam mais uma maldição. Pode ser que os israelitas e os judeus tivessem sido envergonhados e desprezados. Porém, um dia, eles se tornariam objetos de bênção. Eles recuperariam sua dignidade e status social entre as nações. Por isso, o Senhor lhes ordena: “Não tenhais medo”.
O medo é o principal motivador da ação humana. De fato, as Escrituras afirmam que o princípio da sabedoria é temer ao Senhor (Salmos 111:10; Provérbios 9:10). No Monte Sinai, quando o povo temeu morrer ao ouvir a voz de Deus, Deus os encorajou a temer pecar contra Ele, pois isso traria consequências muito piores (Êxodo 20:19-20).
Semelhantemente aos filhos de Israel no Sinai, Adão e Eva temeram a presença de Deus ao desprezarem descaradamente Sua ordem e comer o fruto proibido no jardim do Éden (Gênesis 3:8-10). Eles receberam graves consequências negativas como resultado de sua desobediência (Gênesis 3:16-19). Isso novamente apoia a lição de que Deus nos leva a temê-Lo, de forma a evitarmos as consequências negativas do pecado.
Nesta passagem, Deus promete remover de Israel o medo das nações vizinhas, assim como Israel havia sido liberto do temor dos egípcios. Quando os israelitas estavam prestes a cruzar o Mar Vermelho, eles ficaram com medo pela aproximação do Faraó e seus exércitos (Êxodo 14:10). No entanto, Deus os libertou (Êxodo 14:29).
Aqui em Zacarias, Deus encoraja Seu povo a não temer, porque Ele abriria caminho para eles e os protegeria. Ele, então, repete as palavras encorajadoras com as quais Ele inicia esta seção: “Sejam fortes as vossas mãos” (v. 13). Não há razão para o pânico quando Deus está do nosso lado. Quando O tememos, cremos em Suas promessas. Isso nos leva a deixar de lado outros medos e a segui-Lo.