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Significado de Sofonias 1:8-13

O SENHOR anuncia o julgamento sobre o povo de Judá por sua exploração e arrogância espiritual. Ele convida os comerciantes e proprietários de terra a lamentar, pois suas riquezas seriam saqueadas e expropriadas pelos invasores.

Após Sofonias advertir ao povo idólatra de Judá a "se calar" diante do Deus Susserano porque o julgamento divino estava próximo (v. 7), ele fornece detalhes sobre o iminente julgamento de Deus sobre o povo de Judá.

Conforme o profeta relata no discurso de Deus a Judá, ele diz: No dia do sacrifício de Jeová (v. 8). O sacrifício, neste caso, era a nação de Judá. Ela seria abatida pelos invasores babilônios.

A palavra “sacrifício” é "zevaḥ" em hebraico. Em seu sentido literal, refere-se ao sacrifícios de animais, como um carneiro ou um bode. No entanto, neste texto o termo é usado figurativamente para o povo de Judá (v. 7). A expressão “dia de Jeová” refere-se ao momento em que o Senhor interviria nos assuntos humanos para julgar a maldade e restaurar a justiça (Isaías 13:6; Ezequiel 13:5; Amós 5:18).

Às vezes, o dia se deriva de algo que o SENHOR quer fazer ou em relação a algo que irá acontecer. Por exemplo, lemos sobre o "dia de tumulto" (Ezequiel 7:7), o "dia de punição" (Isaías 10:3), "dia de escuridão" (Joel 2:2), etc. Em nosso texto, o dia era de sacrifício porque o povo de Judá seria morto da mesma forma que os animais de sacrifício (Levítico 9:23-24). Uma vez que o SENHOR é quem realizaria o sacrifício, o sacrifício é chamado de sacrifício do SENHOR.

Naquele dia, o SENHOR puniria aos príncipes e aos filhos do rei (v. 8). Os príncipes de Judá eram os oficiais da corte do rei (Jeremias 36:12). Os filhos do rei provavelmente se referem aos filhos do rei Josias, que governou Judá a partir de 609 a.C.

De acordo com o livro de 2 Reis, o SENHOR puniu aos filhos de Josias por sua maldade. Após a morte do rei, o povo da terra ungiu a Jeoacaz e o fez rei no lugar de seu pai (2 Reis 23:30). Porém, os egípcios levaram o novo rei como prisioneiro para sua terra e nomearam a Jeoaquim, outro dos filhos de Josias, como rei (2 Reis 23:31-34). Durante o reinado de Jeoaquim (609-598 a.C.), Judá mergulhou na idolatria e persistiu na desobediência e na falta de lei.

De fato, Deus repreendeu ao reino do norte (Israel) por oscilar diplomaticamente entre a Assíria e a Babilônia como uma "pomba tola" (Oséias 7:11). Judá parece ter feito o mesmo, pois logo depois que o Egito prendeu a Jeoaquim, o rei Nabucodonosor da Babilônia o derrotou e colocou a Jeoiaquim (filho de Jeoaquim) no trono. Jeoiaquim governou sobre Judá por apenas três meses e depois foi levado cativo para a Babilônia (2 Reis 24:8-16).

Mais adiante, o rei Nabucodonosor cegaria a Zedequias, outro dos filhos de Josias, levando-o cativo (2 Reis 24:18 - 25:7). Tudo isso aconteceu porque os filhos do rei estavam sob o julgamento de Deus por causa de sua maldade e também por causa da maldade de seus pais, especialmente Manassés, que havia levado Judá a se envolver na prática pagã do sacrifício de crianças, fazendo seu filho "passar pelo fogo" (2 Reis 21:6,, 9, 23:26-2724:3-4; Jeremias 15:4).

Outro grupo sujeito ao julgamento do SENHOR incluía os que se vestem de trajes estrangeiros (v. 8). O uso de roupas estrangeiras indicava uma ligação com costumes e práticas de outras terras. O povo de Judá queria se identificar com os estrangeiros e sua cultura e, então, usavam suas roupas para mostrar que haviam adotado a seus costumes e valores em vez de viverem conforme o desígnio de Deus de harmonia e colaboração mútua.

Ao fazerem isso, eles abandonaram sua identidade como povo consagrado ao SENHOR, seu Deus (Deuteronômio 7:6; 14:2). Ao adotarem a cultura pagã, eles também adotaram a cultura de exploração, engano, injustiça e violência (Oséias 4:2; Amós 5:12). Por essa razão, Deus os julgaria.

Um terceiro grupo ao qual Deus puniria incluía a todos os que saltam por cima do limiar (v. 9). O limiar era feito de uma única pedra na entrada das casas e era ligeiramente elevada em relação ao nível do chão. Ela tinha encaixes cortados em suas bordas externas e sua altura impedia que as portas caíssem para fora. Os antigos consideravam as entradas de um limiar como sagradas e, ao mesmo tempo, vulneráveis.

A expressão “todos os que saltam por cima do limiar” pode se referir a evitar o contato com o limiar do templo como uma cópia de uma superstição pagã. Essa prática tinha origem nos sacerdotes filisteus, que evitavam pisar no limiar do templo do deus Dagon em Asdode (1 Samuel 5:1-5). Essa prática se originou do episódio em que Deus derrubou ao ídolo filisteu e cortou sua cabeça no limiar de seu templo (1 Samuel 5:5). Talvez os sacerdotes pagãos tenham inventado uma história para explicar a intervenção do Deus Vivo e a transformaram em algo ao qual controlavam, evitando pisar no limiar. O sincretismo com as religiões pagãs parece ter sido uma prática comum em Judá (Ezequiel 8:12-16).

Não apenas o povo de Judá praticava a superstição pagã de evitar o contato com o limiar do templo, mas também enchiam de violência e de dolo a casa do seu amo (v. 9). Ideias têm consequências e a cultura pagã do "posso satisfazer meus apetites e justificá-los através da adoração ao ídolo que criei" era uma cultura de racionalização. Uma vez que a racionalização e o foco em si mesmos eram adotadas, isso inevitavelmente os levaria ao engano, exploração e violência (Oséias 4:2).

O termo traduzido como “amo” é "Adonai" em hebraico. Significa governante ou mestre e pode ser usado tanto para Deus quanto para o homem (veja Sofonias 1:7 e Gênesis 18:12, respectivamente). Algumas traduções indicam que Judá estava adorando ao Deus errado. Provavelmente a melhor versão seria "senhor", porque o templo era a casa de Deus, independentemente do pecado do povo.

O termo hebraico para “violência” na frase “violência na casa do seu amo” é "chāmās". Ele abrange desde assassinato e estupro até malignidade e derramamento de sangue (Oséias 4:2; Obadias 1:10; Habacuque 2:8). A violência é um assunto sério porque os seres humanos foram criados à imagem de Deus (Gênesis 1:26; 9:6). A principal lei da aliança de Deus para Israel era amá-Lo, segui-Lo e amar ao próximo como a si mesmos (Mateus 22:37-39).

No Novo Testamento, o principal mandamento de Jesus era o de amar uns aos outros assim como Deus nos ama (João 13:34). Quando amamos ao nosso próximo, buscamos o melhor para eles. Porém, quando praticamos o engano, buscamos explorar ao próximo.

O termo hebraico para “enganação” na frase “encheram a casa do seu senhor com violência e enganação” é "mirmâ". Alguém que emprega a enganação fala de maneira a obter vantagens pessoais, explorar para se obter ganho. No tempo de Sofonias, o povo de Judá havia enchido a casa de seu senhor com bens adquiridos por meio de violência e enganação. Eles maltratavam uns aos outros por interesses pessoais. Isso refletia a cultura do paganismo. A idolatria fornece uma racionalização moral para a exploração egoísta dos outros. Assim como manipulamos ao ídolo, podemos manipular aos outros. No entanto, quando todos praticam isso, acabamos com uma sociedade em que os fortes exploram aos fracos.

Continuando o discurso solene sobre a intenção de Deus de punir o povo pecador de Judá, Sofonias novamente enfatiza o dia de sacrifício e declara o que aconteceria nesse dia.

O profeta acrescenta a fórmula “declara o SENHOR” à frase (v. 10) para dar peso à mensagem e confirmar sua veracidade. Ele queria deixar claro que a mensagem vinha diretamente do SENHOR, o Deus Todo-poderoso que tinha um relacionamento de aliança com Judá. A expressão “Naquele dia” se refere ao momento em que Deus interviria para julgar Judá; (Judá seria sacrificada como um animal pela Babilônia, conforme descrito no versículo 7).

O SENHOR, por meio de Sofonias, descreve as reações do povo de Judá no dia do Seu julgamento. Ele diz que haveria uma voz de clamor desde a porta dos peixes e um uivo desde o segundo quarteirão (v. 10). A porta dos peixes e o segundo quarteirão se referem a localidades em Jerusalém.

O som de um clamor era o ruído que o povo de Judá produziria ao expressar suas aflições. Da mesma forma, os uivos descreveriam o lamento dos habitantes de Judá ao expressarem suas circunstâncias angustiantes. No dia do julgamento do SENHOR, Judá sentiria grande desconforto e clamaria por ajuda em desespero (Salmo 9:12). Seu clamor seria ouvido da porta dos peixes e do segundo quarteirão.

Nos tempos antigos, a Porta dos Peixes era uma das principais entradas para Jerusalém. Ficava próxima à parede norte, perto do Monte do Templo. Era o local onde as pessoas compravam e vendiam peixes. A Porta dos Peixes proporcionava uma entrada pela muralha norte, logo a oeste da Torre de Hananel (Neemias 12:38-39). Foi construída na época de Davi. Mais tarde, fez parte das fortificações de Manassés (2 Crônicas 33:14). Sob a liderança de Neemias, o povo de Judá restaurou a Porta dos Peixes após o exílio babilônico (Neemias 3:3).

O Segundo Quarteirão era um distrito de Jerusalém onde vivia a profetisa Hulda (2 Reis 22:14). Ele surgiu quando o rei Ezequias construiu as primeiras muralhas defensivas ao redor das colinas ocidentais da cidade (2 Crônicas 32:5). O rei Manassés reparou essas muralhas durante o seu reinado: "Ele construiu o muro exterior da cidade de Davi no lado oeste de Gion, no vale, até a entrada da Porta do Peixe" (2 Crônicas 33:14).

Além do clamor do povo de Judá, haveria um grande quebrantamento desde os outeiros (v. 10). Jerusalém era construída sobre uma série de colinas. Isso poderia significar que, quando os adversários atacassem a Judá, os edifícios entrariam em colapso, causando um estrondo vindo das colinas. A destruição ocorreria por toda parte na cidade de Jerusalém por causa da rebelião de Judá. Também poderia se referir às colinas circundantes, onde os atacantes se reuniriam para atacar a cidade (2 Reis 25:1-4).

A magnitude do desastre leva o profeta a emitir um comando a Judá: Uivai, habitantes de Mactés (v. 11). O termo “Mactés” refere-se a um distrito comercial em Jerusalém. Ficava dentro das muralhas da cidade de Jerusalém no século VII. Assim como Deus chamava cada distrito de Jerusalém a se lamentar, Ele instrui o distrito de Mactés, na seção oeste, que se juntar ao lamento. A razão era porque desfeito está todo o povo de Canaã (v. 11).

A palavra hebraica "kĕnaʿan", traduzida em nosso texto como "Canaã", também pode ser entendida como "comerciantes" ou "negociantes" (Oséias 12:7). Esse provavelmente é o significado pretendido aqui. Neste caso, o termo é um jogo de palavras que evoca a idéia da influência cananéia. Os comerciantes de Judá haviam reproduzido as práticas desonestas dos cananeus ao utilizarem balanças falsas em suas transações financeiras para enganar àqueles que compravam deles. Mais uma vez, esta era a cultura pagã de exploração que havia se infiltrado na vida cotidiana, rompendo a aliança de Deus com Israel, que exigia que o povo interagisse uns com os outros de maneira verdadeira e construtiva.

Alguns anos antes de Sofonias, o profeta Amós havia denunciado tais práticas em Israel (Amós 4:1; 8:5-6). Como o povo de Judá reproduzia as práticas imorais e exploradoras dos cananeus, todos seriam silenciados. Eles não existiriam mais. Exterminados os que estavam carregados de prata (v. 11). Isso significava que o comércio cessaria e os negócios em Judá seriam destruídos.

No mundo antigo, as pessoas usavam pesos para medir quantidades de prata. Um peso pesava um “siclo”, a unidade básica do sistema de peso israelita, equivalendo a 11,4 gramas de prata. O povo de Judá trapaceava nos mercados e enriquecia através da exploração dos outros. Porém, Deus os puniria e eles perderiam toda sua riqueza (v. 13). Por este motivo, o profeta ordena que eles lamentassem suas perdas.

O restante desta seção consiste nas declarações do SENHOR sobre as ações a serem tomadas contra o povo desobediente de Judá e as consequências que eles sofreriam. O SENHOR introduz tais ações com a fórmula: Isso acontecerá naquele momento (v.12). Esta introdução servia para informar ao povo de Judá de que o julgamento de Deus estava se aproximando.

Tendo anunciado Seu julgamento, o SENHOR o detalha em duas partes. Na primeira, Ele declara: Esquadrinharei a Jerusalém com velas (v. 12). “Esquadrinhar” algo com velas significava conduzir uma investigação minuciosa, procurar em todos os cantos escuros para se encontrar ao objeto desejado. O livro de 2 Reis ilustra essa prática. Quando o rei Jeú "entrou na casa de Baal com Jonadabe, filho de Recabe, disse aos adoradores de Baal: 'Vejam e certifiquem-se de que aqui não há nenhum servo do SENHOR, mas apenas adoradores de Baal'" (2 Reis 10:23). Em nosso trecho, o SENHOR vasculharia Jerusalém e exporia aos habitantes de Judá que haviam adotado a cultura pagã de exploração e indulgência (veja também Ezequiel 8:12-16).

Na segunda parte, o SENHOR descreve as pessoas às quais Ele puniria usando uma metáfora retirada do processo de fermentação do vinho: Castigarei aos homens que estão encravados nas suas fezes (v. 12).

Na fermentação do vinho, as pessoas costumavam transferi-lo de um recipiente para outro visando separá-lo dos sedimentos. Se o vinho ficasse por muito tempo sobre as borras, ele estragava. O vinho engrossava e tinha que ser destruído (Jeremias 48:11-12).

No livro de Sofonias, o SENHOR usa a metáfora do vinho para se referir aos habitantes de Judá. Eles haviam desfrutado de suas riquezas por tanto tempo que passaram a confiar em si mesmos, em vez de confiarem em Deus. Eles se tornaram estragados. Aquelas pessoas complacentes esqueceram a fonte da provisão de suas necessidades e se tornaram arrogantes, dizendo em seu coração: Jeová não fará o bem, nem fará o mal (v. 12).

Aquelas pessoas aparentemente haviam decidido que Deus era uma força a ser manipulada, assim como os ídolos. Elas haviam se tornado confiantes em si mesmas e ignorado ao SENHOR, o Deus Todo-poderoso.

Portanto, falando em nome de Deus, o profeta descreve as consequências que os homens complacentes sofreriam. As riquezas deles se tornarão em despojo, e as suas casas, em desolação (v. 13). O povo de Judá não teria nada, pois o inimigo levaria embora seus bens materiais e destruiria suas casas.

Edificarão casas, mas nelas não habitarão; plantarão vinhas, porém não lhes beberão o vinho. (v. 13). O SENHOR invocaria as disposições da Sua aliança com eles e eles seriam exilados para longe de suas casas e terra (Deuteronômio 28:37, 49-50, 64). Assim, eles não mais habitariam suas próprias casas, nem beberiam vinho de suas próprias vinhas. Todas as suas terras e moradias seriam possuídas por outros.

Construir casas e plantar vinhas requeriam energia, planejamento, paciência e recursos financeiros. Tais projetos eram investimentos de longo prazo e aumentavam de valor ao longo do tempo. Assim, perder a casa ou a vinha era experimentar uma grande tragédia. Porém, o Deus Susserano (Governante) aplicaria justiça ao povo de Judá. Eles haviam escolhido explorar aos outros, assim Deus os entregaria à Babilônia para serem explorados (Mateus 7:2). Ele os privaria de todos os tesouros ilicitamente adquiridos porque eles O haviam ignorado, bem como às leis de Sua aliança. Ele havia dado amplos avisos e oportunidades para o arrependimento. Agora, Ele invocaria as disposições corretivas do pacto. O princípio do "faça aos outros" seria invocado, mas desta vez como uma questão de julgamento. Judá havia feito maldades aos outros. Agora verá a maldade recair sobre sua cabeça.

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