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Significado de 2 Tessalonicenses 3:6-15

Paulo lida com uma questão específica dentro da igreja de Tessalônica. Alguns crentes não estavam se auto-sustentando e se recusavam a trabalhar. Eles estavam vivendo do trabalho dos outros, provocando conflitos ao agirem como desocupados. Paulo determina que os tessalonicenses parassem de alimentar àquelas pessoas, fazendo-as voltar ao trabalho. Caso se recusassem, elas deveriam ser ignoradas até que se arrependessem.

Paulo aborda uma última questão específica na igreja de Tessalônica. Podemos inferir desta passagem e das exortações que Paulo fez em sua primeira carta que algumas pessoas na igreja haviam tomado a perspectiva de que, já que Jesus estava voltando em breve para governar o mundo, não haveria razão para perder tempo trabalhando ou se preocupando com dinheiro. Tal perspectiva estava errada, como Paulo explicará, criando um fardo sobre os outros crentes que continuavam a trabalhar em seus empregos diários para se sustentar. Aqueles que haviam decidido parar de trabalhar (pelo fato da volta de Jesus ser iminente) ainda precisavam comer e beber para se manterem vivos. Assim, eles aparentemente haviam se tornado sanguessugas, dependentes de seus companheiros de fé.

Paulo chama a atenção dessas pessoas: Nós vos mandamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de qualquer irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes. Logo de cara, Paulo diz aos tessalonicenses para se manterem longe dos irmãos (crentes em Jesus) que levassem uma vida indisciplinada. Eles precisavam cortar os sanguessugas. Eles deveriam parar de dar-lhes comida, água e, possivelmente, dinheiro em suas vidas desregradas. Eles não deveriam apoiar sua preguiça, não deveriam facilitar suas vidas contraproducentes. A preguiça não traz glória à palavra do Senhor, conforme Paulo lhes ensina (2 Tessalonicenses 3:1).

Este era um princípio tão importante que Paulo emite uma ordem em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Este era um problema sério e exigia uma ação severa. Paulo escreve aos irmãos, companheiros crentes, a fim de conduzi-los ao maior benefício para si mesmos e sua comunidade. Seu mandamento era que eles se mantivessem afastados de todo irmão que levasse uma vida indisciplinada, o que, neste caso, significava a recusa ao trabalho. Ao fazer referência aos irmãos, o apóstolo deixa claro que aquelas pessoas eram parte da comunidade cristã dos tessalonicenses. Os tessalonicenses deveriam manter-se afastados deles, não deveriam participar de forma alguma na viabilização do comportamento destrutivo daqueles irmãos indisciplinados.

Paulo declara que a ideia de parar de trabalhar e tirar vantagem dos outros crentes não estava de acordo com a tradição que eles haviam recebido. Nem Paulo, nem Silas, nem Timóteo haviam modelado tal comportamento aos tessalonicenses, nem ensinado a doutrina de que Jesus estava voltando e que as pessoas não precisariam mais prover para si mesmas. Muito pelo contrário. Paulo havia sido diligente em prover suas próprias necessidades a partir de seu próprio trabalho (1 Coríntios 9:1-8, 15-18; 2 Tessalonicenses 8).

Paulo recapitula como ele e sua equipe haviam vido enquanto estavam em Tessalônica pregando o Evangelho: Porque vós mesmos sabeis como deveis seguir ao nosso exemplo; porque não agimos de maneira indisciplinada entre vós. Para que uma comunidade prospere, é necessário que os membros dessa comunidade tenham disciplina para trabalhar, para contribuir com seus dons como membros valiosos de uma equipe. Fazer o contrário destrói o tecido da comunidade e denigre sua ordem.

Paulo teve o cuidado de ser um bom exemplo de disciplina e trabalho. Ele não comia o pão de ninguém sem pagar por isso. Qualquer comida que Paulo e sua equipe comiam era comprada; se um crente compartilhava alimento com eles, eles o reembolsavam pela provisão.

Como Paulo e sua equipe missionária tinham dinheiro? Eles trabalhavam. Paulo lembra aos tessalonicenses o exemplo que dera a eles, inclusive aos que criam que Jesus estava voltando a qualquer momento para estabelecer Seu Reino: Mas, com trabalho e dificuldades continuamos trabalhando noite e dia para que não fôssemos um fardo para nenhum de vós. Paulo era um produtor de tendas e trabalhava pelo menos meio período para comprar bens de primeira necessidade, para que pudesse passar o resto de seu tempo pregando o Evangelho (Atos 18:3-4). Às vezes, ele recebia ajuda financeira da igreja em Filipos (Filipenses 4:15-16). Na verdade, ele recebeu uma ajuda de Filipos enquanto estava em Tessalônica. Porém, esta ajuda parece ter chegado tarde ou não ter sido suficiente para pagar por todas as suas necessidades, porque eles continuaram trabalhando dia e noite para terem fundos suficientes e evitarem se tornar um fardo financeiro para qualquer um dos tessalonicenses.

Paulo afirma que, como apóstolo de Cristo, ele tinha autoridade para pedir alimento e bebida. Não seria inadequado se ele o tivesse feito, mas ele acreditava que isso feriria sua credibilidade: Não porque não temos direito a isso (pedir para ser alimentado pelos outros), mas para nos oferecermos como modelo para vós, para que seguísseis a nosso exemplo. O objetivo de Paulo era fornecer um modelo e exemplo aos tessalonicenses. Ao fazer isso, ele evitava o problema que agora precisava corrigir. Talvez ele tivesse em mente evitar que crentes imaturos pensassem: "Ah, já que Jesus voltará em breve, as ambições terrenas não importam. Vou apenas esperar pela volta Dele." Seu modelo e exemplo era de trabalho e altruísmo. Levantar recursos para suprir suas necessidades era um ato de serviço aos outros, porque evitava que se tornasse um fardo para seus amigos e familiares.

Anos depois de escrever esta carta, enquanto se despedia dos presbíteros da igreja em Éfeso, Paulo explica sua perspectiva de levantar seus próprios recursos em seu ministério:

"Não cobicei prata, ouro ou roupa de ninguém. Vós mesmos sabeis que estas mãos serviram às minhas próprias necessidades e aos homens que estavam comigo. Em tudo vos mostrei que, trabalhando arduamente desta maneira, deveis ajudar aos fracos e lembrar-vos das palavras do Senhor Jesus, que Ele mesmo disse: Melhor é dar do que receber'" (Atos 20:33-35).

Isso mostrava que a prática de Paulo de prover por suas próprias necessidades através de seu trabalho próprio continuou até o fim de seu ministério. É, portanto, compreensível que Paulo olhasse para a preguiça com rigidez, determinando que a única maneira de acabar com ela seria estabelecer um limite simples, ainda que severo, contra aqueles que tentassem tirar vantagem de outros crentes:  Pois mesmo quando estávamos convosco, costumávamos dar-lhe esta ordem: se alguém não está disposto a trabalhar, que não coma.

Era comum que os crentes compartilhassem alimentos por generosidade e amor aos necessitados. Vemos esse exemplo em Atos 2:46, onde houve uma partilha de bens. No entanto, é provável que isso tenha ocorrido apenas para compensar as perdas sofridas devido à perseguição, não para alimentar pessoas que haviam optado por não trabalhar.

Deus deseja que façamos doações de coração, que sejamos caridosos, que ofertemos com alegria, não de forma miserável, priorizando as pessoas que genuinamente sejam necessitadas (2 Coríntios 9:6-7, Lucas 6:38, Provérbios 22:9). Deus também deseja que carreguemos os fardos dos outros, juntamente com nossas próprias cargas (Gálatas 6:2, 5). Vemos pela exortação de Paulo aqui que não seria caridoso permitir a preguiça. Não ajudamos em nada as pessoas quando as apoiamos a viver uma vida indisciplinada.

Assim, qualquer pessoa que não esteja disposta a trabalhar, escreve Paulo, não deveria comer. Não lhe dê comida, não apoie sua complacência. Não dê incentivo para que ela viva uma vida indisciplinada. Quando permitimos que as pessoas sejam indolentes, somos cúmplices de um estilo de vida autodestrutivo. Tal pessoa explorará aos outros crentes, prejudicando-os, tirando deles, em vez de servi-los. Todos os crentes são chamados a serem servos uns dos outros, não a explorarem uns aos outros (Romanos 12:1). Viver uma vida preguiçosa não glorifica a palavra de Deus.

Paulo explica por que estava abordando esse problema: Pois ouvimos que alguns entre vós estão levando uma vida indisciplinada, não fazendo nenhum trabalho, antes se intrometendo nos negócios alheios. Provavelmente foi relatado a Paulo pela liderança de Tessalônica, ou talvez por Timóteo ao visitar os tessalonicenses (1 Tessalonicenses 3:6), que alguns crentes na igreja estavam levando uma vida indisciplinada, o que significava que eles não estavam fazendo nenhum trabalho. É claro que não é nada gratificante ficar sentado sem fazer literalmente nada o dia todo. Portanto, esses crentes que faziam trabalho algum haviam encontrado outra coisa com a qual se ocupar: eles começaram a se meter nos negócios alheios. Sem trabalho para fazer, aquelas pessoas tinham tempo para se meter nas vidas dos outros. Pelo fato de não cuidarem de seus próprios negócios, elas se metiam nos negócios das outras pessoas.

A solução de Paulo para tal problema em relação àquelas pessoas foi, primeiro, cortá-las das doações. Assim, em termos muito fortes e diretos, Paulo escreve que ele, Silas e Timóteo ordenavam e exortavam no Senhor Jesus Cristo que aquelas pessoas trabalhassem de maneira tranquila e comessem seu próprio pão. Era, ao mesmo tempo, um mandamento e uma exortação, mas também uma solução óbvia e amorosa. Essas pessoas precisavam voltar a trabalhar. De forma tranquila, após se ocuparem, elas deveriam exercitar a humildade e ficar fora dos negócios alheios. Elas deveriam se concentrar em cuidar de si mesmas e, assim, comer seu próprio pão.

Paulo volta-se àqueles que já estavam trabalhando e cuidando de si mesmos, conforme seu ensino: Mas, quanto a vós, irmãos, não se cansem de fazer o bem. Paulo não os encoraja a deixarem de ser generosos, ele desejava que eles continuassem a fazer o bem. Ele só faz distinção entre o que era realmente bom e o que era prejudicial. Passar a mão na cabeça de pessoas desocupadas e preguiçosas éra algo prejudicial à comunidade e ao testemunho do Evangelho.

Em sua nota final para aquelas pessoas que viviam vidas indisciplinadas, Paulo apresenta mais uma ação que os crentes deveriam tomar: Se alguém não obedecer às nossas instruções nesta carta, tomai nota dessa pessoa e não vos associeis a ela, para que seja envergonhada.

Se, mesmo depois que a carta fosse lida à igreja dos tessalonicenses, os desocupados não estivessem dispostos a trabalhar e não se arrependessem, eles precisariam ser disciplinados. Os irmãos deveriam deixar de se associar a eles. Isso era algo desagradável, mas se aquelas pessoas realmente não fossem influenciadas pela correção do apóstolo, a última decisão deveria ser romper-se a comunhão com elas para o seu próprio bem, para a proteção da comunidade e para a reputação do Evangelho.

Se, mesmo depois de a carta ser lida à igreja, ainda houvesse irmãos que permitissem que os desocupados continuassem a não trabalhar, essas pessoas também deveriam ser evitadas. O mandamento de Paulo se aplicava tanto àqueles que se recusavam a trabalhar quanto àqueles que permitiam tal comportamento preguiçoso.

O objetivo não era descartá-los, mas envergonhar aos preguiçosos. Através da experiência do isolamento e da vergonha, a esperança era a de que aquelas pessoas se desculpassem, começassem a trabalhar novamente de forma tranquila, ganhando seu próprio pão e deixando de ser um problema e um fardo para a comunidade. Paulo escreve: Não o considerem como inimigo, mas o admoestem como a um irmão. Essa medida drástica de cortar a associação com os desocupados tinha o objetivo de admoestá-los, não de considerá-los como inimigos. A pessoa que se recusava a trabalhar ainda era um irmão em Cristo, crente no Evangelho, não se opunha a Deus, não era inimigo de Jesus. A instrução e o mandamento de Paulo aqui era para se buscar restaurar tal irmão de volta à comunhão com os outros crentes, para que a igreja pudesse funcionar em harmonia uns com os outros (Colossenses 3:12-13, Romanos 12:16-18).

Podemos concluir das instruções de Paulo aqui uma importante lição sobre a construção da cultura organizacional. A cultura é, em grande parte, moldada pelo que é honrado ou envergonhado. Paulo exorta os tessalonicenses a serem intencionais para honrar o trabalho e envergonhar a preguiça. Ao fazer isso, ele deixa claro que a igreja deveria ter uma cultura de disciplina e trabalho duro.

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