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Significado de Deuteronômio 23:1-8

Passando da pureza no casamento no capítulo anterior, Moisés agora se volta à pureza da adoração. Para isso, ele instrui os israelitas sobre quem era permitido e quem não era permitido na assembléia do Senhor.

Esta seção trata da santidade da comunidade israelita e é dividida em duas subseções. Os vv.1-6 listam os grupos que não deveriam receber a permissão de entrar na assembléia. Os vv.7-8 listam os grupos que deveriam receber tal permissão.

O primeiro grupo inclui aquele que é emasculado ou tem seu órgão masculino cortado (v.1). Um homem emasculado era aquele que teve seus testículos danificados ou seu órgão masculino removido. Esta condição genital, que poderia ter sido causada por genética, acidente ou intenção, representava algo que não estava completo e, portanto, defeituoso. Isso provavelmente se referia ao homem feito eunuco nas religiões pagãs, embora pudesse incluir também a um homem ferido em um acidente.

Um homem nessa condição não poderia entrar na assembléia do Senhor. As práticas pagãs de tornar os homens eunucos estavam associadas ao domínio dos tiranos. A emasculação eliminaria o incentivo dos eunucos de se tornarem altos funcionários e ascenderem ao trono, uma vez que não eram capazes de produzir herdeiros ao trono. Deus havia criado um sistema de autogoverno sob Sua lei, onde os homens deveriam amar e servir uns aos outros. A prática de se criar eunucos fazia parte do sistema pagão da tirania, onde os fortes exploravam os fracos. Esta prática não deveria receber honra alguma em Israel.

A expressão “a assembléia do SENHOR” ocorre seis vezes nesta seção. Embora possa ter vários significados, aqui refere-se especificamente às pessoas que se reuniam diante do Deus Susserano (Governante) no tabernáculo (ou mais tarde no templo) para os culto de adoração. Isso tem uma semelhança com a palavra grega "ekklesia", muitas vezes traduzida como "igreja" no Novo Testamento. "Ekklesia" significa "reunião" ou "encontro".

Não apenas os machos emasculados eram excluídos da assembléia. Moisés diz que ninguém de nascimento ilegítimo entraria na assembléia do Senhor (v.2). A frase “ninguém de nascimento ilegítimo” é a palavra hebraico "mamzēr", usada apenas aqui e em Zacarias 9:6, referindo-se à prole de um relacionamento sexual ilícito. Tal pessoa não tinha a permissão de fazer parte da assembléia no tabernáculo. Isso também incluía seus descendentes, até a décima geração, eles não entrariam na assembléia do Senhor.

A referência à décima geração provavelmente significava uma exclusão permanente, já que o número dez (número completo) era frequentemente usado na Bíblia para se referir a algo sem limite (Gênesis 31:7; Números 14:22). Ou seja, os descendentes de uniões ilegítimas não poderiam participar da assembléia do Senhor. Isso encorajaria o povo a desenvolver uma cultura de fidelidade. A cultura de um povo é moldada pelo que é honrado ou envergonhado. A vergonha dos nascimentos ilegítimos trazia desonra a qualquer um que cometesse adultério e trouexesse um filho ilegítimo ao mundo.

Juntamente com os machos emasculados e a descendeência de relações sexuais ilícitas, Moisés declara que nenhum amonita ou moabita entraria na assembléia do Senhor (v.3). De fato, nenhum de seus descendentes, mesmo até a décima geração, jamais entrará na assembléia do Senhor. Era um julgamento duro, porém havia razões de sobra para tanto.

Os amonitas e os moabitas eram o produto do incesto de Ló e suas duas filhas. Esta história estáregistrada em Gênesis 19:32-38. As duas filhas de Ló engravidaram da semente de seu pai e geraram filhos. Uma filha deu à luz um filho e o chamou de Moabe, que significa "de meu pai" (Gênesis 19:37). A outra filha deu à luz a um filho e o chamou de Ben-Ammi, que significa "filho do meu povo" (Gênesis 19:38). Moabe tornou-se o pai dos moabitas e Ben-Ammi tornou-se o pai dos amonitas.

O motivo de sua exclusão permanente era duplo. A primeira razão era aplicada aos amonitas, porque eles não te encontraram com comida e água no caminho quando saíste do Egito (v.4). Esta era uma referência a um incidente ocorrido durante a peregrinação de Israel no deserto. De acordo com Deuteronômio 2:29, os edomitas e os moabitas venderam comida e bebida aos israelitas em sua jornada para fora do Egito. Mas, como os amonitas não são mencionados, é provável que tenha se recusado a oferecer hospitalidade, como aludido na presente passagem.

A segunda razão se aplica aos moabitas, porque eles contrataram a Balaão filho de Beor de Petor da Mesopotâmia, contra vós para amaldiçoá-los. Esta história pode ser encontrada em Números 22-24. Balaque, o rei moabita e seu povo estavam apavorados com os israelitas acampados perto deles (Números 22:1-3). Balaque decidiu contratar a Balaão, filho de Beor, de Pethor da Mesopotâmia, contra os israelitas para amaldiçoá-los. Em vez de apoiar a seus parentes israelitas, os moabitas se opuseram ferozmente a eles e os queriam ver destruídos. Eles pensavam que Balaão poderia amaldiçoá-los usando práticas pagãs e isso provocaria sua queda e demonstraria a superioridade de seus deuses sobre o Senhor. O SENHOR interveio, porém, e impediu que isso acontecesse (Números 23-24).

Esta foi uma demonstração poderosa da presença soberana do Senhor com Seu povo. Ficou claro que nenhum deus pagão poderia vencê-Lo. Moisés deixa isso evidente ao proclamar: O Senhor, seu Deus, não estava disposto a ouvir Balaão, mas o Senhor, seu Deus, transformou a maldição em bênção (v.5).

O SENHOR fez isso por Seu povo da aliança porque o SENHOR, seu Deus, os amava. Anteriormente, em Deuteronômio, Moisés havia dito aos israelitas que o Deus Susserano os havia escolhido (elegido) por causa de Seu amor por eles (Deuteronômio 4:37; 7:8). Nesses versículos, a escolha de Israel para a aliança (essencialmente um casamento) estava ligada ao amor de Deus. Aqui, a provisão e a proteção do SENHOR a Seu povo estavam ligadas ao Seu amor.

Retomando as regras para os amonitas e os moabitas, Moisés ordena ao povo que jamais buscasse sua paz ou sua prosperidade todos os seus dias (v.6). Eles não deveriam fazer nada que pudesse contribuir para o bem-estar dessas duas nações.

Depois de anunciar os grupos que não deveriam receber a permissão para se juntar à assembléia dos israelitas na adoração ao Senhor no tabernáculo, Moisés volta sua atenção às pessoas que deveriam receber tal permissão. Moisés diz aos israelitas que eles não podiam detestar ao edomita (v.7). O verbo “detestar (hebraico "tā'ab", "abominar") estava relacionado à palavra “abominação” (Deuteronômio 7:25-26). O termo era usado principalmente em relaçção a algo impuro que precisava ser rejeitado. Neste contexto, o verbo provavelmente sugere que os edomitas não deveriam ser odiados e permanentemente excluídos da assembléia do Senhor.

Moisés, então, apresenta a razão pela qual eles não deveriam ser rejeitados: Ele é seu irmão. Isso se refere ao fato de que os edomitas eram parentes dos israelitas por serem descendentes de Esaú, irmão de Jacó, o ancestral dos israelitas (Gênesis 25:24-30; Deuteronômio 2:4).

Na mesma linha, Moisés diz aos israelitas que não detestassem ao egípcio. A palavra “detestar” é a mesma usada com os edomitas neste versículo. A razão para isso era que Israel havia sido estrangeiro em sua terra. Os antepassados de Israel (Abraão, Jacó e José) passaram bastante tempo como estrangeiros no Egito (mais de 400 anos) e foram bem tratados, até a época de Moisés. Então, um novo Faraó que não havia conhecido a José surgiu e governou sobre o Egito (Êxodo 1), iniciando o período de maus-tratos aos israelitas. Este texto, no entanto, parece referir-se à época em que os ancestrais de Israel viviam bem no Egito.

A aceitação de edomitas e egípcios na assembléia não deveria ser imediata. A regra dada por Moisés era a de que os filhos da terceira geração que lhes nascessem poderiam entrar na assembléia do Senhor. Assim, era necessário que houvesse um período de liberdade condicional, antes da autorização para adorar no templo.

A razão para isso não nos é apresentada, porém dado que ambas as nações eram profundamente pagãs, a terceira geração de edomitas e egípcios pode ter perdido suas raízes pagãs e crido e adorado ao único Deus verdadeiro, o Senhor de Israel.

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