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Significado de Colossenses 3:9-11
Na seção anterior (ver comentário sobre Colossenses 3:5-8), Paulo estabelece dois caminhos que podemos escolher: o caminho alinhado a Cristo é ao que somos Nele, levando-nos a uma experiência de vida de abundância; ou o caminho do mal e da imoralidade, desalinhado com Cristo e Seu Reino, que nos leva à miséria e à morte.
Como Paulo continua a listar alguns exemplos de como este desalinhamento com Cristo pode ocorrer e a exortar os crentes colossenses a se afastarem dessas práticas, parece mais provável que esses não sejam exemplos arbitrários escolhidos ao acaso. Eles provavelmente eram questões específicas prevalentes naquela comunidade que teriam sido comunicadas a Paulo por meio de seu emissário Epafras (Colossenses 1:3-8).
Vale a pena notar que a exortação de Paulo aqui é tem o intuito de envergonhar aos crentes e controlá-los por meio de regras. Antes, o objetivo de Paulo é o de reorientá-los para sua verdadeira posição em Cristo, apontando as terríveis consequências do pecado. Paulo leva os crentes em Colossos a ver a realidade como ela é e a reconhecer o que era seu verdadeiro interesse.
O primeiro comportamento listado nesta seção (uma continuação dos versículos anteriores) diz: Não mintais uns aos outros. Mentir é comunicar uma falsidade de forma deliberada. Algumas traduções dizem "parem de mentir", sugerindo novamente que esta era uma questão real e presente dentro da comunidade dos colossenses. Observe a reciprocidade nesta declaração: uns aos outros. Comunicar a verdade deveria ser uma responsabilidade compartilhada. Cada membro deveria zelar por sua parte. Quando as pessoas mentem umas às outras, elas colocam um véu entre elas e a verdade criando, assim, uma separação (morte) em seu relacionamento, uma barreira que os convida a se desprender da realidade, encorajando pessoas e comunidades a viverem em desalinhamento com Cristo.
Paulo relata aos colossenses exatamente por que esta era uma tolice a ser evitada: Tendo-vos despido do velho homem com seus feitos. A palavra “despir” é a palavra grega "apekdyomai", significando "estragar" ou "adiar". Esta palavra só ocorre duas vezes em toda a Escritura, ambas em Colossenses. A outra ocorrência é encontrada no versículo 15 do capítulo 2: "Tendo despojado os principados e potestades".
Quando os crentes nascem no Reino de Cristo, eles deixam de lado o velho eu. Em outras palavras, eles deixam de lado sua natureza pecaminosa e recebem uma nova natureza, tornando-se novas criaturas em Cristo (2 Coríntios 5:17). A fim de obterem plenos benefícios e experimentarem o poder do novo eu, esta deve ser uma decisão contínua, não uma tarefa a ser realizada uma única vez. É algo que os crentes devem decidir fazer ativa e repetidamente a cada momento de cada dia.
O uso que Paulo faz do pretérito aqui é importante. Ele busca encorajar aos colossenses, lembrando-lhes que isso era algo que eles já haviam feito antes. Em essência, Paulo está dizendo: "Vocês já fizeram isso! Apenas continuem a ser consistentes!" É um chamado à lembrança, à recordação e ao compromisso de continuar a trilhar o caminho escolhido, que os levaria à vida e às recompensas.
O termo “feitos é a palavra grega "práxis", referindo-se a ações, a prática de algo. Mentir uns para os outros era uma dessas práticas do velho eu.
Os cristãos não apenas deveriam deixar de lado o velho eu e caminhar em novidade de vida: eles deveriam substituí-lo. No lugar do velho eu, eles deveriam se revestir do novo eu: “Tendo-vos revestido do homem novo que se renova para o pleno conhecimento.” Caminhar nesse novo eu é um ato de vontade, uma escolha a ser feita, uma ação a ser tomada. Essa escolha começa com a confiança em Deus, não em si mesmo, através de uma perspectiva verdadeira. Portanto, os crentes deveriam interromper a sobrevida do velho eu e se revestir do novo eu.
O termo “revestir” vem da palavra grega "endyo", significando "mergulhar", semelhante a quando vestimos uma camisa e passamos os braços pelas mangas. Significa, em um sentido metafórico, vestir-se de algo para usá-lo.
A imagem aqui, portanto, é de alguém que remove roupas maltrapilhas e mal ajustadas do mal e coloca uma roupa nova, um novo eu. A metáfora é a ação da troca da roupa suja para a roupa limpa. Assim como vestimos roupas todos os dias, somos exortados a vestir essa nova natureza todos os dias.
Esse novo eu está sendo renovado para o pleno conhecimento. A renovação está em andamento. Ela aconteceu no passado, está acontecendo agora e continuará a acontecer no futuro. A única outra vez que esta palavra “renovar” ocorre nas Escrituras é no seguinte versículo:
"Portanto, não desanimamos; embora o nosso homem exterior esteja em decadência, nosso homem interior se renova dia após dia" (2 Coríntios 4:16).
A cada dia nos vestimos do novo eu, ele cresce, amadurece, torna-se cada vez mais semelhante a Cristo. O velho eu está sempre destinado à decadência, está sempre morrendo. Porém, o novo eu se desenvolve, renova-se constantemente. Portanto, o novo eu deve ser tomado como vestimenta todos os dias e o velho eu deve ser deixado de lado todos os dias. Este é um processo constante, diário, momento a momento.
O novo eu está sendo renovado para o pleno conhecimento. O novo eu avança rumo à verdade. Ele amadurece na realidade, aprende a pensar, a perceber e a agir dentro da existência como ela é, e não como nossa carne gostaria que fosse. Ele não se adapta aos falsos conhecimentos oferecidos pelo mundo. Pelo contrário, ele adquire conhecimentos verdadeiros do que é real e certo. É importante notar que o velho eu não adquire nenhum desses traços positivos, ele é sempre velho e corrupto, irreformável. O único lugar adequado para o velho eu é no "cesto de roupa suja" da vida. Ele deve ser deixado de lado.
Essa renovação é sendo feita de acordo com a imagem daquele que o criou [o novo eu]. Assim, retornamos à ideia de alinhamento. O Criador fez com que cada pessoa vivesse dentro da realidade e interagisse com essa realidade em prol do Reino de Deus. Deus criou cada pessoa para ser completa, contribuindo com seus dons para governar a terra em harmonia com Ele e uns com os outros (ver comentário sobre o Salmo 8).
Esta é a missão transcendente de todas as pessoas: viver como fomos projetados para viver. Nosso padrão é a imagem do Deus Criador Triúno. A oportunidade de sermos uma nova criatura e vivermos de acordo com a imagem de Deus é o grande dom de Cristo para o mundo. O novo homem está constantemente crescendo em direção a isso, vivendo diariamente para o Reino de Deus, renovando-se e alcançando o verdadeiro conhecimento que o capacita a viver como foi projetado para viver.
Ao escolhermos esta perspectiva, faz muito mais sentido andarmos nos caminhos do novo homem do que escolher o velho homem. O velho homem é perversamente enganador. Junto com o mundo, ele nos alimenta com mentiras. Fala-nos como ventríloquo, assegurando ser o nosso verdadeiro eu. Porém, Paulo nos exorta a enxergar a realidade de que esse velho homem é um morto-vivo, um zumbi, por assim dizer. Portanto, ele deve ser deixado de lado e em seu lugar devemos escolher a nova criação, o novo eu, que se renova dia a dia.
Em seguida, Paulo faz um parêntese em seu ponto principal, que é a oportunidade que cada crente possui de escolher caminhar em alinhamento com o Deus Criador que o projetou. O apóstolo acredita ser importante esclarecer que esta é uma renovação na qual não há distinção entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro, cita, escravo e homem livre, mas Cristo é tudo em todos.
A distinção que Paulo faz aqui não tem nada a ver com raça, gênero, idade, etnia, geografia ou status. Todas essas são divisões mundanas que tentam reduzir o verdadeiro conhecimento de Deus a algo estritamente físico. Paulo se refere a um alinhamento com Cristo que qualquer pessoa, em qualquer posição, em qualquer parte do mundo é capaz de alcançar: Cristo é tudo em todos.
A lista de Paulo parece se referir a diferentes espectros dos povos. Ele coloca os judeus, o povo escolhido de Deus, que dominara a narrativa no Antigo Testamento, e os gregos (ou, mais apropriadamente, os gentios), que é a descrição bíblica dos não-judeus. Este par de opostos engloba a todas as pessoas. Os gregos (ou gentios) eram os recém-chegados ao mundo cristão sobre ao qual Paulo estava se dirigindo. Seu caminho a Cristo fora aberto pela vida e morte de Jesus e pela obra dos apóstolos na igreja primitiva. Os judeus ainda eram o povo escolhido de Deus, mas isso não desqualificara os gentios de serem enxertados no Reino. A chave do Reino é a fé. Esta era a mensagem pela qual Paulo lutou todos os dias de sua vida.
Da mesma forma, a distinção entre circuncisos e incircuncisos é mais um par de opostos que incluía a todos os povos. É também uma referência à discussão que dominara o período inicial da igreja. Havia um grande conflito entre os judeus sobre se os gentios precisavam ser circuncidados (como os judeus eram) para serem acolhidos na comunidade dos crentes (Atos 15:5). A circuncisão sempre foi um marcador físico que designava o povo de Deus (judeus) do resto do mundo. Paulo, porém, argumenta ao longo de seus escritos que a circuncisão do coração pela fé é a que realmente importava. Ele exorta os conversos gentios a não confiarem em rituais ou regras (Gálatas 5:2-6).
O próximo par da lista é “bárbaro e cita”. A palavra “bárbaro” significava literalmente "aquele cuja fala é áspera" e é muitas vezes era um termo usado para povos selvagens e estrangeiros. Em Romanos 1:14, Paulo emparelha "bárbaros" e "gregos", o que indicava todos os gentios, desde os altamente educados até os completamente incultos.
Os “citas” eram um povo nômade que vivia na área da Rússia moderna. Os citas estavam entre os bárbaros mais notáveis. Assim, esse par poderia ser "do geral para o específico" ou "do oanônimo para o notório", implicando "todos os bárbaros". Juntamente com o par anterior, grego e judeu, esta lista cobria todas as nacionalidades, portanto, todas as pessoas da terra. O ponto de Paulo, portanto, é que não havia distinção entre qualquer pessoa na face da terra com relação a como seus corações eram renovados. A renovação espiritual de cada pessoa era a mesma, ou seja, vinha através de Cristo, que era tudo em todos.
O último par da lista é “escravo e livre”. Os pares anteriores cobriam "todas as pessoas de todas as nacionalidades na terra". Paulo, agora, esclarece que também não havia consideração alguma em relação a qualquer posição social.
É difícil entrar na mentalidade da igreja primitiva na era romana, na qual a escravidão fazia parte da vida e não era questionada de forma significativa. Os primeiros crentes certamente pensavam na escravidão da mesma forma que pensamos em um atleta profissional e seus contratos, ou as ações de um executivo de negócios sendo ditadas por um contrato de trabalho, ou um acordo sindical exigindo que um trabalhador pare de trabalhar e entre em greve). Para eles, a escravidão era algo bastante comum. Em algumas das cartas de Paulo, “escravos” e "senhores" são advertidos e encorajados da mesma maneira, o que provavelmente era uma ação controversa para a época, uma vez que afirmava que escravos e senhores tinham a mesma posição e valor aos olhos de Deus. Seus dons e contribuição para o Corpo de Cristo eram iguais.
O foco da mensagem de Paulo era seguir a Cristo, independentemente das circunstâncias pessoais de cada um. As distinções e recompensas deste mundo não têm efeito no Reino e na economia de Deus. A moeda da economia de Deus é a verdade, o amor e o serviço. O tesouro ou recompensa é espiritual, não material.
Não importa qual seja nossa posição na vida: somos todos convidados a amar a Deus e viver de acordo com Seu Reino. Cristo é tudo em todos. A frase nos leva de volta ao capítulo 1, onde Paulo afirmara sobre Cristo: "Ele é antes de todas as coisas e nele todas as coisas se unem" (Colossenses 1:17). Isso também refletia o nome que Deus deu a Si diante de Moisés, "EU SOU", uma afirmação de que Deus é a fonte e a substância da própria existência (Êxodo 3:14).
Deus concedeu a cada pessoa que crê em Cristo a incrível realidade de estar em Cristo. Porém, para obter o pleno benefício dessa concessão, a pessoa deve caminhar nas realidades espirituais através da obediência, pela fé. Ao fazê-lo, a realidade espiritual torna-se uma realidade física. Este é o padrão nas Escrituras e se aplica aos escolhidos do Novo e do Antigo Testamentos.
Israel recebeu incondicionalmente a Terra Prometida da parte de Deus. Deus, porém, exigiu que os israelitas andassem em obediência a Ele para possuírem a terra. Para experimentarem o benefício da concessão, eles deveriam andar em obediência antes de possuir a dádiva de Deus (Gênesis 15:18; Josué 1:1-3).
Da mesma forma, os crentes do Novo Testamento recebem o dom de estarem em Cristo unicamente com base em sua fé, porém são demandados a deixar de lado a velha natureza e revestir-se da nova natureza a fim de possuir os benefícios da concessão da nova vida disponibilizada por Deus.