Significado de Deuteronômio 4:21-24

Pela terceira vez, Moisés menciona o incidente que o impediu de entrar na Terra Prometida (ver 1:37; 3:26). De acordo com Números 20, Deus ordenou que Moisés falasse à rocha para dar água ao povo sedento. Em vez de falar com a rocha, Moisés a golpeou duas vezes de forma raivosa (v.8). Tal ato não só demonstrou a falta de obediência de Moisés a Javé, mas também desonrou ao Senhor.  Deus não foi tratado como "santo aos olhos dos filhos de Israel" (vv.10-13).

Portanto, em Deuteronômio 4:21-22, Moisés declara: "Ora, o SENHOR se irritou comigo por tua conta, e jurou que eu não atravessaria o Jordão, e que não entraria na boa terra que o Senhor, teu Deus, te dá como herança. Porque morrerei na terra, não atravessarei o Jordão, mas atravessareis e tomareis posse desta boa terra." As consequências negativas sempre se seguem à desobediência ao Javé Susserano. Moisés, o líder de Israel, foi impedido de entrar e possuir a terra de Canaã porque mostrou falta de obediência a Javé e O desonrou aos olhos do povo.

O propósito de Moisés em aludir novamente a esse incidente aqui é óbvio: ele queria proteger os israelitas contra qualquer forma de desobediência a Deus para que não lhes fosse negado o acesso a Canaã ou fossem removidos da terra. Sua intenção fica clara pelo fato de estar prestes a morrer em Moabe. Portanto, era urgente que ele lembrasse aos israelitas do que havia acontecido com ele, para que prestassem muita atenção aos preceitos de Deus. Em outras palavras, o líder de Israel (Moisés) estava dizendo algo como: "Se isso aconteceu comigo, certamente pode acontecer com qualquer um de vocês, caso desonrem ao Senhor, seu Deus".

É notável que o líder forte e capaz (Moisés) tenha apresentado ao povo seu próprio fracasso como exemplo. Esta é uma boa ilustração do por que as Escrituras chamam Moisés de o homem mais humilde da face da Terra (Números 12:3). Além disso, é incrível que Moisés tenha dito que ficaria para trás para morrer.

Tendo aludido ao incidente que o impediu de possuir Canaã, Moisés declara fortemente: "Vigiai-vos, pois, para que não vos esqueçais da aliança do Senhor, vosso Deus, que Ele fez convosco, e façais para vós uma imagem gravada em forma de qualquer coisa". Os israelitas deviam estar atentos e observar a todas as estipulações da aliança de Deus, a fim de não fazerem nenhuma imagem para representá-Lo. Fazer isso reduziria o Criador ao nível de Suas criaturas. Tal ato seria inadequado porque traria desonra ao Senhor.

A advertência dada a Israel foi forte porque Moisés sabia que a disciplina de Deus pode ser fatal. De fato, tendo experimentado o julgamento de Deus ao ser excluído daqueles que possuiriam Canaã, Moisés não queria que o povo caísse sob um juízo semelhante. Por essa razão, ele lhes disse que Javé é um fogo consumidor e um Deus ciumento. A expressão "fogo consumidor" refere-se à santidade e ao julgamento de Deus. O fogo é usado para criar, refinar e consumir. Deus faz todas essas coisas, cada uma conforme a necessidade. Neste caso, o verbo "consumir" provavelmente enfatiza o poder de julgamento de Deus na eliminação da injustiça e na purificação da terra.

O SENHOR não é apenas um fogo consumidor, Ele também é um Deus ciumento. O adjetivo "ciumento" não significa que Deus tenha inveja do que pertence aos outros. Pelo contrário, significa que Deus deseja preservar o que lhe pertence. Em tal relação de aliança, onde o Deus superior ou Susserano redimiu Seus vassalos da fornalha de ferro, do Egito, é claro o motivo de Ele exigir deles amor e fidelidade exclusivos (Deuteronômio 6:5). Deus escolheu os israelitas para serem Sua "propriedade" e os separou apenas para esse propósito (Êxodo 19:5;  Deuteronômio 7:6). Portanto, como somente Javé é soberano, Ele não queria compartilhar Sua "glória" a ninguém, nem Seu "louvor a imagens gravadas" (Isaías 42:8). É por isso que Ele exigiu lealdade exclusiva de Seus servos.