Significado de Deuteronômio 2:1-8

Deuteronômio 2 registra o primeiro ato de obediência de Israel desde que deixaram Horebe. Depois de permanecer "em Cades muitos dias" (1:46), o povo finalmente decide obedecer ao mandamento anterior de Deus de "dar a volta e partir para o deserto pelo caminho do Mar Vermelho" (1:40). Assim, Moisés declara: "Nós nos voltamos e partimos para o deserto pelo caminho do Mar Vermelho.” Esta passagem ecoa Deuteronômio 1:19,   mas em ordem inversa. Enquanto em 1:19 os israelitas viajaram pelo deserto até Cades-Barnéia, em 2:1 eles deixaram Cades-Barnéia para o deserto.

A estrada através do deserto pelo caminho do Mar Vermelho conecta Cades-Barnéia com o Golfo de Eilat, ou seja, a parte oriental do Mar Vermelho (1:1-2, 40). Porém, tendo chegado ao sul de Seir-Edom, não muito longe de Eilat de Ezion-Geber (2:8), o povo de Israel circulou o Monte Seir (uma montanha em Edom) por muitos dias. Eventualmente, o Senhor ordena aos israelitas que deixem o Monte Seir e se voltem para o norte,  porque haviam circulado aquela montanha por tempo suficiente.

Assim, quando o povo se propôs a contornar Edom, o SENHOR lhes deu uma série de instruções por meio de Moisés. Essas instruções aparecem em forma de advertência, visando ensinar as pessoas sobre como se comportar ao se aproximarem dos edomitas. Deus pede a Moisés que ordene ao povo, dizendo: "Passarás pelo território de teus irmãos, os filhos de Esaú, que vivem em Seir; e eles terão medo de vós. Portanto, tenhais muito cuidado."

Embora os israelitas fossem passar pelo território de Edom, Deus os adverte a ter muito cuidado. A razão para esta advertência é clara: os edomitas eram parentes dos israelitas, pois eram descendentes de Esaú, irmão de Jacó (Gênesis 25). Deus lembrou aos israelitas dessa relação familiar ao lhes dizer que os edomitas eram seus "irmãos". Assim, quando os israelitas estavam prontos para se mover em direção à terra de Edom, Deus lhes diz que os edomitas teriam medo deles. Tal temor pode ser explicado pelo fato de que os israelitas estavam saindo em massa, dando a impressão de que estavam à altura de uma batalha contra seus irmãos, como era frequentemente o caso das nações do Antigo Oriente Próximo. Por essa razão, Deus instruiu os israelitas a serem muito cuidadosos.

Além disso, Deus lhes diz: "Não os provoqueis” [aos edomitas]. O verbo traduzido como "provocar" passa a ideia de se envolver em uma briga com alguém. Assim, Deus diz a Seu povo para não se envolver em conflito com os edomitas. A razão é clara. Deus diz: "Porque eu não te darei nenhuma de suas terras, nem que seja um passo, porque dei o Monte Seir a Esaú como posse". Os israelitas não deveriam conquistar nenhuma terra edomita porque o SENHOR foi quem a havia dado aos edomitas, como havia prometido em Gênesis 27:39-40. O firme compromisso de Deus em proteger Edom (assim como Moabe e Amon, como nos vv.10-24) mostra que Ele escolheu Israel para ser Sua própria posse, mas que tinha outras famílias da terra com as quais Ele também se importava. O livro de Gênesis deixa claro que a aliança de Deus com Abraão incluia todas as nações. Deus disse a Abraão: "Eu abençoarei os que te abençoarem, e aquele que te amaldiçoar eu amaldiçoarei. E em vós serão abençoadas todas as famílias da terra" (Gênesis 12:3). Isso explica por que Deus ordenou aos israelitas para não provocarem os edomitas.

De fato, em vez de conquistar a terra dos edomitas ou provocá-los de qualquer maneira, os israelitas deveriam se envolver em comércio honesto com eles. Deus declara especificamente: "Comprarás comida deles com dinheiro para que possas comer, e também comprarás água deles com dinheiro para que possas beber". Deus ordena que Seu povo compre suprimentos com dinheiro quando passassem pelo território de Edom.

O Deus que havia protegido a Seu povo durante a peregrinação pelo deserto também seria capaz de provê-los com cuidado e segurança contínuos. Então, Ele encoraja Seu povo a prosseguir em direção a Canaã, lembrando-os das muitas bênçãos que haviam recebido Dele, declarando: O SENHOR, teu Deus, os abençoou em tudo o que fazes; Ele conhece tuas andanças por este grande deserto. Tais bênçãos incluíam a proteção e o cuidado de Deus por Israel durante os quarenta anos de peregrinação pelo deserto. Durante aquele tempo difícil, não faltara nada aos israelitas porque o SENHOR, o seu Deus, estava com eles.

O propósito desse encorajamento era lembrar a Israel de que o Deus todo-poderoso, que os havia livrado da escravidão no Egito e cuidado deles durante toda a sua peregrinação pelo deserto, permanecia imutável. O SENHOR estava, portanto, pronto para agir em favor de Seu povo repetidas vezes, caso eles permanecessem leais à Sua aliança.

Finalmente, Moisés lembra o povo das ações que havia empreendido depois de receber os mandamentos de Deus. E conclui: "Assim passamos para além de nossos irmãos, os filhos de Esaú, que vivem em Seir, longe da estrada de Arabá, longe de Elath e de Ezion-geber. E nos viramos e passamos pelo caminho do deserto de Moabe." O povo de Deus atravessou o território dos filhos de Esaú (Edom) pelo caminho da Arabá (a rota do Mar Vermelho, como mencionado no versículo 1), de Eilat e de Ezion-Geber, e marchou em direção ao deserto de Moabe, a leste do Mar Morto.

Eilat e Ezion-Geber eram duas cidades localizadas no extremo norte do Golfo de Eilat. Eilat pode ter sido a cidade jordaniana de Aqabah. A moderna cidade israelense de Eilat foi fundada em 1947. Ezion-Geber estava provavelmente localizada a cerca de catorze quilômetros ao sul da moderna Eilat. O deserto de Moabe estava localizado a leste de Moabe (Números 21:11). Os israelitas avançaram passo a passo em direção à Terra Prometida ao receberem encorajamento de Deus por meio de seu mediador Moisés.