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Significado de Atos 10:1-8
A igreja estava experimentando um tempo de paz, agora que Saulo, o fariseu, chegou à fé em Cristo. Ele era a ponta de lança da campanha das elites judaicas para destruir aos que haviam crido em Jesus. Depois que Jesus apareceu a Saulo no caminho de Damasco, ele mudou de lado, comprometendo-se a pregar o Evangelho, em vez de silenciá-lo. Vários anos se passam e Saulo se muda para a cidade de Tarso, buscando evitar conflitos em Jerusalém. Tarso era a cidade natal de Saulo na província da Cilícia, parte da atual Turquia.
A igreja em Jerusalém crescia em número agora que a perseguição havia diminuído (Atos 9:31). Isso permitiu que Pedro viajasse e visitasse outras igrejas por toda a Terra Prometida. Ele curou um paralítico em Lida; depois seguiu para a cidade de Jope, na costa israelense do Mar Mediterrâneo. Em Jope, Pedro (pelo poder de Cristo) ressuscitou uma mulher chamada Tabita dentre os mortos, o que fez com que muitos dos cidadãos de Jope cressem em Jesus. Depois desse milagre, Pedro descansou de suas viagens e "ficou em Jope por muitos dias em casa de um curtidor chamado Simão" (Atos 9:43).
“Um homem em Cesaréia, por nome Cornélio, centurião de uma coorte chamada italiana” (v. 1). Cesaréia (também chamada de Cesaréia Marítima) era outra cidade costeira a pouco mais de 45 quilômetros ao norte de Jope (ver mapa). Durante seu reinado, Herodes, o Grande, construiu a cidade sobre uma antiga vila e fez de Cesaréia um importante porto comercial, dando a ela o nome de César Augusto como meio de ganhar o favor do imperador. Cesaréia logo se tornou a capital de Roma para a província da Judéia. Continha, portanto, a sede do governador. Isso, portanto, removeu de Jerusalém a sede primária do poder romano; Jerusalém estava mais no interior, localizada numa posição íngreme nas colinas. Cesaréia era mais conveniente para Roma, estando na costa marítima.
Anos antes, Filipe, o evangelista, terminara sua viagem missionária em Cesaréia no capítulo 8 (Atos 8:48) e parece ter-se estabelecido lá, já que Saulo/Paulo (e Lucas, o autor de Atos), mais tarde, visitariam sua casa e família (Atos 21:8-9). O Evangelho já estava sendo pregado em Cesaréia e uma igreja já havia sido estabelecida lá.
O homem aqui apresentado, Cornélio, era um centurião da coorte italiana. Um centurião tinha cem soldados romanos a seu comando (do latim "centum", que significa "cem", assim como "século" significa cem anos). O fato de ser um centurião de uma coorte italiana provavelmente significava que Cornélio e os homens sob seu comando eram provenientes da Itália, provavelmente de Roma, não de qualquer outra nacionalidade ou origem. Eles eram integralmente romanos.
Cornélio era, então, parte de uma elite militar de alta patente. Porém, parece que seu tempo em Israel o havia mudado. Lucas descreve Cornélio como um homem devoto e temente a Deus com toda a sua família, e dava muitas esmolas ao povo judeu e orava a Deus continuamente (v. 2).
Era devoto e temia a Deus. Toda a sua família também temia a Deus. Talvez ele tivesse vindo para a Terra Prometida como um ocupante militar para manter o controle sobre o povo subjugado, um politeísta crente em Júpiter e Vênus e dezenas de outros deuses romanos. No entanto, ao invés de oprimir ao povo judeu conquistado em Cesaréia, eles lhes dava muitas esmolas. Ele não apenas dava esmolas, mas dava muitas esmolas, possivelmente significando que dava esmolas continuamente.
Ele claramente se importava com o povo judeu. Ele não tinha incentivo algum em fazer caridade a um povo que Roma havia conquistado - nenhum benefício aparente. Isso indicava que Cornélio ajudava aos judeus porque confiava em seu Deus. Ele era um homem generoso. Esta é uma afirmação estranha - Cornélio dava muitas esmolas e orava a Deus continuamente - porque na sociedade romana, dava-se algo a alguém esperando uma retribuição, ou seja, estabelecendo-se uma relação recíproca. Porém, Cornélio fazia o oposto disso. Ele dava aos que não poderiam retribuir.
Ele cria no Deus Javé dos judeus e parece plausível observarmos que ele não mais adorava aos deuses romanos, já que Javé era o Senhor dos senhores e o Rei dos reis, o único Deus verdadeiro (Deuteronômio 10:17, Deuteronômio 32:39). Se Cornélio temia a Deus e era devoto, ele provavelmente cria na unidade e na onipotência de Deus Pai.
No entanto, Cornélio ainda não conhecia ao Deus Filho. Apesar de Filipe, o evangelista, ter-se estabelecido em Cesaréia e aparentemente ter começado uma igreja lá, Cornélio ainda não havia ouvido falar do Evangelho. Ele tinha ouvido falar de Jesus, de Seus milagres e de Sua morte (Atos 10:38), mas parecia não saber sobre Sua ressurreição ou que Ele era o Messias. Cesaréia era uma grande cidade com uma população estimada em mais de 100.000 pessoas, um porto movimentado onde o comércio e muitos negócios romanos entravam e saíam do Oriente Médio; assim, seria compreensível que Cornélio não tivesse conhecimento de Filipe ou da nova religião conhecida como O Caminho (Atos 9:2).
A jornada de Cornélio para a fé em Jesus cria um momento que impactaria o mundo todo. Até este ponto, apenas judeus e prosélitos (Atos 8:36-37) haviam crido em Jesus. Deus estava em ação, organizando um encontro entre gentios e judeus que teria resultados amplos e pessoais, abençoando o mundo inteiro e afetando a vida pessoal de Cornélio e Pedro.
O romano Cornélio, havia algum tempo, buscava a Deus e honrava a Seu povo escolhido. Ele orava continuamente ao Senhor, diariamente, de hora em hora, com devoção. Deus o responde.
Por volta da nona hora do dia (por volta das 3:00 da tarde), Cornélio viu claramente em uma visão um anjo de Deus que acabara de entrar e lhe disse: "Cornélio!" (v. 3).
Esta visão ocorre enquanto Cornélio orava. Deus fala com Cornélio em seu tempo de oração à tarde. Ele fala ao romano através de um de Seus anjos.
Durante o ministério de Jesus na terra, os anjos fizeram pouquíssimas aparições para além de fortalecerem ao Messias de Deus (Mateus 4:11; Lucas 22:43). Isso pode ter ocorrido porque Jesus, o Filho de Deus e a segunda pessoa da Trindade, detinha todo o poder de Deus necessário para aquele período de tempo. Os anjos certamente trabalhavam para Deus, porém só apareciam para explicar as coisas aos seres humanos quando Jesus não estava presente (como ocorreu logo após Sua ressurreição e ascensão (Mateus 28:2-7; Atos 1:9-11).
A tradição judaica sustentava que a lei de Moisés havia vindo através do arbítrio dos anjos (Hebreus 2:2). Sempre que Jesus falava, Ele cumpria a promessa profética de que Deus falaria diretamente a Seu povo por meio de um profeta como Moisés (Deuteronômio 18:18). Jesus era como Moisés (um ser humano falando a palavra de Deus), mas Ele também era o próprio Deus. Portanto, Jesus falava diretamente ao povo, não através de mensageiros angelicais.
Jesus falava as palavras de Deus e revelava a vontade de Deus aos que quisessem ouvir (João 8:28, João 14:10, Mateus 11:15). Porém, agora que Cristo havia subido ao céu, Deus passou a operar por meio do Espírito Santo e por meio de Seus mensageiros (em grego, "angelos"). O Espírito Santo é a terceira pessoa da Trindade, o Ajudador que habita nos crentes e os leva a andar na vontade de Deus (João 16:7). Os eventos do Livro de Atos são, em grande parte, atribuíveis à obra do Espírito Santo dirigindo os apóstolos. Os servos espirituais de Deus, os anjos, têm suas missões ao longo de Atos, libertando os apóstolos da prisão (Atos 5:19-20), guiando seu trabalho missionário (Atos 8:26) e, aqui, iniciando o processo para que Cornélio e Pedro se encontrassem.
Este anjo de Deus aparece em uma visão; ou seja, apenas Cornélio o viu, parecendo atravessar a porta (ele viu o anjo de Deus que acabara de entrar). O anjo chama Cornélio, mostrando que saber seu nome e ter familiaridade e propósito: "Cornélio!"
Cornélio tem a típica reação humana a uma visita angelical - ele ficou muito alarmado. O profeta Daniel desmaiou nas interações que teve com os anjos (Daniel 10:8-9, 15). No entanto, Cornélio não fugiu nem duvidou, já que cria no único Deus verdadeiro; ao contrário, ele respondeu ao anjo enquanto fixava seu olhar nele. Ele olhou para o anjo e se recusou a desviar o olhar, apesar de estar alarmado. Cornélio perguntou: "Que é, Senhor?" (v. 4). "O que queres de mim? Estou aqui". Talvez o treinamento de Cornélio como soldado romano tenha lhe dado a coragem de olhar para o anjo e fazer o seu pedido.
Ele se referiu ao anjo como “Senhor”. Isso pode indicar que ele sabia que o anjo falava em nome do Senhor. A palavra grega traduzida como Senhor é "kyrios", significando "superior" ou "mestre". Jesus usou este termo ao dizer que não podemos ter dois senhores ("kyrios") e que devemos escolher entre Deus e o dinheiro (Mateus 6:24). Assim, Cornélio poderia simplesmente estar reconhecendo estar na presença de um ser superior aguardando suas "ordens", conforme fora treinado a fazer.
O fato de Cornélio fixar o olhar no anjo é ainda mais notável se considerarmos que até mesmo o apóstolo João, um dos amigos mais próximos de Jesus na terra, se curvou diante dos mensageiros de Deus ao receber sua mensagem concedidas através de várias visões do fim dos tempos (Apocalipse 22:8-9).
E o anjo lhe disse: "As tuas orações e esmolas subiram como memorial diante de Deus" (v. 4). Primeiro, o anjo dá a Cornélio um encorajamento e uma espécie de explicação sobre o por quê ele havia vindo. Parecia ser um costume entre os anjos dizer aos que eles visitavam o motivo de Deus querer falar com eles (Daniel 8:16-17, 10:12; Lucas 1:13, 30-31; 2:10).
A razão desta visita a Cornélio é que Deus o havia ouvido. Deus se alegrava com suas orações e esmolas. As orações de Cornélio, suas petições e louvores a Deus, bem como suas esmolas, sua ajuda financeira caridosa ao povo judeu em Cesaréia, haviam subido ao céu.
Isso traz à mente a maneira como os sacrifícios da Lei Mosaica eram destinados a subir a Deus e agradá-Lo. No Antigo Testamento, os sacrifícios de alimentos feitos em obediência ou arrependimento diante de Deus eram descritos como uma oferta que subia ao céu como "aroma suave" a Deus (Gênesis 8:21; Levítico 1:17, 3:5; 3:16). Na verdade, a palavra hebraica "olah", traduzida como "holocausto", significa literalmente "ascensão" (veja nosso comentário em Números 6:13-20). Tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, não era literalmente o sacrifício que Deus desejava, mas o coração por detrás dela, a busca da pessoa por conhecer a Deus e confiar Nele (Oséias 6:6; Salmo 51:16-19).
Não deve nos surpreender o fato de Deus se alegrar quando os homens fazem o que é certo a Seus olhos, quando eles compartilham o que possuem, quando amam ao próximo como a si mesmos e colocam as necessidades das pessoas antes das suas. Este tipo de amor e generosidade sobe diante de Deus como um sacrifício de aroma suave:
"E não deixeis de fazer o bem e de partilhar, pois com tais sacrifícios Deus se agrada" (Hebreus 13:16).
"E andai no amor, assim como Cristo também vos amou e se entregou por nós, oferta e sacrifício a Deus como aroma suave" (Efésios 5:2).
Deus viu a devoção de Cornélio. Suas orações e esmolas subiam diante de Deus como um memorial, o que significava que Ele se lembrava delas, era especial e digno de atenção para Deus. Deus se lembrou das boas ações de Cornélio e, agora, decidiu recompensá-lo.
Depois de dizer a Cornélio que Deus estava satisfeito com ele, o anjo dá ao centurião uma ordem: Agora, envia homens a Jope e manda chamar um certo Simão que tem por sobrenome Pedro; este se acha hospedado em casa de um curtidor chamado Simão, a qual fica junto ao mar" (v. 5,6).
O anjo dá a Cornélio a localização exata do apóstolo Pedro, até a casa onde ele estava hospedado em Jope: na casa de Simão, junto ao mar (Atos 9:43). A localização desta casa não é conhecida ao certo, mas há locais tradicionais que permanecem até hoje (Veja imagem de um site tradicional)
E, assim, termina a visão. Deus estava em ação, organizando o encontro entre Simão Pedro e Cornélio. Eles não estavam longe um do outro, apenas 45 quilômetros. Mesmo naqueles dias, não era uma grande distância. Era um dia de caminhada, ou um dia e uma manhã, dependendo do viajante. Cesaréia, onde Cornélio estava, havia sido transformada em porto marítimo por Herodes. Jope era um porto natural desde os tempos antigos. Jonas havia embarcado de Jope para fugir de Deus séculos antes (Jonas 1:3). Alguns afirmam que Jope (atual Jaffa) é o porto mais antigo em uso contínuo no mundo. Evidências indicam que ele tem estado operante há mais de 4.000 anos.
Cornélio foi rápido em obedecer à ordem do anjo. Ele estava acostumado a receber e dar ordens. Ele reconheceu a autoridade do anjo. Assim, quando o anjo que lhe falava partiu, Cornélio convocou dois de seus servos e um soldado devoto, dos seus assistentes pessoais (v. 7). Esses mensageiros eram homens em quem ele confiava. Os dois servos talvez fossem adoradores de Deus também, pois sabemos que não apenas Cornélio temia a Deus, mas também toda a sua casa (v. 2).
O soldado enviado para guardar os dois servos também era devoto, indicando que ele também era crente no Deus de Israel. Esses servos e o soldado funcionavam como assistentes pessoais de Cornélio. Eles estava com ele constantemente, eram confiáveis e leais. Qualquer um desses três homens teriam, individualmente, obedecido às ordens do centurião para essa jornada e tarefa; porém, Cornélio envia as três pessoas em quem ele não apenas confiava, mas que também confiam em Deus assim como ele. Eles certamente desejavam ver tal tarefa concluída.
Lucas registra que, depois de Cornélio lhes ter explicado tudo, enviou-os a Jope (v. 8). O fato de ele ter explicado tudo a eles implica que ele lhes contou toda a história da visita angelical. Como também eram devotos, eles se puseram a caminho com vontade e seriedade. Eles foram com entusiasmo para ver como Deus estava trabalhando e o que aquele homem, Simão, também chamado Pedro, tinha para lhes dizer.