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Significado de Zacarias 9:1-8
Zacarias 9 inicia a segunda seção do livro. Nesta seção, o profeta revela o plano de Deus para Judá e para as nações que a cercam. Ele também anuncia o advento do Messias, o futuro rei, que traria paz ao mundo. O profeta introduz a mensagem com um título, informando a seus leitores que a mensagem tinha o peso do “oráculo da palavra do SENHOR” (v. 1).
O termo traduzido como “oráculo” é "massaʾ" no texto em hebraico. Em algumas passagens, "massa" refere-se aos fardos carregados por animais (Êxodo 23:5; 2 Reis 5:17). No livro de Provérbios, o termo denota um tipo de revelação (Provérbios 31:1). Na literatura profética, o termo "massa" geralmente se refere a uma proclamação de desastre dirigida contra nações estrangeiras, conforme vemos aqui (Naum 1:1; Isaías 13:1; 15:1). Este oráculo é a palavra do Senhor.
O termo hebraico para “palavra” é "dābhār". É a mesma palavra usada para "coisa, evento ou matéria" (Provérbios 11:13; 17:9; 1 Reis 14:19). Na Bíblia, o termo “palavra” muitas vezes trata de uma situação ou um evento, como os profetas Amós e Isaías deixam claro (Amós 1:1; Isaías 2:1). Pode ser uma mensagem de julgamento ou uma palavra de esperança e salvação. Essa palavra carrega autoridade e exige uma resposta de seu destinatário, porque vem do Senhor.
O termo hebraico para “Jeová é "Javé", o nome da aliança de Deus. Esse nome fala do caráter de Deus e de Seu relacionamento com Seu povo da aliança (Êxodo 3:14; 34:6). Nesta passagem, o profeta diz a seu público que a palavra vinha de Jeová, dando assim credibilidade à sua mensagem. Zacarias desejava que os judeus soubessem que ele havia recebido uma palavra de seu parceiro de aliança. Portanto, eles deveriam obedecê-la.
A palavra divina era mais que um mero discurso. Era um meio de ação da parte de Deus, da mesma forma que Suas promessas, ameaças, exortação e poder. Zacarias era responsável por proclamar essa palavra fielmente, independentemente de como o povo reagiria. Ele não deveria acrescentar ou retirar nada. A palavra seria cojunicada da forma como Deus havia planejado para a realização de Seu desejo (Isaías 55:11). O profeta inicia seu pronunciamento de juízo: “Oráculo da palavra de Jeová contra a terra de Hadraque” (v. 1).
A terra de Hadraque era uma cidade no norte da Síria. Embora a Bíblia a mencione uma única vez, é um nome familiar em fontes neo-assírias a partir de meados do século VIII a.C. O rei assírio chamado Tiglate-Pileser III conquistou a cidade em 738 a.C. Porém, em 720 a.C., Hadraque uniu-se a Israel e se revoltou, sem sucesso, contra Sargão II da Assíria. A cidade estava localizada ao longo do rio Orontes, entre Alepo e Hamate.
O fato da terra de Hadraque estar conectada com Damasco como “lugar de descanso” indicaria que este oráculo era destinado contra a nação que incluía Hadraque e Damasco. A idéia de “lugar de descanso” (em hebraico, "mnuha") parece incluir um lugar de habitação - uma moradia.
Nesse caso, "mnuha" pode se referir a uma aliança ou parceria entre Hadraque e Damasco, aparentemente porque a terra de Hadraque, de alguma forma, estava em paz com Damasco.
Damasco foi a capital da nação de Arã durante os séculos 10-8 a.C. Ela ainda é a capital da Síria moderna. Nos tempos antigos, Damasco foi rival de Israel muitas vezes, até que o império assírio a conquistou em 732 a.C. (Amós 1:3-5). A terra de Hadraque e sua conexão com Damasco parecem indicar que o julgamento de Deus cairia sobre sua terra.
Como Hadraque, Damasco cairia sob o julgamento de Deus. Elas se submeteriam à Sua autoridade e poder quando Sua palavra marchasse como um exército para conquistá-los: “...os olhos do homem e de todas as tribos de Israel estão voltados para Jeová (v. 1). Isso significava que as nações, incluindo Israel, estavam diante do SENHOR e em submissão a Ele (Salmo 2:8-11).
Zacarias continua a falar sobre o tema do julgamento iniciado na primeira parte do versículo anterior. Ele diz a seu público que Deus iria punir a Hadraque e Damasco, juntamente com Hamate, uma cidade-fortaleza cerca de 130 quilômetros ao norte de Damasco ao longo do rio Orontes, na Síria. Hoje, a cidade é chamada de "Hamã".
O juízo divino alcançaria Tiro e Sidom, “porque é muito sábio” (v. 2). A cidade-estado de Tiro ficava na costa mediterrânea ao norte de Israel (atual Líbano), enquanto Sidom ficava a cerca de 40 quilômetros ao norte de Tiro (Gênesis 10:15; Josué 11:8; Joel 3:4). Eram notáveis cidades-estado da Fenícia no início do século VIII a.C. Naqueles dias, os fenícios eram conhecidos como comerciantes de escravos e eram hábeis na construção, embarcações marítimas e comércio (1 Reis 5:8-9; Neemias 13:16; Salmos 45:12). Sidom é identificada como filha de Canaã em Gênesis 10:15 e pode ser o homônimo do povo e sua cidade.
No versículo seguinte, o profeta destaca a cidade de Tiro buscando descrever suas riquezas, dando a seu público um vislumbre de sua sabedoria: “Tiro edificou para si um lugar forte” (v. 3). A palavra Tiro em hebraico é "tzor", significando "uma rocha". O termo “fortaleza” é "matzor" em hebraico. É um jogo de palavras sobre o nome da cidade de Tiro, denotando um ponto alto definido para fornecer refúgio às pessoas, consistindo de muralhas, torres e portões. Nos tempos bíblicos, uma fortaleza era muitas vezes construída em altas montanhas para ser impenetrável e evitar que os inimigos atacassem os moradores da cidade.
Tiro confiava em sua fortaleza e pensava ser segura e invencível. Tendo construído uma fortaleza para proteger a seus cidadãos, ela “amontoou prata como o pó e ouro fino como a lama das ruas” (v. 3). A Bíblia muitas vezes combina a prata e o ouro ao se referir a riquezas ou a algo precioso, porque ambos são metais valiosos e duráveis.
Por exemplo, lemos em Gênesis que o SENHOR abençoou Abrão com uma grande quantidade de "gado, prata e ouro" (Gênesis 13:2). Mais tarde, Deus recompensou a Salomão com riquezas. Durante o reinado de Salomão, "o rei tornou o ouro e a prata tão comuns em Jerusalém como as pedras e os cedros como os sicômoros que nascem nas campinas em grande quantidade" (2 Crônicas 1:15; 1 Reis 10:27).
Em Zacarias, lemos que Tiro usava esses metais preciosos extensivamente para construir sua fortuna. Como resultado, a cidade se tornou arrogante (Ezequiel 28:2-5). Portanto, o Senhor a julgaria. Conforme Zacarias declara: “Eis que o Senhor a desapossará e ferirá o seu poder no mar” (v. 4).
Desapossar alguém significa privá-lo de suas terras, propriedades ou outros bens. O termo “Senhor” aqui é "Adonai" em hebraico, significando "mestre" ou "governante" em posição de honra, majestade e soberania. O termo é apropriado aqui porque mostra que o SENHOR é o governante do universo, o possuidor de todas as coisas. Como tal, Ele tem o direito de despojar Tiro de suas riquezas. Assim, “ela será devorada pelo fogo” (v. 4). A expressão “devorada pelo fogo” provavelmente retratava o fogo do julgamento de Deus sobre Tiro. Deus é identificado como "fogo consumidor" (Deuteronômio 4:24; Hebreus 12:29) e Seu julgamento é frequentemente retratado como fogo (Levítico 9:24; Números 11:1; 1 Reis 8:38; Amós 7:4; Daniel 7:9; 1 Coríntios 3:13; 15; 2 Tessalonicenses 1:8; Apocalipse 19:20, 20:10).
Os assírios atacaram Tiro várias vezes no século VIII a.C. e os obrigaram a pagar tributos. A cidade, mais tarde, se rendeu a Nabucodonosor em 573 a.C. e caiu nas mãos de Alexandre, o Grande, em 332 a.C. Alexandre massacrou muitos dos cidadãos de Tiro e arrasou suas muralhas. A derrota de Tiro cumpriu a profecia de Ezequiel:
Elas destruirão os muros de Tiro e deitarão abaixo as suas torres; também dela rasparei o seu pó e a farei uma rocha escalvada. 5Ela virá a ser no meio do mar um enxugadouro de redes, porque eu o falei, diz o Senhor Jeová; e servirá de despojo para as nações (Ezequiel 26:4, 5).
Tendo pronunciado juízo sobre a Síria, a nordeste, e Fenícia, ao norte de Israel, o profeta Zacarias volta sua atenção a uma nação localizada a oeste, a Filístia. Ele lista quatro das cinco principais cidades dos filisteus: Asquelom, Gaza, Ecrom e Asdode (v. 5). A única grande cidade filistéia não listada aqui é Gate. Gate pode ter sido omitida por já ter sido substancialmente enfraquecida. Hazael de Arã capturou a cidade em 815 a.C. (2 Reis 12:17). Mais tarde, Uzias de Judá conquistou Gate em 760 a.C. (2 Crônicas 26:6; Amós 6:2).
Ao acusar a Filístia, Zacarias diz a seus ouvintes que a destruição de Tiro seria tão ruim que Asquelom a veria e teria medo (v. 5). A cidade de Asquelom era uma cidade filistéia, um grande porto marítimo na costa do Mediterrâneo, 18 quilômetros ao norte de Gaza e 45 quilômetros ao sul de Tel-Aviv (Juízes 1:18). Era uma próspera cidade portuária. A cidade deve ter entrado em pânico ao observar a derrota de Tiro, na expectativa de um destino semelhante: “Gaza... ficará passada de dor” (v. 5).
A cidade de Gaza era a capital costeira filistéia dentro da sesmaria tribal de Judá (Josué 15:47). Ficava a cerca de 80 quilômetros a sudoeste de Jerusalém. Ela controlava as rotas pelas quais os exércitos invasores entravam em Israel e servia de base para as operações militares persas contra o Egito. Segundo o profeta, Gaza se contorceria de dor por causa da queda de Tiro.
A Bíblia muitas vezes usa a expressão traduzida aqui como “passada de dor” para indicar as agonias de uma mulher dando à luz (Isaías 21:3). Aqui em Zacarias, no entanto, o profeta a usa para descrever o destino de Gaza. Os habitantes de Gaza sofreriam como uma mulher passando pelas dores de parto (Isaías 26:17, Provérbios 31:17). Além disso, Ecrom sofreria “porque a sua esperança será envergonhada” (v. 5). No contexto, o fato de a esperança de Ecrom ser envergonhada parece dizer respeito ao poder combinado da aliança militar que incluía Tiro. Aparentemente, a queda de Tiro significaria sua própria desgraça.
A cidade de Ecrom era a mais setentrional das principais cidades da Filístia. Durante a conquista de Israel, Josué não a conquistou (Josué 13:3). Quando Josué e os líderes israelitas dividiram a terra entre as 12 tribos, eles deram EkronEcrom primeiro a Judá e depois a Dã (Josué 15:11; 45; 46; 19:43). Eventualmente, Judá recuperou Ecrom (Juízes 1:18), mas posteriormente os filisteus a retomaram.
Zacarias diz a seu público que o povo de Ecrom ficaria em agonia como o povo de Gaza porque eles haviam perdido a esperança, já que Tiro, seu aliado, cairia. O rei de Gaza também pereceria, fazendo com que a cidade perdesse sua independência. A cidade de Asquelom “não será habitada”, significando que ela seria esvaziada (Sofonias 2:4). “Um bastardo habitará em Asdode” (v. 6).
O termo hebraico traduzido como “bastardo” é "mamzer", referindo-se a uma pessoa nascida a partir de uma raça mista. Aqui em Zacarias, o termo provavelmente significava que Asdode não mais seria uma cidade filistéia forte - ela seria povoada por povos de outros lugares como resultado da destruição de suas forças militares. Assim, a Filístia perderia sua identidade política e social: “Exterminarei a soberba dos filisteus” (v. 6).
O termo “soberba” é "gāʾôn" em hebraico. Pode ser traduzido como arrogância e refere-se a uma visão imprópria de si mesmo. A arrogância ou o orgulho são retratados nas Escrituras como o oposto da fé (Habacuque 2:4). A fé reconhece que Deus é Deus e que somos criaturas. A fé nos leva a compreender que o que Deus diz sobre a realidade é a verdade. O orgulho, por outro lado, significa desafiar ao princípio de causa-efeito no universo moral de Deus.
Para aqueles que se recusam a viver humildemente, negando a realidade, há consequências: "Quando vem a soberba, então vem a afronta" (Provérbios 11:2). Portanto, Deus julgaria severamente aos habitantes da Filístia para remover seu orgulho e humilhá-los.
A remoção do orgulho da Filístia produziria sua purificação e bênção. O SENHOR declara: “Tirarei da sua boca o sangue” (v. 7).
A lei judaica proibia os israelitas de comer carne sem antes drenar o sangue. Em Levítico, Moisés deixa isso bem claro ao dizer: "Nenhum de vós comerá sangue, nem o estrangeiro que peregrina entre vós". Assim, quando algum homem entre os filhos de Israel ou dos estrangeiros que permanecessem entre eles caçasse uma besta ou um pássaro que pudesse ser ingerido, “derramará o sangue dela e o cobrirá com pó" (Levítico 17:12-13).
No entanto, os filisteus não seguiam à Lei Mosaica, uma vez que não estavam em um relacionamento de aliança com o Senhor. Eles comiam a carne dos animais sem drenar seu sangue. Portanto, o SENHOR promete purificá-los. Ele iria seus caminhos pagãos, inferindo que Deus os redimiria e os reconciliaria consigo mesmo: “e, dentre os seus dentes, as suas abominações” (v. 7).
O termo traduzido como “abominações” é "šiqqûṣ" em hebraico e significa "execrável". Uma forma deste substantivo ("šeqeṣ") ocorre pelo menos oito vezes em Levítico 11 e m referência a animais proibidos (Levítico 11:10-12, 13-19, 20-23, 41-43). Da mesma forma, em Zacarias, "šiqqûṣ" refere-se a coisas ritualmente impuras, especialmente a carne proibida. Isso significava que os filisteus não comeriam mais alimentos impuros de acordo com as leis alimentares mosaicas (Levítico 11:2-23).
Quando isso acontecesse, “ficará também ele de resto para o nosso Deus” (v. 7). No meio da declaração de juízo sobre os filisteus, Deus afirma sua redenção. O povo filisteu se tornaria Seus adoradores e seria como “chefe em Judá” (v. 7), prenunciando que os gentios seriam enxertados em Israel. O apóstolo Paulo afirma que os gentios eram como ramos de oliveira selvagens "enxertados" na "oliveira", que é Israel (Romanos 11:17-19). Deus não deseja que ninguém pereça, mas que todos os povos se reconciliem com Ele (João 3:26; 2 Pedro 3:9). Todos os pecados do mundo foram pregados na cruz e Deus chama todas as pessoas para Si através de Jesus (Colossenses 2:14).
Além dos filisteus se tornarem um remanescente para Deus, Ecrom também seria como um “jebuseu” (v. 7).
Os jebuseus eram nativos de Jerusalém antes e durante a conquista da terra prometida sob Josué. Antes da conquista, a Bíblia os descreve como habitantes da Terra Prometida (Gênesis 15:18-21; Êxodo 3:8). Durante a conquista, a cidade de Jebus era uma fortaleza entrincheirada a partir da qual os jebuseus atacavam os israelitas. Isso ocorreu na região montanhosa do que, mais tarde, seria conhecido como Judá (Números 13:29; Josué 11:3).
Os jebuseus controlaram Jerusalém durante o tempo dos Juízes, até que Davi conquistou a cidade (2 Samuel 24:18). Da mesma forma, o povo de Ecrom, representando o povo filisteu, um dia seria conquistado e faria parte do povo de Deus. Nesse tempo, o SENHOR protegeria as fronteiras de Israel e Judá: “Ao redor da minha casa, acamparei contra o exército, para que ninguém passe, nem volte” (v. 8).
A expressão “minha casa” aqui provavelmente se refira à terra de Israel, como ocorre em Jeremias 12:7 e Oséias 8:1 e 9:15. Pode se referir especificamente ao templo de Jerusalém; mas, neste contexto, Deus parece se referir à Sua presença e proteção a toda a terra de Israel.
Nos tempos do Antigo Testamento, os exércitos que viajavam da Síria para o Egito precisavam passar pela terra de Israel, especialmente pela planície costeira filistéia. Porém, chegaria o dia em que o SENHOR protegeria as fronteiras de Sua terra (Israel) para impedir que os soldados inimigos marchassem através dela. “Não passará mais por eles o exator” (v. 8).
Todos os maus-tratos e crueldade contra Israel pelas mãos das nações invasoras terminariam porque o SENHOR assumiria o controle de Seu território. Ele reafirma esta verdade, dizendo: “Pois, agora, o tenho visto com os meus olhos” (v. 8).
O termo “olhos” fala do cuidado e proteção de Deus (Deuteronômio 11:12). Uma das versões possíveis é: "Pois, agora, estou vigiando". O SENHOR se importava muito com a terra de Canaã, porque essa era a terra que Ele havia prometido dar a Abraão e Seus descendentes (Gênesis 13:15). Portanto, Ele defenderia e protegeria suas fronteiras contra todos os ataques hostis.