Significado de Deuteronômio 17:18-20

Enquanto a seção anterior fornece instruções negativas para o rei israelita (vv.16-17), esta seção se concentra nas instruções positivas. A essência desta seção é que o rei deveria manter uma perspectiva adequada sobre seu governo e seguir às leis e aos caminhos de Deus. Essa perspectiva baseava-se na completa obediência e lealdade ao Deus Susserano (Governante), o Rei supremo. Como na seção anterior, esta seção ocorre antes da conquista da Terra Prometida por Israel.

Quando Deus criou a Israel, Ele o estabeleceu para ser autônomo sob Suas leis. A essência da lei de Deus é: "Só Deus faz as regras" e "O que Deus deseja é que Seu povo ame e sirva uns aos outros". A fim de efetivar Sua lei, Ele autoriza o povo a nomear juízes, o que acaba por criar o consentimento dos governados. O povo deveria ter soberania sobre suas próprias famílias e posses. O rei deveria entender e honrar a esses princípios.

Tendo falado sobre o que o rei não deveria fazer durante seu reinado, Moisés volta sua atenção para o que o rei precisava fazer quando se assentasse no trono de seu reino (v.18). Pouco depois de assumir o trono, o rei deveria escrever uma cópia da lei em um pergaminho. O tratado da aliança seria colocado na morada do SENHOR (Deuteronômio 31:26) e, assim, o rei era obrigado a produzir uma cópia dele para si. Ao escrever uma cópia para si, o rei entenderia a lei mais profundamente.

A expressão “esta lei” provavelmente se refira à maior parte do livro de Deuteronômio (ou a todo o livro) (Deuteronômio 1:5; 4:44; 27:3 e tc.). O rei deveria escrever para si mesmo uma cópia dessa lei em um pergaminho na presença dos sacerdotes levíticos. Ao escrever na presença dos sacerdotes levíticos o rei pudesse receber instruções sobre o significado dos textos e fazer com que as palavras penetrassem profundamente em sua alma.

Os sacerdotes levíticos, descendentes da tribo de Levi, serviam como sacerdotes no santuário central, o lugar escolhido por Deus para Seu povo adorar e ter comunhão com Ele. Uma de suas responsabilidades era a de carregar a arca da aliança quando os israelitas viajavam e mover a arca para outros fins (Deuteronômio 10:9; 31:9). Eles também eram aqueles que ofereciam sacrifícios a Deus, por si mesmos ou em nome do povo (2 Crônicas 29:11).

Uma vez que o rei tivesse escrito uma cópia da lei para si, ele deveria lê-la todos os dias de sua vida. Não apenas deveria escrever o seu próprio exemplar, mas devia lê-lo continuamente. O propósito de ler a lei de Deus constantemente, todos os dias de sua vida era para que o rei aprendesse a temer o SENHOR, seu Deus. Temer ao SENHOR significa se importar mais com o que Deus pensa do que com o que as outras pessoas pensam, ter uma preocupação maior com o julgamento de Deus do que com o julgamento do homem.

O rei temeria ao Senhor observando cuidadosamente todas as palavras desta lei e destes estatutos. O rei precisaria ter em mente que não era a autoridade final sobre a lei. Ele teria que se humilhar e obedecer às leis e estatutos dados pelo verdadeiro soberano - o Senhor Susserano. O efeito prático disso era honrar os caminhos de Deus e levar o povo a amar uns aos outros, servir uns aos outros e honrar os bens e as famílias de todos os outros israelitas. Significava também garantir que a justiça fosse feita de forma equitativa e sem parcialidade.

O termo "estatutos" (hebraico "ḥuqqîm") refere-se a algo prescrito, como uma portaria. Como tal, pode ser traduzido como "prescrições" ou "decretos". É usado aqui como sinônimo do termo lei para enfatizar a obediência aos preceitos do Deus Susserano. Tal obediência à lei de Deus teria vários resultados.

Um dos resultados da obediência aos preceitos de Deus era manter uma perspectiva adequada sobre seu papel como rei. Ser rei sob a supervisão do Senhor Susserano exigia humildade. Humildade é ver a realidade como ela é. A realidade é que o SENHOR Deus era o soberano supremo sobre todos e o governante Susserano da aliança com Israel. O ensinamento de Deus faria com que o rei vivesse uma vida de humildade e garantiria que seu coração não fosse elevado acima de seus compatriotas (v.20). A verdade é que todas as pessoas têm o mesmo valor sob Deus, mesmo que seus papéis possam ser diferentes. Mesmo que aquele homem fosse o rei, ele deveria saber que seu papel era servir, ao invés de ser servido. Seguir aos preceitos de Deus evitaria a arrogância e faria com que o rei governasse humildemente ao povo de Israel sob a autoridade de Deus. Isso levaria o rei a buscar o bem-estar do povo e aos caminhos de Deus.

Outro grande resultado da leitura e estudo regular da lei era que o rei saberia qual era o caminho reto da lei, para que não se afastasse do mandamento, para a direita ou para a esquerda. A declaração “não se desviar para a direita ou para a esquerda” significa que o rei israelita precisava seguir estritamente o caminho da lei, sem desvios. Em outras palavras, o rei de Israel nunca deveria deixar de fazer exatamente o que Deus lhe ordenava.

Um terceiro resultado da obediência ao mandamento de Deus era que ele e seus filhos podem continuar por muito tempo em seu reino no meio de Israel. Em outras palavras, a fidelidade à lei do Senhor incluía a promessa de uma longa dinastia. A linhagem real duraria muito tempo caso o rei e seus descendentes seguissem às instruções do Deus Susserano (Governante).