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Significado de Atos 11:27-30
Já por um ano, Saulo e Barnabé lideram e discipulam os crentes da jovem igreja em Antioquia, uma importante cidade portuária na então Síria (Antakya, atual Turquia). Era a primeira igreja composta, em grande parte, por crentes gregos em Jesus, com alguns irmãos judeus.
Lucas, o autor de Atos, chama nossa atenção para alguns visitantes de Jerusalém a Antioquia: “Naqueles dias, desceram alguns profetas de Jerusalém a Antioquia” (v. 27). A Bíblia sempre descreve a jornada saindo de Jerusalém como “descendo”, porque a cidade de Jerusalém está localizada em colinas rochosas no centro-sul da Judéia, a uma altitude de aproximadamente 780 metros acima do nível do mar. Alguns profetas desceram de Jerusalém para a Antioquia, provavelmente navegando pelo Mar Mediterrâneo para chegar a seu destino. Teria sido uma viagem de cerca de 450 quilômetros. Esses judeus tinham uma importante profecia a ser transmitida aos crentes em Antioquia.
O Novo Testamento descreve uma variedade de funções ministeriais na igreja primitiva, incluindo a dos profetas. Assim como no Antigo Testamento, os profetas transmitiam mensagens de Deus. As mensagens geralmente se concentravam em chamar o povo de Deus para viver em retidão, de acordo com os bons desígnios de Deus. Porém, às vezes, eles também previam eventos futuros, geralmente como forma de chamar as pessoas ao arrependimento. Os profetas desempenhavam um papel essencial na orientação e instrução dos crentes. A viagem desses profetas da igreja em Jerusalém para a igreja em Antioquia ajudaria a fortalecer os laços entre as duas comunidades.
Um dos profetas chamava-se Ágabo. Ele se levantou na assembléia dos crentes de Antioquia e indica, pelo Espírito, que haveria “uma grande fome em todo o mundo” (v. 28).
Ágabo aparece duas vezes no Livro de Atos, ambas para dar uma mensagem de Deus. Além de sua profecia aqui, Ágabo mais tarde previu a prisão de Paulo em Jerusalém:
"Demorando-nos ali por muitos dias, desceu da Judeia um profeta chamado Ágabo, e, vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo, ligou com ela os seus próprios pés e mãos e disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim os judeus, em Jerusalém, ligarão o homem a quem pertence esta cinta e o entregarão nas mãos dos gentios" (Atos 21:10, 11).
Aqui em Atos 11, a profecia de Ágabo dizia respeito ao mundo. Especificamente, ele profetiza que haveria uma grande fome em todo o mundo. A fome geralmente ocorria quando as colheitas falhavam, produzindo escassez. O mundo referido aqui provavelmente se referisse ao Império Romano daquela época.
Lucas nos conta quando ocorreu essa fome: “E isso ocorreu no reinado de Cláudio” (v. 28). Cláudio era sobrinho do terceiro César, Tibério, e tornou-se César (imperador) depois que o quarto César, Calígula, foi assassinado. Houve várias fomes durante o reinado de Cláudio (de 41 d.C. a 54 d.C.). Uma fome notável por volta de 46 d.C. afetou a região da Judéia, confirmando a previsão de Ágabo.
Os crentes de Antioquia respondem a essa profecia com a mesma generosidade amorosa que a igreja de Jerusalém teve para com eles em seus primeiros dias. Assim como os crentes em Jerusalém, proprietários de terras, haviam vendido suas posses para compartilhar seu dinheiro com quem precisasse (Atos 2:45), os cristãos de Antioquia fazem o mesmo:
Os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na Judeia (v. 29).
Antioquia era uma cidade rica, a terceira maior do Império Romano, atrás de Roma e Alexandria. Ela estava localizada em um rio que desembocava no Mar Mediterrâneo e era um lugar para o comércio. Alguns dos discípulos gregos eram homens e mulheres de recursos, ricos. Assim, na proporção do que tinham, eles reservaram fundos de caridade para enviar de volta a Jerusalém (2 Coríntios 9:6-7).
Embora a fome profetizada fosse afetar a países em todo o mundo, podemos inferir, a partir dos eventos aqui registrados, que ela ou iria afetar mais severamente à Judéia, ou que a pobreza dos judeus poderia levá-los a sentir a fome mais duramente do que as pessoas de recursos, como os ricos comerciantes de Antioquia.
Josefo, autor de "Antiguidades dos Judeus", uma crônica sobre Israel escrita no século I, menciona em sua história uma grande fome que afetou Jerusalém, na qual muitas pessoas morreram. O relato de Josefo descreve como o rei e a rainha-mãe de um pequeno reino assírio, Adiabene, na Mesopotâmia, também enviam ajuda de caridade aos judeus famintos de Jerusalém durante esse tempo (Antiguidades dos Judeus Livro XX, Capítulo 2.5).
Esta fome foi, evidentemente, um momento muito difícil para a cidade de Jerusalém. Porém, através da mensagem de Deus dada a Ágabo, o profeta, os cristãos foram capazes de se preparar para ela. Os cristãos da cidade deram, proporcionalmente a seus recursos, uma contribuição para o alívio dos irmãos que viviam na Judéia.
A comunidade primitiva de crentes, tanto em Antioquia quanto em Jerusalém, caracterizava-se por um profundo senso de unidade e cuidado uns com os outros. O termo “irmãos” refere-se àqueles que criam em Jesus. Judeus e gentios eram, agora, considerados como uma família através de seu vínculo em Cristo.
Essa contribuição foi enviada a Jerusalém através de Barnabé e Saulo aos anciãos (v. 30). O retorno de Saulo (Paulo) a Jerusalém foi um movimento potencialmente perigoso, já que ele era procurado pelos judeus de língua grega.
O fato de terem enviado essa contribuição financeira através dos cuidados de Barnabé e Saulo mostrava a confiança que os crentes em Antioquia tinham em ambos. Eles não pareciam ter nenhuma preocupação de que esses fariam o que Judas Iscariotes havia feito (João 12:4-6). Mais tarde, no ministério de Paulo, alguns de seus oponentes parecem acusá-lo de apropriação indébita pelo fato de Paulo ter nomeado um irmão de integridade indiscutível para acompanhar outra oferta para ajudar aos crentes judeus que viviam na província romana da Judéia (2 Coríntios 8:18-21).
Barnabé havia passado um ano pastoreando a igreja em Antioquia com Saulo como seu companheiro de ministério e, além de desejar ajudar aos irmãos da Judéia, ele pode ter pensado que era hora de levar o pregador Paulo aos anciãos da igreja em Jerusalém e estabelecer um relacionamento melhor com eles. A última vez que Saulo (Paulo) havia estado em Jerusalém foi um tempo breve e ele conheceu apenas a Pedro e Tiago, o irmão de Jesus (Gálatas 1:18-19). Paulo registra isso mais tarde em sua carta aos Gálatas enquanto estava nas regiões da Síria (seu ano em Antioquia):
"Era, porém, pessoalmente desconhecido às igrejas da Judeia, que estavam em Cristo. Somente ouviram dizer: Aquele que dantes nos perseguia, agora, prega a fé que outrora combatia; e glorificavam a Deus a respeito de mim" (Gálatas 1:22-24).
Parece que os relatos da pregação de Saulo ao lado de Barnabé em Antioquia foram enviados à Judéia ao longo daquele ano e sua reputação tornou-se muito mais favorável entre os cristãos judeus, que antes o temiam como uma ameaça às suas vidas (Atos 9:1-2, 13-14, 26). Neste ponto, muitos anos haviam se passado desde a perseguição que Saulo (Paulo) havia liderado. Ele esteve fora da Judéia e de Israel por um longo tempo.
Agora, a informação mais recente que os crentes na Judéia haviam ouvido a respeito dele é como ele havia pregado "a fé que um dia tentou destruir" por um ano inteiro na grande igreja de Antioquia, onde Barnabé, amado por todos os crentes em Jerusalém, servia ao seu lado. A fé de Saulo (Paulo) em Jesus era indiscutível neste ponto e ele era claramente um homem mudado, um servo do Senhor.
Os crentes judeus, agora, glorificavam a Deus pelo relato de seu ministério em Antioquia. Portanto, era hora de voltar a Jerusalém e estabelecer comunhão com os anciãos. Muito disso foi graças a Barnabé, que lhe estendeu a amizade após seu retorno a Jerusalém anos antes e que o tirou do esconderijo em Tarso para ministrar em Antioquia com ele, reforçando sua reputação e dando-lhe a oportunidade de servir em seu chamado como apóstolo aos gentios (Atos 9:15).