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Significado de Deuteronômio 6:1-3

Moisés exorta os israelitas a observar os preceitos de Deus, a fim de que eles e seus descendentes aprendam a temer o SENHOR, seu Deus, todos os dias de suas vidas. Ao fazerem isso, eles teriam dias prolongados sobre a terra.

Depois de reafirmar os Dez Mandamentos à nova geração de Israel, Moisés agora traz uma exortação ao povo quanto ao significado dos mandamentos. Porém, pouco antes de sua exposição, que começa em 6:4, Moisés ordena ao povo, mais uma vez, que observe as leis de Deus de todo o coração, para que pudessem ser abençoados na Terra Prometida. Ele diz: "Ora, este é o mandamento, os estatutos e os juízos que o Senhor, seu Deus, me ordenou que vos ensinasse". A palavra "ora" conecta este capítulo ao capítulo 5, onde Moisés reafirma os Dez Mandamentos originalmente dados por Deus no Monte Sinai (Êxodo 20). Assim, depois de narrar o que havia ocorrido no passado, Moisés muda seu foco para o presente e transmite o restante das leis ao povo de Israel.

Moisés faz uso de três palavras (mandamento, estatutos e julgamentos) para exortar os israelitas a levar as leis de Deus a sério. A palavra "mandamento" refere-se às leis e regras, ou seja, todo o corpo jurídico. As palavras "estatutos" e "juízos", usadas aqui como sinônimo dos mandamentos de Deus, têm significados distintos. No sentido estrito, o termo "estatutos" ("ḥuqqîm" em hebraico) refere-se a algo decretado por uma autoridade, como uma portaria. Como tal, pode ser traduzido como "prescrições" ou "decretos". O termo "julgamentos" ("mišpāṭîm,") refere-se a procedimentos legais, ou comandos emitidos por um juiz. Assim, o uso dessas três palavras (mandamentos, estatutos e julgamentos) é visto como uma forma de se referir às estipulações da aliança (ver 5:31).

Ao referir-se aos mesmos termos usados em 5:31, Moisés demonstra que estava repassando aos israelitas exatamente o que o SENHOR, seu  Deus, lhe havia ordenado. Os israelitas precisavam ser ensinados sobre os princípios de Deus repetidamente  para que pudessem cumpri-los na terra onde estavam entrando para possuir.

Nos versículos 2 e 3, Moisés afirma uma das consequências positivas da obediência: Para que seus dias sejam prolongados e para que tudo lhes vá bem. Isso deixa claro que os Dez Mandamentos e suas explicações posteriores faziam parte da aliança. Deus havia concedido a terra a Abraão e seus descendentes incondicionalmente em Gênesis 15. Porém, Deus faz uma aliança condicional com Abraão em Gênesis 17, dizendo que ele se "multiplicaria sobremaneira" caso "andasse de forma irrepreensível". Os Dez Mandamentos e as leis explicativas eram um pacto mútuo semelhante. Elas não definiam a relação de Israel com Deus. Deus os havia escolhido incondicionalmente. Ao invés disso, elas explicitam como as pessoas poderiam desfrutar da comunhão com Deus e experimentar as bênçãos da posse da terra concedida por Deus.

A consequência negativa estava implícita no pacto: seus dias não seriam prolongados e as coisas não ficariam bem para eles caso desobedecessem. Como veremos no livro dos Juízes, quando o povo temia ao Senhor e cuidava e servia ao próximo, ele prosperava na terra. Porém, quando se tornavam egoístas e procuravam tiranizar ao próximo, Deus os fazia experimentar a tirania dos estrangeiros, para que pudessem se arrepender.

Temer ao SENHOR significava crer que Deus realmente agiria e faria com que as consequências acontecessem.Deus realmente faria o que Ele havia dito. Esses mandamentos deveriam ser passados às gerações futuras, "para que tu, teu filho e teu neto temessem ao Senhor, teu Deus, para guardares todos os Seus estatutos e Seus mandamentos que eu te ordeno, todos os dias de tua vida". O temor de Deus, ou seja, a crença de que as consequências eram reais, permitiria que cada geração de israelitas guardasse os princípios de Deus todos os dias de sua vida.

Um dos benefícios primários de se guardar as leis de Deus era "para que seus dias se prolongassem". Isso pode se referir a uma vida longa na terra. Esta promessa tem um componente prático de causa e efeito. Por exemplo, muitas das leis de Deus tratavam do saneamento público e da segurança alimentar, como, por exemplo, garantir que os dejetos humanos fossem deixados sem contato com a umidade, cobertos com terra (Deuteronômio 23:12-14). Sabemos que isso era feito para que se evitassem doenças que gerariam morte a um grande número de pessoas.

Também tinha um efeito coletivo, produzindo uma sociedade de respeito mútuo. Onde a paz, não a violência, seria a norma. Guardar as leis de Deus criava um ambiente físico e social que gerava longevidade.

A Terra Prometida foi dada por Deus a Israel através de uma concessão incondicional, mas a obediência ao Deus Susserano (Governante) era necessária para que desfrutassem e se beneficiassem da concessão. A falha em submeterem-se aos princípios de Deus faria com que os israelitas morressem cedo na terra ou fossem removidos dela (Levítico 18:24-30Deuteronômio 8:19-20).

Finalmente, as duas cláusulas restantes falam do bem-estar de Israel e do aumento da posteridade na Terra Prometida. Moisés declara: "Ó Israel, deveis ouvir e ter o cuidado de fazê-lo, para que fique bem convosco e para que vos multipliqueis grandemente, como o Senhor, o Deus de vossos pais, vos prometeu, numa terra que jorra leite e mel". A frase "leite e mel" descreve a fertilidade ou a riqueza da terra de Canaã.

Deus promete que os israelitas desfrutariam de plenos benefícios da fertilidade da terra, caso cumprissem Seus mandamentos. Esta é uma promessa divina, mas também tem um sentido pragmático. Ao cumprir a lei, a sociedade seria composta por pessoas que honravam a propriedade umas das outras, tratavam umas com as outras honestamente, não invejavam, roubavam ou prejudicavam umas às outras. Isso lançaria as bases para uma comunidade harmoniosa e autônoma. Tal sociedade estaria livre da violência de um cidadão contra o outro. Não haveria estelionato ou roubo. Portanto, o trabalho árduo e a inovação seriam recompensados e o comércio beneficiaria a todos, fazendo com que as pessoas estivessem bem e se multiplicassem.

Infelizmente, a história humana é repleta de tirania, onde os fortes coagem os fracos. Nessas sociedades, é inútil trabalhar duro ou inovar, pois os frutos do trabalho serão tirados por quem é mais forte. Assim, a energia humana é desviada da produção para a proteção. Com a lei mosaica, Deus estava oferecendo um caminho para bênçãos abundantes; porém, Ele deixou aos israelitas a escolha de andar ou não em Seus caminhos e ser recompensados por sua obediência.

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